Dark as night. escrita por ThEmzi


Capítulo 14
Uma pequena surpresa.


Notas iniciais do capítulo

Agora a coisa começa a ficar boa, acho. HAHAHA Mais um capítulo pr'ocês, e espero que gostem. Boa leitura.



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Minha cabeça parecia estar sendo esmagada, estava consciente, porém cega. Eu nada via, apenas sentia, e o que sentia não era de meu agrado, nem mesmo de longe. Minhas veias pareciam queimar debaixo de minha pele ao mesmo tempo que eu sentia como se estivessem sendo puxadas e quase arrancadas. Meus pés não tocavam mais o chão e eu não estava mais sentada na cadeira; meu corpo foi erguido e eu me sentia flutuar ainda sem enxergar, contive todos os gemidos e gritos de dor e agonia que forçavam para sair.

Quando enxerguei, foram apenas imagens fixas em minha memória dos dias atuais até minha infância. Vi o rosto de minha mãe e fiquei em choque, ela sorria e se distanciava, os olhos escuros e a pele pálida De repente tudo sumiu e eu ouvia as vozes de Joko e meu pai, então despenquei no chão.

A voz de Voil já não era mais a mesma, não havia a mesma euforia de algum tempo atrás.

– Então foi Joko, huh? Isso explica bastante coisa.

– Nunca pensei que meu velho amigo teria sobrevivido após a caça. – Ouvi Zaaer dizer.

Estava exausta sem ter feito absolutamente nada. Conseguia ver novamente, mas estava deitada no chão e minha visão estava turva. Ofeguei até conseguir normalizar minha respiração.

– Guardas! – Gritou um Voil repentinamente furioso, vi dois guardas entrarem às pressas pouco depois. – Levem-na para o mais belo de nossos aposentos, por favor.

Arrastaram-me para fora pelos braços.

Por aposentos eles queriam dizer calabouço.

Tropecei no vestido ao ser empurrada para dentro da cela, um guarda entrou e rapidamente acorrentou-me pelo tornozelo pouco antes de, às pressas, sair.

O que seria de mim dali em diante? Talvez mesmo com a força sobre-humana eu não fosse capaz de destroçar as correntes e arrombar a porta, ou até mesmo as paredes. Além disso, estava cansada demais para sequer tentar.

Não havia nada ali dentro, apenas rochas por todos os lados compondo as paredes, com exceção da porta de madeira à minha frente com uma portinhola e um buraco mais acima para que pudessem me observar.

Arrastei-me até encostar na parede e suspirei. Um pedaço de pão e um copo d’água me foi lançado através da portinhola. Puxei o pequeno prato com o pé e comi com dificuldade. Ao terminar, agradeci por não estar frio e me forcei a dormir.

Tive um sono profundo e calmo para quem estava em condições desagradáveis.

Acordei no meio da noite, não sabia se havia acabado de anoitecer ou se estava prestes a amanhecer, mas aquela escuridão não me incomodou até o momento que notei um buraco próximo aos meus pés.

Não consegui sequer imaginar como aquilo surgiu ali, fiquei relutante e demorou até que tivesse criado coragem e me inclinado para ver o que havia dento do buraco.

A cela esfriou, e dessa vez senti a queda da temperatura, uma corrente fria vinha de dentro do buraco, e eu não saberia explicar o porque de senti daquela vez nem mesmo se quisesse. O buraco era fundo e escuro e eu não era capaz de enxergar absolutamente nada. Inclinei-me um pouco mais, aproveitando que estava presa pelo tornozelo. Metade de meu tronco estava dentro do buraco, e eu tentava encontrar alguma maneira de, talvez, sentir o fundo daquilo.

– Olá? – Chamei, em vão.

Bufei, inclinando o corpo para trás a fim de recuar, mas não consegui.

A corrente arrebentou – sabe-se lá como – e eu despenquei para dentro do buraco. Me era estreito e ganhei vários cortes pelo corpo mesmo coberta parcialmente pelas camadas de tecido do vestido que usava.

Parecia não acabar nunca e eu sentia cada vez mais a gravidade me puxar para baixo, aumentando a velocidade.

Afundei em água, tão cristalina que mesmo na fraca e desconhecida iluminação eu conseguia enxergar através. Voltei à superfície e aspirei o ar profundamente. A luz fraca vinha de uma pequena pedra presa às outras rochas, era em um tom amarelo e mudava para um azul claro. Questionei-me o porque de só aquela brilhar. Não ousei e nem mesmo arrisquei me aproximar, olhei para cima, para o buraco de onde eu havia caído. O vestido molhado pesou quando saí da água, desejei poder cortá-lo, mas estava completamente sem forças àquela altura. Arrastei-me por sobre as pequenas pedras e deitei próxima à pedra brilhante. Ainda tinha a corrente presa em meu tornozelo, mas quebrada. Eu precisava descansar, então ignorei o frio e fechei os olhos.

Senti-me bem de repente aquecida e descansada, embora soubesse que não havia muito tempo que decidi descansar. Imaginei meu pai e Neah e sorri, a saudade me pegando de surpresa. Uma pedrinha atingiu meu rosto e eu abri os olhos. Outra pedra e mais outra. Sentei de subido, atordoada com aquilo. Sabia que deveria me preocupar com aquele lugar, mas não me veio à mente sequer uma ideia de possível desmoronamento.

Me dei conta de que não havia pensado nem mesmo num modo de sair dali até então.

Mais rochas começaram a cair, mas das paredes, e não do teto. Afastei-me e vi um buraco ser aberto aos poucos, e tão próximo da pedra que ainda brilhava em um tom forte de azul agora. Um vapor quente soprou meu rosto e recuei instintivamente.

Patas não muito grandes, mas também não tão pequenas e escutas surgiram, visíveis mesmo naquele lugar dificilmente iluminado, longas e obviamente afiadas garras brilharam, chamando minha atenção. Um Berene, talvez. Então eu morreria ali? Talvez, já havia quase morrido várias vezes até chegar ali.

A criatura foi iluminada pela rocha e inclinou o focinho. Grandes olhos negros me encararam antes que eu pudesse ver suas presas. Eu nunca havia visto nada semelhantes. A água já estava em meus joelhos de tanto que eu havia recuado e, de repente, aquilo saltou sobre mim, atacando-me. Senti sua mordida em meu ombro e gritei, paralisando aos poucos como se estivesse sendo anestesiada. A criatura também parou, seus dentes estavam enterrados em minha pele quando caí de joelhos. Fui solta e vi a breve silhueta da criatura enquanto a mesma caminhava silenciosa e lentamente diante de mim. O estado anestésico foi breve, meu ombro começou a queimar e ardia tanto que não fui capaz de conter o grito de dor.

O vestido havia sido rasgado e agora começava a ficar sujo do sangue que escorria dos furos em meu ombro. Tentei ver o que acontecia para que estivesse doendo tanto.

Uma linha começou a ser traçada saindo dos furos feitos com as presas em minha pele, parecia que alguém havia apanhado uma faca e marcado minha pele com a mesma em chamas. Queimava cada vez mais, o desenho curvilíneo se formando gradativamente em minha pele, e quanto mais o desenho queimava e ardia, mais eu gritava. Agonizei por um longo tempo, nem mesmo a água aliviava minha dor, até que tudo parou e o desenho agora nada mais era que uma cicatriz próxima à minha clavícula.

A criatura estava a pouco mais de um metro de mim, os olhos escuros a me observar, como se me analisasse e avaliasse meu desempenho no que quer que fosse. Sobreviver, talvez? Me dei conta de que não havia mais pedra brilhante iluminando o lugar, mas eu era capaz de enxergar, tudo estava em tonalidade cinza, mas tão nítido e claro quanto durante o dia.

– Me desculpe pela mordida, mas é essencial para que possamos nos ligar e, digamos que, dividir o mesmo sangue. – Ouvi em minha mente, uma voz masculina suave e tranquila.

Olhei diretamente para a criatura negra e eu diria até que havia visto-a sorrir, se isso sequer fosse possível. Estreitei o olhar em sua direção e logo a vi caminhar rapidamente até mim. Fiquei em choque e parei de me mover, como se temesse um ataque se eu fizesse qualquer movimento brusco.

– O que é você? – Murmurei, temerosa.

– Vai dizer que nunca ouviu histórias sobre dragões? Não sabe nem mesmo reconhecer um? Por favor, Thena, você é mais inteligente que isso. – Ouvi sua resposta mais uma vez em minha cabeça, parecia um eco distante e me deixava levemente atordoada. – Você ainda vai se acostumar com isso, pare de pensar que isso é imaginação sua, eu sou real.

– Dragão? Dragão.. Mas os dragões nem existem mais.

– Claro que existem! O que estou fazendo aqui, então? – Ele pareceu ofendido, sentou-se e bufou, o bafo quente contra o meu rosto me fez recuar alguns centímetros.

Todos os meus sentidos diziam-me para fugir, mas não havia qualquer saída para mim.

– O que estava fazendo dentro da parede?

– Dormindo. Só se acorda um dragão com um nascido. Caso isso não ocorra, somos apenas ovos ou rochas. Parece que tive um pouco de sorte. – O tal dragão riu sonoramente em minha mente e acabei tropeçando no vestido, caindo sentada dentro da água.

– Isso não faz o menor sentido.

– Isso não tem que fazer sentido agora, temos outras prioridades. Como sair daqui é uma delas. – Disse-me ele. – A propósito, agora que somos meio irmãos, suponho que eu deva dizer meu nome, quase me esqueci.. Sou Lael.

Eu não estava entendendo absolutamente nada, e duvidava que fosse entender qualquer coisa mesmo que me fosse feita uma explicação atrás de outra. Lael era um dragão, agora também meu meio irmão, ao menos era o que ele dizia. Era possível ter um dragão como meio irmão? Balancei a cabeça negativamente.

Não sentia mais frio e muito menos cansaço. Lael não era muito grande para um dragão, concluí ao refletir sobre ele. Até onde sabia, dragões eram criaturas enormes e monstruosas. Aquele diante de mim era negro e tinha asas retraídas sobre as costas, se eu ficasse de pé, ele deveria alcançar, no máximo, minha cintura. Seus olhos eram escuros e eu ainda não havia compreendido bem sua personalidade. Pelo pouco que falara, mesmo que mentalmente, parecia pender de sério a extrovertido sem qualquer motivo ou aviso aparente.

– Thena, pare de resmungar, minha cabeça vai explodir assim. Você vai ter que aprender a bloquear seus pensamentos para mim algumas vezes, assim como eu faço. – Bufou Lael, balançando a cabeça e mordendo suavemente meu pulso a fim de me ajudar a levantar. – Venha, acho que sou capaz de te carregar de volta para cima.

– Mas como?

– Voando? – Ele fez parecer óbvio.

– Você não é assim tão forte. – Ousei rir.

– Não me teste, garota. Você é uma Nascida, uma especial, e eu sou seu dragão, acha mesmo que não sou capaz? Vamos nos divertir um pouco. – Sua risada soou mais alta em minha cabeça e aquilo me assustou.

Lael agitou a cauda e espinhos surgiram em sua ponta. Pensei que queria manter distância daquilo o máximo possível. O dragão alçou voo e me agarrou pelos braços, dessa vez, cuidadosamente. As garras envolveram-me e pude contemplar a visão que era de estar subindo, agora, mesmo na escuridão. Lael atingia as paredes com a ponta da causa para consegui um melhor impulso, já que mesmo não sendo grande para um dragão, o buraco dificultava sua subida e o bater das asas.

Chegamos à cela e ele pousou, colocando-me no chão. Suspirei, olhando em volta e, enfim, para Lael.

– Você é leve como uma pena. – Caçoou o dragão, voltando a rir.

– Se você diz.. – Comentei em desdém, comecei a crer que me irritaria fácil com aquela coisa.

– Thena, a situação atual é a seguinte: estamos presos aqui, mas agora que me encontrou, é capaz de muito mais do que já era. Sua força é fora do comum, e agora seus dons vão cada vez mais aflorar, ainda mais comigo por perto. – Lael começou a dizer tranquilamente. – Estamos ligados agora, por sangue, e é preciso que tomemos cuidado. O que você sentir, eu vou sentir, e vice-versa, é importante que não deixemos ninguém ferir um ao outro, combinado? Não podemos nos distanciar muito ou nossa ligação é interrompida até que fiquemos juntos novamente. Compreende o que digo?

Assenti positivamente, tentando raciocinar e filtrar as informações, visando quais eram prioridade, mas tudo parecia ser de tão extrema importância que me senti estúpida por alguns segundos.

– Eu sei que é muita coisa, mas agora precisamos agir. Não vou deixar que te atinjam desde que não deixe que me atinjam também. Nosso foco principal é sair desse maldito castelo. – Seus olhos correram rapidamente até a corrente arrebentada. – Ah, parece que mesmo longe eu consegui te fazer cair arrebentando a corrente. – Aquilo foi um comentário realmente aleatório, o que me fez revirar os olhos. – Continuando. Se prepare, eu derrubo a porta e daqui em diante teremos que ser rápidos. Se tivermos que matar, mataremos. Nossas vidas são prioridade, e eu tenho certeza de que não enfrentaremos nada muito fácil quando sairmos daqui.

Conseguia compreender tudo que Lael dizia e esforcei-me para acreditar em mim mesma, por mais duvidoso que fosse tudo que estava acontecendo desde o momento que o buraco surgiu em minha cela.

– Somos eu e você, Thena, e é a partir daqui que as coisas começam realmente a ficar sérias. – Sua voz ficou grave e ele mais me lembrou um homem do que tudo, riu mais uma vez e preparou-se para saltar contra a porta.

Talvez fosse culpa da conexão que agora tomava conta de mim e Lael, mas senti todo o êxtase e a adrenalina que o dragão sentia. Peguei-me sorrindo e tomando uma melhor posição para atacar. Eu queria rir, eu queria correr, eu queria quebrar e destroçar tudo que surgisse em meu caminho, e nada seria capaz de me parar.


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Notas finais do capítulo

Já sabem, né? Errinhos, sugestões e tudo o mais, podem mandar. []