Love Story escrita por Lady Rogers Stark


Capítulo 36
“Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos" – Clarice Lispector.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Como estão? Cheguei para postar mais um capítulo! (dãããã KKKKKKKK).

Bom, não tenho muito o que dizer aqui. Apenas uma boa leitura e a gente se vê nas notas finais.

Fui.



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—Laura Teixeira – a assistente do diretor gritou pelo meu nome. Andrew teve que bater no meu ombro chamando a minha atenção. Eu estava tão distraída que nem vi o tempo passando. Mas é claro que me arrependo por ter me deixado fazer isso.

Me levantei da cadeira sentindo minhas mãos tremerem segurando a capa do violino. Também sentia minhas mãos suando ligeiramente. Meu coração batendo rápido no peito. E a minha mente, pensando que eu tinha de fazer tudo bem rapidamente para não demorar demais, o diretor não gosta disso.

Subi as escadas, coloquei a capa em cima do banco de madeira que ali havia, peguei o instrumento junto com o arco. Posicionei o violino de forma confortável no meu ombro, inclinei a cabeça e coloquei o arco sobre as cordas, olhei para o diretor que acenou com a cabeça me dando permissão de começar a tocar.

Por um descuido, percebi que comecei a tocar a música errada, não a que eu treinei ontem à noite, mas sim a que eu ouvi enquanto o sono não vinha noite passada. Uma música triste, melancólica até. Com notas agudas e bastante longas, com vários vibratos e com o ritmo acelerado as vezes.

As vezes imagino quando escuto essa música, uma moça com o coração partido por causa de alguém no início. No meio, justamente na parte do ritmo rápido, o turbilhão de sentimentos que ela deve sentir, o medo, a confusão, a tristeza. E no final, quando o ritmo volta a ficar calmo e confortável, quando ela decide acabar com tudo. E quando digo com tudo, com a vida.

Não que eu me sentisse daquela forma. Não, de maneira alguma. Afinal, Steve vai voltar. Mas mentir para si mesma é a pior mentira, pois é apenas temporária. Menti que eu consegui me distrair, e muito.

O tempo todo com a Alicia no shopping eu me distraia, e ela tinha que chamar a minha atenção toda hora, a ponto de se tornar irritante. Não lembro de quase nada do filme que vi com o Andrew. O jantar foi silencioso e quase sem assunto. A comida estava ótima, a companhia também, mas eu estava horrível.

E penetrada nos meus pensamentos, percebo que acabei a música. Novamente, me distrai a ponto de nem perceber que acabei. O arco ficou por cima das cordas e só levantei a cabeça um pouco depois para ver o diretor. A luz não deixava eu ter uma visão muito boa, mas estreitei os olhos e forcei a visão. Eu juro que vi um sorriso enorme bem no rosto dele.

—Não quero saber o que você estava pensando durante a música – o diretor fala e percebo que a minha distração ficou bastante evidente a ponto de notarem – Mas seja lá o que for, funcionou – ele completa e assinto com a cabeça.

—Obrigada – agradeço simplesmente. Deixo o violino dentro da capa, guardo o arco e saio do palco ouvindo o nome de outro candidato, um que eu não fazia ideia de quem era. Caminho pelo corredor, mas ao contrário dos outros que já fizeram e terminaram o teste, não fui embora. Me sentei no mesmo lugar onde eu estava antes.

—O que foi aquilo? – perguntou Andrew aos sussurros. Ele se aproxima para que eu pudesse ouvir melhor, até mesmo Alicia fez isso, mas com uma expressão preocupada. O que eu fiz? –Você não ia tocar a...

—Sim, eu ia – o corto e suspiro passando a mão pelo rosto enquanto eles esperam pela resposta – Mas eu não sei o que deu em mim. Quando percebi, eu já estava tocando uma música que ouvi ontem. Treinei ela só uma vez há muito tempo – conto e Alicia bufa descrente comigo – Foi tão ruim assim? – pergunto preocupada e temerosa.

—Ruim? – pergunta Alicia não acreditando que eu havia perguntado isso. Me senti nervosa e ansiosa –Claro que não. Você estava tão distraída a ponto de não perceber que estava tocando com tanta perfeição? – ela pergunta ainda bastante cética e irônica também.

O susto foi claro. Toquei tão bem assim a ponto da Alicia não escolher outra palavra além de perfeição? Porque não a vejo falando essa palavra. Além de claro zoar quem a usa. E principalmente, pelo significado que ela tem. Perfeição e eu tocando não andam tão lado a lado como antes, não tanto como antes de eu vir para cá.

—Você foi incrível. A melhor de todas – Andrew acrescenta ao ver a minha expressão surpresa.

—Vocês estão brincando – presumo, mas sei que não estavam, mas era o que eu achava. Eu me distraí completamente a música inteira, errei a ponto de trocar a música e acabei tocando outra, isso para não falar das mãos suando na hora de entrar no palco. Como isso pode ser chamado de perfeição?

—Não, não estamos – responde Alicia. Continuo encarando seu rosto até soltar todo o ar pela boca e me escorregar na cadeira afundando um pouco nela – Definitivamente, não estamos. E ainda gravei, pena que foi da metade pro final – ela conta e concordo com a cabeça grata. Eu não acredito neles, preciso ver o vídeo depois.

—Como o diretor disse: Seja lá o que você fez, deu muito certo – o moreno se adianta e engulo em seco. Passo a mão pela testa me sentindo um pouco cansada. Eu iria ficar aqui até os meus amigos terem completado os seus testes. Porém eu sabia que assim como foi o meu próprio teste, eu não ia prestar atenção.

—                                                                               

Eu estava em casa já, de banho tomado, unhas dos pés e mãos feitas, cabelo cheiroso e sentindo o cheiro do jantar quase pronto. Um banho havia me feito muito bem. E agora eu estava mandando o vídeo que a Alicia gravou de mim para a minha mãe. Eu não sabia qual seria sua reação, se seria alegre e animada, ou orgulhosa e histérica. Ou uma mistura dos dois.

Troquei o canal da televisão. Não tinha nada de bom para assistir. E aproveitando que eu estava usando a internet, marquei a consulta de um funcionário de uma banda larga de internet para vir aqui e assinei a Netflix. Contei ao Andrew, que comemorou jogando as mãos para cima e a colher escapuliu e caiu batendo na parede e acabando dentro da pia.

O jantar estava pronto. E para comemorar os nossos testes, Alicia também estava presente. Estava na cozinha ajudando o Andrew a preparar. Eu não sei no que deu nessa garota. Na verdade, nem sei o que deu em mim. Sete e meia e já estou de pijama.

Nos reunimos na mesa e vi uma grande travessa de lasanha de frango bem no meio, com vários acompanhamentos deliciosos, tudo também para comemorar os nossos testes. Andrew e Alicia haviam ido muito bem, mas que segundo eles, não tanto quanto eu. Eu estava me sentindo mal com aquilo, por isso pedi para mudar de assunto. Eles concordaram.

—Laura, Steve disse que iria sair esses dias, não é? – pergunto e assinto com a cabeça temendo o que ele fosse perguntar – Foi uma viagem? – ele pergunta e consigo ver a curiosidade. O que eu tenho que dizer? Que ele viajou para proteger um cliente? Aproveito o tempo que tenho para engolir antes de responder para pensar no que eu vou usar para mentir.

—É, ele teve que ir visitar uma firma em outro lugar, acho que foi Colorado – minto, e assumo que foi uma mentira boa, porém necessária. Andrew assente com a cabeça comendo o seu jantar, e volto a atenção para o meu, mas me perguntando até quando terei que mentir para os meus pais e meus amigos por causa dele?

—Ele tem que viajar bastante para um segurança – Andrew comenta e Alicia o apoia de boca cheia, mas não o suficiente para me fazer rir, como normalmente faria. E diferente de como surgiu, eu não estava mais tão confortável como eu estava antes.

—E daí? – pergunto colocando uma boa colherada de lasanha dentro da boca apenas para não ter que conversar sobre isso, mas eles iriam insistir. A curiosidade era maior.

—E daí? – pergunta Alicia descrente – Você não acha isso suspeito? – pergunta e nego com a cabeça simplesmente, a fazendo bufar com a minha atitude – Você veio para mim meses atrás com uma suspeita, e agora não tem mais? – pergunta e os dois olham para mim esperando uma resposta.

—Não, não tenho. Pois sei o que o Steve está fazendo é trabalho. Trabalho é trabalho – respondo e Alicia joga os talheres em cima da mesa não concordando comigo, acho que até o contrário, decepcionada com o meu descaso.

—Sabe que quem usa essa desculpa são justamente mercenários, traficantes... – e quando olho descrente para o Andrew, ele se adianta para consertar: – Não que eu ache o Steve faça isso. Mas você tem que confessar, Laura, isso é muito estranho – o moreno conclui e olho para o canto do meu prato não sabendo como irei sair dessa situação.

—Seja lá o que vocês pensarem – começo enquanto olho para os dois, sabendo que eu teria que dizer algo muito bom para acabar com toda essa desconfiança que eles tem – Steve é um bom homem. Não foi nem capaz de machucar o rato que apareceu na minha casa – garanto, mas ao ver o olhar assustado do Andrew, me adianto para consertar: –No início – e o vejo suspirar aliviado.

—Só queremos seu bem – garante Alicia, esticando seu braço para pegar em minha mão –Mas tenha certeza de quem ele é, por favor – ela pede e assinto  com a cabeça recolhendo a minha mão para continuar a comer.

O resto do jantar foi sem graça. Sem muita conversa. Foi até um alivio quando Alicia foi embora e Andrew avisou que iria dormir. E eu fui para a minha cama me arrependendo por ter mentido para eles, por mais que fosse necessário. Preciso conversar sobre isso com Steve.

Preciso dizer a ele que não aguento mais mentir. Não gosto de mentir, nunca gostei. E encaro isso como uma coisa boa. Não sou uma mentirosa, mas ele está me obrigando a ser.

O domingo foi horrível, parado e com um gosto amargo de que amanhã, por segunda, vai ser pior. E talvez fosse mesmo, mas eu sentia que todos os dias estavam sendo iguais praticamente. Claro, sem ele aqui para me chamar para sair, seria mesmo. E novamente, nenhum sinal de vida ele deu.

Eu estava preocupada. Liguei para o Sam assim como fiz da última vez, mas ele também não atendia. Mas lembrei que ele era agente também. Será que ele está na mesma missão do Steve? E que raio de missão é essa para ficar quatro dias sem dar notícias?

E já na segunda, me arrumei para o trabalho, arrumei a bolsa, calcei os saltos sociais e saí de casa tendo uma última visão o Andrew dormindo esparramado no sofá-cama. Desci as escadas, peguei o ônibus lembrando de comprar o meu café da manhã na padaria da esquina das Indústrias Stark, eu não estava com vontade de fazer.

Acabei por comprar um café e um pedaço de bolo de chocolate. Eu sei, nada saudável. Cumprimentei as moças da recepção, fui para a minha sala jogando o copo de isopor vazio de café na lixeira e sabendo que eu teria muito trabalho por hoje.

O trabalho foi exaustaste e cansativo. Tive que fazer vários resumos de alguns documentos que Jhones me deu, ainda tive que buscar documentos em salas bem longes. Lamentei ser o dia em que justamente usei salto, por mais que fossem confortáveis. Também pensei em dar a ideia de botas voadoras para o Tony construir para todos os estagiários e secretárias de engenheiros, como eu.

E no momento em que pus meus pés para fora pronta para ir embora finalmente, parei na porta, o encarando pasma e não acreditando que ele estava ali. Por mais que o seu rosto demonstrasse que estava triste por ter demorado tanto, não consegui esboçar um sorriso logo em seguida como geralmente faço quando o vejo.

—Eu posso explicar – é só o que ele diz, como uma desculpa ou um aviso. E é claro que ele pode. Mas isso não iria livrá-lo da conversa que tenho que ter com ele.

“Como se ela não tivesse suportado sentir o que sentira, desviou subitamente o rosto e olhou uma árvore. Seu coração não bateu no peito, o coração batia oco entre o estômago e os intestinos”.

—Clarice Lispector


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Notas finais do capítulo

E então... As coisas ainda estão meio para baixo, perceberam, né?

E cara, eu gostei do final, ficou bem impactante mesmo. Gostei bastante.

Bom, o que vocês acharam? Espero que tenham gostado. Beijos e até semana que vem!



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