Como As Páginas De Um Diário escrita por lovemyway


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



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Ela é calada.

Por algum motivo que lhe é desconhecido, as pessoas tendem a relacionar seu silêncio com inteligência. Ela não se acha inteligente em tudo. É como a maioria das garotas de sua idade — estuda porque precisa, e porque sabe que seu futuro depende exclusivamente disso. Dos estudos. Então, ela tenta se manter na média, embora deteste isso. Ela gostaria de ser mais. Gostaria de tentar mais, de saber mais, de ser mais determinada. E enquanto uma parte sua se rebela contra alguns traços que ela gostaria de mudar, a outra se contenta passivamente com isso, e os chama de limitações. No fundo, ela sabe melhor. Ela é apenas medrosa e conformada demais para mudar.

Ela tem dificuldade em confiar nas pessoas.

Ela não sabe exatamente o porquê de tanta desconfiança. É algo dela. Já confiou nas pessoas erradas, quando era mais jovem, e as viu sair de sua vida com uma facilidade tão grande que sua boca ficou entreaberta. Diversas vezes ela se perguntou o porquê de não conseguir fazer o mesmo. Levou um tempo para perceber que, na verdade, seu problema não é desconfiar — mas confiar demais, e se decepcionar. Seres humanos sempre serão seres humanos. Eles erram. Eles seguem em frente. Eles esquecem. Eles não olham para trás. Ela supõe que foi isso o que aconteceu. As pessoas seguiram em frente. Só que ela não se sente confortável com mudanças, e tentou se apegar ao que já tinha, e acabou ficando sozinha, no mesmo ponto, sem saber o que fazer ou para onde ir.

Ela gosta de fazer os outros rirem.

É quase como uma necessidade. Faz com que ela se sinta bem, mesmo quando tudo ao seu redor está desmoronando. Ela não se importa em ser a piada. Ela não se importa em tirar sarro de si mesma. E, quando se sente péssima, ela não quer palavras vazias de conforto que facilmente perdem o significado. Ela quer alguém que a faça rir. Porque é rindo que ela supera. É rindo que ela cura suas feridas, ainda que possa demorar um tempo, ainda que ela talvez jamais tenha mostrado suas marcas.

Ela é reservada.

Não gosta de falar sobre si mesma. Prefere que as pessoas a descubram aos poucos, com a convivência, e prefere aprender sobre os outros nos pequenos momentos do cotidiano. Então, ela pode não saber a cor favorita de seus melhores amigos, mas sabe dizer quando eles estão tristes ou felizes só pelo modo que escrevem. Ou pelo olhar. Ou pelo silêncio. Ou pela falta de sorrisos. Ela não gosta de dividir muito sobre si mesma, porque prefere manter seus sentimentos guardados dentro do peito. É sufocante, às vezes, e ela sente que vai explodir quando eles se acumulam. Mas então ela ri. E continua rindo. Mesmo que não tenha a menor graça. Mesmo que não faça sentido algum. Ela ri e, eventualmente, tudo fica bem. Ou tão bem quanto pode ficar.

Ela gosta de ler.

Sua paixão pela leitura começou desde cedo. Desde que ela aprendeu a ler, realmente, e foi algo que nunca desapareceu. À medida que foi crescendo, o amor pela leitura se tornou maior, mais forte, e ela podia passar horas lendo um livro, entretida, esquecendo-se do mundo ao seu redor. Em algum ponto, o amor pela leitura tornou-se amor pela escrita, e aos doze anos, ela se imaginou escrevendo um livro. As ideias eram infantis, claro, mas foi quando ela começou realmente a escrever. E não parou desde então. São como seu porto seguro — a escrita e a leitura. Coisas que ela não consegue jamais se imaginar sem.

Ela era insegura.

Todas as adolescentes são, e ela não podia ser diferente. Sempre bastante ciente que a maioria de suas amigas eram mais inteligentes, mais bonitas, mais magras. Coisas que ela queria mudar sobre si mesma. Só que ela queria mudarpara si mesma, e não para os outros. Ela sempre soube que eles falavam dela pelas suas costas. Soube que, por qualquer motivo a ela desconhecido, eles a detestavam. Embora nenhum deles jamais tenha tido isso na sua cara. E nem precisavam. Ela podia ver pelo olhar em seus olhos. O quanto eles a queriam longe. O quanto debochavam dela. "Lucy Caboosey" foi apenas um entre muitos apelidos. Ela tentava não dar importância a eles, e funcionava, na maioria das vezes, só que doía particularmente quando veio da boca daqueles que ela pensou que fossem seus amigos. Foi sua primeira grande decepção. Viu-se sendo trocada aos poucos, esquecida, e o que um dia foi uma grande amizade se transformou em "coleguismo", e passou para conhecidos. Transformaram-se em estranhos com o tempo. Ela ainda se lembra das datas de seus aniversários. Houve uma época em que ela ainda os desejava parabéns, embora nenhum deles fizesse o mesmo. Aos poucos, ela aprendeu a desapegar. E precisou se desapegar várias vezes desde então.

Ela se sentia entorpecida.

Havia um vazio enorme em seu peito. Ela se perguntava constantemente qual o ponto de viver, se não há nada para o que viver. É uma vida tão sem graça. Ela se sentia feliz por vivê-la, embora, ainda que nada de emocionante jamais tenha lhe acontecido. Mas ela ainda tinha esperanças. Esperanças de que um dia ela pudesse mudar — e, consequentemente, todo o seu mundo mudaria ao seu redor. Ela já até dera pequenos passos. Bem tímidos. Apenas para testar o sentimento. Até correr de volta para o local seguro antes de se sentir pronta para tentar novamente. Um dia, ela caminhou longe demais. Ficou tentada a olhar para trás. A voltar. Mas não olhou. Permaneceu com os pés plantados no chão até ter a certeza de que, se fosse se movimentar, seria apenas para frente. Um progresso.

Ela nunca havia realmente se apaixonado.

Teve grandes sentimentos por Finn Hudson. Gostou dele. Realmente. Mas ela era só uma criança fingindo saber alguma coisa da vida, de amar, e estava tão errada. As pessoas esquecem com facilidade que, quando engravidou de Puck e perdeu Finn, ela também teve seu coração partido. Pela primeira vez. Por erros que ela mesma cometeu. Arrependia-se deles, só que não podia voltar atrás. Tentou ignorá-los, por um tempo, até perceber que precisaria enfrentá-los. Foi difícil, mas ela se tornou mais forte. Mais corajosa. Um pouquinho mais sábia.

Ela era medrosa.

Até que, um dia, alguém a ensinou a arriscar. Uma garota. Minúscula. Morena. Cabelos pretos, e olhos da cor de chocolate. O ser humano mais irritante que ela já conheceu. Alguém tão oposto a ela, e ao mesmo tempo tão parecida, que chega a ser um tanto assustador. Ela podia saber o que a garota estava pensando, às vezes, apenas pela expressão em seu rosto. Aprendeu a decifrá-la por conta da quantidade de tempo que passaram juntas. A garota tinha seus defeitos, também. Era teimosa. Não aceitava um não como resposta. Podia pisar em cima das pessoas para conseguir o que queria. Era egoísta. E o mais engraçado é que ela gostava de todas essas coisas, porque faziam com que a garota fosse exatamente quem ela era. O que faz uma pessoa não só suas qualidades, mas, também, todos os seus defeitos. Eles formam um todo. E ela adorava o todo que a garota formava.

Ela ficava muito na defensiva.

Até a garota aparecer. Rachel Berry. E foi como se todo o seu mundo tivesse virado de cabeça para baixo. Rachel foi o incentivo que ela precisava para começar a mudar tudo o que não gostava sobre si mesma. Rachel foi o exemplo que ela precisava para saber que, com foco e determinação, você pode chegar tão longe quanto sua mente pode imaginar. Até mesmo realizar o impossível.

Ela encontrou a felicidade.

O vazio foi preenchido quando os lábios de Rachel tocaram os seus. Ela se sentiu completa pela primeira vez em toda a sua vida. Ela olhou para aqueles olhos castanhos, sentindo seu coração bater mais depressa no peito, e se perguntou como podia amar alguém tanto, e sem ao menos perceber. Foi tão natural. Rachel se tornou parte do seu dia. Parte dela. E ela a fazia rir. E ela a fazia se abrir. E ela gostava de ler, também, então elas contavam sobre seus livros favoritos, e dividiam seus sonhos, seus segredos, suas vidas.

Ela sempre soube que não seria fácil.

Houve pedras no meio do caminho. Ela tropeçou em algumas. Por vezes, ela não conseguia aguentar a personalidade de Rachel, sempre tão energética, e escondia-se em seu quartinho, escrevendo, deixando transcorrer pelos seus dedos tudo o que seu coração lhe dizia. Isso sempre parecia fazê-la se sentir melhor.

Ela pensa no passado.

Não tanto quanto costumava pensar, mas ainda fica se remoendo por atitudes que sabe que não deveria ter tomado. Rachel sempre segura sua mão nesses momentos, e diz que, se não fossem pelos seus erros, talvez elas nunca tivessem se tornado amigas. Amantes. Um casal. Ela pensa sobre isso, também. Por mais que queira mudar algumas coisas em relação ao passado, ela não se arrepende. Pelo menos, não da maioria. Porque ela sabe que Rachel está certa. Ela sabe que se não tivesse percorrido aquele caminho, então nunca teria se tornado a pessoa que é hoje.

Ela acredita em segundas chances.

Ela acredita que pessoas podem mudar.

Ela acredita no amor.

Ela acredita em si mesma.

Não é tudo, ela sabe, mas é o bastante.

Ela vê sua vida como as páginas de um diário. Não há um começo certo, e nem um fim determinado. Então ela vai vivendo, preenchendo cada página como se fosse a última. É o bastante.


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Notas finais do capítulo

Feliz natal, e um próspero ano novo! :)



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