Na Palma da Mão de Deus escrita por Louvre


Capítulo 5
Um ponto na imensidão do universo


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo que não chega a ser grande, espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/449551/chapter/5

Capítulo 5: Um ponto na imensidão do universo

E aí locão...

Velho, hoje eu percebi que não sei escrever cartas, malditos e-mails e afins que tiraram essa prática da humanidade! Como tem passado? E você Tereza como está? Fiquei sabendo do óbito de sua mãe, eu sinto muito, não pude comparecer ao velório... E como estão meus dois afilhados? Não tem um dia que eu não pense naqueles dois, lembro quando eu parava pra brincar com eles e saía todo moído!

Sabe locão, eu estive pensando esses dias, de quem seria a culpa de tudo estar como está? Talvez do tempo, sim o tempo, essa força natural destruidora que afasta aos poucos todos os rostos cotidianos da infância e adolescência, que força aprender a viver, a seguir em frente sem olhar pra trás... Mas por que, afinal de contas, é tão ruim olhar pra trás? Afinal gostava-se tanto daquelas pessoas! Por que não se pode olhar pra trás se as histórias da vida estão lá? Por esse motivo resolvi te convidar pra passar um tempo aqui na cidade que eu to morando, convidei geral da nossa turma da época de escola, pelo menos quem eu achei o endereço. A Irene, o de menor, o Jaime, a Maria Joaquina, a Evellin, achei até o endereço daqueles gêmeos agora tirando onda de australianos, convidei todos, também convidei o Mário, a Rebeca e o marido dela, eu não achei o endereço de alguns então mandei pro endereço que eles moravam na nossa adolescência, tomara que a carta chegue até eles.

Vai ser legal, vamos fazer uns almoços bacanas, conversar merda pra caralho! Jogar muito vídeo game, karaokê, qualquer loucura que nos der na telha! Vamos esquecer por uns instantes que temos obrigações com Deus e o mundo, vamos lembrar aquela adolescência que talvez não tenha sido perfeita, mas foi divertida, ou vai dizer que não foi engraçado quando, sem querer, o de menor fez aquele gol de cabeça contra o time do outro bairro, ou da outra rua, esse detalhe não lembro direito, ou quando o Jaime e a Evellin começaram uma guerra de bolinhas de papel? E aquela vez que a gente se juntou pra fazer que o encontro do Paulo e da Valéria fosse inesquecível e acabou que deu tudo errado com mangueiras e lama e tudo mais? Foi hilário!

Eu gostaria muito de ver você e os outros pela última vez, é chato falar isso, não queria dizer dessa forma, mas já enrolei muito. Eu to morrendo, diagnóstico final do médico, não existe esperança pra mim, mas existe pra todos vocês, seremos todos felizes, eu nos meus últimos dias, vocês pra sempre! Quero levar comigo a imagem de nossa eterna turma, a imagem da sala 9-B, a imagem da nossa felicidade!

Não fique triste, afinal nenhum de nós é nada diante da imensidão do universo, somos como um grão de areia, como uma semente de mostarda, ínfimos demais pra deixar que desavenças, coisas mal resolvidas, rancor ou simplesmente a falta de tempo nos afaste de quem nós amamos. No fim somos tão pequenos, somos parte do tempo, estamos todos na palma da mão de Deus...

Era essa a essência do que estava escrito na carta, cada um recebeu uma carta dessas com algumas leves mudanças, eram essas as palavras que fizeram os colegas de Nicholas chorarem como crianças.

.................

– Como isso aconteceu? O que ele tem de tão grave? – Maria Joaquina falou em prantos ajoelhada ao chão.

– Não sei! Não fala nada aqui! Mas que merda! – Alicia também chorava, mas não tanto quanto sua amiga.

– Ele parecia tão saudável, tão feliz... Ele ainda tem coragem de colocar uma piada numa carta dessas?

– Eu não sei você, mas eu vou lá na cidade que ele ta morando, vou passar esses dias lá como ele pediu, ele era meu amigo, ele é meu amigo! Eu não vou deixar ele morrer sozinho!

– Mas ele não ta sozinho, ele tem mãe, pai, irmão, talvez tenha se casado, tenha filhos!

– Talvez?! É esse o problema, eu considerava o Nicholas meu amigo e eu, simplesmente, não sei se ele tem família, filhos, se a mãe dele ta bem, se ele fez as pazes com o pai. – as palavras de Alicia estremeceram mais ainda Maria Joaquina.

– O que ta acontecendo mãe? – Lavi perguntou adentrando o lugar, ele ouviu o choro de sua mãe e de Alicia, se aproximou de Maria e a abraçou. – Mãe não chora, te ver sofrendo me faz sofrer também!

– Maria Joaquina, você precisa visitar o Nicholas, ele precisa da gente!

– Você não leu a carta Alicia?! Não tem mais jeito, ele vai morrer de qualquer forma! Não tem porque eu ir lá!

– Não é esse o motivo real, não é? Você tem medo de quem vai encontrar lá! Maria Joaquina, você precisa superar, o Nicholas ia querer que você superasse, ia querer que fosse feliz! – palavras com muita propriedade de Alicia.

– Eu não sei o que ta acontecendo, mas parece que alguém muito importante pra vocês duas está numa situação muito ruim, mãe eu vou com a senhora, não precisa ter medo de nada. – as palavras de Lavi a fizeram chorar mais.

– Você não pode ir meu menino, eu tenho medo por você.

– Por quê? Não precisa ter medo por mim mãe, e se você for eu vou, não vou te deixar no momento que você mais precisa de mim! – o garoto falou com maturidade, por aquele instante não parecia um menino de somente doze anos.

– Aja com sabedoria Maria, aja com sabedoria! – Alicia falou, Maria refletiu por um breve momento e falou:

– Ta certo, chega de fugir, nós vamos juntos meu menino, vamos conhecer muitas pessoas lá Lavi! – ela falou abraçando mais forte seu filho. – Será que vocês podem me dar licença? Preciso muito ir ao toalete... – ela falou se levantando e saindo do local.

Maria Joaquina seguiu os corredores de sua casa até chegar à porta do banheiro, não chegou a entrar, ali ela se apoiou e se sentou, chorava muito, palavras se desenhavam em sua mente.

“- Você é louca! Eu não fiz nada!

– Você não me engana seu merda! Você era um merda quando te conheci e continua um merda agora! Você e aquela vadia se merecem!

– Pelo amor de Deus Maria Joaquina, você consegue se escutar ou você ta tão bêbada que nem se ouvir ta conseguindo mais?! O que deu em você? Você humilha as pessoas, as maltrata, não tem a mínima noção de respeito para com os outros... Espera, você não mudou não é, você sempre foi assim...

– O que você quer dizer com isso?

– Acabou Maria Joaquina, não da mais pra gente ficar junto!”

A jovem também se lembrou do barulho da chave de seu carro entrando na ignição, do ligar, do arrancar do automóvel, sons que não gostava de lembrar, ouviu passos também, mas esses não estavam em sua cabeça, esses vinham da sua esquerda.

– Aqui senhorita, um chá pra lhe acalmar, a senhorita precisa. – era Rute, a leal serviçal, ela se aproximou de sua patroa e lhe ofereceu o remédio natural.

– Obrigada Rute... O que eu faço?

– Seja forte, seja forte senhorita! Lembre-se apenas de que todos nós somos apenas um pequeno ponto na imensidão do universo, diante disso o que são nossos problemas?

Essas últimas palavras de Rute foram fortes demais pra Maria Joaquina, até porque eram parecidas com as palavras da carta de Nicholas, o jovem estava morrendo em seus trinta e quatro anos, perto disso o que eram os problemas de Maria Joaquina? O que eram os problemas da maioria das pessoas? O que eram seus erros? Perto disso os fardos ficavam mais leves, talvez o perdão ficasse mais fácil.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É meio tensa a situação se levar em consideração que é uma pessoa que se conhece desde a época da escola, só não sei se consegui passar corretamente essa ideia.

Até a próxima!