Na Palma da Mão de Deus escrita por Louvre


Capítulo 19
O sentimento que nunca vai morrer


Notas iniciais do capítulo

A situação do Jaime e da Maria ta tão complicada, depois do último capítulo eu imagino que é possível entender a postura dos dois personagens.

Mas enfim, vamos ao próximo cap, boa leitura!



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Capítulo 19: O sentimento que nunca vai morrer

– Você tem certeza disso? Ele vai melhorar mesmo? – Maria Joaquina falava com uma conhecida, uma jovem vestida como enfermeira. Não era a Maria Joaquina atual, era a jovem Maria Joaquina ainda estudante de medicina, curso que ela nunca concluiria.

– Eu não disse isso, falei que já vi pessoas se recuperarem de situações piores. Ele ta muito mal, quebrou vários ossos, não sei se vai voltar a andar algum dia, mas está vivo e não corre risco de morte segundo os médicos. – Maria Joaquina chorava num misto de alegria e tristeza, de alívio e desolação.

– É tudo culpa minha! O que eu fiz não tem perdão! Eu deveria estar presa agora!

– Ele não quis isso, por ocasião do acaso eu estava na ambulância que o levou, eu ouvi quando ele falou pra não chamarem a polícia, que você só estava confusa e que não era uma criminosa.

– Confusa?! E que tipo de pessoa “confusa” atropela a pessoa que mais ama? Ele sempre foi bom demais pra mim. – chorava mais.

– A bebida nunca foi boa conselheira... – a enfermeira falou abraçando Maria, aparentemente as duas tinham certo grau de amizade.

– Acredite, eu nunca mais vou beber! Nunca!

– É uma boa atitude... Escuta, eu não te contei tudo, o Jaime está em coma. Apesar de todos os ferimentos, apesar de todo o trauma que o corpo dele sentiu, os médicos acreditam que o coma é anormal, era pra ele estar lúcido.

– Mas você disse que ele vai melhorar, não é?

– E vai! Tenha fé! O problema é que, muitas vezes, o coma se relaciona a um trauma mental e não um físico, coma são situações muito complicadas, a ciência ainda não o entende completamente.

– Eu só faço mal pro Jaime, só sei fazer isso...

– Ele te ama Maria, é preciso que você esteja ao lado dele pra que a recuperação aconteça mais rápido. – a enfermeira falou.

– Ele é forte, ele vai se recuperar sozinho, e ele terá uma vida ótima longe de mim... – Maria falou se soltando do abraço de sua amiga.

– O que quer dizer com isso? Não está pensando em...

– Eu vou embora, vou deixar o Jaime em paz... Me ligue quando ele melhorar...

– Está cometendo um erro Maria Joaquina, você sempre elogiou a minha sinceridade, o fato de eu nunca esconder a verdade de ninguém, e estou usando dela agora. Eu conheço vocês dois bem, vou repetir, você está cometendo um erro!

– Eu não quero mais causar dor ao Jaime.

– E como acha que ele vai se sentir quando descobrir que você foi embora?

– Essa dor ele vai superar, comigo ele nunca será feliz!

– Você está cometendo o maior erro de todos, mas a vida é sua, queira Deus que eu é quem esteja errada. – mais uma abraço caloroso e as duas se despediram, Maria havia se decidido, estava firme de sua decisão.

Não muito tempo depois ela foi vista no aeroporto, alguns conhecidos dizem que a viram falar sozinha, alguns dizem que a escutaram falar baixo: “Adeus Jaime...”

.....................................

– Ok... Ok... – eram palavras de Bernardo, fazia alguns exames básicos possíveis naquela situação. Próximo dele algumas pessoas observavam apreensivas, afinal nenhuma delas está em sua mente pra saber o que ele concluiu da situação de Jaime.

– Como ele ta, Bernardo? – Maria pergunta.

– Aparentemente ele desmaiou por conta de uma queda de pressão, possivelmente ele sofre de pressão baixa...

– Mas por que ele não acorda? – palavras de Alicia.

– Ah sim, não se preocupem com isso, ele não ta mais desmaiado, ele ta só dormindo e bem profundamente!

– Isso é bom, não é? Mais cedo ele havia falado comigo que não tinha conseguido dormir a noite, e que não tinha tomado café da manhã... Deve ser por isso que ele desmaiou. – dizeres de Lavi.

– É bem provável, se ele realmente sofre de pressão baixa, e eu tenho quase certeza disso, ele não pode ficar sem tomar café da manhã e precisa dormir direito... Na verdade qualquer pessoa precisa dormir direito e tomar café da manhã... – Bernardo falou de forma engraçada, seus colegas riram de leve menos Maria. – Ele não corre perigo, mas seria muito bom que ele fosse ao médico amanhã cedo.

– Será que ele é cabeça dura igual na época de escola? Por que se for convencer ele de ir ao médico não vai ser tarefa fácil. – opinião de Rafael, estava à porta, apreensivo como os outros.

– Rafael, muito obrigada por ter trazido o Jaime pro quarto dele, eu não ia conseguir trazer ele sozinha. – Maria agradeceu.

– Nem se eu e o Lavi te ajudássemos a gente conseguia trazer ele pro quarto, ele é muito grande! – Alicia exclamou.

– Mas você trouxe ele sozinho, você deve ser bem forte, apesar de baixinho... – dizeres de Lavi, mais uma de suas frases ditas sem pensar.

– Pois é Maria Joaquina, até seu filho gosta de me lembrar que sou pequeno! – as palavras dele fizeram os outros rirem, dessa vez até Maria sorriu de leve. – Mas e você? Você tava desesperada, gritando, chorando, só por isso que achei você naquele pedaço do jardim. Você ta bem agora? Quer que eu te traga alguma coisa?

– É impressionante, de menor continua o mesmo cavalheiro da época de escola. – comentário de Alicia que fez Rafael corar.

– Vocês agiram certo em me chamar antes de mexer no Jaime, se ele tivesse quebrado algo vocês poderiam ter piorado a situação. – Bernardo observou. – Você foi esperto de menor, você subiu no meu conceito! – fez piada se referindo ao fato de Rafael ter o ligado ao encontrar Jaime desmaiado.

– Já ta tarde, se ta tudo bem não tem motivo pra eu te prender aqui Bernardo, obrigada! – Maria falou agradecendo a seu colega. – Eu vou passar essa noite ao lado do Jaime, afinal eu que causei isso, é o mínimo que posso fazer.

– E você ta bem mesmo pra fazer isso? – Alicia pergunta.

– Estou sim, eu também não conseguiria dormir numa situação dessas. – Maria responde, Alicia se aproxima dela e lhe segura às mãos.

– Quantas brigas nós tivemos e agora estamos aqui... Se precisar me chama, eu venho cá te ajudar.

– Eu digo o mesmo! Menos a parte das brigas... – Rafael exclamou, falou de forma engraçada, as mulheres riram.

– Bom, eu sou o único enfermeiro aqui, então não preciso falar pra vocês me chamarem, não é? Ta subentendido. – palavras de Bernardo, ajeitava seus óculos e sorria de leve. Nesse instante Maria se lembrara do que Alicia falou mais cedo, de que independente da opinião de cada um sobre o que Maria teria feito todos ali eram seus amigos e a apoiariam. Algumas lágrimas começaram a descer.

– Obrigada, obrigada a todos vocês! – Maria agradeceu novamente, seus colegas se despediram e saíram do quarto. Do lado de fora Bernardo e Alicia caminhavam juntos enquanto conversavam.

– Quer dizer então que você é enfermeiro? Quando pretendia me contar? – ela perguntou.

– Quando fosse necessário, eu não saio por aí me apresentando pela minha profissão. – resposta dele, ela riu.

– Ia ser engraçado se fosse assim, “Oi, eu sou o enfermeiro Bernardo, prazer em conhecer.”

– Ta vendo como seria estranho? – ele riu junto. – Mudando de assunto, viu como a Maria estava preocupada, acho que ainda existe um sentimento dela pelo Jaime. Às vezes nem a distância consegue sufocar um sentimento. – falou olhando bem nos olhos dela.

– Acho que você tem razão. – ela também o olhava fixamente nos olhos dele.

– Hei, vocês... Vocês estão indo ver o Nicholas? – era a voz de Rafael que lhes tirou do transe.

– É... Sim, pensei em dar uma olhada nele antes de dormir. – Bernardo se explicou sem graça.

– Pois é, e eu to acompanhando. – palavras de alicia igualmente sem graça.

– Bom, então eu vou com vocês, também quero ver como ele está. Você falou que ele passou mal hoje mais cedo...

– Foi sim, Rafael, ele tava mal hoje, mas ele pediu pra não contar pro João, como se o garoto não fosse esperto o suficiente pra perceber.

– É tão difícil essa situação... – palavras reflexivas de Alicia.

.........................

– Mãe?! – a voz de Lavi chega até os ouvidos de Maria a surpreendendo, ela imaginou que seu filho já estivera longe daquele quarto.

– Ô meu menino, quer alguma coisa?

– Eu?! Eu quero saber se a senhora quer alguma coisa. – ele falou de forma engraçada, os dois riram.

– Não precisa se preocupar, eu vou ficar bem cuidando do Jaime, pode ir jantar, jogar vídeo game, conversar com os outros. Divirta-se com o que o Nicholas ta nos oferecendo. – depois de tais palavras ele se aproximou dela e a abraçou.

– Mãe... Você gosta do Jaime? – a pergunta inusitada a fez corar, ela tremeu um pouco também. – É que, você parece mais sensível que o normal perto dele, quando fala dele e tals... Parece que pra você ele não é um amigo de infância como os outros...

– Garoto, não se preocupe com essas coisas de gente adulta.

– Mas é que... Sabe, você é tão bonita, e ele é gordo, e manco e ele fuma também e...

– Você acha que a gente não ia combinar, não é?

– Não, ao contrário! Ele é legal, é divertido! E seria um tapa na cara daquelas pessoas que acham que a aparência é tudo o que eu importa! – a resposta dele foi tão inusitada que ela não conseguiu segurar os risos.

– Ah garoto, gosto da forma como você pensa... Mas é meio assustador, quando meu menininho ganhou essa mentalidade?! – o comentário dela o deixou meio sem graça, ele quem corou agora. – Mas enfim, vá se divertir, deixa que eu cuido do Jaime, você deve ta morrendo de fome!

– Isso é verdade, a comida daqui é tão boa! É por isso que o João, o Fabinho e o Nicholas tão barrigudos daquele jeito, o Adriano e o Renan cozinham muito bem...! Mas mãe, se você precisar dormir é só me chamar que eu fico com o Jaime, ele foi legal comigo, não importaria de tomar conta dele!

– Vocês são parecidos numa coisa, vocês dois tem um coração enorme, não medem esforços pra ajudar quem gostam! Eu já te falei Lavi, pode ir que eu vou ficar bem. – ela falou e o beijou na testa, mesmo relutante ele se foi, enfim a deixou sozinha com Jaime.

A noite foi longa, Jaime permaneceu dormindo profundamente, às vezes roncou, às vezes balbuciou algumas palavras, mas não acordou. Parecia que a cada meia hora alguém ia naquele quarto pra saber como Jaime estava, Tereza, Daniel, Irene, Adriano, Renan, Tom, Valéria, alguns chegaram a se esbarrar no caminho como Rafael e Marcelina, Maria Joaquina riu dos dois tentando se evitar.

Em determinado momento ninguém apareceu mais, provavelmente foram dormir enfim, mas Maria não conseguia, se sentia cansada sim, mas dormir era impossível pra ela naquela situação. Olhar pra Jaime ali era lembrar de todo o passado, e parecia que as coisas ruins latejavam muito mais forte na mente dela do que as boas. De repente ele falou algo, balbuciou já que continuava dormindo:

– Maria... Maria Joaquina... – ela se aproximou dele e se abaixou ao lado de sua cama.

– Jaime, parece que até em seus sonhos eu perturbo a sua paz, até em seus sonhos eu te faço sofrer. – ela passou a mão levemente no rosto dele. De súbito lágrimas começaram a descer.

– Você me falava que eu era o remédio para todos os seus males, na verdade eu sempre fui a causa de todo o seu sofrimento... – chorava com mais força. – Mas mesmo assim, mesmo com tudo de ruim que eu representei pra você, eu me sinto sufocada longe, é difícil respirar quando estou longe de você! Eu te amo tanto! – ela abaixou seu rosto bem próximo ao dele, sentiu sua respiração quente, tocou os lábios dele com os seus. Era como a primeira vez, era como se lembrava, era como sempre fora, aquela sensação de que nada existia ao seu redor, aquele sentimento forte e palpitante inexplicável que pulsava em si. Era como sentir o gosto da alma dele, era como sentir o gosto do sentimento, eram os olhos fechados revivendo aqueles primeiros dias de namoro, eram como os fogos do ano novo, a chuva do verão, como as flores da primavera, ou as folhas do outono caindo. Era o amor que ela tentou sufocar mas que nunca a deixara e que nunca a deixará.


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Notas finais do capítulo

Um beijo roubado de uma pessoa inconsciente, seria isso algo legal, romântico ou algo ganancioso, covarde? Fato é que o sentimento ainda existe e é mais forte que ela...

Até a próxima!