Fechei os olhos deixando meu rosto cair sobre as mãos, eu não queria mais assistir aquilo. Ouvi um dos paramédicos gritando Afasta! quando colocou o desfibrilador sobre o peito do homem fazendo um choque percorrer seu corpo, tentando reanimá-lo.

Isso aconteceu mais duas vezes antes de um pequeno som de batimento ecoar em meus ouvidos, levantei a cabeça ainda com as mãos erguidas e fiquei observando com a boca semi-aberta em expectativa, os olhos atentos para o peito do homem que se mexeu, um movimento quase imperceptível, porém o necessário para indicar que estava vivo.

Ai, meu Deus! exclamei sorridente.

Um suspiro de alívio pareceu percorrer pela platéia de pessoas que ainda não haviam se dispersado do local, onde só começaram a se afastar depois de colocarem o homem dentro de uma ambulância parada a poucos metros. O dono do carro que causou o acidente conversava com um policial que chegara pouco tempo depois dos paramédicos, sua expressão era surpresa enquanto sua mão passava por sua cabeça calva nervosamente.

Não perdi muito meu tempo para ver qual seria o destino do motorista e pulei dentro da ambulância, eu queria saber se aquele homem iria realmente ficar bem. Não deveria ter sido à toa que eu aparecera perto dele. Ou será que a quase morte dele me atraíra?

Em um instante eu estava dentro da ambulância e no outro estava em um corredor onde o chão, as paredes e o teto eram brancos. Encarei minha expressão confusa refletida no chão de piso polido e depois desviei a tempo de não ser atropelada por enfermeiros que empurravam uma maca com pressa em direção a uma porta que uma plaquinha envidraça indicava ser a UTI.

Entrei curiosa na sala, porém não fiquei tempo o bastante para alguém me notar caso estivessem me enxergando.

Na maca que acabara de ser empurrada para dentro da sala estava meu corpo estendido, imóvel. Eu estava me vendo no dia do acidente.

Pisquei ofegante para o homem que estava agora sobre uma cama, ligado por diversos fios em aparelhos que bipavam e levavam soro até sua corrente sanguínea. Aproximei-me lentamente para observá-lo, suas feridas causadas pela queda haviam sido cuidadas e limpas, mas sua respiração ainda era fraca, parecia que só estava respirando por causa dos aparelhos que o forçavam a puxar e inspirar o ar.

Juntei as sobrancelhas e toquei seu rosto, fazendo sua respiração voltar a um ritmo quase normal e seus olhos olharam semicerrados para mim.

Mortos sentem dor? resmungou.

Afastei-me tombando a cabeça de lado.

Que tipo de pessoa que acaba de ser atropelada faz essa pergunta? retruquei.

Ele piscou os olhos limpando a vista e focalizando-me melhor.

Então eu não estou morto? olhou para o aparelho que bipava indicando seus batimentos cardíacos.

Bem... Até onde eu sei, a única que está morta aqui sou eu. dei uma olhada em mim mesma, eu estava com a mesma roupa que saíra na rua no dia em que morri. E apesar de ser um pensamento estranho, eu estava aliviada por não estar usando o vestido de hospital ou até mesmo roupa nenhuma.

Uma enfermeira entrou no quarto perguntou a ele se estava bem e que iria avisar ao médico que havia acordado, enquanto isso os olhos do homem iam se arregalando cada vez mais ao ver que a enfermeira não percebera por um sequer instante que havia outra pessoa além dele ali dentro. Assim que ela saiu, perguntei:

Não havia acreditado? ergui uma sobrancelha enquanto fitava-o. Ah, eu ainda não sei o seu nome.

Jack... Jack Macoll ele estendeu a mão que não estava perfurada por uma agulha intravenosa.

Carlie Denver segurei sua mão, o que pareceu para ele o vento dando-lhe um aperto de mão.

Seus olhos giraram nas órbitas e ele desmaiou.