From The Razor To The Rosary escrita por Persephonne


Capítulo 4
Capítulo 4




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Pelo resto da semana, Frank continuou indo se confessar quase todo o dia. E a cada confissão nova ele acrescentava mais detalhes. Gerard estava começando a ficar louco, e a se perguntar se realmente ia conseguir resistir àquilo tudo. Mas, enquanto as investidas do garoto ficavam disfarçadas nos relatos eróticos que ele contava e não passavam para algum ataque físico, os impulsos do padre eram controláveis. Pelo menos até ele correr para o banheiro do escritório, escondendo com as mãos o volume que os trajes do sacerdócio não confidenciavam.

- ... e então eu o penetrei e, caramba, foi tão bom. Você não acreditaria no quanto ele era apertado, e no modo como ele gemia, Padre, você não faz idéia... Algo tão bom não devia ser pecado.

Gerard estava com as mãos fechadas em punho, a respiração frágil, se controlando para não levar as mãos à sua ereção que já transparecia pela batina. Pigarreou.

-Aí eu não consegui me segurar e deixei a minha mão correr pro meio das pernas dele e bati, com a mesma força e intensidade que eu mexia o meu quadril, arrancando gemidos altos dele, e não segurando os meus. Não, isso não devia ser pecado.

As mãos do Padre já suavam frio, e os dedos escorregavam ao pressionar as palmas das mãos. Aquilo não devia mais continuar. Ele respirou fundo e, antes mesmo de refletir sobre a censura, falou:

-          Por que você continua pecando tanto, se depois vem para se confessar e fingir que está tudo bem, sem ao menos se arrepender?

A expressão de Frank ficou séria. Suspirou, revirando os olhos.

- Você não entende, Padre. – Ele falou tão baixo que Gerard teve que se esforçar para ouvir. – Eu quero que você sinta. Afinal... você é o meu maior pecado.

Ao ouvir aquilo, Gerard tossiu. Levou a mão ao peito inconscientemente,  como se pudesse segurar o próprio peito e parar o impulso forte. Mas não adiantou: tinha se engasgado. Foi tomado por tal acesso de tosse que simplesmente não conseguiu parar, escorando o corpo no apoio do confessionário, com os olhos lacrimejados quase saindo de órbita. Frank perguntava num tom preocupado do outro lado:

- Padre? Tudo bem? Padre?

Mas Gerard apenas tossia, e Frank pensou “Pronto, matei o homem antes de poder sequer me divertir um pouco. Era só o que faltava.”, antes de sair do confessionário e ir ajudar o padre subitamente tuberculoso.

O garoto abriu a porta e viu Gerard inclinado para a frente, a mão já no próprio pescoço e o rosto banhado por lágrimas. O impulsionou para trás enquanto continuava a tossir e bateu levemente em suas costas, tentando ajudá-lo a sair da crise. Quando o padre finalmente conseguiu juntar fôlego o suficiente para se acalmar um pouco e diminuir a tosse, falou:

- Acho que você já se confessou o suficiente por hoje.

-Mas eu nem bem comecei!

-Começou sim, e já terminou.

Frank se afastou um pouco, fitando Gerard, pensando se ia ou não embora. Então notou o volume na batina dele e sorriu.

- Não sabia que as minhas confissões faziam tanto sucesso com você.

-          Fora! – Gerard falou, tentando se recompor. Frank continuava sorrindo.

-          Mas eu...

–Vamos, fora, eu já disse!

 Então o garoto abriu um pouco mais o sorriso, deu uma piscada pra ele e foi embora, satisfeito.

Dentro do confessionário, Gerard mordeu o lábio enquanto observava Frank se afastar. Fechou a porta da cabine e suspirou pesadamente enquanto deixava sua mão ir para onde ela estava querendo desde o momento em que Frank apareceu do outro lado da grade de madeira. Olhou para cima.

- Se essa é a sua idéia de uma piada, eu não estou rindo.

***

Depois disso, Frank passou alguns dias longe da igreja, para o profundo alívio do jovem Padre Way. Mas mal ele sabia da conversa que acontecia no escritório do Padre Williams enquanto ele preparava um café para si.

- Então quer dizer que o filho de vocês anda rebelde? – O padre Williams falava ao casal à sua frente.

- Sim, ele vive fora de casa, e é relutante quanto aos assuntos da Igreja, e só anda com os marginais.... – a mulher falava chorosa.

- Querida, ele não anda com marginais. E ele tem mostrado um interesse maior na igreja nos últimos dias. – o pai falou.

- Bem, pelo menos isso. – O padre disse. – Acho que sei como ele pode participar mais da comunidade. Com certeza vocês já ficaram sabendo do Padre Way?

A mãe abriu um sorriso largo e assumiu uma expressão quase sonhadora.

- Ah, sim...

- Bem, ele é novo na cidade e na comunidade, ainda está um pouco perdido. Acho que seu filho poderia ser o ajudante dele.

Os olhos da mulher brilharam.

- Sim! Claro! Nós ficaríamos extasiados em saber que o nosso filho passa os dias na Igreja ao invés da rua.

- Ok, então. – o padre sorriu. – O seu filho está aqui?

- Sim, sim. – ela foi até a porta e chamou alguém no corredor:

- Frank, venha aqui.

Então o Padre Williams viu um garoto de mais ou menos 18 anos, baixo, com calças rasgadas, uma camiseta preta e uma expressão mal-humorada.

- Frank, nós decidimos. Você vai ajudar na Igreja.

O jovem a olhou com uma expressão próxima a ódio. Ela continuou:

- Você vai vir todo dia, para ajudar o Padre Way.

A expressão de Frank mudou como mágica.

- Quê?

- É, você vai ser o ajudante do Padre Way. Vai fazer tudo o que ele pedir... – “com certeza que vou” ele pensou - ... e vai passar o dia aqui.

- Quantas vezes por semana? – ele perguntou, tentando não transparecer nenhuma emoção na voz.

- Todos os dias, exceto fins de semana. – a mãe falou, autoritária. Olhou para o Padre idoso, buscando apoio, e recebeu.

- Sim, segunda a sexta está bom.

Frank fez uma cara indignada e saiu da sala, bufando. Lá fora teve que se controlar pra não rir. Passaria todos os dias com o padre gostosão. Era quase fácil demais. Ele fez a sua cara carrancuda novamente e voltou a entrar no escritório.

- Quando eu tenho que começar? – falou com um tom além-túmulo. O padre Williams olhou no relógio e de volta para a eles.

- Bem, acho que você pode começar hoje, na verdade agora.

Frank percebeu naquela hora que deveria receber algum prêmio, por ter conseguido fazer uma expressão irritada ao invés do sorriso indecente que estava lutando pra sair.

- Hoje está ótimo. – a mãe falou. Frank concordou:

- Tá.

O padre se levantou, se despediu dos pais e Frank o acompanhou até o aposento do Padre Way, mas ele não estava lá. Então foram para a cozinha e o acharam tomando café. Estava de costas para a porta, alçando a xícara na pia, quando os dois entraram. O padre mais velho tomou a frente, e então Frank parou ao seu lado.

- Padre Way... – Williams falou. Gerard se virou e, com o susto ao ver Frank, quase deixou o café se derramar todo no chão. Após dar um suspiro de surpresa, ficou estático.

- Sim, Padre Williams?

- Este é Frank Iero, ele será o seu novo ajudante.

Gerard pôde sentir o sangue subindo para o seu rosto. As mãos começaram a tremer levemente, e sua respiração acelerou.

- A-ajudante? Eu, eu não preciso de, de...

- Precisa sim, você é novo na cidade, e o Frankie aqui está precisando de mais experiência.... – nessa hora Frank deu o seu sorriso mais safado para Gerard, que já estava profundamente corado. - ... na igreja.

- Oi, Padre Way. – Frank falou ainda sorrindo. Gerard estava apavorado.

- Mas, mas, mas....

- Não seja tímido. – o padre mais velho falou e Gerard engoliu em seco. - Bom, vou lá conversar com a irmã Madelane, resolver a questão da crisma desse final de semana. –Ele já ia se virando para deixar o aposento quando ouviu a voz rouca de Gerard atrás de si.

- Ah, tem certeza padre Williams? Eu posso resolver isso pro senhor depois e...

- Não, não precisa não, Gerard! –Virou-se para o outro sacerdote e sorriu amigavelmente. -Pode deixar que eu mesmo resolvo! Você e o Frank devem ter muita coisa para conversar, se conhecer, você precisa mostrar as dependências internas da igreja pra ele, e mostrar no que quer que ele te ajude...

Frank não conseguiu conter um riso abafado, tanto da situação quanto da cara de Gerard. Falou:

- O padre Williams tem razão. Boa noite, padre. Eu e o Padre Way podemos nos... conhecer melhor sem apresentações.

- Tem razão. Boa noite meu filho, boa noite, padre. – Williams falou antes de se retirar. Gerard se deixou cair numa cadeira, abobado. Frank apenas sorria pra ele.

- Você não vai falar nem um oi? – falou. Gerard o encarou.

- Eu não sei como você conseguiu isso.... mas eu tenho que admitir que você é determinado.

- Bem, na verdade meus pais me obrigaram a vir “ajudar na igreja” e o padre caindo aos pedaços lá que falou que você tava precisando de um ajudante. Não que  eu tenha vindo contra a minha vontade, imagine... eu estava com saudades já...

Gerard o olhou, se possível, mais pálido ainda.

- ... da igreja. – Frank completou, sorrindo. Gerard suspirou e olhou para o jovem. “Você vai me dar muita dor de cabeça, não vai?”, pensou.

- Bem, acho que você pode me ajudar a organizar uma papelada...

O sorriso de Frank diminuiu um pouco. Gerard sorriu aliviado. Seria uma longa tarde.


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