From The Razor To The Rosary escrita por Persephonne


Capítulo 1
Capítulo 1




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Frank suspirou irritado enquanto se aproximava cada vez mais da construção suntuosa. Seus olhos ardiam com o vento frio da manhã invernal, que cortava seu rosto sem piedade alguma. “Ninguém deveria ser obrigado a acordar cedo na droga do domingo”, pensou, ao bufar. “Ninguém deveria ser obrigado a ir à igreja e fingir ser algo que não é”.

Seus pais eram católicos fervorosos, e achavam que Frank também devia ser. Na verdade, faziam absolutamente de tudo para mandá-lo à igreja sempre que podiam, e, nos últimos tempos, vinham exagerando cada vez mais. Talvez fosse o que eles julgavam ser o melhor método para transformá-lo em alguém “normal”. “Normal” nas palavras deles, que viviam menosprezando e reprimindo a homossexualidade do filho por não aceitarem sua natureza. Inúmeras vezes brigaram e discutiram por esse motivo, querendo censurar uma verdade que não admitiam nem para si mesmos. Mas, apesar das feridas provocadas pela repressão dos pais, Frank ria de seus pensamentos. “Normal” era tudo o que ele não era.

Ele já tinha tentado entrar na igreja, assistir à missa, mas não conseguiu. “Insuportável”, pensava, ao assistir aquela multidão de pessoas rezarem e se emocionarem, guiadas por alguém de quem elas provavelmente não sabiam nem o nome inteiro. E, além do mais,  ele não entendia como podia haver gente que acha que ir à igreja todo domingo faria as suas vidas terem algum sentido. Ou ainda as beatas velhas e fofoqueiras que freqüentavam a igreja só para olhar a bunda do padre e falar mal da vida dos outros. “Todas hipócritas”, concluía. E não excluía seus pais do montante.

Então ele simplesmente parou de tentar. Ficava no outro edifício ao lado da igreja, que era usado para a catequese e como salão de festas, e ele permanecia sentado nos banquinhos da recepção da secretaria. Fazia aquilo há quase um ano e ninguém nunca descobriu nem perguntou nada.

Porém, quando mais novo, ele até havia chegado a ser um fiel e realmente ter fé na religião, mas aí vieram a adolescência, as festas, os meninos e... ele simplesmente cresceu. Cresceu e mudou, em muitos sentidos. Não que Frank não acreditasse mais em Deus e houvesse se tornado um marginal ou coisa do gênero. Mas ele simplesmente não sentia mais necessidade de se confessar, ou ainda ler e reler a bíblia como tantas vezes ele fez na crisma e na catequese. Agora ele apenas ficava lá, sentado por 1 hora fazendo nada, e então voltava pra casa. Apesar de que semanalmente era obrigado a manter a prática da confissão, embora não o fizesse mais com a sinceridade de quando era um garotinho. Havia se tornado mais fácil, inclusive: era só sentar na frente do confessionário e inventar meia dúzia de pecados que ele nem sabia se tinha mesmo cometido.

Enquanto entrava na recepção, viu um amigo que também estava na mesma situação que ele. Deu um sorriso cansado.

— Oi Alex. O que você tá fazendo aqui, não vai entrar?

— Não. Estou na crisma. – Alex falou com uma cara de quem não estava exatamente adorando estar ali.

Frank riu da cara dele.

— Ha ha, se fodeu. Eu vou ficar por aqui mesmo.

— Matando missa, como sempre.

— Como você adivinhou? –perguntou, sarcástico. Os dois riram e Alex continuou.

— Parece que tem um padre novo.

— Bonito?

— Pelo amor de Deus, Frank! É um PADRE. Não vai fazer diferença se ele for bonito, feio, careca, sem dentes, perneta...

— Pelo amor de Deus digo eu, Alex. Pára de falar besteira e me responde logo. – Os olhos verdes de Frank brilhavam em expectativa.

— Ah, não sei. Parece normal pra mim. Quer dizer, você que tem que achar ele bonito ou não.

— Ah é. – Frank suspirou, sentando-se no banco. - Ás vezes você é tão hetero, Alex.

— Deve ser porque eu sou. – o outro falou. – Tenho que ir. Vê se não resolve gostar do padre, nem nada assim.

— Você mesmo disse, ele é um PADRE. Por que eu ia gostar de um? Além do que, nem dá pra ver nada com aquela batina e...

— Nem começa Frank. E sei lá, vindo de você, nunca se sabe.

Frank virou os olhos e esperou o amigo se dirigir até a sala da crisma. Então se levantou calmamente e caminhou até o salão onde já ia se iniciar a missa, sem jeito, como quem não estava acostumado a fazer aquilo. E ele realmente não estava.

Parou no fundo, afastando uma mecha de cabelo que lhe caía sobre os olhos. Se o Padre fosse bonito mesmo, talvez ele até teria um motivo pra entrar na igreja no futuro. Examinou o ambiente com os olhos e se sentou num lugar mais isolado do resto das pessoas, perto de onde estava em pé anteriormente. Ficou observando ao redor, calado. Não entendia como aquela gente conseguia dedicar tempo e atenção a algo que nunca fez nada por elas. Suspirou e olhou para frente. O altar estava vazio, e não havia sinal de padre algum.

Ele já estava começando a ficar entediado quando alguém falou para todos ficarem em pé. Obedeceu e então o viu: muito jovem, cabelo preto curto até a nuca, pálido, com feições que, de longe, lhe pareciam delicadas. Frank franziu a testa e tentou se curvar sobre o corredor, para ver melhor. Mas, realmente, a distância entre ele e o altar era imensa e não houve outra alternativa senão sentar-se mais à frente.

Caminhou sorrateiramente pela lateral até achar um dos únicos lugares vazios, feliz e coincidentemente, bem na frente do sacerdote. Sentou-se, se sentindo um pouco desconfortável, e então voltou a observar o padre. Trajava uma batina preta, que contrastava com a pele alva e os olhos claros. Olhos claros? Só então Frank conseguiu prestar atenção naquele detalhe. O olhar. O olhar era o que mais chamava sua atenção. Ele tinha um olhar sábio, mas inocente, como quem tinha o conhecimento superior à todos os demais ali, porém não necessitava de esforço algum para demonstrar isso. Era espontâneo e inevitável.

Resumindo, aquele era um homem lindo. O tipo pelo qual Frank se apaixonaria. O tipo pelo qual qualquer um cairia de amores, na verdade. Um legítimo desperdício. Ah, se ele não fosse padre...

Os pensamentos de Frank foram interrompidos por outro chamado no microfone, pedindo para que os fiéis se levantassem novamente. A voz que ele ouviu, vinda do sacerdote, era profunda. Fazia parecer que ele estava falando só para Frank, embora estivesse falando pra todo mundo. Ele era.... perfeito. E Frank tinha padrões altos.

Perguntou a uma velha sentada ao lado dele qual era o nome do padre. Ela começou a tagarelar sobre como estavam admitindo qualquer um nesses dias, e depois de uns 5 minutos de falatório ela finalmente falou: Gerard Way. Padre Way.

Frank deixou o nome flutuar na sua mente. Padre Way... Gerard... Por mais que a brincadeira de Alex estivesse se tornando real e Frank realmente tivesse ficado a fim do padre, não pode evitar o sorriso que começava a surgir em seus lábios. “Depois da missa”, pensou. Não demoraria muito para agir.

***


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