– Zack Tyler, quatro. – falou Raphael do outro lado da parede da pequena sala que eu estava sentada. Senti um arrepio na minha nuca e pude perceber o quanto eu estava nervosa.

Alguns segundos atrás eu estava tão calma que poderia dormir aqui na cadeira. Mais foi só ouvir aquele nome para o meu corpo começar a reagir. Minhas mãos estavam suando e meu pé batia sem parar no chão. Meu cabelo estava começando a ficar mais pesado na minha cabeça e eu não conseguia achar uma posição boa para me sentar na cadeira.

Nenhum menino me deixou assim. Nem os que mais me “impressionaram”.

Andrew era um deles. Um dois bem apessoado e com um cheiro magnífico. Loiro, olhos verdes e azuis (sim, tinha hora que os olhos dele ficavam verdes e outras horas ficavam azuis.) e com mania de sorrir alegremente. E que sorriso. Daquele que fala “Eu tenho 32 dentes e sei disso”. É... O cara era realmente incrível.

Tinha também um tal de Christopher. Chis, para os íntimos, como ele mesmo falava. Ele era um cara divertido e que sempre tinha algo para falar no momento de silencio. Loiro de olhos castanhos divinos. Seu rosto era um pouco quadrado e ele tinha os cabelos puxados para trás. Parecia realmente um príncipe. Tanto de aparência quanto de personalidade.

Os passos se aproximaram da porta da sala e eu ainda estava nervosa o suficiente para não conseguir olhar para nenhum lugar alem do chão. De repente, enquanto ainda tentava me arrumar na cadeira ouvi a mesma voz doce do Salão Principal:

– Alteza. – falou Zack com metade do corpo fora da sala. A reverencia foi perfeita, o que me fez querer rir. Quando nós encontramos no Salão Principal dá outra vez ele me fez querer gargalhar da sua cara. Sua reverencia só não foi mais atrapalhada do que a de um bebe que estava aprendendo a andar. Até meu irmão, Raul, fazia algo melhor do que aquilo.

Ele me pegou de surpresa, pois eu havia parado de ouvir os seus passos. Enquanto eu estava tentando me arrumar na cadeira ele chegou e fez-me tomar um susto. Resultado: Eu cai com tudo no chão.

– A senhorita está bem? – perguntou ele se abaixando ao meu lado com cara de preocupado. Seus olhos transmitiam divertimento e seu cenho estava franzido. Ele estava bem embaixo da luz, o que fez com que seu rosto ficasse um pouco escuro. E então ele começou a gargalhar. E eu o acompanhei.

– Pare de rir! – falei em quanto gargalhava. O mais estranho é que ele parou de gargalhar na hora, segurando a risada dentro da boca. Só ai que eu percebi que ainda continuava sendo a Princesa que mandava em tudo e em todos. – Era brincadeira, pode continuar rindo.

– Não é correto rir de uma Princesa. – falou sorrindo. Depois ele me ofereceu a mão para conseguir me levantar, o que foi fofo. Quando me levantei ficamos muito próximos um do outro, o que me fez recuar corada. Ele sorriu ainda mais.

– Então Zack... – me sentei na cadeira desconfortável por não ter assunto com ele. Zack se sentou na cadeira à minha frente.

– A senhorita não se machucou? – perguntou serio.

– Não... É, e-eu estou bem. – droga! Eu gaguejei! Porque você tinha que gaguejar Angeline! – Ahm, pode me chamar de Angel.

– Certo Angel. – falou meio desanimado. Droga! Eu tinha me esquecido completamente da irmãzinha dele.

– Ou se quiser me chamar de Angeline ou, sei lá, pode me chamar de tudo menos Alteza. Ou senhorita. Ok, me chame do que quiser.– falei decidida. Ele sorria sentado na cadeira em minha frente.

– Não tem problema Angel. Já faz muito tempo. – falou como se tivesse querendo me consolar de algo que eu sofri e não ele. - Então...

– E-er...Você trabalha no que? – Droga Angel! Não tinha um assunto melhor não? Você tinha que cair da cadeira e ainda não ter assunto?

– Sou dono de uma livraria.

– Oh! Você gosta de ler?

– Na verdade não. – falou sorrindo tímido. Admirei ele depois desse momento. Zack poderia ter mentido para mim, falando que amava ler para me encantar, mais ele não fez isso. Ele foi ele mesmo. – E você Angel?

– Eu adoro ler. – falei sorrindo. Acho que deu pra perceber que eu meio que gostei dele né? – Na verdade, quando não estou fazendo alguma coisa do reino, eu estou lendo. Ou cavalgando.

– Eu sempre quis andar a cavalo! – ele falou e pude ver seus olhos brilharem. Era verdade. – Simplesmente amo animais.

– Você tem algum animal de estimação em casa Zack? – perguntei curiosa. Agora já tinha perdido a vergonha. Acho que ele trocou de assunto para que eu não ficasse tímida.

– A minha mãe é alérgica a pelos. – respondeu parecendo conformado. De repente imaginei Zack criança. Aqueles olhos castanhos doces pedindo para mãe para que ele pudesse ter um animal me fez sorrir.

– Você vive com a sua mãe e com o seu pai?

– Sim. Eu e eles moramos em uma casa não muito longe da praia. A minha irmã sempre gostou de construir castelinhos de areia, então meu pai sempre fez um esforço enorme para que ficássemos em uma casa o mais perto possível da praia.

– Eu nunca fui a praia.

– É incrível Angel! Você tem que ir! – animou-se, sorrindo amigavelmente. Isso me fez querer soltar um suspiro. Zack era mais do que eu esperava.

– Vamos fazer o seguinte: Eu te levo para andar de cavalo e você me leva a praia.

– Combinado. – falou erguendo a mão para que eu apertasse. Apertei e sorri.

Alguém bateu na porta e isso fez com que eu tirasse a minha mão da dele. Me arrumei melhor na cadeira e falei um “Entre”.

– Alteza. – Raphael entrou com a maior cara de pau, olhando feio para Zack. Meu Deus! O que ele estava fazendo aqui, no meio da MINHA entrevista. – Desculpe incomodar. É que ainda há alguns garotos para que a senhorita falar e bom... Essa entrevista estava demorando muito.

Ahm droga! Imagina o que as pessoas iam pensar?! Eu juro que não fiquei mais de 10 minutos conversando com Zack. Ahm droga! Agora ele me olhava sorrindo.

– Por quanto tempo nós ficamos aqui? – pergunte com medo da resposta.

– Pouco mais de meia hora Alteza.

Quebrei minha cara. MEIA HORA?! Droga, droga, droga, droga!!

– Ahm... – falei sem graça. E agora? Qual seria a minha desculpa para demorar tanto em uma entrevista como todas as outras? Zack pareceu ler a minha mente. Ele se levantou e caminhou até a porta.

– Me desculpe Raphael. Eu acho que falei muito e como a Princesa é muito fina teve a... – pensou um pouco na palavra e depois continuou. – classe de não responder mal para mim. Tenho certeza que ela não queria ter demorado tanto em uma conversa.

– Ahm... – se surpreendeu Raphael. Ele até estava sem graça. Mas se recuperou rapidamente e continuou a falar. – Bom, então deixe que ela continue as entrevistas senhor Tyler.

– Sim. – falou conformado. Depois disso se virou para mim. Com toda a certeza eu estava com cara mais surpresa do mundo. Ele mentiu para me proteger. Ele mentiu para que eu não levasse a culpa. – Desculpe Alteza. – Fez referencia e quando estava se levantando piscou para mim (sem que Raphael percebesse, claro).

Depois disso ele saiu. E eu não consegui prestar atenção em mais nenhum menino que entrou por aquela porta.