Os Olhos que Encontraram os Meus escrita por Yukii


Capítulo 6
Capítulo 6 - Desencontro de sentimentos




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-E então? Você não vai me responder, Sakura?


A voz de Tsunade soou como um poderoso despertador na cabeça da Haruno. Ela piscou, trêmula, e encarou a mulher à sua frente.


-Preciso pensar-sussurrou ela.-por favor. Estou confusa.


-Como quiser.-replicou a Godaime.-Me responda amanhã, por favor. E tente se lembrar qual é o seu dever, Sakura.


Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa a mais, Sakura irrompeu pela porta, soluçando, gritando e correndo desesperada de volta para sua casa. A primeira coisa que fez ao chegar lá foi atirar-se em cima da cama, afundando a cabeça no enorme travesseiro fofo.


Parecia que faziam séculos, e não algumas poucas horas, desde a última vez que ela deitara ali. Antes, a Haruno acreditava que não poderia existir nada mais confortável e acolhedor que aquela cama; agora, porém, na iminente perspectiva de ser obrigada a ludibriar o homem que amava, queria de volta aquela noite, aquela noite em que dormira nos braços de Uchiha Itachi, despreocupada com tudo mais que existia.


Passou a madrugada assim, chorando e soluçando. Acordou com a cabeça latejando intensamente, o corpo inteiro doído, e uma dura decisão na cabeça. Sakura caminhou firme até o banheiro, lavou o rosto lacrimejante e encarou os próprios olhos verdes refletidos no espelho. Tentando tomar coragem acerca da sua decisão, ela murmurou uma frase para si mesma:


-Está na hora de parar de sonhar, Haruno Sakura.


Enquanto caminhava a passo firme pelas ruas de Konoha, a kunoichi apertava as mãos com força, e mordia os lábios nervosamente, fazendo força para não revogar em sua decisão. Bateu três vezes na porta da sala de Tsunade e ouviu a Hokage responder:


-Entre.


Sakura obedeceu. Mal entrou, Tsunade levantou-se, encarando-a, séria. Abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Sakura a interrompeu, pronunciando as palavras que ela sabia que teriam que ser pronunciadas inevitavelmente desde a noite anterior:


-Eu aceito-falou ela firmemente.- Estou aceitando essa missão com orgulho.







As folhas estalavam e o vento sussurrava incompreensível, e inúmeros ruídos agitavam a mata densa. Alheio a tudo isso, um rapaz moreno caminhava, os longos cabelos negros sendo lavados pelo vento, os olhos rubros fixos na grama abaixo de seus pés.


Uchiha Itachi estava irritado. Não estava irritado com seu irmãozinho tolo, nem com as piadinhas de Deidara, nem com todas as outras coisas no mundo capaz de tirá-lo do sério. Estava irritado com a última alma viva que esperava se irritar algum dia: estava irritado consigo mesmo.


As coisas sempre tinham saído do seu próprio jeito. Ele sempre tinha conseguido tudo, até mais do que desejara, mas desde aquele fatídico dia em que a Haruno marcara sua vida, tudo vinha despencando.


O Uchiha mais velho pisoteou a grama com força, como se quisesse descontar seu descontentamento ali. Mas sabia melhor do que ninguém que a responsabilidade por tudo aquilo era dele mesmo, por ter nutrido uma paixão inviável pela última mulher que ele esperava se render a algum dia.


-Esqueça.-falou o rapaz em voz alta.- Não vou deixar mais ela aparecer mais na minha vida. Acabou.


Era estranho dizer aquilo; doía-lhe intensamente. Para amainar aquele sentimento incômodo, apanhou uma pedra lisa e delgada e atirou o mais longe que pôde, num misto de fúria e tristeza.


-Cuidado com isso aí-falou uma voz preocupada, vinda do meio do mato.-Você quase me acertou. O que diabos está dando em você?


A voz pertencia a ninguém menos que Deidara, saindo detrás de uma árvore próxima com a testa franzida para o Uchiha mais velho.


-E o que você está fazendo aqui?-replicou Itachi calmamente, apanhando a pedra que o loiro jogava de volta e apertando-a com força entre os dedos, como se quisesse fazê-la desaparecer.


-Sasori-danna pediu para eu falar com você.-explicou o outro.-Mandou você pegar de volta aquela garota, a kunoichi médica de Konoha.


-Sasori não me dá ordens-replicou Itachi, rangendo os dentes, mal-humorado.


-E se você não for pegá-la, quem vai, un?


-Vá você.


Deidara amarrou a cara para o Uchiha.


-Por que eu?-quis saber.


-Porque...-a resposta verdadeira lhe custaria muito; teria de admitir seu amor por Sakura, coisa que não tinha o calibre de fazer, a não ser na inebriante presença dela, e teria também de admitir que, perto dela, ficava fraco, vulnerável a todo aquele voluptoso amor que o possuía; em vez de tudo isso, resolveu mentir.-oras, porque estou cansado de caçar aquela menina por aí. Faça algo de útil, para variar.


-Tá bem, tá bem-o loiro concordou, irritado.-Mas o resto da missão fica com você e o Danna.


Itachi assentiu, sem realmente escutar o que ele estava dizendo. Deidara desapareceu num elegante floreio, por entre a mata selvagem, e Itachi suspirou, mal-humorado, erguendo os olhos para o céu e perguntando-se como seria capaz de apagar Sakura de sua vida e de suas memórias e voltar a ser totalmente o que ele sempre acreditara ser: um assassino frio, calculista e despreocupado.






Ban! Ban! Ban! As batidas na porta do quarto de Sakura soaram como tiros de canhão quando ela abriu os olhos. Não conseguira dormir muito bem desde que aceitara a missão de Tsunade, e agora, naquele comecinho de noite, estava com os olhos inchados de tanto chorar, a cabeça confusa, uma raiva de si mesma por amar o último homem que ela poderia querer no mundo.


-Já vou-resmungou ela, ajeitando-se da melhor maneira que pôde, calçando as botas de cano alto e correndo até a porta da sala.


Ultimamente, na constante depressão da Haruno, a casa adquirira um aspecto um tanto parecido com o que teria a casa de Naruto: roupas atiradas para os lados, folhas espalhadas, cacos de coisas que ela quebrara no auge de seu desespero, entre outros detalhes sórdidos. Sakura se deu conta disso imediatamente, ao entrar na sala, e pôs-se a arrumar apressadamente para que, quem quer que estivesse batendo na porta, não reparasse muito naquilo. Enquanto as insistentes batidas prosseguiam, a garota tentou ajeitar as folhas da melhor maneira, empurrou os cacos de porcelana para debaixo do tapete e ajeitou as almofadas do melhor jeito que conseguiu. Em seguida, correu desesperada até o hall e abriu a porta de entrada.


Do outro lado da porta, estava uma garota que ela nunca vira antes. Tinha os cabelos castanho-vivo presos num único coque, com duas longas mechas de cabelo a emoldurar-lhe o bonito rosto rosado. Os dois olhos azul-vivos dela pareciam dois botões de rosas de veraneio. Usava uma bermuda que ia-lhe até o meio das canelas, muito branca e limpa, e uma blusa sem mangas de gola alta cor de limão claro. As longas luvas que iam-lhe até os cotovelos tinham a mesma cor, assim como as sandálias finas dela. Ostentava um sorriso leve, e Sakura viu seu próprio rosto refletido no protetor de Konoha dela, enlaçado largamente ao pescoço, junto com a gola alta. Aparentava ter a mesma idade da Haruno.

-Boa noite-falou a menina educadamente.-Você deve ser a Haruno Sakura, certo?


-Sim, sou eu-confirmou a garota, hesitante.


-Me desculpe por incomodá-la a esta hora, e sem avisar antes, mas tenho um recado urgente. Antes de mais nada, me chamo Misha, Ichijou Misha, e estou aqui para informar que Hyuuga Hinata não poderá mais participar junto com você da missão para eliminar Uchiha Itachi, devido a uma missão urgente que ela e seu time receberam. Eu irei no lugar de Hinata.


Ela falou tudo isso muito comedidamente, ainda com aquele leve sorriso. Sakura tentou sorrir também, embora a menção daquela missão fizesse seu rosto endurecer. A Haruno apertou a mão da companheira, e falou:


-Certo. Estarei contando com você, Misha. Espero poder ser sua amiga. Você não quer entrar?


Na mesma hora Sakura notou que aquele convite fora um erro; sua casa estava um chiqueiro, e provavelmente Ichijou não gostaria de se arriscar ali.


-Oh, eu adoraria!-respondeu Misha alegremente.- Mas infelizmente não posso. Estou fazendo todos os preparativos para a missão, que, como você deve saber, começa amanhã. Me desculpe mesmo. Quem sabe eu possa lhe visitar em outra ocasião.


-Não, tudo bem!-replicou Sakura, aliviada, e conseguiu engrenar um sorriso.-Então, muito obrigada por tudo, Misha. Vou apanhar minhas coisas para me arrumar para a missão...-ela não conseguiu terminar a frase, tamanho era a sua confusão mental.


Misha despediu-se da colega e desapareceu nas ruas movimentadas de Konoha. Sakura demorou a fechar a porta, e quando o fez, caiu de joelhos no chão, chorando e soluçando, encostada na porta.


-O que estou fazendo?-sussurrou ela, a voz falha.-Itachi, o que nós fizemos conosco? É tudo culpa minha, não é?


E ali mesmo, chorando e soluçando, ela adormeceu, pensando no homem que tanto tentava esquecer.





Misha caminhava tranqüila pelas ruas de Konoha; era muito atarefada, tinha pouco tempo para ficar na vila, por isso ali quase ninguém a conhecia. Nunca tivera amigos realmente; o antigo time dela dispersara-se e ela acabara esquecida, ali, correndo de uma vila para outra em missões.


Subiu a estrada tortuosa que levava para fora da vila, imersa em pensamentos. Estava ansiosa por sua nova missão; fazia tempo que não recebia uma missão decente, e apesar da aparência frágil, gostava de lutar e era muito boa nisso. A idéia de eliminar alguém da Akatsuki a animava; já ouvira falar que eles era bastante perigosos, e queria testar com os próprios dedos se aquilo era verdade.


A garota sentou-se numa pedra saliente aos portões de Konoha, fechou os olhos e deixou o vento envolver seu corpo. Já fazia muito tempo que pudera ficar calma assim, por isso, seus sentidos ficaram anuviados demais para sentir a presença ameaçadora de alguém que rondava por ali.


Um ruído de galho se partindo a fez despertar; ela piscou, assustada, respirando rápido e olhando ao redor.


-Quem está aí?!-gritou Misha.-Apareça de uma vez!


Mas não houve resposta. Ainda sobressaltada, Misha afastou-se depressa dali, retornando à luz e ao calor da vila da Folha.






Sakura acordou, piscando os olhos pesados de sono e olhando ao seu redor as coisas quebradas e destruídas ao seu redor. Tinha a impressão que era a primeira vez em semanas que havia conseguido dormir; com isso, se sentia um pouquinho melhor.


Ao olhar pela janela, a Haruno notou que acordara um pouco cedo demais: a névoa matinal ainda pairava pelas ruelas de Konoha, e os passarinhos piavam alto a medida que o dia se desdobrava.


Aquilo foi bom para ela: em missões, era sempre bom estar desperto cedo, para qualquer imprevisto. Ao lembrar-se do que se tratava sua missão, sentiu uma forte vontade de entregar-se ao choro de novo; mas era uma mulher forte, como o próprio Itachi já chegara a lhe dizer, por isso não cedeu.


Resista, Sakura, pensou ela. Você já derramou muitas lágrimas, e terá o resto dessa sua vida miserável para chorar o quanto quiser depois.


Com aquele pensamento soturno a vagar como um urubu em sua cabeça, ela tomou banho, trocou as roupas e arrumou umas poucas coisas. Tsunade garantira que ela não ia precisar fazer muita coisa, nem ia lutar, para começo de história; mas para a Haruno, enganar o homem que mexia com todo o seu ser era um verdadeiro martírio.


-Sakura!-ela ouviu a voz de Misha chamá-la lá fora.-Você está pronta?


-Estou indo!-gritou a Haruno de volta, embora não se achasse nem um pouco pronta para trair Uchiha Itachi. Mas não podia esperar estar pronta para fazer aquilo; afinal, ela nunca ia estar pronta para isso. Mas ou fazia-o, ou desistia de seus dezesseis anos de vida focados em sua vida de kunoichi para tentar um amor com um homem que ela mal sabia onde estava.


Quando abriu a porta, viu Tsunade e Misha, ambas paradas nos portões de Konoha. Sakura correu até elas, estranhando o fato de Tsunade estar ali; desde quando a Hokage presidia missões daquele tipo?


-Boa sorte, Sakura-falou a Godaime.-Konoha está contando com você. E você está em ótimas mãos: Misha é uma jounin experiente, não há o que temer. E além disso, ela tem o Miyakugan.


-Jounin?! Miyakugan?-repetiu a Haruno, desafogando-se de sua dor para processar aquela informação surpreendente.


-Sim-confirmou Misha, com um sorriso tímido.-Não é que eu seja boa em lutas nem nada, na verdade, sou uma porcaria, mas já fiz tantas missões... que acabei virando Jounin. O Miyachuugan é um kekkei gekai, assim como o Sharingan e o Byakugan.


-Mas pensei que Konoha só tivesse dois kekkei gekai, o Byakugan e o Sharingan-contestou Sakura, franzindo o cenho.


-Eu não nasci em Konoha-explicou Misha, com um sorriso.-Vim de Iwakagure(Vila da Pedra) ainda criança, e o Miyachuugan é um kekkei gekai de lá.


-Você não é uma porcaria-repreendeu Tsunade, franzindo o cenho. Depois dirigiu-se à sua discípula.-Sakura, venha aqui um momento. Preciso falar com você por um instante.


Enquanto Sakura se aproximava da mestra, Misha afastou-se discretamente, para deixá-las conversarem a sós. Tsunade pousou uma mão no ombro de Sakura e falou, em voz baixa, em meio à madrugada fria:


-Sakura, eu sei o quanto isso está lhe custanto, mas entenda, os shinobis e as kunoichis tem que fazer sacrifícios pela sua vila, e espero que me entenda. Eu só quero o seu bem, mas algumas feridas às vezes são inevitáveis.


-Entendo.-murmurou a Haruno, embora sentisse-se incapaz de entender o que quer que fosse. Sem olhar a Hokage nos olhos, desviou-se da mão dela e gritou:-Vamos Misha!


A kunoichi acompanhou a colega, e ambas caminharam para além dos portões de Konoha, envoltas pela névoa madrugal. Enquanto isso, em silêncio velado, a mulher loira observava sua discípula e sua jounin de confiança se afastarem até virarem dois pontinhos, e perguntou-se se tinha feito a coisa certa, afinal.


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