Os Olhos que Encontraram os Meus escrita por Yukii


Capítulo 3
Capítulo 3 - Na garganta de pedra




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/44935/chapter/3

Enquanto caminhavam pela mata densa, Sakura aguçava a audição, em busca de sons que representassem alguém de Konoha que viera em busca dela. Pois tendo passado mais de doze horas que a garota desaparecera, era normal que alguém desse falta dela.


Por outro lado... aquele estranho seqüestro chegava a diverti-la. Ultimamente, a vida da Haruno tinha se tornado extremamente monótona, pois ela costumava passar seus dias afundada numa depressão horrenda por causa do abandono e tristeza que a dominavam desde a última vez que tinha encontrado Sasuke. Estar ali, em plena mata fechada, com aquele rapaz misterioso, vilanesco e ao mesmo tempo carinhoso e com um grande poder de mexer com o coração dela, era simplesmente incrível e prazeroso.


-Para onde estamos indo?-perguntou ela timidamente.


Num movimento gracioso, ele virou o belo rosto para ela, fazendo o coração da garota bater com insistência.


-Se eu contasse, você jamais me seguiria. Vamos continuar brincando assim que fica tudo bem.


As palavras dele fizeram a garota tremer, embora estivesse milagrosamente quente.


Itachi continuou andando, um metro a frente dela, e Sakura pegou-se admirando estarrecida o corpo dele. Tinha movimentos leves e precisos; os cabelos pareciam harmonizar perfeitamente com o mundo à sua volta. Apesar da capa larga da Akatsuki que o encobria, Sakura pôde divisar o busto dele, e surpreendeu-se como encaixava-se perfeitamente com o resto do corpo. Tinha músculos bem definidos, mas não exageradamente; apenas o bastante para lhe dar umas curvas suaves. Sakura sentiu-se estranha; era como se, de repente, toda a repulsa e o ódio que tinha com relação àquele homem tivessem sumido, graças aos gestos delicados dele, as maneiras atenciosas. Talvez um pensamento errado sobre Uchiha Itachi sempre tivesse habitado sua mente. Ele havia matado todo o seu clã, era verdade, mas, ao mesmo tempo, ele parecia ser uma pessoa completamente incapaz de fazer isso.


Um barulho alto despertou-a de seus devaneios. Itachi parou de andar; ambos concentraram-se num ruído muito baixo e farfalhante que vinha de algum lugar da mata, um ruído insistente e quase silencioso.


Meio segundo depois, Itachi pegou a Haruno nos braços, disposto a arrastá-la junto de si para longe daquele barulho; não pôde fazer isso sem antes corar um pouco de vergonha, ao sentir as curvas bem definidas dela aninhadas em seus braços; ela também corou, pois, inevitavelmente, os rostos deles ficaram muito próximos um do outro, tanto que ele podia ver cada marca leve no rosto dela, cada traço daquela pele rosada, que ele desejou mais do que tudo tocar, acariciar e beijar.


Mas não havia tempo para isso; o ruído aumentava gradativamente, espalhando-se pelo ar como uma epidemia enlouquecedora; Itachi desviou o rosto corado das maçãs avermelhadas do rosto da Haruno para o lugar onde o barulho era mais alto.


Perplexos, Sakura e o Uchiha viram o ruído se materializar nos corpos de seus autores: eram membros da ANBU, uns vinte, talvez, todos utilizando diferentes máscaras que representavam um animal. Mesmo sem poder ver o rosto deles, por causa das máscaras, era evidente que todos os campos de visão estavam voltados para o membro da Akatsuki segurando a kunoichi da Folha em seus braços.


Itachi não pensou duas vezes antes de mergulhar com Sakura em seus braços na direção oposta, no meio de fartas plantas folhudas. Estava completamente saudável e disposto a lutas, mas quem estava ali não era um mero adversário, e sim 20 dos membros da elite de Konoha. Não havia o que pensar; havia somente que agir.


O Uchiha seguia entre a mata, os retalhos de luz solar iluminando parcialmente o rosto assustado de Sakura. Atrás, podiam-se ouvir os ruídos dos membros silenciosos da ANBU, perseguindo-os sem dificuldade; em pouco tempo alcançariam-os, Itachi sabia disso, e não podia deixar tal coisa acontecer. Ainda não cumprira sua "missão", que o levara a raptar a discípula de Tsunade, aninhada entre seus braços naquele momento, e agora seria muito mais difícil fazê-lo, já que estava desviando-se totalmente do caminho.


A única vantagem que tinha era seu conhecimento acerca daquelas matas virgens. Itachi passava a maior parte de seu tempo ali, e por isso conhecia com precisão todos os atalhos e trilhas daquele lugar. Os membros da ANBU não tinham tanto conhecimento daquela área, pois andavam ligeiramente desnorteados, como se estivessem ali por um mero capricho do destino.


O Uchiha viu que não tinha mais muito tempo; ou arranjava um jeito de sair junto de Sakura daquele lugar ou os ANBU alcançariam-os e tudo se resumiria num esforço inválido.


Apertando Sakura nos braços, ele localizou um garganta de pedra entre duas polposas raízes de carvalho. Sem hesitar um instante, uniu suas últimas forças para dar um impulso desumano e cair lá dentro.


Sakura gritou; e enquanto mergulhavam fundo na garganta, Itachi sentiu os braços arranhando-se violentamente contra a parede de pedra; apertou um pouco mais Sakura contra os braços para não deixá-la se machucar.


Enquanto caíam, a Haruno sentia uma vertigem horrível; agarrou-se com força ao Uchiha mais velho, esquecendo-se de todas as diferenças, brigas e insatisfações. Pois agora os dois eram unidos por um objetivo comum: sobreviver à tudo aquilo.


Caíram no chão com um baque estrondoso; ali dentro era uma escuridão suprema. A primeira coisa que Itachi fez foi erguer os olhos para o retalho de luz que era a boca da garganta, lá em cima, à procura do sinal de algum ANBU; mas eles pareciam ter se dispersado dali, pois o chão acima deles voltara a ficar sereno e silencioso.


Cuidadosamente, o Uchiha depositou Sakura no chão, numa reentrância mais macia da rocha. Ela tremia e ofegava, e mesmo sem poder ver o rosto dela naquela escuridão cegante, Itachi sabia que estava assustada.


-Eles mandaram aqueles ANBU atrás de você?- quis saber o vilão.


-Não faço idéia- murmurou a assustada Sakura.


-Provavelmente não. Não mandariam vinte dos melhores ninjas de Konoha apenas porque uma mal-criada desapareceu.


Sakura amarrou a cara para ele, no escuro. Mesmo num momento daqueles, ele sabia exatamente tirá-la do sério.


Enquanto Itachi se acomodava da melhor maneira possível no solo rochoso, Sakura caminhava pela caverna subterrânea escura, tentando descobrir mais sobre aquele novo refúgio. A visão não lhe auxiliava em nada; ali era tão escuro que um cego teria ficado tão perdido quanto ela. Mas ela podia ouvir o barulho constante de água corrente; e foi isso que a guiou.


-Não se afaste muito-recomendou Itachi, que conseguia vê-la na escuridão graças ao Sharingan.- aqui tem muitos morcegos.


-Não tenho medo de morcegos-replicou a Haruno calmamente, fazendo o Uchiha abrir um meio sorriso na escuridão.


Guiada pelo barulho e usando o seu tato, a kunoichi descobriu um pequeno lago leitoso de águas espumosas que corriam entre as rochas. Não era fundo; descobriu isso ao afundar um dos braços na água e sentir a rocha molhada entrando em contato com sua mão mais ou menos um metro abaixo.


Uma idéia engraçada tomou conta dela: poderia tomar banho ali. Estava suja, cansada e dolorida, e um bom banho sempre lhe fazia bem. Mas na mesma hora lembrou-se que Itachi estava ali, e seu rosto corou tanto que chegou a esquentar.


Mas aquela água parecia tão boa... a garota olhou furtivamente ao redor; se eu não posso enxergar nada, ele também não pode, pensou ingenuamente ela. Decidiu, portanto, aproveitar aquela água.


Começou tirando as botas, olhando assustada para os lados, atenta a qualquer ruído que indicasse a presença do Uchiha mais velho; não ouvindo nada, despiu a blusa também, revelando o farto e delineado busto. Olhou mais uma vez para a escuridão silenciosa antes de se desfazer das peças restantes.


Ao sentir a água gelada em contato com seu corpo, ela sorriu, contente; sentia como se houvessem séculos de sujeira em sua pele. Ficou ali dentro por pelo menos dez minutos, deixando a água passear pelo seu corpo, até sair da água e vasculhar em suas coisas algo que pudesse usar para se secar.


Achou uma toalha felpuda que costumava usar para lavar ferimentos; sendo uma ninja médica, ela tinha vários acessórios dessa área. Enxugou-se com a toalhinha e enfiou-se nas roupas de novo, sentindo-se agradavelmente mais leve.


Itachi repousava o corpo cansado numa grande reentrância da rocha negra que compunha as paredes da garganta; depois que Sakura saiu para explorar a caverna, sentiu o Sharingan desativar-se gradualmente, por causa de seu cansaço extremo.


Fechou os olhos e ficou estirado ali, ouvindo apenas os passinhos de Sakura pela caverna e a água espumante que tinha em algum lugar por ali.


De repente, o barulho tornou-se mais fraco e inconstante. O Uchiha abriu od olhos: o que estaria acontecendo? A água estaria acabando?


Isso é impossível, pensou ele consigo mesmo. Levantou-se, disposto a ativar o Sharingan e ir até o laguinho espumante para ver o que estava acontecendo; conhecia aquela garganta desde seus 12 anos, seria fácil andar por ali; mas no meio do caminho parou.


Uma idéia deliciosamente proibida atravessou os pensamentos dele; e se Sakura estivesse tomando banho ali? Seria possível, pensou ele. Imaginou-se caminhando silenciosamente até lá, o Sharingan ativado, simplesmente para olhar aquela garota, aquela flor... que coisa mais pervetida, pensou o rapaz, indignando-se consigo mesmo e voltando calado e a contragosto para seu lugar.


Sakura terminou de vestir-se e sacudiu os cabelos úmidos; ao apalpá-los, notou que já estavam crescendo de novo, e pensou desesperada como seria bom ter um bom cabeleleiro ali.


Atravessando a escuridão, ela procurava avidamente um lugar para ficar; mas ali ela não via nada, e deduziu, frustrada, que teria que ir pela sorte.


Estendeu os braços procurando um ponto mais confortável na rocha; e, quando os seus dedos finos encostaram em algo, ela percebeu, com horror, que aquilo que ela acabava de encostar era em ninguém menos que Uchiha Itachi, com aquele cheiro envolvente, macio demais para ser uma rocha.


Talvez tenha percebido tarde demais. Talvez não. Talvez isso devesse realmente ter acontecido como realmente aconteceu. Ela não sabia dizer. No momento que sentiu-o com a ponta dos dedos, aquele busto forte, perdeu a capacidade de articular frases ou de pensar em qualquer coisa. Estava tão próxima a ele que, mesmo no escuro conseguia ver o rosto suave dele, os olhos rubros, as marcas de expressão tão características...


Os dedos dele escorregaram por entre os cabelos rosados dela, aqueles cabelos que tanto amava, que tanto desejava, assim como aquela mulher por inteiro. A outra mão livre fechou-se na cintura dela com suavidade, delicadamente.


Há coisas que podem ser explicadas. Outras podem ser apenas com determinadas palavras. Mas aquele, aquele ato que se sucedeu entre o olhar cálido de Sakura e a paixão que despontava em Uchiha Itachi simplesmente não pôde ser explicado. Porque era amor, e amor não se traduz em palavras, nem mesmo num "Eu te amo". Porque o amor deles era algo puro, algo novo para ambos, era sincero.


E então, quando os lábios dela uniram-se aos deles num movimento lento e floreado, eles sabiam que dali para frente, não precisariam de palavras, mesmo que quisessem verbalizá-las. Não precisariam de gestos, pois estes, assim como as palavras, eram provas de um amor que não precisava ser provado.


Porque era real.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!