[Alyssa]

– Você tá brincando que é por isso, não está? - Íris estava se segurando pra não cair na gargalhada

– O que? Não me diga que você tem algum tipo de preconceito ou coisa assim...

– Não, de forma alguma, é que estava tão na cara, como eu fui burra de não perceber? Oh meu deus, desculpe por tirar conclusões precipitadas Ally - Ela ria

– O-Ok, isso foi vergonhoso, agora podemos acordar a Violette?

– Ah sim, claro! Faça as honras...

Eu acordei a Violette e depois disso ficamos conversando durante horas. Mais tarde, Peggy, Kim e Melody chegaram com ingredientes para fazermos pizza junto com a mãe da Violette. No fim da noite, Rosalya e Leigh chegaram com alguns filmes. Bom, eu já havia conquistado o futuro sogro, e por sorte, consegui conquistar a futura sogra também, que era uma pessoa animada e bem liberal. Tão liberal, que convidou todos para dormirmos lá mesmo, já que estava muito tarde.

– Pai? Eu vou dormir na casa de uma amiga, tudo bem?

– Qual amiga? - Meu pai perguntava amargamente do outro lado da linha

– A Violette. Amanhã eu volto de ônibus pra casa, tudo bem?

A resposta foi um belo e sonoro "não" como esperado, além de que, ele mandou eu voltar para casa naquele exato momento. Me despedi de todos e Íris se ofereceu para me levar até a porta.

– Tome cuidado ao voltar pra casa - Ela sorria - E... Bom, posso te dizer algo?

– P-Pode...

– Acho que você tem chances com a Violette!

– Oi? - Será que o sono estava fazendo com que o cérebro da Íris atrofiasse?

– Sim! Você só tem que mostrar que vai estar ao lado dela sempre que ela precisar - Ela dava pulos de animação - Se você quiser, eu te ajudo. Podemos combinar de sair e de última hora eu inventar uma desculpa pra não ir, assim vocês ficam mais tempo sozinhas, e também...

Íris começou a planejar e supor várias coisas, mas se Violette não gosta de garotas, pra quê planejar tudo? Tudo bem que teve o incidente do vestiário, mas não significava nada, n-não é?

– íris, por que você está tão animada assim?

– Oi? - Ela acordava do seu longo devaneio, falando em tom baixo - Ah, como explicar...? É que o coração da Violette é quebrado em vários pedaços, e eu acho que você poderia ser a cola perfeita. Só não faça mais rachadura alguma, não acho que o coração da Vio iria aguentar.

Assim como eu estava quando o Alex conheceu o Ken, digo, Kentin, Íris também queria proteger o coração da Violette.

Voltei pra casa o mais rápido que pude, por ser tarde. Abri a porta esperando meus pais me esperando no sofá da sala com uma cara de reprovação, igual nos filmes, mas pelo contrário, quem estava lá era Alexy, mas não me esperando, estava com olheiras enormes e assistindo algo que eu não faço ideia do que era.

– Alex... Você está bem? - Eu me sentava do lado dele, enquanto ele colocava uma das mãos na frente do rosto e se virava pra me responder

– Eu estou amando, como eu posso estar bem?

Tirei a sua mão da frente do rosto, ele estava tão vermelho quanto uma cereja.

– E-Eu vou... pedir o Kentin em namoro - Ele dizia baixo essa ultima parte

– O QUE? É SÉRIO?

Ele tirou uma caixinha do bolso e abriu, haviam dois anéis dentro dela. Me segurei pra não chorar, era um daqueles momentos que você percebe que alguém cujo você sempre viu como um bebê, já não era mais tão bebê assim.

– É por isso que você não dormiu ainda? - Perguntei

– É sim, eu to pensando no melhor modo de fazer isso. Eu nem sei o que eu vou falar...

– É um pouco difícil colocar o que está no seu coração em palavras, mas tenho certeza que o Kentin vai adorar, de qualquer forma - Eu fazia carinho na sua cabeça "carinhosamente"

O dia havia sido cansativo, não só a Íris, mas a Rosalya também descobriu que eu gosto da Violette. Ok, ela não descobriu, eu que contei por livre e espontânea vontade, ela desconfiou e eu apenas confirmei o que ela já sabia, foi um pouco antes de eu ir embora, todos estavam dormindo, apenas nós três que não, então ninguém ouviu. Ela disse que o primeiro passo deveria ser eu mostrar pra Violette que eu estou lá pra ela, e eu acho que isso era uma boa forma de começar algo também.

Eu rolava de um lado pro outro na cama, pensando se isso ia realmente dar certo. Sei que na sala, Alexy estava fazendo a mesma coisa.

No dia seguinte, acordei com mais determinação do que no resto dos dias, e não só em relação a Violette, eu me sentia determinada sobre todas as coisas, sentia que conseguiria fazer tudo.

– O ruivo da minha sala disse que precisava de um baixista, não era? - Eu pensava olhando pro meu baixo. Era um Les Paul vermelho da Gibson, lindo, extremamente lindo. Eu tinha ele fazia uns dois anos, eu coloquei o nome de Jake. Acho que seria divertido fazer parte de uma banda... - Hoje você vai dar uma voltinha comigo, meu amor.

Coloquei o baixo nas costas e fui para a escola junto com o Alexy e o Armin, como de costume.

Todos estavam falando sobre o fato do Castiel precisar de membros pra sua banda. A maioria das garotas soltava um grito de fangirl babaca quando pensavam nele e no Lysandre no palco. Quando deu a hora do intervalo, vários alunos foram até a nossa sala de aula, pois era quando Castiel e Lysandre fariam uma espécie de teste, eles realmente estavam desesperados pra achar um baixista e um baterista

– Aqui vou eu! - Eu pensei, já pegando o meu baixo

– Ally! - Violette vinha na minha direção acompanhada de um caloroso sorriso - Você vai almoçar comigo e com a Íris hoje?

Violette ou banda? Violette ou banda? Violette ou banda? Argh!

– Vou sim! - Sorri de volta, deixando o meu baixo no fundo da sala novamente - Mas em troca, você vai ter que ir em um lugar comigo depois da aula.

Ficamos em uma das arquibancadas da quadra, na parte mais alta. Íris havia trazido algo de casa, já eu e Violette compramos pão na cantina. Apesar da Íris ficar com a constante cara de "estou atrapalhando", a companhia dela era muito divertida, ela não percebia, mas parecia um monstro comendo e se sujava toda hora, ela sempre pedia desculpas por isso, por mais que eu e Violette não nos incomodássemos. Quando acabamos de comer, conversamos sobre várias coisas

– Então você vai tentar entrar pra banda do Castiel e do Lysandre? Isso é ótimo! - Violette dizia, apesar do seu jeito monótono de falar, dava pra perceber uma animação em suas palavras.

– Mas o Castiel é tão exigente... Boa sorte Ally, de verdade - Íris dava um tapinha nas minhas costas.

– Ah é, vocês querem ir comigo fazer o teste? Vou procurar por eles depois da aula.

– Eu vou! - Violette sorria até os olhos ficarem pequenininhos

– Eu não vou poder, me desculpem, vou ter visitas em casa e minha mãe quer que eu volte cedo - Íris piscava pra mim, é claro que isso era parte do plano dela de fazer com que eu e Violette ficássemos sozinhas

– Ally - Violette colocava o dedo na minha bochecha esquerda - Você está vermelha aqui.

– N-Não estou! - Eu virava o rosto pro lado oposto a ela, pra esconder.

Tentei fazer o que a Rosalya havia falado, durante as aulas, eu conversava com Violette em forma de bilhetinhos, já que eu e os professores somos inimigos naturais e com certeza eles reclamariam de eu abrir a boca no meio da aula

Eu tenho certeza que você se sairá bem no teste ヾ(´･ω･｀)

– Sempre tão fofa... - Suspirei

A aula acabou e foi como se Castiel e Lysandre houvessem se teletransportado, coloquei o baixo em minhas costas e saí junto com Violette perguntando pelas pessoas na escola se alguém tinha visto eles. Ninguém viu pra onde eles foram, mas ninguém os viu saindo da escola também, então tinha uma chance de acharmos eles.

– Que droga, será que não existe ninguém bom o suficiente nessa escola? - Eu ouvi uma voz vindo da ultima sala do corredor

– Se você não fosse tão exigente... - Só podiam ser eles!

Corremos em direção e sala, eles já estavam guardando os fios, o amplificador de som e o violão para irem embora.

– Esperem! - Eu respirava com dificuldades, de tanto que corri pra achar eles - Ah, que bom que encontrei vocês! Sério, vocês não sabem a quanto tempo estou procurando por vocês e...

– Desculpe, já estamos indo embora - Lysandre dizia olhando para Castiel, como se estivesse dizendo "reclame com ele"

– Sério? Vocês não podem nem me ouvir um pouquinho?

– Você não ouviu o que ele disse? - Castiel reclamava amargamente, saindo da sala

– Ei! - Violette segurou a manga da camisa dele - Nós procuramos vocês por toda a escola, não temos culpa se vocês resolveram ficar na ultima sala!

Castiel olhava curioso pra ela, tendo em vista que é difícil ela se opor à alguém.

– A-Além disso, ela deve ter se esforçado bastante, e ela estava tão feliz em fazer o teste que passou o dia todo falando disso. Será que dá pra ter um pouco de consideração aos outros, ou será que o seu enorme e azedo ego não é capaz de te deixar fazer isso?

Castiel a olhou dos pés da cabeça, dava pra ver que ela estava com medo de levar um soco ou qualquer coisa que fosse típica dele. Lysandre sorriu pra ele como se estivesse concordando com a Vio.

– Tsc, tá bom, tá bom... - Ele concordava - Dois minutos, nada mais que isso.

– Muito obrigada, meu deus! - Eu tirava o meu baixo da capa bem rápido - Prometo que não vai se arrepender!

Tutorial de como surpreender alguém tocando baixo: faça o solo de alguma canção do Red Hot Chilli Peppers! É sério, o FLEA é tipo o Deus Supremo do Baixo, é difícil algum baixista que consiga chegar perto de ter o talento dele, e sinceramente, antes eu conseguia, eu tinha que conseguir outra vez. ♪

Comecei com o solo de Stone Cold Bush, Lysandre e Violette se animavam enquanto Castiel ainda estava com a cara emburrada, quando o solo estava acabando, comecei a pensar no próximo que iria tocar

– Pensa, pensa... Claro, Aeroplane!

Toquei o solo de Aeroplane, e Castiel não mudou a expressão. Alyssa idiota, devia ter pensado em um solo não tão parado.

– Naked In The Rain, por favor, faça alguma coisa por mim...

O solo de Naked In The Rain não era nem um pouco parado igual ao de Aeroplane, não sei se foi por isso, mas agora Castiel estava com o dedo indicador e o polegar encostados ao queixo, como se estivesse me analisando, Lysandre e Violette me olhavam espantados.

– Próximo, próximo... Já sei! Skinny Sweaty Man.

Um sorriso esboçava no rosto do ruivo, aleluia! Lysandre dava uma cotovelada de leve no braço do Castiel.

– Ei, ela é boa - Ele dizia

– Ainda quero os meus dois minutos.

Mas que garoto chato! Não havia dado dois minutos ainda? Eu precisava de mais um solo, só mais um, aquele que ia decidir se eu ia entrar pra banda ou não.

– Coffee Shop, estou contando com você.

Ele era um pouco mais complicado que os outros, mas nada impossível de se tocar. Senti uma gota de suor escorrer pelo meu rosto, eu estava muito nervosa, muito, eu mal sentia os meus dedos tocando. Mentalmente, eu torcia para que não tivesse errado nota alguma, torcia pro Castiel gostar, torcia pra isso dar certo.

Acabei exatamente aos dois minutos, Lysandre e Violette me aplaudiam enquanto Castiel não falava uma unica palavra

– Ally, eu não sabia que você tocava tão bem assim - Violette pulava de alegria do meu lado, e do outro estava Lysandre

– Francamente, você é algum tipo de robô projetado pra tocar baixo? - Lysandre ria

Eu me levantei e coloquei o baixo com cuidado na cadeira. Fui em direção a Castiel, ele ainda estava com a cara de emburrado, mas um emburrado até que sorridente.

– E então...? - Eu arqueava uma sobrancelha, esperando a resposta.

– Eu não quero você.

Depois de todo o meu esforço pra agradar ele, ainda não fui o suficiente, que coisa mais patética.

– ... Em uma banda que não seja a minha.

– O-O que? - Eu arregalava os olhos, sentindo que ia derreter por causa da adrenalina

– Você ouviu bem, garçonete - Ele sorria

– Bem vinda ao time! - Lysandre dava um tapinha de leve no meu ombro

Eu consegui! Toda a determinação no começo do dia não foi a toa, eu consegui agradar ao Castiel, apesar de tudo.

[Alexy]

– Você pode me encontrar na sala de artes às 16:00? - Eu perguntava

– Ahn? Aconteceu alguma coisa? - Kentin se assustava com a minha seriedade

– N-Não, eu só quero te falar algo

– Então por que não fala agora?

– Porque mais ninguém pode ouvir, é óbvio.

Ele soltou uma leve risada e foi caminhando para fora da sala

– Eu vou estar lá, não se preocupe!

E sorriu, um sorriso que só pode ter sido feito no paraíso.

Eu andava de um lado para o outro na sala, segurando a caixinha com as mãos atrás do meu corpo.

– K-Kentin, eu pensei sobre o que você falou no parque de diversões e... Não, estranho demais!

Eu estava a quase uma hora ensaiando, por que é tão difícil dizer tudo o que se passa no seu coração?

– Kentin, eu sei que é um pouco estranho, você pode até achar cedo demais... Argh, o que eu estou fazendo?

16:00

Meu coração batia como uma britadeira, em pouco tempo ele estaria ali na minha frente, o que eu ia falar? Fiquei tanto tempo pensando no que eu falaria, mas no fim, meus ensaios não serviram pra nada.

16:10

Onde ele estava? Será que ele tinha se esquecido?

16:30

Eu chorava como uma criança que havia perdido os pais no supermercado. Será que ele não me amava tanto assim? Ou será que eu não era mais importante pra ele? A pessoa cujo demorei tanto pra conseguir, por que?

Pude ouvir passos vindos do corredor, só podia ser ele!

– Alexy! - Era Íris, limpei as lágrimas rapidamente - O Kentin pediu desculpas e disse que teve que ir ao hospital.

– O que? Aconteceu algo com ele?

– Não, aconteceu algo com o avô dele.

O senhor que estava na foto do balanço e em várias outras que vi na parede do Kentin, o mesmo senhor que é alemão e que passou a tradição da culinária de nome difícil pro Kentin, tenho certeza que é ele! Os olhos do Kentin brilhavam sempre que ele falava das histórias do avô. Ele nunca demonstrou, mas sei que ele ficava triste pelo avô passar tanto tempo no hospital. Droga, fui tão egoísta pensando só em mim, que não pensei que algo poderia ter acontecido.

– Eu preciso ver o Kentin - Eu falava cabisbaixo

– O que você disse? - Íris perguntou

– O Kentin disse em qual hospital que ele estava?

– No que é perto da rodoviária. Mas Alexy...

– Diga ao Armin e a Ally que não vou voltar antes do jantar hoje!

Saí correndo e fui ao bicicletário, subi na minha bicicleta e saí em disparada em direção ao hospital. Havia alguém que precisava de mim, e eu faria o que fosse possível para confortar o coração dessa pessoa.