O Desaparecido escrita por Coelhos do Sol


Capítulo 13
Algumas Notas Mentais


Notas iniciais do capítulo

Feito por: Mellyne Saboia
Roteiro por: Mellyne Saboia



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Algumas Notas Mentais

E coisas não muito importantes

Enquanto o arrependimento lhe batia na porta, Nádia andava sorrateiramente pelo portal de vinhas. Era um grande arco, somente ele, feito de pedra, mas envolto em vinhas e videiras. Do outro lado era visível a continuação da estrada, mas Nádia sabia que era mágico, sentia isso. Desejando ainda ter a benção de Bia, ela balançou a foice, que era segurada pelas duas mãos. Tinha que ser forte, tinha que deixar todos os sentimentos no momento em que passasse por aquela porta. Ela sentia que era preciso fazer aquilo.

Então se perguntou por que levava tudo tão a sério. Dionísio não era um deus importante, afinal. Ele só servia para embebedar os homens e animar festas. Por que os outros precisam de festas? Por que o mundo precisa de alegria? Ela é tão veloz e passageira, nunca fica tempo o suficiente. Isso irrita. Talvez eu e Nádia estejamos sendo somente ignorantes, mas eu realmente odeio a alegria. Como um narrador, eu deveria ficar em cima do muro. Mas com certeza eu estou do lado do filho de Dionísio. Não vejo razão para que ele continue entre os Doze.

Quando passou pelo portal, sentiu o cheiro de vinho se intensificar e de repente não estava mais no mato, mas sim numa adega. Pessoas riam, bebiam e jogavam nas mesas de sinuca. Era quatro, ao total. Nos fundos do ambiente festivo, estava uma velha máquina de jogos eletrônicos. Nela, um homem de camisa havaiana de estampa de leopardo e chinelos jogava animadamente. Ele tinha inúmeras fichas nas mãos, mas parecia estar se saindo bem no jogo. Quando Nádia chegou perto, após empurrar muitos bêbados e garçonetes, percebeu que o homem estava no nível 274 do jogo.

Ele olhou para cima e então sorriu, enquanto avançava para o nível 275.

– Dionísio – Nádia disse, tentando soar imponente. Mas depois de tudo o que tinha passado, era impossível. – O que faz numa adega?

– O de sempre – Dionísio riu. – Sou o deus das festas, ora essa. Onde tem festa, tem um pouquinho de mim.

– Então não me arrependo de ter recusado todos os convites de festas. – Nádia revirou os olhos.

Dionísio soltou uma gargalhada gostosa, avançando para o nível 276.

– Não estou aqui porquê quero. – ele disse. – Estou aqui porque estou preso. Não posso sair por aquela porta. Quando você entra aqui, não sai. Você viu aquele portal na rodovia?

– Vi. – Nádia concordou.

– Pois ele é um radar. Eu o senti lá do Acampamento e vim o mais rápido que pude. Era uma armadilha, mas eu senti a festa tão divertida que não pude evitar. Quando notei, não havia porta para sair. Não consegui me teletransportar. – ele bufou, chateado.

– Então o que pensa que está fazendo? – Nádia perguntou. – Estou aqui para salvá-lo. Não importa o que você pense, mas eu vou arranjar um jeito de sair.

– Todas as portas estão enfeitiçadas. – Dionísio advertiu. – As janelas e as paredes. Tentei quebrá-las, mas não consegui.

– E o chão?

– Cavar o túnel até o lado de fora? Como? E como eu saberei que do outro lado será seguro? Olha, prefiro ficar neste ambiente a me arriscar por ai. Meus poderes estão ausentes por causa da magia.

– Você não entende? Quanto mais ausente estiver, mais esquecido será. E quanto mais esquecido, mais seus poderes enfraquecem. Se as pessoas se esquecerem de você, irá desaparecer.

– Não irão se esquecer de mim.

– Irão. – Nádia disse. – Se esqueceram até mesmo da deusa da voracidade e da dureza, como não se esquecerão de você? O deus do vinho? Das festas?

Dionísio ficou vermelho, ou melhor, roxo. Zangado.

– Sou muito bem conhecido! Historiadores, semideuses... Ficarei na história!

– Muitos deuses ficaram na história e mesmo assim não passam de lendas. Você quer virar um mito? – ela perguntou. – Não sei quanto a você, mas eu tenho uma pessoa lá fora que está neste exato momento esperneando e gritando para que eu volte para ela. Ele pode não saber, mas sente minha falta. Também existem pessoas que sentem a sua falta. Seus filhos. Sua mulher. Você vai ficar aqui para sempre, deixando-os como se não fosse importantes?

– Quando você é um deus, tem de aprender a colocar prioridades.

– Pois a minha prioridade é manter aqueles que eu amo felizes.

– Você ama? – Dionísio ergueu uma sobrancelha.

Nádia sentiu o sangue gelar. Não, é claro que não amava! M-Mas... Fechou os olhos, lutando contra si mesma. Ela não amava, não amava ninguém. Um sorriso insano brotou em seu rosto. Isso, ela não amava ninguém! Levantou a cabeça, mas quando seus olhos enjoados se encontraram com os olhos violeta de Dionísio, ela se lembrou de tudo. De como sua vida tinha mudado. De como os sentimentos tinham se tornado tão importantes.

– Você ama, Nádia. – Dionísio sorriu. – E eu também. Você tem razão.

O deus deixou a máquina, que apitava Game Over. Ele tirou de dentro do bolso alguma coisa parecida com ma pedra. Era verde esmeralda e brilhava, como se o fogo estivesse refletindo. Ele pegou a mão de Nádia, e colocou a pedra lá dentro. Com cuidado, Dionísio foi até o balcão e pediu uma garrafa de vinho tinto. Pegou uma taça e voltou sorridente. Se sentou numa cadeira alta e então cruzou as pernas. Tirou a rolha da garrafa, despejou vinho na taça e tomou um gole, fechando os olhos profundamente e suspirando em prazer.

– O que está fazendo? – Nádia perguntou.

– Estou esperando você me tirar daqui. – ele piscou. – Afinal foi você quem veio me salvar.

Nádia suspirou, se lembrando de que Dionísio era a pessoa mais ridícula que existia entre os deuses. Talvez até mesmo Apolo fosse mais inteligente. Ela colocou uma mecha para trás das orelhas e então revirou os olhos.

Uma nota mental:

Nádia normalmente revira os olhos quanto está

brava, nervosa ou irritada.

Neste momento ela estava um pouco de tudo.

A pedra em sua mão ainda brilhava, intensa. Sentiu alguma coisa incomodar sem sua cabeça. Passando a mão pelos cabelos, sentiu alguma coisa dura entre os dedos, e quando viu o que era, percebeu que não tinha tirado a presilha que Sebastian lhe dera dos cabelos. Sentiu o alívio de tirar o objeto e deixar os cabelos livres. Nádia odiava prender as madeixas, mas por alguma razão tinha usado a presilha.

Pegou a foice e então a expandiu, vendo-a se tornar em uma grande arma negra e afiada. Dionísio aplaudiu enquanto ela rodeava os mortais. Eles eram verdadeiros? Será? Tentando não fazer alarde, pegou uma das garçonetes pelo braço e a arrastou até um canto. Desferiu um golpe contra o abdômen da moça, sabendo que armas de semideuses não ferem mortais. Assim que a lâmina atingiu seu corpo, a morena se desintegrou em pó. Piscando um pouco atordoada, Nádia correu até o meio dos bêbados e desferiu golpes giratórios, fazendo cinco se desintegrarem de uma vez. Divertindo-se com aquilo, não deixou um vivo para contar história. Dionísio aplaudiu novamente, embora a alegria e a gritaria tivessem sumido.

Sem ninguém para lhe atordoar e irritar, Nádia começou a estudar o ambiente, procurando algum lugar para utilizar de escapatória. Portas, janelas e paredes enfeitiçadas. A magia era forte, ela podia perceber. Deveria ser obra de alguma pessoa forte o bastante para se comparar a Hécate. Se lembrou da deusa pouco a pouco, enquanto os cabelos cacheados lhe vinham a mente. Recordou algo que Hécate tinha dito, algo que a deixou indignada.

“Não me meto nos assuntos dos meus filhos. As conseqüências dos atos deles não têm a ver comigo. Me orgulho de seus bem feitos.”. Isso... Hécate tinha orgulho de Cecília. Nádia encarou novamente a adega. Tentou ligar aquela lembrança á alguma coisa. Algo lógico o bastante. Cecília era um nome bem atípico entre a mitologia. Ou será que não? Alguma outra filha ou parente de Hécate com nome Cecília? Ou com nome... Ela piscou ao perceber que os pontos estavam se ligando. Circe. Entendeu o que Sasha tinha dito a Hécate durante o jantar. “CC está indo bem”. CC era o apelido de Cecília ou de Circe? Teve a sensação de que seu cérebro torrava. Mas se manteve controlada.

Algo lhe dizia que ela já tinha ouvido dizer daquilo no Acampamento, mas havia faltado a muitas aulas de Histórias Antigas.

– Dionísio, qual a relação entre Cecília e Circe?

– As duas começam com a letra C? – Dionísio devolveu a pergunta.

– Não brinque. – ela se irritou. – Circe está viva?

– Não. – Dionísio contou – Um semideus apareceu na ilha dela e a matou. Um não, cinco.

– Certo. Circe morreu... Quanto tempo?

– Acho que uns dezenove anos atrás.

– Dezenove... – ela pensou. – É a idade de Cecília. Dionísio, existe reencarnação?

– Alguns acreditam que sim. Hades não é alguém sociável e ele normalmente não fala de como é a morte. É legal deixar aquele gostinho de surpresa para as almas mortais.

– É possível que a alma de Circe tenha reencarnado no corpo de Cecília?

– É possível. – concordou Dionísio. – Estranho, mas possível. Não entendo por que Hades iria querer que uma mulher como Circe voltasse a vida. E além disso, todas as almas têm de se banhar no rio Estige para se livrarem das lembranças da vida na terra, e só depois reencarnar. Então Circe não iria se lembrar de nada.

– Mas mesmo assim ela teria afeto com a magia. – Nádia tocou a parede de madeira da adega. – Ela teria poder suficiente para enfeitiçar um lugar para um deus ficar aprisionado.

Dionísio sorriu, gostando do jeito que o raciocínio de Nádia seguia.

– Certo. CC enfeitiçou isto. Há alguém tão forte quanto ela?

– Filhos de Hécate são perigosos – lembrou Dionísio – Normalmente mais fortes que os semideuses normais. Podem ser comparados com os filhos dos Três Grandes. Os deuses menores temem eles. E alguns deuses como Afrodite e Apolo também. Eles são deuses meio... Fracos. Sem querer ofender. – Dionísio riu fraco – Eu mesmo tenho medo de Circe. Uma ver ela quase me transformou em cerveja... Acredita? Onde já se viu, o deus do vinho virando uma cerveja... Pois bem, quando os filhos de Hécate se dedicam a vida inteira para somente um feitiço, ele fica tão forte, tão poderoso, que é capaz de ultrapassar os poderes dos próprios deuses. Até mesmo de um dos Doze.

Dionísio disse, tomando cuidado com suas palavras.

– Mas quando lidam com algo tão forte e tão grande, eles queimam. Morrem. Não podem suportar um poder tão grande. Não é à toa que os filhos de Hécate morrem cedo. Alguns, embora muito cuidadosos, escapam por pouco. Circe se dedicou ao poder vitalício. E quando o realizou, ganhou uma segunda vida. Pois seu feitiço era exatamente esse: Viver para sempre. E assim, ela fez isso ao longo dos anos. Sempre que tomava a forma de uma idosa, fazia o feitiço e renascia. Hécate foi bondosa com ela, pois sempre a escolheu como filha. Mas por alguma razão, Circe escolheu não se dedicar ao poder da vida. Mas sim algo para prender deuses. E por isso, não pode mais voltar a vida.

– Você sabia disso tudo e não me contou? – ela mostrou estar indignada. – Então Circe era praticamente imortal. Mas agora, está morta.

– Ela viveu vidas demais, e precisa descansar. As parcas devem tomar conta do recado – o deus piscou – Por ora, você tem de se preocupar com o começo da sua pergunta. O que era mesmo? Ah, sim “Existe um deus tão poderoso quanto Circe”. Existe. A mãe dela, Hécate. O rei do Olimpo, Zeus. Hades e Poseidon. Talvez sejam os únicos capaz de fazerem algo.

– E você acha que eles fariam algo?

Dionísio mostrou um sorriso brincalhão.

– Posso ter ficado preso aqui, mas eu não fiquei desatualizado. Sei muito bem de tudo que você passou, Nádia. E sei a resposta. Mas quero que você a descubra.

– Ah, ótimo, novamente você vai me obrigar a torrar meu cérebro.

O deus achou graça daquilo e começou a rir fracamente. Depois tomou outro gole do vinho e cruzou as pernas, relaxando.

– Você realmente estragou tudo, Nádia Jana.

– É Hana. – ela corrigiu.

Dionísio piscou, como se aquilo fosse uma velha piada íntima.

– Eu adorava o barulho deste lugar. – ele suspirou.

Nádia tentou encontrar a resposta. Embora já soubesse a ligação de Cecília e Circe com tudo aquilo, ainda não sabia quem seria forte e bondoso o suficiente para ajudá-la a se livrar da magia. Hécate com certeza lhe pediria algo em troca, como era típico da deusa. Mas Hécate talvez fosse a forma mais rápida de se livrar daquilo. Olhou para Dionísio. Ele estava desatento, olhando para o lado, observando os retratos e os nomes de antigas marcas de vinho. Ele sorria de vez em quando, como se estivesse relembrando aquelas marcas famosas. Do mesmo jeito que alguém faz ao ver o álbum de quando era criança.

Hécate não era uma escolha. Nádia não tinha mais nada que quisesse abrir mão. E com certeza Hécate lhe pediria algo muito grande. Ela bufou, excluindo a deusa.

Zeus. Embora ele fosse pai (ou quase isso) de Dionísio, Nádia não podia pensar em Zeus ajudando-os. Mas era uma possibilidade, já que ele era ligado aos filhos de uma maneira carinhosa e atenciosa. Bastava saber se Dionísio era ou não seu filho. Pela primeira vez na vida se arrependeu por faltar nas aulas de Histórias Antigas. Não queria perguntar isso para Dionísio, pois seria constrangedor (como alguém tão famoso iria reagir quanto alguém pergunta quem é seu pai, alguém ainda mais famoso?). Então fez uma prece silenciosa para o deus dos raios. Esperou seis minutos, somente observando Dionísio de longe. Nada. Descartou Zeus.

Agora tinha Poseidon e Hades. Por que Poseidon iria lhe ajudar?

Restava Hades. O deus dos mortos. Nunca tinha pensado muito sobre ele, na verdade. Sabia que Bia tinha amizade com os deuses do “mal”, por isso acrescentou isso a lista de lados positivos. O que Hades iria ter como recompensa por ajudar Dionísio a se livrar da prisão? Alguma coisa... Clic. Talvez Atena estivesse lhe ajudando, Mas a resposta veio a sua mente: Uma garrafa de vinho capaz de fazer a mulher de Hades querer dar para ele todos os dias durante um mês! Outra coisa na lista de coisas positivas. Enquanto ia pensando, outros clics surgiam por sua mente.

Uma nota não tão importante:

Nádia tem “Clics” quando precisa pensar.

Outra nota, talvez importante:

Persefone não era lá muito chegada em sexo.

Quando a lista já estava quase no fim, ela se lembrou de algo que tinha acontecido na missão. Algo que tinha valido muita mais que sua alma. Ela tinha matado um homem que Hades perseguia há milênios. A lista estava completa.

A lista:

Bia tinha amizade com ele.

Dionísio podia ajudar-lhe com a vida sexual.

Ficaria muito bem para ele participar da história da missão que salvou o diretor do Acampamento, e seus filhos ficariam orgulhosos.

Dionísio tinha sido a razão para a morte definitiva de Circe.

Hades lhe devia muito mais do que cinqüenta anos de vida.

Tinha motivos de sobra para confiar no deus dos mortos. Com hesitante medo, ela voltou os olhos para Dionísio, sabendo que o deus podia ler seus pensamentos. Ele sorriu e então tomou seu décimo quinto fole de vinho.

– Sim, criança. Você está certa.

Nádia sentiu-se orgulhosa, enquanto esperava.

– O que espera?

– Ajuda. – respondeu.

– Mas ajuda de quem?

– De Hades.

– Como espera que ele venha lhe ajudar, sem que você peça?

Piscou os olhos, percebendo que Dionísio tinha razão.

Por favor, Hades, você me deve bem mais que cinqüenta ou cem anos de vida. Você me deve praticamente três milênios.

Bufou após dez minutos, sem respostas. Não queria repetir a oração, pois seria vergonhoso demais se humilhar diante de um deus dos mortos. Ela cruzou os braços sobre os seios se sentando ao lado de Dionísio e pegando o copo que ele tomava. Tomou um gole, adorando o sabor daquele vinho. O deus, como se soubesse, riu fraco e então apontou para a parede entre duas mesas.

As tábuas daquela parte da parede pareciam mais escuras que a maior parte da adega. Algo parecido com água vazou dentre as falhas na madeira velha. Então percebeu que não era água, e que não era molhado. Eram almas. De pouco a pouco, aquela coisa translúcida e mesmo assim palpável se tornava um corpo esguio e forte, musculoso. Logo depois vinha mais uma alma, e ao todo foram três. Eram três jovens musculosos e fortes, bem dispostos para uma luta. Ainda que e fosse possível ver a parede atrás deles, davam medo. Até mesmo para Bia. E então ela se lembrou do garoto que Arthur desarmou no Caça ao Queijo. E então se lembrou de Arthur. E depois de Victoria. Ainda atordoada com tudo aquilo, ela se forçou a encarar os meninos.

– Estão ao seu comando – Dionísio interrompeu seus pensamentos.

– De onde vieram? – Ela dirigiu a pergunta para Dionísio, porém um dos fantasmas é que respondeu.

– Viemos do Elísio, somos filhos de Ares que lutaram na Batalha do Labirinto.

– Batalha do quê?

– Quanto tempo passou desde este evento, Senhor D? – o segundo garoto perguntou.

– Vinte... Acho que trinta anos. – Dionísio respondeu.

– Então não é do tempo dela. – o terceiro disse, e incrivelmente a voz dele era amigável. – A Batalha do Labirinto foi uma batalha onde Cronos tentou se reerguer. Ele pessoalmente atacou o Acampamento Meio-Sangue. Conhece o Punho de Zeus?

– Não. – Nádia piscou os olhos.

– Foi demolido junto com o Labirinto, quando Dédalo bateu as botas. – Dionísio resmungou, tomando outro gole de vinho.

Os garotos se entreolharam, tristes.

Algo dizia para Nádia que aquele tal de Punho de Zeus tinha sido importante para eles, quando estavam vivos.

– Pois o Labirinto foi o lugar usado pelo exército de Cronos para invadir o Acampamento Meio-Sangue, que era protegido pelas barreiras de Hécate e do Velocino – o menino continuou a contar. – Agora entende o que foi a Batalha do Labirinto?

– Sim – concordou Nádia, embora fosse mentira.

– Somos Héracles, Heleonor e Jaston. – o primeiro falou, apontando.

Para você entender:

O primeiro era Héracles

O segundo era Jaston

O terceiro era Heleonor

– Viemos ajudá-los a escapar daqui – Jaston completou. – Venham.

Ele se direcionou para a parede de onde tinha saído, e então deu um soco certeiro, arrebentando as vigas de madeira.

– Pensei que fossem enfeitiçadas. – Nádia comentou.

– E são. Mas somente contra coisas vivas. A magia não atinge os mortos. – explicou Heleonor. – Venha, ainda há partes do Labirinto que são transitáveis, embora ele em si esteja destruído.

Dionísio e Nádia se levantaram, seguindo os jovens que abriram caminho com socos e pontapés. Eles quebravam tudo e quando alcançaram o outro lado da parede, encontraram um corredor sombrio e frio. Ao lado da parede do corredor havia uma caveira e mais afastado um cadáver.

– Alguns mortais acabam encontrando o Labirinto por acidente. – explica Jaston. – Normalmente não conseguem sair.

– E quando saem são considerados loucos e são presos numa clínica. – riu Heleonor.

Prosseguiram. Havia umidade e muito mofo, alguém espirrava quase sempre, enquanto caminhavam na escuridão. Para os fantasmas não havia problema, porém Dionísio e Nádia volta e meia tropeçavam em escombros do Labirinto. A cada passo, Nádia se preocupava mais com Sebastian. Não tinha noção do tempo que tinha ficado lá embaixo, mas com certeza havia escurecido e Sebastian tinha conseguido romper as cordas.

– Quando vamos chegar a terra? – perguntou ela.

– Logo – respondeu Jaston, enquanto socava uma parede de pedras – Vocês irão sair no Acampamento.

– O quê? – ela parou instantaneamente. – Mas eu preciso buscar o Sebastian, ele precisa de mim!

– Não se preocupe – Héracles disse – Hades já o buscou.

Talvez em um momento normal, Nádia tivesse entendido o que aquilo queria dizer. Mas ela só conseguia pensar que deveria se acalmar e que Sebastian já estava sã e salvo. Para quem não entendeu ainda, Sebastian tinha sido levado por Hades, o deus dos mortos. Não levado de uma forma gentil, mas de uma forma que nenhum ser humano quer ser levado.

Quando o portal terminou no Acampamento, Nádia não percebeu, mas os três fantasmas filhos de Ares tinham desaparecido. Héracles, Heleonor e Jaston, obrigado.


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