The Nature Kingdom escrita por John Scott Collins


Capítulo 6
O Inesperado


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sei que eu demorei muito para atualizar a fic, podem me xingar, vaiar, tampar tomate, o que quiserem. Mas minha criatividade simplesmente se negou a funcionar. Ficamos brigados por um bom tempo, até que esse mês, ela voltou! Justamente no mês em que estava cheio de testes e provas. Mas eu estou aqui, não estou? Queria MUITO agradecer à Rosenrot, à Garota dos Cadarços Brancos e à Maandy, que me apoiaram e me incentivaram a continuar. Espero que gostem, um beijo.



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Max, vendo que já eram quase onze horas da noite, optou por começar a arrumar a mochila. Àquela hora, todos da casa deveriam estar dormindo. Sendo assim, seus pais nem o veriam partir. Mas ele precisava ser cauteloso para não acordá-los. O garoto, propositalmente, ficou o dia inteiro bem perto dos pais. Poderia ser a última vez que os veria e por isso, essa decisão.

Partiria de pijama, certamente, e aquele seria o único que levaria. Faon instruiu para que levassem apenas uma peça de cada. Um pijama, um conjunto para frio, outro para o calor e por aí vai. Até porque, mais do que isso não caberia na mochila. Assim que percebeu que já tinha colocado o bastante, acrescentou a escova de dente, a de cabelo e uma foto de família. Fechou a mochila, colocou-a sobre um ombro e desceu as escadas cautelosamente. Abriu a porta e saiu, dando de cara com seus dois amigos.

— Já estávamos começando a nos preocupar. — Disse Kate, sussurrando.

— É, mano! O velhote disse que era pra gente estar lá quinze minutos atrás. A gente vai ter que correr. — Exclamou Gary, em tom um pouco mais alto.

— Eu estava só me despedindo... — Explicou Max.

— Seus pais ainda estão acordados? — Perguntou a garota.

O garoto não chegou a responder, pois um irritante som de buzina os interrompeu. Quando se viraram, viram Faon e Gaia em um carro, mais especificamente, um buggy de quatro lugares. Não parecia muito luxuoso e moderno, mas também não estava velho, enferrujado e caindo aos pedaços. Estava apenas com bastante poeira. O Inspetor apresentava um sorriso quase que malicioso no rosto, talvez, uma forma de mostrar a mistura de ansiedade e alegria que sentia. Gaia apresentava feições serenas, mas ainda assim, podia-se notar sua alegria.

— E então, crianças, preparados? — Perguntou o velho.

— Mochila: confere; sono: confere; pijama: confere; eu: confere. Sim, acho que estou pronto. — Disse Gary.

— Então se espremam aí atrás e apertem bem os seus os cintos, porque a viagem é relativamente rápida, mas nem tanto. Ah, e só lembrando, caso vocês tentem me burlar, celulares podem se estilhaçar e explodir durante a viagem, portanto, quem está portando qualquer objeto dessa natureza, desista agora!

Como ninguém estava com aparelhos do tipo, entraram e se ajeitaram no buggy. O espaço era bem pequeno para três pessoas, mas, com um pouco de dificuldade, conseguiram achar uma boa posição. O único lugar que havia para colocarem suas mochilas era no próprio colo. Antes que pudessem partir, Gary perguntou:

— Me diga uma coisa, coroa, por que diabos você está levando a gente pra outro planeta em um buggy?

— Creio que já te recomendei a não usar expressões tão informais quando for se dirigir a mim. Mas, respondendo sua pergunta... Bem, eu sozinho não consigo levar quatro seres a nenhum lugar. Tenho de usar um veículo próprio para isso, que sempre está disponível para os Inspetores.

— Ah, saquei, mano.

— Mais alguma dúvida? Não? Então que comece a aventura!

Ao acelerar, o carro deu um solavanco, fazendo os jovens balançarem e reclamarem alguma coisa logo em seguida. Podiam até estar um pouco animados com a jornada, mas no fundo, sabiam que estavam fazendo algo que não queriam totalmente.

O veículo continuou a acelerar. A rua virava para a direita, mas ele não seguiu por essa direção, apenas continuou indo, o que fez com que eles batessem contra uma cerca branca. Mas o buggy não parou. A cerca se quebrou, pedaços voaram para tudo quanto é lado e o carro invadiu o gramado que havia logo depois dela. A cada segundo, Faon acelerava mais e mais indo em direção à floresta que estava a uns trezentos metros dali. Certamente, com o pouco espaço que havia entre as árvores, o veículo se colidiria e, por causa da alta velocidade, o acidente poderia ser fatal.

— Faon, me diga uma coisa. — Falou Kate, tendo que aumentar o seu tom de voz por causa do barulho da lataria do carro. — Eu sei que a noite está bem escura, ainda mais com essa lua nova. Mas isso não impede ninguém de ver as várias árvores bem aí em frente! Você pretende desviar logo ou vai querer matar todo mundo?

— Nem uma coisa e nem outra. — Respondeu o homem, seriamente.

Quando perceberam, só faltava cerca de cento e cinquenta metros para a colisão, que Max acreditava ser fatal. Eles aceleravam em uma velocidade constante e considerável. O Inspetor estendeu um dos braços e um facho de luz saiu da palma de sua mão, em direção à floresta. A luz era extremamente brilhante, ao ponto de ofuscar a lua, e apresentava uma cor amarelada. Ao olhar para frente, Max percebeu que o facho terminava em uma única árvore, abrindo o que parecia ser um portal luminoso e de formato ovalado.

O garoto podia perceber que a intenção do velho era atravessar o portal. Mas o buggy era muito grande e o portal aumentava de tamanho muito lentamente, sem contar o fato da pouca distância e da alta velocidade em que estavam. A travessia jamais seria possível.

— Nós vamos bater! — Gritou Kate.

— Meu chapa, se você não desviar esse bagulho, eu vou pular do carro! Tá me ouvindo? — Disse Gary.

Foi questão de segundos. Mesmo assim, Max percebeu a claridade do portal em seu rosto, a dianteira do buggy se levantando, como se fosse flutuar, e, ao passar pelo portal, um frio quase que congelante nas mãos e no rosto. Ele fechou os olhos. Sabia que foram apenas alguns segundos, mas, por um instante, sentiu como se o tempo tivesse parado. Pôde ouvir claramente o grito de seus amigos, o de Kate um pouco mais alto do que o de Gary. A garota cobriu os olhos com as costas da mão. Tudo era tão intenso... Mas, apesar de tudo, não houve sofrimento. Foi só um susto.

Quando tornou a abrir os olhos, o jovem ficou boquiaberto. O que via era surreal. O veículo estava em pleno espaço, rodeado de estrelas, cometas e até mesmo nebulosas ao longe. Mas ele não conseguia identificar planetas. Quando olhou para trás, viu o que muito o lembrava da Via Láctea. Certamente, já estavam bem longe de casa agora...

Seus pensamentos ruins foram afastados. Era como se, de uma hora para outra, não existissem mais problemas. Tudo tão magnífico, grande, colorido e ao mesmo tempo, tão distante... Parecia até um tour, mostrando todas aquelas imagens que apenas via na televisão. Ele estava tão feliz. Queria tocar, se aproximar e explorar cada milímetro daquele lugar que parecia fruto de sua imaginação. Mais uma vez, o tempo parou...

De repente, um ronco no motor. Todos pararam de admirar o ambiente para prestar atenção no veículo. Pouco depois, um solavanco fez os jovens se assustarem. Gaia olhou para Faon, com feições de preocupação, como se procurasse por uma resposta. O velho retribuiu o olhar, com as sobrancelhas cerradas. Todos estavam preocupados. Algo estava errado, com certeza.

— Tem alguma parada estranha rolando ou é impressão minha? — Perguntou Gary, quebrando o silêncio.

— De fato, meu jovem. Algo bem singular está acontecendo. Não consigo detectar nenhum sinal de magia, de nenhum tipo. A não ser que... — O Inspetor não chegou a terminar a fala. Parecia pensar em algo improvável. Repentinamente, olhou para trás com uma feição furiosa, tentando encarar Kate, que estava sentada na ponta da esquerda. — Pelo que posso perceber, meus caros, a roda traseira do lado esquerdo do veículo está sofrendo interferência por ondas eletromagnéticas. Vocês sabem como os celulares funcionam?

Ninguém respondeu. Max logo entendeu a situação. Alguém quebrara uma das poucas regras que Faon impôs. Alguém estava portando um celular. E esse alguém, muito provavelmente, era Kate.

— Se o tempo nos for favorável, teremos mais alguns minutos, antes que o aparelho se espedace totalmente, nos envolvendo em uma lenta e dolorosa explosão. — Continuou o velho, dando certa entonação à fala. — Creio que a interferência chegará às outras rodas, antes que fragmentação ocorra. Temos, no máximo, dez minutos, no tempo da Terra. Tempo suficiente para deslocar a massa do objeto para outro lugar, próximo daqui.

— Seria como transportar uma coisa sem ir para o mesmo lugar? — Perguntou Gary, com tom curioso.

— Exatamente. Então, Kate, sugiro que me entregue logo o aparelho, se é que você entende a gravidade do problema.

— E quem é que disse que eu estou com celular? Só porque estou sentada perto da roda com interferência? Podia muito bem ser o Max! — A loira reclamou.

— Kate, minha querida, entenda nossa situação. — Gaia quebrou seu próprio silêncio, com a voz mais doce possível. — Se você não cooperar, todos nós vamos sofrer! Não podemos arriscar e perder tudo. Seja sensata.

A jovem olhou para a mulher, meio receosa. Depois, ao olhar para o lado, percebeu que seus amigos lançavam um olhar de súplica a ela. Faon não olhava para trás, mas ela pôde perceber que ele estava tenso, talvez com raiva. A garota não sentia o celular tremer ou algo do tipo e, pelo seu entendimento, o carro ainda estava se movimentando. De repente, uma fumaça muito densa e escura começou a sair da oura roda traseira.

— Ih... Essa daqui já era também, coitada! — Falou Gary, num tom bem descontraído, apesar da tensa situação.

A loira, então, finalmente percebendo a gravidade do problema, abaixou a cabeça, deixando seus cabelos caírem sobre sua face, tentando esconder seu rubor. Empurrou os óculos para trás, pôs a mão em um dos bolsos de seu pijama e já segurando o celular, esticou o braço, para que Faon pudesse pegá-lo.

Sem pensar duas vezes, o velho agarrou o objeto, ficando com apenas uma mão no volante. Apertava com força o aparelho. Às vezes, algumas faíscas saíam de seus dedos. Parecia fazer grande esforço para que a magia funcionasse. Sem muito sucesso, parou de apertá-lo. Gaia, notando aquilo, perguntou baixinho:

— O que está acontecendo? Alguma coisa de errado?

— Minha magia não está pegando, não sei por que. Talvez a interferência seja forte demais.

— Não é por causa de nossa localização?

— O que você quer dizer com isso?

— Talvez, algum corpo celeste aqui por perto está te atrapalhando de certa forma.

— Muito pouco provável. Inspetores têm plenos poderes nas regiões autorizadas. As únicas regiões não autorizadas ficam na Nação Maior e no Reino Superior. Sendo assim, minha magia devia funcionar cem por cento aqui.

Gaia estava prestes a falar algo, quando um baque surdo interrompeu a conversa. Parecia vir de uma das rodas da frente. Quando Faon colocou a cabeça do lado de fora do veículo para analisar, viu que o pneu havia estourado. Só faltava mais uma das quatro rodas para que a explosão ocorresse.

— Você ouviu isso, maluco? — Gary perguntou. — Não sei não, mas acho melhor você andar depressa com esse transporte...

— Faon, me diga que você consegue. — Tornou Gaia, ainda com a voz doce e feições preocupadas.

O homem não respondeu. Concentrado, voltou a apertar o objeto, para que a magia funcionasse. Seus dedos já estavam doendo. Um ar de preocupação e tensão se instalou ali. Até mesmo Gary, que há pouco estava tão descontraído, perdeu suas feições despreocupadas e contentes. Kate ainda estava um pouco cabisbaixa, perdendo vagarosamente a vermelhidão no rosto. Max observava o procedimento de Faon, assim como Gaia, que olhava freneticamente para os lados, procurando por algum corpo celestial.

— Quanto tempo você acha que ainda temos? — Perguntou Max, depois de um longo período mudo.

Absorto em sua atividade, o velho não respondeu. Sentia que estava conseguindo, que faltava pouco. O objeto em sua mão já começava a vibrar e a tela piscava de vez em quando. Sim, ele estava perto. Um pouco de fumaça logo apareceu por entre seus dedos. Uma fumaça rala e arroxeada, típica do feitiço de transporte. A imagem do celular começou a se perder. Sim, ele estava prestes a conseguir.

Estava prestes a conseguir quando o pneu da última roda rebentou violentamente, chacoalhando todo o buggy e fazendo-o virar um pouco para a direita. Todos se assustaram, ainda mais em meio àquele clima de tensão. Faon deixou o aparelho cair aos seus pés e toda a fumaça se desfez rapidamente. Já no chão, o objeto piscava freneticamente, soltava faíscas, tremia e balançava de um lado para o outro.

Desesperado, o homem pegou-o rapidamente. Gaia preocupada, Gary tenso, Max curioso e assustado e Kate aflita. Era agora ou nunca. Se a magia não funcionasse, eles teriam fracassado. O Universo seria tomado por um mal desconhecido. Os Superiores seriam derrotados, e o poder sobre tudo aquilo que existia estaria em péssimas mãos. Era agora ou nunca. Ele apertou o máximo que pôde. Já não tinha forças. Já não tinha fôlego. Mas tinha esperança. Tinha fé. Novamente, um pouco de fumaça surgiu, mas depois se transformou em uma espécie de chaminé. O feitiço daria certo, ele sabia disso. Ele acreditava nisso. Ele apertava e apertava. Já estava com dor de cabeça de tanta concentração. Apertava e apertava até que...

Funcionou. O celular, de uma hora para a outra, havia se transportado. Tudo o que sobrara era a fumaça, que aos poucos se acabava, e sua mão fechada em punho. Ele relaxou um pouco e a abriu, revelando sua palma avermelhada. Quando olhou para trás, viu que todos sorriam e trocavam olhares. Ele conseguira! Pena que o celular havia se materializado bem perto dali.

Foi questão de segundos. Enquanto sorriam entre si, o tempo parecia estar congelado. Mas na verdade, o momento de felicidade durou muito, muito pouco. Um barulho extremamente alto quebrou o clima de paz. Todos olharam rapidamente para a esquerda, já deixando que suas feições preocupadas tomassem conta de seus rostos novamente. Um calor no mínimo desconfortável veio em seguida, substituindo o frio que há pouco estava ali. O celular explodiria, de fato. Mas eles não sabiam que a explosão aconteceria tão perto deles. O carro começou a girar, como se estivesse capotando morro abaixo. Mas não havia morro. Eles ainda estavam em pleno espaço sideral.

Tudo aconteceu tão rápido. Pela lógica, visto que o buggy era aberto em cima, todos deveriam ser jogados para fora do veículo, mas não foi isso que aconteceu. Max via apenas uma confusão de imagens, misturada aos gritos de pavor de todos ali presentes. Inclusive ele. Confuso e apavorado, fechou os olhos e a boca rapidamente. Eles comemoraram cedo demais. Iriam morrer, certamente.

Alguns minutos se passaram, dando tempo suficiente para todos fecharem os olhos e bocas. Não havia mais gritos. Mas ainda havia desespero. Quando tornou a abri-los, Gaia notou que já não giravam mais, desciam totalmente inclinados e muito rapidamente. Sim, desciam. Passavam por nuvens e mais nuvens. O ar estava tão fresco. Logo à frente, ela pôde perceber uma superfície sólida, coberta de árvores. Eles haviam passado pela atmosfera de um planeta e agora caíam como um meteoro. Iam bater no chão com tanta força, que explodiriam.

Cada vez mais próximos da súbita morte, a mulher tentou, apavorada, acordar o Inspetor. Não que ele estivesse dormindo, mas ela sentiu que ele não estava no controle de si. Ele abriu os olhos, assustado, e olhou para o lado e depois para frente. Ao se dar conta da situação, pegou o volante rapidamente. Eles não tinham muito tempo, mas talvez desse para fazer alguma coisa. Aquele volante era um pouco atípico, já que controlava se o buggy ia para cima ou para baixo. Sabendo disso, Faon empurrou o volante para baixo, para que o carro subisse e não ficasse mais em noventa graus. Dessa forma, eles cairiam sobre as quatro rodas e a chance de sobreviver seria um pouco maior.

Eles desciam cada vez mais rápidos, mas mesmo assim, aquilo parecia interminável. O velho pensou em fazer algum tipo de magia. Pena que o desespero não o deixou pensar direito. Tudo que eles podiam fazer agora era esperar. Até que aconteceu.

O impacto não foi tão forte. Primeiro, o lado esquerdo do veículo bateu nos galhos e folhagem da árvore mais alta, que por sinal era bem alta, e acabou virando um pouco de lado. Depois, eles foram passando por cada vez mais galhos, cada vez mais folhas, se arranhando pelo caminho. A velocidade do carro havia diminuído muito. Por causa do peso, quebrava a maior parte dos galhos, que iam caindo junto, ajudando a “suavizar” a queda. Para Faon e Gaia, naquele momento, suave era uma palavra que em nada se encaixava. Eles se encolheram um pouco, assim que perceberam que se arranhariam por completo.

Alguns poucos e sofridos segundos se passaram, até que atingiram o chão. Foram deslizando lentamente. O carro batendo na maioria das árvores. Podiam perceber que se tratava da encosta de um morro, que agora desciam. Habilmente, o homem tomou controle do veículo de novo e foi desviando do que pôde.

No pé do morro havia um rio. Os dois sentiram a água gelada entrar violentamente no automóvel. Já era noite naquele planeta, por isso a temperatura da água estava insuportável. Parecia congelar os pés. Logo à frente, algumas pedras surgiram. O buggy era largo e por causa disso, foi batendo de um lado para o outro, sacudindo o corpo de todos, arranhando a pouca pintura e amassando a lataria.

As pedras foram ficando mais raras, gradativamente. Estavam em lugar quase plano. O carro ia boiando em uma velocidade constante, levado pela correnteza. Já exausta, a dupla, ao levantar a cabeça, viram algo relativamente preocupante. Uma queda d’água. Uma cachoeira. Ainda não dava para ver se a queda seria alta ou baixa, mas era um perigo de qualquer forma. Sem forças, Gaia perguntou sussurrando:

— Tem alguma forma de sairmos daqui antes da descida?

— Já não tenho mais forças. — Disse Faon, balançando a cabeça.

Eles chegavam cada vez mais perto. O desespero só não era maior, pois era vencido pelo cansaço. O veículo afundou um pouco, virou de lado e caiu. Ao verem que a queda possuía em torno dos cento e cinquenta metros e terminava em uma pequena lagoa, fecharam os olhos. É, eles iam morrer.

–//-

Kate se sentia fraca e dolorida. Ao acordar, percebeu que todos os outros estavam dormindo, desmaiados ou até mesmo mortos. Ela nem gostava de pensar. Todos estavam bastante arranhados e Gary possuía um pouco de sangue escorrendo pelo rosto. O carro estava todo destruído, amassado, arranhado e sujo de lama. Aliás, esse foi outro aspecto que notou: estavam em um grande lamaçal. Há uns dois metros dali, um lago pequeno, de águas bem escuras. Ao olhar para cima, viu uma grande cachoeira. Vez ou outra, várias gotas caíam sobre ela. Só agora pôde notar que suas roupas estavam bastante molhadas. Estava frio. Mas não era de noite. Era de manhã bem cedinho. O sol nascia lentamente por entre as árvores, ao longe. Agora que já podia pensar, deduziu que eles caíram lá do alto da cachoeira e por algum motivo, não caíram no lago. Mas foi por pouco. Muito pouco.

Ela se levantou, quase que involuntariamente. Sua mente estava gritando para ela: comida, comida. Saiu do automóvel e foi andando vagarosamente, se afastando do lago e do resto da turma, em direção ao sol.

Depois de quinze ou mais minutos, de acordo com sua confusa percepção do tempo, ela ouviu um barulho, ao longe. Era um ruído bem fraco, quase que inaudível. Curiosa e ainda com fome, foi correndo em direção ao som. Andou cerca de quatrocentos metros, até que pôde reconhecer o som. Não via nada, apenas árvores e plantas, mas sabia muito bem do que se tratava. Eram homens trabalhando. Um, em específico, cuja voz era a mais alta, parecia dar ordens. Kate não entendeu a linguagem, mas os diferentes tons de voz indicavam o seus possíveis significados. A multidão de possíveis trabalhadores cochichava. Um cochicho que em uníssono, era uma única e alta voz.

Ao que tudo indicava, aquele planeta já era povoado. Eles não estavam sozinhos.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? Não sei o que acharam da ideia de capítulos maiores como esse, mas pretendo fazer assim daqui pra frente, com duas ou três mil palavras, a menos que vocês se importem. Um beijo novamente e até o próximo!