Destiny escrita por Lúcia Hill


Capítulo 2
Capitulo - A Drop in The Ocean!


Notas iniciais do capítulo

"...Nada pode impedir que o sol nasça ao fim de uma conturbada noite..."



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O dia havia se tornado noite, a jovem sentia sua cabeça latejar e suas vistas estavam embaçadas. Assim que virou seu rosto na direção da janela, sentiu uma fisgada em seu pescoço fazendo-a emitir um gemido de dor, não tardou para as lágrimas escorrerem por seu pálido rosto.

Sentia-se confusa e apavorada por dentro, respirou fundo tentando controlar seus sentimentos.

– Está se sentindo melhor, mocinha? -questionou uma voz suave.

Não houve uma resposta rápida, a jovem tentou ver quem estava ao seu lado, mas a droga da pancada em sua cabeça fizera com que perdesse de forma temporária sua visão, deixando-a nas cegas, apenas podia ver sombras, o que a estava apavorando por dentro.

– Onde estou? Cadê meus pais? Por que não consigo ver nada? - grunhiu desesperada tentando se livrar do soro que estava em seu braço.

A enfermeira se aproximou da jovem tentando acalmá-la, mas sabia que não seria uma tarefa nada fácil.

– Deve se acalmar.- disse enquanto segurava o braço da garota que se debatia para se desprender. - Senhorita Sullivan, estávamos todos passando por um momento difícil. Querida você sofreu uma forte pancada na cabeça, está com cegueira temporária, apenas pode ver vultos. - anunciou enquanto aplicava o calmante no braço esquerdo da garota - Mas em breve voltara a enxergar.

Aos poucos a loura sentiu seu corpo relaxar, suas pálpebras começaram a pesar.

– Onde estão meus pais. - aquelas foram as ultimas palavras antes que o efeito do calmante fizesse o efeito desejado.

A enfermeira Lourdes encarou-a com os olhos rasos de lagrimas, como iria dizer a pobre garota que estava sozinha na vida agora, órfã de pais? Permaneceu alguns minutos parada encarando-a enquanto começava a descansar sobre o efeito do calmante, a enfermeira conhecia o reverendo Sullivan, um bom homem temente a Deus e contagiante, mas como ele mesmo sempre pregava: Todos temos a hora certa de partir, não importe como, mas temos o destino escrito pelas mãos de Deus.

Sentiu a mão pesada em seu ombro esquerdo.

– Como ela está? - quis saber.

A enfermeira balançou a cabeça de forma pensativa, respirou fundo antes de se virar para encarar o experiente medico.

– Nada bem, doutor. - disse relutando contra as lagrimas - Está com as vistas embaçadas e não sabe que seus pais morreram.

O pequeno hospital de Stª Monica estava super lotado por causa do efeito devastador do furacão Katrina, sem contar nos mortos que contabilizavam mais de 45 pessoas incluindo os pais da jovem que repousava a sua frente.

– Teremos que contar essa fatalidade a ela. - anunciou um tanto receoso.

– Doutor, deve estar cansado, pois tivemos um longo dia hoje. - disse Lourdes encarando-o - Tem que repousar, pois não é de aço.

Kevin mostrou-lhe um sorriso ameno, era visível em seu rosto o cansaço, mas preferia permanecer no hospital a ter que voltar para sua casa e recordar as amargas lembranças, ele estreitou os olhos azuis e assentiu.

Antes que pudesse responder de forma devida, pois todos do hospital sabiam do passado nada agradável do Dr. Carter, ouviu seu nome ser anunciado através dos altos falantes, sentiu certo alivio, pois seria uma boa desculpa para permanecer no hospital.

– Deve se cuidar, pois não é mais um garotão recém formado, vai por mim doutor. Tenho o dobro de sua idade e sei do que estou falando. - anunciou a velha enfermeira com um olhar ameno.

Ele concordou com um gesto de cabeça antes de desaparecer pela porta, Lourdes já havia terminado seu expediente, puxou a cadeira e sentou-se próxima a garota que continha uma respiração pesada, puxou o terço de dentro do bolso do jaleco, pois sempre carregava consigo e começou a rezar o pai nosso.

As horas pareciam eternas, mas aos poucos o efeito do calmante ia se esvaindo e Belle tentava abrir os olhos com dificuldade, mas sentiu que alguém segurava sua mão, o que a fez sentir o peito cheio de tristeza, não era seu Pai ou sua mãe, o que a deixava ainda mais temerosa, mas sim a enfermeira Lourdes que fora sua vizinha por alguns anos.

– Deus! - resmungou encarando o teto branco, suas vistas ainda permanecia embaçada. - Meus pais não, por favor. -suplicou.

A voz fraca da jovem fez com que Lourdes acordasse de seu frágil sono, tentou acalmá-la, mas estava evidente em seus olhos que aquela tragédia havia ceifado as vidas de seus pais.

– Fique tranqüila, querida. - respondeu enquanto afagava os cabelos da jovem - Não irei mentir para você, pequena Belle. - pausou tentando achar as palavras certas para aquele momento, por fim prosseguiu - Seus pais faleceram, tentando salvá-la.

Belle franziu o cenho, tentando salvá-la? Mas como? Pois os fortes ventos destruíram tudo que estava em seu caminho.

– É culpa de Deus! - berrou descontrolada - Ele matou meus pais, eu o odeio, como pode fazer isso com meu pai que sempre foi fiel a ele? EU ODEIO.

Belle começou a se debater tentando se livrar do soro, Lourdes sabia que não iria conseguir controlá-la e sem pensar duas vezes berrou para que alguém ajudasse a sedar a garota que tentava se livrar. Em questão de segundos o doutor Kevin entrou ao quarto juntamente com outro enfermeiro, rapidamente ambos seguraram os braços da garota, que berrava e se debatia entre lagrimas de desespero.

Lourdes recuou na direção da parede, segurava o terço contra o peito enquanto murmurava o pai nosso, o enfermeiro amarrou os braços e as pernas da jovem antes que ela acabasse se ferindo, Kevin retirou uma seringa do bolso e se aproximou de Belle.

– Me deixe em paz. - berrou tentando se debater.

O médico aplicou o liquido no delicado braço da jovem, que aos poucos ia perdendo novamente os sentidos.

– Deve relaxar. - disse encarando-a por alguns segundos.

Belle franziu o cenho antes de ser totalmente dominada pelo efeito do forte calmante. Ambos sabiam que era um pouco desconfortável dizer aquelas palavras aos pacientes, ainda mais quando ele tinha perdido toda sua família, o enfermeiro caminhou na direção da saída, pois havia outros que necessitavam de seu auxilio naquele momento, deixando apenas o medico e a enfermeira Lourdes que ainda estava inerte encostada à parede.

– Pobre menina. - resmungou Kevin ainda estático aos pés da cama - Espero que tenha parentes, não podemos culpá-la de estar revoltada com Deus, pois só quem perde sabe o quanto é ruim.

– Os parentes dela moram no estado de Nevada, acho que só tem o avô paterno - disse a enfermeira, Kevin voltou-se na direção dela confuso, mas rapidamente ela se explicou - Conhecia os pais dela, doutor. O reverendo Sullivan e sua adorável esposa Jordana, uma família adorável. A vida não lhe foi muito boa, pois pelo que me recordo, o reverendo perdera a mãe ainda criança e passou por muitos desafios.

Kevin balançou a cabeça pensativo.

– A vida não é justa, temos que aceitar. - respondeu desviando seus olhos para um canto.

A enfermeira se desencostou da parede e se aproximou com passos lentos na direção do leito onde a loura descansava novamente sobre o efeito do calmante.

– Imagina para ela que é tão jovem e sozinha na vida. - disse com os olhos rasos de água - Ainda me lembro quando perdi meus pais, mesmo com idade o suficiente para compreender que todos um dia morreremos, foi doloroso.

Por alguns segundos o silencio pairou, era penetrante e tão solitário Kevin sentiu-se egoísta e prepotente diante daquela situação, pois mesmo que a traição e o divorcio lhe fizera muito mal, aquela garota frágil a sua frente estava sozinha, sem nada, perdera tudo literalmente.

Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio
Oswaldo Montenegro


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Notas finais do capítulo

Boa Leitura!