The Women's Revolution escrita por mrsbriel


Capítulo 20
Capítulo 20




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"Está tudo bem." lembro à mim mesma. Está tudo bem.

Talvez alguns ossos quebrados, mesmo assim fraturas bem leves para quem foi jogada pelos ares. Jogada pelos ares na explosão do apartamento governamental que matou Jake.

Levanto-me na grama há três casas mais longe de onde as chamas cessam aos poucos com a ajuda de alguns bombeiros. Piso no chão e não sinto dor em minhas pernas, pelo menos. Minha dor é inteiramente mental.

Cambaleio, saindo do jardim que eu cai, andando pela calçada, até voltar ao apartamento governamental. Está destruído e algumas mulheres estão vasculhando o local.

– É inútil procurarem no primeiro, segundo ou terceiro andar. O corpo carbonizado, provavelmente, está no último andar. - Aproximo-me das mulheres responsáveis pelo caminhão de bombeiro estacionado ali.

– Ah, meu Deus. - Uma delas grita e corre ao meu encontro. - Rápido. Fratura exposta aqui.

– Do que você está... - Começo até olhar para o meu braço. Não estava doendo. Até agora.

Localizo o ferimento e literalmente me dobro de dor. O simples fato de ver que há ossos de meu corpo atravessando minha pele me causa um pânico incontrolável.

– Alguém sabe se ela estava sozinha? - Uma outra mulher diz, enquanto me colocam em uma maca. Sei o que está acontecendo, porque sinto meu corpo se movendo junto à uma cama de fácil transporte.

– Eu estou com...estava com Jake Neigh. - Consigo dizer. Por fim, aplicam algo em minha veia e tudo o que vejo é uma cor lilás.

Lilás, e de vez em quando, um azul bem claro. Vejo Jake andando em minha direção. O lilás se transforma repentinamente em azul, contrastando com seus olhos.

Não foi a última vez que os vi.

O azul continua contornando o espaço onde estou e sorrio para Jake. Ele sorri de volta e eu lhe ofereço minha mão para que ele se aproxime de mim. Ele hesita e faz que não com a cabeça, dando um passo para trás. Logo o azul é substituído pelo laranja e Jake pega fogo, transformando-se em pó negro e deixando-me sozinha no mundo liláceo. Permaneço ali por horas, até que desperto.

George segura minha mão e a sua mão livre está pousada na cabeça. Ele já deve estar à par de tudo o que aconteceu e portanto não vou precisar lhe explicar, até porque não conseguiria.

– Boa tarde. - Ele diz. Não o respondo, pois não estou em condições de falar, ainda mais com todo esse estado de entorpecimento dominando tudo o que sou. Olho para ele e balanço a cabeça, apenas. - Olhe, eu sinto muito pelo que aconteceu.

– Eu também. - Digo, por fim.

– Achei que iria perder a habilidade de falar de novo. - Ele abaixa a cabeça para fitar uma parte da cama de hospital em que estou.

– Eu tenho que me conformar, George. Isso é uma guerra. Todos estamos dispostos a morrer. Foi Jake, assim como podia ser eu, como podia ser você, como podia ser Clover, Jamie, Derek, ou até mesmo Bailee. É isso.
Ele sorri para mim, então provavelmente toda essa história de me conformar com a morte trágica de Jake não deu certo.

– Eu só queria que não tivesse sido desse jeito.

– Oh, Tess. Eu sinto tanto... - Ele se aproxima para acariciar meus cabelos. - Vamos voltar pra casa, está bem?

– Está. - É a primeira vez que digo algo sincero para George desde o incidente. Ou o acidente. - Mas antes...quero descobrir quem fez isso, George.

Ele morde o chiclete que está em sua boca com mais força.

– Vamos embora. Esqueça.

– Eu não vou esquecer, George! Como eu poderia esquecer? Meu amigo foi queimado vivo, num incêndio absolutamente programado. O fogo não teria se espalhado tão rapidamente pela casa, caso não tivessem feito isso há semanas ou até dias atrás. Ou até no mesmo dia. Esse incêndio foi uma tentativa de nos matar! - De repente, estou gritando com ele.

George volta a mastigar o seu chiclete e me fita com cautela.

– Quem quer que tenha feito isso, vai pagar, George. Eu só digo isso.

– Não acha que já basta de mortes?

– Na verdade, não. Não acho, porque quem quer que tenha provocado o incêndio, não pensava nisso. E incrivelmente, ela não tirou as três vidas que desejava e ela seria feliz caso fizesse isso, pois eu não estaria viva e eu não estaria tão sedenta por sangue quanto estou agora. - Levanto-me para ficar frente a frente com George. - Ela ou ele, matou Jake, e isso eu não vou perdoar.

– Eu entendo. - Ele diz.

– Há quanto tempo estou aqui?

– Cinco dias.

– Cinco dias? - Grito de novo.

– Não é muito tempo, Tess. E tenho uma boa notícia. Derek e Bailee estão vindo para cá, depois do comunicado que fiz à eles.

Um estalo vindo de minha casa me acorda para a realidade.

– Ai, meu Deus! - Levo minhas duas mãos à boca e sinto as lágrimas de desespero enchendo meus olhos. - Eu sou uma estúpida, ai meu Deus!

– Tess? O que há de errado? - George questiona, saltando da cadeira e sentando em minha cama de hospital, agora que há espaço suficiente para ele, pois estou encolhida na cabeceira.

– Eu sou uma idiota!

– Não, não é. Bem, só as vezes. Mas...o que te faz pensar assim?

Fico surpresa por George não ter chegado à minha linha de raciocínio que pode estar completamente errada pela quantidade de remédios que ainda estão circulando por minhas veias, mas mesmo assim me desespero.

Fecho os olhos para não encarar os questionadores olhos de George, e fico assim por um bom tempo. Sinto meu rosto molhado pelas lágrimas que estão rolando enquanto penso e tudo parece se encaixar.

– Foi ela, George. Ela provocou o incêndio, ou até mesmo as guardas dela. Todo esse fingimento, das cidadãs do Continente Feminino gostarem de você e coisas do tipo. É tudo combinado. Elas estão sendo mandadas por ela. Ela não iria sossegar enquanto não tivesse matado Derek e eu. Ela ainda não sossegou. Eu já estou aqui e ela está trazendo Derek. Acabou. Bailee venceu este jogo. - Sussurro, com medo de ser ouvida. Minha voz sai um tanto quanto desesperada, mas ele parece entender.

– Vamos fugir. Agora. - George sugere, pouco antes de seu celular tocar. Sim, agora o filho da governadora do Continente Feminino tem um celular. Um celular. Objeto de fácil rastreamento, se utilizado.

– Primeiro passo, desligue isso. - Digo, alto e claro.

– Espere. É Derek.

– Meu pai também tem um celular? O que está acontecendo?!

Ele sai de perto de mim para falar ao telefone e eu me levanto, derrubando alguns fios que furavam minhas veias e caminhando, descalça, de camisola de hospital e com uma espécie de tipoia que envolve uma tala de ferro firme em meu braço.

– Sim. Sim. Tudo bem. Pode ser. É, acho que você tem razão. Obviamente, Derek. Concordo com você. Sim. Sim. Pode ser que seja isso mesmo. Certo. - George diz como um robô. Chego perto do celular para tentar ouvir o que meu pai fala, mas só recebo uma olhadela feia de George, e me encosto na porta de vidro.

– Tem certeza? - George pergunta.

– Tem certeza do quê? - Eu pergunto, logo em seguida.

George me mostra o dedo e caminha para mais longe de mim.

– Como você ousa...! - Sigo-o.

– Tudo bem. Até. - Ele desliga o celular e coloca o aparelho no bolso. - Sabia que é muito feio e de muita falta de educação feminina escutar conversas alheias?

– É mesmo? - Faço o que imagino ser a minha melhor imitação de cinismo que posso ter.

– É. Agora vamos embora antes que levem você para um manicômio por estar com uma camisola e descalça fora da cama de hospital. Eu trouxe algumas roupas que foram salvas do incêndio, então tome essa mochila e se troque no banheiro. Quem precisa de alta?

Pego a mochila e me encaminho para o banheiro. Jogo a camisola de hospital no chão e volto para a sala de espera. É complicado trocar a camisola confortável pelo jeans azul e uma camiseta apertada com uma tipoia no braço.

– Meu Deus, eu odeio a minha vida. - Digo para George assim que chego na sala de espera.

– Você não é a única. E sobre a sua teoria: está errada. Eles já rastrearam quem planejou o incêndio. Minha mãe e seu pai estão vindo para lhe dar a notícia. Alertaram que não será fácil.

A primeira pessoa que me vem em mente é Dylan. Mas seria Dylan capaz de matar Jake, mesmo depois das desavenças que tiveram? Aliás, seria Dylan capaz de tentar matar nós três? Está claro que George, Jake e ele tinham seus conflitos, mas Dylan conseguiria ser tão sangue frio?

Eu não sei. Eu não sei.

George está dirigindo um carro. Sim, dirigindo um carro que foi concebido pela sua digníssima mãe governadora.

O trânsito não está tão movimentado quanto o que eu estava acostumada quando morava aqui. Não sei para onde George está nos levando, por isso não palpito. Derek deve ter feito um mapa falado para ele. Também não interrompo sua concentração e enfio minha cabeça para fora do vidro, olhando os carros de trás.

Até que percebo que tem algo de errado. Olho no espelho retrovisor e suspeito de um veículo blindado e com vidros pretos que tem nos seguido desde o hospital.

– George, acelere. - Digo.

– O quê? Está no sinal...

– Acelere! - Grito.

Ele me obedece e o carro preto acelera junto conosco. Está claro que o carro está nos seguindo agora.

George corre pelas ruas, mas ainda não é o suficiente pois o carro está quase na nossa cola.

– George...não me leve a mal, mas você dirige como uma garota! - Grito. - Mete o pé nesse acelerador, garoto, o que está pensando?

– Na verdade, não estou pensando nada, porque ninguém me falou o motivo de estarmos correndo em plena tarde!

– Estão nos seguindo!

Ele aponta para o porta-luvas do carro e eu o abro. Uma arma desliza para o chão do carro, pela velocidade do veículo estar acelerada e cai em cima do meu pé.

É quando recebemos os primeiros tiros. Há só um barulho e um pequeno impacto na janela de trás, mas nada se quebra.

– É blindado. - George respira, aliviado.

– O que não é blindado, é a minha paciência, George. Pisa nesse acelerador como um homem!

Agora, ele praticamente voa pela cidade. O carro ainda nos segue, mas agora numa distância razoável.

– Eu não consigo mais. É muita coisa para mim. Lembrar de frear, acelerar, desviar, fazer curvas, seguir em frente...

– Sabe atirar? - Pergunto.

– Não.

– Então dirija!

Esquivo-me para fora da janela, o suficiente para atirar e ter uma boa mira e o suficiente para não ser acertada. Um meio termo. O suficiente.

Atiro no espelho retrovisor direito do carro preto e volto para o banco do carro, encostando-me com força.

– Vá para o lado esquerdo. Eles vão tentar tirar o nosso retrovisor.

George me obedece e eles erram o tiro.

– Me dê um espaço no seu banco. Preciso passar por trás de você para quebrar o outro espelho retrovisor. Eu tenho um plano.

Ele arrasta-se para frente, pressionando o acelerador com mais força. Miro do espaço que me restou, e erro.

– Espere um minuto. Vou colocar meu joelho em suas costas para ter uma visão melhor.

– Está tentando me matar ou quebrar minha coluna? Se quiser a segunda opção, me jogue para fora do carro, é muito menos doloroso.

– Cale a boca e vai mais para frente.

Miro. Acerto, desta vez. O carro não perde a velocidade. Avisto uma curva à direita. O carro continua se aproximando, tudo nos conformes.

– George, dê espaço para que o carro passe, freie e vire nessa curva, logo após vire na outra. Vá virando curvas e me dê seu maldito celular. Eles podem estar nos rastreando com isto.

Ele pega o celular de má vontade e eu atiro no chão da rua assim que ele freia e vira a curva. O carro preto continua acelerando, sem posições para saber onde é que nos enfiamos. Ótimo. Despistamos.

Andamos por volta de uma hora até chegarmos ao endereço onde Derek e Bailee nos esperam na rua.

– Por que demoraram tanto? - Derek pergunta assim que coloco meus pés no chão.

– Houve um...contratempo. - Digo, apenas. Ainda tenho a desconfiança de que Bailee pode estar por trás de tudo isso.

Vejo alguém na janela do local onde era combinado para nos encontrarmos. E eu reconheceria aqueles olhos inquietos mesmo que estivesse entre milhões.

– O que Dylan está fazendo aqui?

– Bom, em parte porque ele nos contou sobre a revolução dentro da revolução e em parte porque ele queria ver como você estava depois da perda.

– Estou normal.

– Ela está mortífera. - Diz George.

– Então, está normal. - Bailee diz. - Vamos entrar.

Entramos na casa, que é grande, apesar de ter um único andar. É incomum encontrarmos casas de um único andar aqui no Continente Feminino. Prendo meu olhar no chão, enquanto Derek e Bailee falam sobre o quanto este lugar está fora do controle. Óbvio que George já contou à eles sobre o tiroteio e a fuga que nos envolvemos.

– Vamos direto ao ponto. Quem planejou o incêndio e quem está por trás dessa revolução dentro da revolução?

Dylan me fita com intensidade. Bailee pigarreia. Derek olha para mim, com a mesma normalidade e força que sempre olha.

– Sua mãe. - Diz ele, por fim.


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