The Women's Revolution escrita por mrsbriel


Capítulo 14
Capítulo 14




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Não sei exatamente como definiria a maior dor que já tive em minha vida. Talvez eu pudesse dizer que foi quando levei um tiro em minha perna. Eu poderia dizer que foi quando pensei que Derek tinha morrido. Poderia dizer também que foi quando percebi que estava perdendo Dylan para uma recém chegada.

Mas nada é comparado à dor de saber que todos os seus esforços para manter os que você ama em segurança, estão indo por água a baixo.

Aqui estou eu. Sabendo exatamente que está tudo acabado. Estou escondida atrás de uma árvore, junto com Katy e George. Dylan, Clover e Jake estão no "campo de batalha". Eu posso perder um dos dois a qualquer momento. Eu posso perder os dois.
Mas, não. Isso não vai acontecer, porque acabo de sair do meu esconderijo.
Viro-me para George e sorrio.

– Ficaria aqui com ela se eu pedisse? - Pergunto.

Ele se levanta e para bem ao meu lado, com uma aljava e um arco nas mãos.

– É claro que não. - Eu mesma respondo, porque vejo a atitude dele e vejo em seus olhos a teimosia que...eu juro já ter visto antes. - Katy, não saia daí.

Vamos para o meio da confusão de guardas e dos cabelos ruivos de Clover. Ela luta bravamente contra qualquer uma que ameace tocar em Dylan ou em Jake e vejo que ela se tornou um de nós, mas ainda não posso confiar totalmente nela para que George fique fora de meu alcance.

Miro a flecha em uma das guardas que chega tentando ajudar e George acerta o olho de outra que havia grudado no pescoço de Jake.

E o combate continua. George utiliza o corpo a corpo diversas vezes e eu tento utilizá-lo também, obtendo sucesso em todas as vezes. Penso em como ele é um ótimo treinador.

Apesar de que não tenho muito tempo para pensar. Meus olhos percorrem a área inteira de combate e sei que estamos com vantagem numérica, mas não por muito tempo. Elas estão apenas tentando nos atrasar até que cheguem outras guardas para nos prender.

– Jake, Dylan, recuem. Deixem apenas George e eu aqui. Elas estão tentando nos atrasar para que todos fiquem nas mãos do governo feminino.

Eles obedecem, deixando duas das guardas caídas na grama e voando pela floresta.

George e eu ficamos ali, paralizados. Se ao menos Derek estivesse aqui para nos dizer o que fazer agora...

Sei que é necessário dar cobertura à Dylan, Jake e Katy até que eles atinjam uma área razoavelmente segura, perto do elevador que leva ao subterrâneo, mas não sei por quanto tempo aguentaremos outras guardas com vida.

Estou me sentindo exausta e pela respiração lenta e pesada, George também está. Não aguentaríamos mais uma leva de mulheres enlouquecidas e com sede de sangue, por isso quase suspiramos de alívio quando uma figura caminha solitária em nosso encontro. Quase. Pois sabemos de quem se trata. Bailee Mason.

– Ah. Vocês deixaram minhas amigas bastante feridas. - Ela diz, calmamente. - Estou decepcionada.

Seus olhos verdes num tom completamente diferente de Derek e Jamie, pousam em George. Ela solta um silvo de pavor e se afasta repentinamente. E depois, uma luta interior parece se formar dentro dela. Parte dela quer alcançá-lo e parte dela quer se afastar dele. Me sobreponho em sua frente, antes que seja tarde demais. Parece uma boa forma de morrer. Morrer pela vida do meu possível único melhor amigo por toda a vida.

Ela parece prestes a sacar sua arma de fogo e matar nós dois com um único tiro, mas fraqueja assim que ouve a voz de George.

– Oi, mãe. - Ele diz, tão calmamente quanto Bailee disse quando nos viu parados e indefesos.

Agora eu reconheço. Reconheço toda a soberania de George, todo o tom autoritário que ele utilizava as vezes, reconheço seu tom de voz ameaçadoramente calmo, reconheço sua agressividade em combate. O mundo gira, mas para quase que imediatamente. É por isso que eu nunca soube seu sobrenome. Ele não tem orgulho dele. George Mason.

– George. - Ela sibila. A parte que tentava se manter firme contra o encontro com o filho está devastada tanto quanto a parte que já não aguentava mais lutar. Bailee está tentando enroscar George em seus braços, e ele tenta se desviar.

Cada vez que ele se afasta dela, ela parece morrer um pouco mais. Definhar um pouco mais. Ela chora convulsivamente agora.

– É cada dia mais difícil para mim. Eu deito em meu travesseiro e vejo seus olhos assim que nasceu. Eu ainda me lembrava deles, George. Eu ainda...eu sabia que se tornaria um homem assim. - Ela diz em meio as lágrimas. - Eu queria que tudo...fosse...

– Cale a boca. Por favor, cale a boca. Já não aguento mais ouvir todas essas bobeiras que você está falando. Como se pudesse se arrepender de algo que já fez. - George diz e sei que ele está nos sentenciando. Mas Bailee apenas abaixa a cabeça e chora baixinho. De repente, ela não é mais a governadora do Continente Feminino. Ela é uma mãe. Uma mãe que teve seu filho tirado de seus braços.

– Eram as leis. Eu tinha que fazer isso. - Ela diz, pesarosa.

Penso em agarrar o braço de George e sair correndo dali enquanto sua cabeça permanece baixa, e é o que faço. Desembestamos a correr, enquanto não há o mínimo sinal de passos. É só então que me lembro. Clover.

Freio meus pés e dou meia volta, deixando George para trás. Ele não me seguirá se for esperto. E sei que ele é mais esperto e amante de táticas do que os homens do Continente Masculino inteiro reunidos.

Meus pés batem no solo com força, portanto não é muito difícil para que eu desarme muitas das armadilhas preparadas pelas forças femininas. Me desvio de todas elas e é apenas quando avisto Clover, que sou pega. Tecnicamente pega. O sino de alarme soa e Clover corre para tentar me ajudar a escapar da emboscada.

Tudo acontece tão rápido que mal tenho tempo de mastigar tudo em meu cérebro. Clover tentava me livrar da armadilha que me deixa pendurada apenas pela força do braço direito em mais ou menos quinze ou vinte metros de um buraco. Ela me puxa e até senta na beira do buraco para que consiga uma posição melhor, mas é tudo em vão.

Principalmente quando ela corre para buscar a faca que deixou caída do outro lado de onde estamos para que corte a corda que prende meus pés, me jogando cada vez mais para o buraco que parece sem fim. É quando avisto Katy, correndo a toda velocidade. Ela está vindo. Ela vai ajudar Clover e vamos sair daqui antes que consigam nos pegar.

– Katy! Graças a Deus. - Grito.

Então, ela me surpreende. É claro. Eu já devia esperar algo da garota indefesa e filha de guardas.

Ela dá um pisão estupidamente forte em minha mão que se agarra à beirada do buraco.

– O que está fazendo, sua estúpida? - Berro. Não solto a mão, apesar de que meus dedos estão sendo triturados por seus sapato de salto alto roxo. Triturados.

Não consigo mais. Não consigo. Meu dedos se soltam, um a um, da única coisa que me agarrava a tentativa de continuar viva e lutando ao lado das pessoas que eu amo. Acabou.

A floresta dá lugar à uma completa escuridão e o impacto da minha queda me deixa toda dolorida, mas essa não é a maior dor no momento. A dor principal é saber que nem George, nem Jamie, nem Derek, nem Jake, nem Dylan e nem Wes saberão o que aconteceu comigo, caso Clover não sobreviva para contar a eles.

E o pior.

Katy estará no subterrâneo. Katy poderá entregá-los a qualquer momento. Ela vai matá-los. Vai matar minha família.

Tento escalar, mas é impossível. Está acabado. Vou morrer aqui e vou morrer sozinha. Eles não vão saber o que aconteceu. Jamais.

– O que você fez? - Grita Clover. Posso ouvir seus berros então suponho que ela esteja gritando mais do que alto. - Tessa!

– Clover! - Grito. - Diga a eles o que aconteceu. Diga a Jamie e a George que eu sinto muito. E diga a Derek que eu tentei. Tentei me manter viva, mas não importa. Diga a eles que eu...

Um segundo impacto ocorre no buraco. Imagino que alguém veio me matar pessoalmente, mas Clover aparece em meu campo de visão. Ela me abraça e me pressiona contra um canto mais escuro do buraco enquanto me encolhe contra o seu corpo.

– Ninguém pode te machucar agora. Eu não vou deixar. - Ela sussurra.

– O que você fez? - Digo em meio ao choro. Ela era a única chance de alertá-los. Agora não há nada que possamos fazer. Vamos morrer as duas. Choro porque não vou poder avisá-los e choro também porque desconfiei de Clover diversas vezes. E agora ela está aqui, pronta para morrer por mim ou morrer comigo.

– Feche seus olhos. - Ela diz. - Feche seus olhos. - E começa a cantarolar uma canção de ninar. A mesma que cantava para Jamie quando meu único lar era o guarda roupa e meu irmãozinho não parava de chorar. Sei que tudo ficará bem com ele. George assumirá os cuidados e obrigações para com ele enquando Derek estiver na ala hospitalar. E depois, eles vão conseguir fazer o que eu faria. Eu confio nos dois e confio no amor que ambos tem para com meu irmão, mas mesmo assim meu coração se aperta por deixá-lo assim, sem respostas. Por deixá-los assim. Meu pai. George.

Jake.

Os seus olhos azuis não perseguirão mais uma garota com seu arco e flecha agora. Porque em poucos minutos ela não existirá mais. E eu não passarei de memórias. Memórias que com o tempo não serão mais lembradas. A Rainha do Desastre ataca novamente. E dessa vez, levando a namorada de seu pai com ela.

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Posso ouvir os gritos de Clover na outra sala. Estou cercada de branco. Meu jeans preto e minha blusa preta deram lugar à uma camisola também branca.

Estou sozinha. Os gritos de Clover ecoando em minha mente e eu. Sozinhas.

– Clover. - Chamo.

Ela não pode me ouvir, assim como nem eu quero ouvi-la. É atormentador demais. É ligeiramente demais para mim, mesmo depois de todo o ódio gratuito que eu sentia por ela. Ela mostrou não ser uma ameaça, ao contrário da garota que eu pensei que não era uma ameaça. A garota nos enviou para a morte. Para a tortura. E caso eu sobreviva, farei ela pagar por isso.

– Que bom que está acordada, queridinha. - Uma voz do outro lado da sala branca chama minha atenção. Ela é o único ponto colorido da sala, já que veste vermelho sangue. Bem a calhar. Ela parece ter se recomposto da conversa com George.

– Por que ainda estou acordada? Por que não me matou e colocou minha cabeça numa praça do Continente Feminino?

Ela dá uma risadinha.

– Bem, estou me controlando para não fazer isso, acredite. A raiva que sinto de você é superior à tudo que já senti antes. Até da raiva que sinto de Derek, que por um acaso está morto.

É a minha vez de soltar uma risadinha e deixá-la constrangida.

– Você não sabe o que diz. Derek é algo como Jesus. - Sorrio. - Ele ressuscitou.

– Não importa. Ele estará morto, e quer saber? A morte dele será melhor, por ser você quem vai matá-lo.

Solto uma gargalhada.

– Não importa o que você faça, Bailee, querida. Não tocarei em Derek.

– Isso é o que vamos ver. Vamos submeter você ao mesmo processo de desintoxicação masculina que Clover está sendo submetida agora mesmo. Você não se lembrará de nada, meu amor. Eles não serão mais que homens para você. Não serão mais que inimigos.

– Nunca conseguirá isso. - Digo, irresoluta.

– Vamos ver. Será mais doloroso para eles quando a flecha que escapar de seu arco atingir o coração de um deles. Matá-los um a um.

Não.


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