Perfect escrita por VanillaNiki


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Aí está! Acho que nem demorei tanto. Acho que esse foi o maior capítulo que já escrevi na vida, é sério. São 05:20 da manhã e eu passei a noite acordada. Acho que mereço dormir um pouco.



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Como nem eu nem nenhum dos garotos tinha dinheiro para gastar com táxi (ou pelo menos queria gastá-lo assim), decidimos ir de ônibus. Por sorte, não estava cheio, então tínhamos a opção de sentar em qualquer lugar. Eu escolhi um dos bancos da frente, e sentei próximo à janela. Talvez olhar a vista possa fazer com que eu me distraia um pouco e tire esse idiota da mente e da vista pelo menos até chegarmos ao parque.

Mas minha "paz" durou pouco: menos de um minuto depois de eu me acomodar, aquele loirinho sentou ao meu lado. Por que? POR QUE? Será que ele o odeia tanto quanto eu o odeio e por isso insiste em ser tão gentil e me seguir, pra que eu possa me estressar cada vez mais?! Não, não, Rei, você é uma pessoa perfeitamente controlada. Simplesmente o ignore e tente pensar em outra coisa! Oh, como se eu já não tivesse tentado antes.

– Hmm... O que está olhando, Rei? - Ele tentou puxar assunto, notando que eu olhava pela janela, em uma tentativa ridícula de evitar contato visual.

– N-Nada. - Tentei responder secamente, mas acabou saindo um gaguejo.

Ele deu um risinho. Esse debochado.

– O sinal está parado. E você está com o olhar fixo em... - Ele tentou seguir meu olhar, que eu desviei para qualquer loja aleatória da rua, sem prestar muita atenção em qual. - Uma loja de lingerie?! Que coisa, eu não esperava isso de você!

Riu mais uma vez. E senti minhas bochechas esquentarem, sinal de que eu provavelmente estava corando. Eu realmente nem tinha notado aquela loja ali. Acho que não tem sorte pior que a minha, sinceramente.

– Não é como se eu estivesse pensando em nada! - Tentei falar com dignidade. - Afinal, são só manequins. Que tipo de pessoa se atrai por manequins?!

Foi o melhor argumento que eu consegui formular. E dessa vez acabei me virando para olhar pra ele, encontrando seus olhos azuis mais perto do que eu pensava. Ele ficou um tempo em silêncio, simplesmente me encarando, com uma expressão que me parecia ser curiosidade, até que a quebrou com um sorriso.

– Tsundere. - Ele falou, simplesmente.

Levei um tempo para processar o que ele disse. O que é tsundere mesmo? Ah! São aquelas meninas de anime que... Hmm... Não, espera, isso é yandere, eu acho...

Acho que ele notou minha expressão de dúvida, então continuou a falar:

– Não sabe o que é isso, sabe?

Olhei para ele fixamente, mas não confirmei nem neguei. Mas qual minha obrigação de saber isso?! Eu nem sequer sou um otaku ou algo parecido!

– Vou te deixar na curiosidade. - Piscou.

"E eu vou te socar", é o que eu realmente queria dizer, mas acabei por simplesmente ficar em silêncio. Já dei minha palavra demais a esta pessoa.

Alguns minutos depois, quaisquer pensamento que eu pudesse ter formulado nesse intervalo de tempo foi interrompido pela parada do ônibus e nossa chegada ao parque. O trajeto não tinha sido tão longo, como Len dissera. Me levantei antes dele e me dirigi logo a porta. Já passamos mais tempo do que deveríamos próximos e, para o bem da minha sanidade mental, eu preciso de um pouco de espaço pessoal. Não olhei para trás para ver onde estavam os outros, só sei que fui o primeiro a descer.

Fiquei parado na calçada, do lado de fora, um pouco antes do lugar em que se compravam os ingressos para entrar. Wow, era maior do que eu pensava. Já passei por aqui algumas vezes também, de carro, mas nunca cheguei a prestar atenção. Era cheio de brinquedos altos, como uma montanha russa cheia de loopings, rodas gigantes (sim, tinham duas, coisa que eu não entendi muito bem), dentre muitos outros. É, acho que posso me divertir um pouco, afinal, meus amigos estão aqui, e faz tempo que não saíamos juntos. E não é aquele garoto que vai me fazer ficar nervoso a ponto de não aproveitar isso!

– Reeeei! - Yuuma praticamente berrou, bagunçando meu cabelo, de novo. Cara, como eu odeio essa mania dele.

– Oi. - Falei, arrumando o cabelo, assim que ele fez o favor de tirar a mão.

– Estamos te esperando, moça, não tem tempo de arrumar o cabelo.

Ele sorriu, apontando para os outros que já estavam perto do portão de entrada. Espera, como chegaram lá tão rápido? Devo ter passado mais tempo do que eu imaginava parado na calçada. Ah é... Ele me chamou... De moça?

– Ai! - Ele deu um gritinho quando soquei com força o ombro dele. E eu só não soquei na cara porque ele é muito mais alto que eu.

– Moça é você, pelo menos eu não tenho cabelo rosa! - Falei irritado.

– Calma, calma, era brincadeira, hehe, você é macho, machão! - Fazia gestos com as mãos, enquanto eu simplesmente dei um suspiro.

– Eu não paguei meu ingresso ainda. - O avisei, já estando mais calmo.

– Ah, o Len disse que preferia pagar que ter que vir te chamar. - Riu. - Ele pagou. Agora, vamos.

Enquanto ele me puxava pelo braço quase correndo, eu refletia. Então Len não queria ter que falar comigo pra vir me chamar? Ele tinha... Realmente ficado chateado? Eu disse algo? N-Não! Idiota, Rei! Se ele ficou magoado, que bom! Ele devia mesmo ficar magoado, ele merece. Pelo menos assim ele perde um pouco da pose de perfeição dele por uns segundos e vira humano, descobre que dá pra ficar triste. Mas eu não... Estava sendo um pouco maldoso pensando assim?

...

– Então, onde querem ir primeiro? - Piko falou enquanto comia um algodão doce que havia acabado de comprar para si.

– Eu quero ir no carrinho de bate-bate! - Oliver sugeriu, dando uma espécie de pulinho e levantando a mão. Não entendo se ele faz esse tipo de coisa por ser o mais novo ou porque é retardado mesmo. Acho que os dois.

– E vocês? - Piko olhou para nós, mordendo um pedaço maior e lutando pra não arrancar o algodão doce todo de uma vez.

– Por mim tudo bem. - Falaram Kyo e Yuuma, quase em uníssono.

Piko olhou então para Len e depois para mim, como se nos questionasse. Não disse nada, já que estava de boca completamente cheia por ter acabado arrancando o algodão doce exatamente como parecia não querer que acontecesse.

– Certo! - Len inclinou um pouco a cabeça para o lado e sorriu quando respondeu. Ele consegue ser tão retardado quanto o Oliver, mas a diferença é que é mais bonito.
Eu assenti de leve com a cabeça. Na verdade, por mim tanto faz, acho que qualquer um desses estaria bom.

Nos dirigimos à fila. Felizmente, não foi preciso pagar ingresso, já que era só aquele da entrada do parque. Ou talvez, pensei, infelizmente. Esse ingresso deve ter sido caro. Len deve estar realmente com raiva de mim a ponto de pagar um valor tão alto simplesmente pra não ter que ir me chamar. Nem eu faria isso com ele! Digo, claro que eu adoraria evitar chamá-lo, mas não iria comprar um ingresso pra isso. Sabe, é meio difícil conseguir dinheiro tendo 13 anos.

A fila andou um pouco. Ouvi algumas risadas atrás de mim. Droga, eu jurava que iria me divertir demais nesse passeio, mas não tenho coragem de me misturar com os outros por puro medo de chegar perto do Len e ficar nervoso. É como se meu corpo reagisse à proximidade de forma estranha, me fizesse gaguejar e ficar com um embrulho na barriga. Não, eu definitivamente não sou como essas garotinhas apaixonadas! Simplesmente é uma defesa natural? Acho que meu corpo deve odiar gente perfeita tanto qual odeio e luta pra me deixar longe desse tipo de gente. É, deve ser isso.

– Hey.

Tomei um susto quando ouvi isso. Antes de virar, reconheci a voz. Ah, não, de novo não.

– Len. - Falei desanimado, me virando um pouco para olhá-lo. Acho que não tem mais jeito.

– Você tá legal? - Não sei exatamente que expressão facial ele demonstrava. Aparentemente é a expressão mais normal que já vi dele hoje.

– Como assim se estou legal? Por que eu estaria chato? - Franzi a testa.

– Não, eu quis dizer, você está bem?

– Sim. - Respondi rápido, quase automaticamente.

– Sério?

– Sim.

Por que ele queria saber? Eu não interesso. Ele estava evitando falar comigo agora a pouco mesmo.

– É que você está só num canto sem falar com ninguém. São seus amigos, não são? - Ele fez uma pausa e me fez mais uma pergunta. - Não é nada mesmo?

– Não. - Desviei o olhar pra baixo.

Ele não pareceu muito satisfeito com o que eu disse mas parece ter pensado que eu não queria falar e se virou para o outro lado. O que? Que vácuo é esse? Agora que tenho certeza que ele me odeia!

É, agora estou confuso. Eu já conheci várias pessoas perfeitas, isso é fato. Nenhuma tão insistente quanto o Len, nenhuma tão perfeita quanto ele e, definitivamente, nenhuma que tivesse me incomodado tanto quanto ele. Mas me incomoda saber que ele, por alguma razão, pararia de gostar de mim. Não que ele tenha gostado algum dia, mas quero dizer, me odiar. Acho que estou sendo duro demais. Talvez eu pudesse falar de forma mais clara e perguntar a ele se ele está com raiva de mim, mas não consigo. Estou com raiva de mim. Eu sei que posso ser desgradável muitas vezes, só consigo ser assim, eu não nasci como a pessoa mais fofa e gentil do mundo, o que posso fazer? Mesmo assim, ele nunca me fez nada, além de me deixar perturbado. Se eu pelo menos conseguisse me controlar... Se eu pelo menos...

– Oi? Kagene Rei, é você?! - Ouvi Kyo berrar na minha frente e sai de uma espécie de transe em que eu estava.

– Oh, o que é?

– Escolha seu carrinho, ô drogado. Estamos só te esperando.

Eu estava parado na porta de entrada do bate-bate. Quase todo mundo já tinha escolhido seu carrinho e estava sentado nele.

Suspirei e escolhi um aleatório, para apenas esperar alguns instantes pelo sinal de partida.

...

Nós todos fomos em vários brinquedos. Na verdade, mais da metade dos do parque. Eu me senti realmente ridículo em alguns, mas o que posso fazer? Oliver conseguia convencer todo mundo com aquela carinha quando implorava. Mas eu não posso acreditar que me fez ir no passeio do pônei mágico. Por que diabos um GAROTO de 12 anos, que é o caso dele, iria querer ir no passeio do pônei mágico?! Ele foi no pônei azul, eu no branco e os outros pegaram as cores que sobraram. O meu pônei (por mais que não deixe de ser), era o menos gay, era branco com alguns brilhinhos pretos. O do Len era rosa com brilhinhos... Rosa. Uma menina que também veio ao parque ficou chateada com ele porque ela queria ter pego o pônei rosa. Sim, eu disse que ele era retardado.

Fomos em algumas montanhas russas, nada mal. Fora o Piko vomitando no sapato do Kyo. Ele não comeu só aquele algodão doce. Ele comprava praticamente tudo de comida que via pela frente. E depois foi inventar de ir numa montanha russa com três loopings seguidos. Não foi uma escolha tão prudente, só acho. Vomitou assim que pisou no chão, e o Kyo teve a infelicidade de estar perto.

Yuuma, mesmo sendo o mais velho, parecia uma criancinha feliz. Ele saia saltidando por aí e até tentava ajudar o Oliver a nos convencer de ir em alguns. Comprou várias fichas para jogos de mira ao alvo, e essas são pagas, porque tem prêmio. Mas ele ganhou todo esse dinheiro de volta, praticamente, é ótimo nisso, e lucrou um monte de bichinhos de pelúcia. Deu um pássaro de pelúcia pro Oliver (ele estava fazendo birra) e ficou com o resto. Acho que vai dar alguns pra namorada dele, a Mizki.

Len era o mais estranho de todos. Ia em tudo sem falar muito com ninguém, e sem que falassem com ele também, afinal, acho que mal se conhecem mesmo. De acordo com Yuuma, ele só veio por minha causa. Mas Len, mesmo assim, passava o tempo quase todo sorrindo e parecia estar se divertindo bastante. Ele olhava pra mim de vez em quando, mas eu desviava o olhar na maior parte das vezes, tanto por nervosismo quanto por medo de encontrar nos olhos dele alguma expressão da raiva que eu tanto temia.

E agora estamos todos (menos o Piko, eu espero) famintos. Só estamos escolhendo o que vamos comer. Eu pedi uma mini pizza com suco de limão. Quando fui me sentar, notei que as mesas só tinham 4 lugares. Pro meu azar, Kyo, Piko, Oliver e Yuuma já estavam em uma.

Nem me atrevi a olhar pra outra. Estou quase rangendo os dentes. Por que, destino, Deus, seja o que você for, por que é tão mal comigo?

Me sentei na mesa do Len e me fixei na pizza. Ele estava comendo um hot dog e por sinal, muito empenhado em não deixar cair nem um milho sequer. Isso me deu a oportunidade de observá-lo, sem que ele estivesse me olhando. Ou pelo menos por alguns segundos, quando os olhos dele se voltaram para mim, com uma expressão de curiosidade. Sinto que corei. Merda.

Ele parou de comer o cachorro quente e olhou para mim, mantendo a mesma expressão. Eu senti meu coração acelerar, de novo. Comecei a encará-lo, mesmo estando ciente de que ele também me via. Vi o pouco de mostarda que sujava os lábios dele, a perfeição invejável de sua pele... Na verdade, a perfeição invejável de cada parte do rosto dele. Ele parecia um anjo, eu sei lá. É mais bonito que os anjos que eu vejo naquelas pinturas renascentistas, então não sei mesmo. A-Ah, acho que não deveria estar pensando nessas coisas. Mas ele é bonito sim. O fato de eu achar um garoto bonito não quer dizer que ele me atraia nem nada disso. Não, não, que tenso! Acho que consegui corar ainda mais. Abaixei a cabeça numa tentava de esconder isso.

Engoli a seco e levantei a cabeça depois de alguns instantes. A pergunta. Eu tinha que perguntar. Era agora ou nunca.

– Len.

– Hm? - Ele limpou a boca com um guardanapo, acho que notou que ainda estava um pouco sujo.

– Você... Por que você pagou meu ingresso?

– Que? - Ele sorriu. - Você parecia tão distraído olhando a paisagem... Além do mais eu trouxe bastante dinheiro, não precisava gastar o seu. Considere uma forma de agradecimento por você não ter me expulsado quando eu apareci na porta da sua casa.
Então ele não fez isso pra me evitar... Por algum motivo me sinto extremamente aliviado, ainda que não devesse.

– Ah. - Falei. - E-E... Você não está com raiva de mim, está?

– O que?

– Você não está com raiva d-

– Não, não! - Ele riu. - Eu entendi o que você disse. Só não entendi o motivo de você pensar isso.

Ele parou de falar pra olhar pra mim, que estava sem reação.

– Eu nunca ficaria com raiva de você, Rei.

Continuei sem reação, até me forçar a dizer algo. Eu não podia simplesmente cobrir a cara com a pizza ou fugir, por mais que fosse o que eu queria fazer.

– Obrigado.

Pela primeira vez, pelo menos do lado dele, sorri.


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Notas finais do capítulo

Sim, o Rei é doido, caso estejam se perguntando. E comentários, plz? Fiquei muito feliz com os últimos que recebi! Saibam que fiquei muito feliz com o carinho, e que esses comentários foram o que me fizeram ter disposição pra passar a madrugada escrevendo pra postar o capítulo aqui. Agora me vou. Prometo que respondo a todos à tarde, porque agora já está amanhecendo, lol. Bye. ;3



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