Apenas mais uma de amor escrita por Christinne Syhan


Capítulo 9
Cap 9




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Tentei explicar da forma mais fácil possível, fazendo-a recordar do nosso passado em comum.

– você não se lembra de nada?

– lembro-me de poucas coisas, eu era muito pequena. Quando cresci mamãe sempre evitava falar do passado.

– não somos filhas do mesmo pai, mas da mesma mãe.

– sabe, eu acredito em você, só sendo minha irmã pra saber de uma historia que é guardada a sete chaves pela minha família. Tenho poucas lembranças, confesso que muitas delas eu me fiz esquecer, não achava conveniente lembrar de um passado que todos evitavam.

– lá em casa é da mesma forma. Foi muito difícil conseguir que alguém falasse sobre isso.

– o que vamos fazer agora?

– eu quero conhecer minha mãe, sei lá, imaginei esse encontro de tantas maneiras e agora nem sei o que fazer.

– eu tenho um irmã! Me da um abraço?

Nos abraçamos. Estranho, indescritível. Passei a vida inteira procurando minhas origens para esclarecer meu passado, e esse momento chegou, já posso resolver minhas angustias e pensar no futuro.

Fomos a uma clinica fazer um exame de DNA. O exame é fácil e pratico, principalmente quando se tem dinheiro. Recolheram nossa saliva e levaram para analise. Esse é um procedimento necessário, mesmo tendo a certeza de que somos irmãs. Fomos a uma sorveteria tentar nos conhecer melhor:

– me explica o que faz na televisão? –perguntei

– eu sou apresentadora de um programa infantil, canto também. E você?

– Atualmente eu estou pensando na vida, fazendo um analise de minha atual situação em busca de uma melhor perspectiva futura. Sim, estou desempregada.

– vai ser por pouco tempo tenho certeza.

Falamos sobre vários assuntos superficiais.

– a gente conversou tanto e você nem me disse que é ele?-apontou para o Pedro- é seu namorado?

– todo mundo pergunta isso, mas não ele é meu primo.

– é meu primo também?

– eu acho que não, você é filha de outro pai.

– é mesmo, meu pai é o Daniel o seu o...

– Bruno.

– tenho que ir agora. Estou ansiosa pra te levar lá em casa, amanha nos encontramos?

– sim.

– Veremos o resultado do exame, torço pra que sejamos irmãs. Até amanha?

– até amanha.

Ele se despediu de mim e de Pedro, pôs seus óculos escuros e pegou um táxi. Nós fomos de ônibus, estranhei o comportamento do Pedro ele é sempre muito agitado e estava quieto e calado.

– Pedro por que você ficou tão calado?

– eu sou tímido, só isso.

Ele não estava bem, toquei seu rosto estava muito quente.

– você sente alguma coisa Pedro?

– só dor de cabeça e no corpo, estou cansado.

Deixei ele quieto, comecei a olhar a paisagem e a pensar em tudo o que aconteceu. Minha vida estava mudando. Em todos os sentidos, meu futuro que era previsível pode ser surpreendente. Estava entardecendo e eu adoro o entardecer. De repente um líquido se derrama em meus pés. Pedro vomitou e me deixou com as pernas sujas. Ele não estava bem. Havia um hospital próximo, desci do ônibus com ele e fomos a caminho do hospital. Ele não estava bem, estava com o rosto vermelho, tonto fiquei muito preocupada.

Deixei ele sentado em um banco e fui a recepção, preenchi os dados, e me apresentei como sua responsável, disse que era urgente e que ele precisava de atendimento imediato. Ela disse que eu deveria esperar a fila. Havia muitas pessoas e Pedro sentia dor nas costas, ele deitou no meu colo e dizia ter vontade de vomitar. Eu esperei quarenta minutos e ainda havia muitas pessoas. Tive medo de que ele morresse no meu colo, eu nunca havia visto ele daquele jeito. Chegou uma mulher, uma loira alta, e foi atendida poucos minutos depois. Não entendi o por que daquela mulher ser atendida primeiro. Fui tirar satisfações.

– impressão sua, ninguém foi atendida primeiro.

Quase meti um tapa na cara da atendente mal-humorada.

– aquela loira foi atendida primeiro, qual o motivo? Será que é por que ela é prima da mulher do vereador? Eu vou chamar os jornais, esse atendimento é uma bosta mesmo por isso que o país não vai pra frente.

Os outros pacientes me apoiaram. Ele alegou que não podia fazer nada e que o medico do plantão não havia chegado ainda.

– cadê esse medico que já deveria ter chegado? Isso é uma falta de respeito com o povo, se meu primo morrer eu nem sei o que faço!

Todos os pacientes começaram a reclamar e se revoltar. Um rapaz entrou e vendo o tumulto perguntou pra recepcionista o que estava acontecendo:

– essa baderneira agitadora!

Eu olhei pra ele, de novo não. O jovem burguês, Lucas.

– o que está acontecendo?

– meu primo precisa de atendimento- eu disse- ele está passando mal e essa fila não anda, por que o doutor tá atrasado.

– eu tive meus motivos, mas estou aqui.

– então começa a trabalhar.

– traz seu primo eu vou atendê-lo imediatamente.

Entrei no consultório levando o Pedro. Ele o examinou enquanto conversava comigo.

– eu te conheço de algum lugar menina.

Odeio quando me chamam de menina. Primeiro por que gosto de ser chamada pelo nome. Segundo, menina dá a impressão de que sou criança, inconsequente e irresponsável por meus atos.

– jura?

– ah! Você trabalhava na lanchonete, me deu um banho de suco e coca.

– sim, você mereceu. Detesto médicos.

– se não fosse os médicos e a medicina, milhares de pessoas estariam mortas.

– concordo, mas não simpatizo com a classe.

– você é uma menina teimosa e antipática, além de orgulhosa e metida.

– achei que você fosse médico não psicólogo. Não preciso de uma análise sua.

– seu primo está com dengue. Vai ficar internado.

Pedro protestou:

– odeio tomar soro.

– mas precisa se quiser se curar.

A presença do Lucas me irritava, o jeito dele falar, agir. Talvez porque lembrasse meu jeito, meus defeitos.

Liguei pro meu pai e minha tia. Ela foi cuidar dele e eu pude ir embora. Fui beber água, já era quase meia noite, estava pensando em como voltar para casa, podia ser perigoso há essa hora ir de ônibus. Lucas atravessou o corredor nesse instante:

– já abandonou seu primo?

– não, minha tia tá cuidando dele.

– vou ver ele agora mesmo.

– faça seu serviço direito. Erros médicos são comuns do que parece.

– todo ser humano comete erros, mas eu vou me esforçar. Está tarde pra você ir embora sozinha.

– eu sei que tá tarde, mas não vejo problema, sei andar muito bem sozinha, nada me dá medo.

– guarde seus discursos heroicos pra outra pessoa. Se eu fosse você pegava um táxi.

– o que você tem a ver com isso? Eu posso muito bem ir de carro. Você não sabe nada sobre mim.

– desculpa, não quis me intrometer.

– você acha que pode cuidar de todo mundo? Limite-se a cuidar de seus pacientes.

– claro, menina. Você sempre tem esse humor e sensibilidade?

– primeiro, meu nome não é menina, não gosto de ser chamada assim. Segundo, eu trato as pessoas do jeito que eu acho conveniente, depende do grau de simpatia que eu sinto por ela. No seu caso é nulo.

– você vai ter problemas se continuar assim. Mas não tenho nada a ver, como você frisou preciso trabalhar.

Fiquei tentando entender o que tanto me irritava nele. Nem sei explicar. Peguei o ônibus quase vazio e pensei na vida, ela muda toda hora, dá voltas violentas. Por que eu sempre me encontro com esse cara? E o pior, ele é meu cunhado. Vou ser obrigada a manter contato com ele. É melhor esquecer. Desci do ônibus estava escuro e nublado, ia chover logo. Eu tinha que andar um pequeno trecho até minha casa. Comecei a sentir uma sensação estranha. Talvez Lucas tivesse razão, era perigoso andar de madrugada principalmente no meu bairro. Senti que alguém me seguia. Olhei para trás, ninguém. Ouvi passos que me seguiam. Torci para que fosse uma alma penada, mas ouvi uma respiração de uma pessoa bem viva.


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