Apenas mais uma de amor escrita por Christinne Syhan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero opiniões, comentem!



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Eu nunca acreditei em príncipe encantado, exceto quando tinha doze anos, mas foi uma fase passageira. Hoje eu já sei que não existe nada encantado, nem príncipes, nem fadas, nem bruxas. Se eu acreditasse estaria sentada na minha torre esperando que uma fada me deixasse linda e que um homem perfeito me resgatasse, me casaria e viveria para sempre entre festas badaladas e banquetes.

Minha vida não é nada perfeita, nem chega perto, mas nunca desejei a perfeição, pois são os defeitos que dão uma agitada na vida e eu adoro um agito, detesto monotonia e rotina. Às vezes, como agora, gosto de ficar olhando as rachaduras das paredes e ver formas e desenhos que originam historias curtas que provavelmente serão musicas. Muitos diriam que tenho uma vida medíocre e tenho mesmo, tenho 20 anos, nunca namorei nem fiquei com ninguém, meu melhor amigo é meu primo nerd. Respiro musica, minha vida depende particularmente de música, de qualidade é claro. Meu sonho é viver de música, não necessariamente ser rica e famosa, mas se o dinheiro vier será muito bem vindo, alias dinheiro não é comigo não tenho um centavo no bolso.

Moro em uma casa velha pra caramba, deve ter uns 80 anos que foi construída, tem goteiras pra todo lado, quando chove eu abro o guarda-chuva e ponho na cabeceira da minha cama pra conseguir dormir, por isso não gosto da época de chuva. A casa tem três quartos, divididos entre mim, minha vó, meu pai, meu padrinho, minha tia e meus dois primos. Não moro com a minha mãe, alias faz muito tempo que não a vejo, a ultima vez que estive com minha mãe eu tinha 6 anos, logo depois de quando ela se separou do meu pai. Ela se casou de novo com um cara muito rico e ela também é muito rica, meus avos maternos nunca aceitaram meu pai. Todo mundo sempre pergunta se ela é rica, por que me abandonou? Nem eu sei responder, só sei que tenho uma irmã um ano mais nova, também filha do meu pai que foi com ela. Talvez ela amasse mais a Larissa e por isso a levou, mas não me lamento, meu pai e minha vó me criaram muito bem com todo o amor possível.

Está na hora de ir para o colégio, ainda bem que é dezembro e só falta duas semanas para o término da aula, definitivamente. Deveria ter terminado o ensino médio há três anos, mas a bagunça e as faltas me fizeram bombar três vezes, eu não era uma criança eu era um furacão, fiz tanta bagunça, aprontei todas, coitada da minha vó.

Pedro, meu primo, já estava me chamando para ir a aula:

- não vai à aula não Lara?

- claro que sim, espera um minuto.

Calcei meu all star velho e desbotado, (tenho certeza de que um dia ele foi preto) e fui me despedir do meu pai e da minha vó. Meu padrinho Natanael nos acompanhou ate o colégio era trajeto dele para ir ao trabalho. Fomos conversando e ele me deu uma boa noticia:

- Lara, você ainda quer trabalhar lá na lanchonete?

- claro, o senhor sabe o tanto que eu preciso de grana.

- eu vou trabalhar no caixa agora então está sobrando uma vaga pra servir mesa, se você quiser.

Fiquei muito animada, não é o emprego dos meus sonhos, mas na situação em que estou qualquer emprego é bem vindo.

- aparece lá na lanchonete depois da escola, vou conversar com o gerente.

Entrei tão eufórica na sala que esbarrei em um rapaz. Quando ele se virou vi que não era qualquer rapaz, era o cara em que inevitavelmente penso todos os dias a uns anos. Tiago, meu vizinho, tem a mesma idade que eu e já brigamos muito quando crianças, agora ele nem me dá um oi, e eu a sonsa aqui fica com o coração disparado toda vez que vê ele. Já tentei achar defeitos, sentir raiva dele, mesmo assim o sentimento não muda, aqueles olhos negros e profundos me hipnotizam. Ele é alto, branquinho e um sorriso encantador. Tentei voltar a pensar no meu futuro emprego e no violão novo que iria comprar. De repente um nome me veio cabeça, Larissa, minha irmã rica onde será que ela esta agora?

Se minha mãe tivesse me levado tudo seria diferente. Talvez eu não precisasse contar moedas pra tomar um sorvete, ou costurar rasgados nas calças e sentir dor nos pés porque o tênis está com a sola desgastada. Talvez eu não precisasse ficar sem graça quando as pessoas falam de suas mães e nem chorar no dia delas. Há tantas possibilidades, mas a minha realidade é essa, não faz sentido ter saudade do que nunca se teve.

Não tenho muitos amigos na escola, algumas meninas conversam comigo, mas apenas assuntos fúteis que não me interessam como cor de esmalte e ficantes. Fico na minha sozinha e um pouco deprimida, o Pedro vem conversar comigo às vezes, ele tem os amigos dele. Nunca me meto em confusão, fico na minha. Antigamente não, era briga todo dia, zoeira o tempo todo na sala de aula, tenho coleção de advertências e suspensões, meus “amigos” se formaram e eu fiquei aqui.

A aula foi chata como sempre. Resolvi ir direto para a lanchonete. Peguei meu celular, o único pertence novo que eu tenho e liguei pra minha vó para avisar. A rua estava deserta, hora de almoço, quando apareceu uma menina baixinha de trancinhas. Ele andava e me olhava amistosamente, chequei a minha memória para descobrir se a conhecia, mas nunca vi mais magra, então por que ela vinha em minha direção? Ela me perguntou quantas horas eram eu olhei no meu celular e falei. Até ai tudo bem, até que ela me mandou entregar o celular.

- não vou entregar tá doida?

Ela mostrou seu canivete e me ameaçou

- me dá o celular por bem ou por mal.

Entreguei o celular, estava decidida a não me meter mais em confusão.

- o colar também

O colar não. Era uma das únicas lembranças da minha mãe, eu sempre andava com ele. Decidi não entregar. Ela pôs o canivete no meu pescoço e quando ia arranca-lo dei um chute nela e sai correndo. Corri sem olhar para trás até a lanchonete. Ainda consegui a ouvir rindo e reclamando da qualidade do meu celular. Entrei na lanchonete e meu padrinho veio falar comigo:

-o que aconteceu- ele estava preocupado

- nada roubaram meu celular.

- ainda bem que você está sã e salva, exceto por esse arranhão.

- que arranhão?

Senti um liquido escorrendo do meu rosto, eu achava que era suor, mas quando passei a mão vi que era sangue. Fui ao banheiro e olhei no espelho, um grande e profundo arranhão na minha face, só quando a adrenalina passou e eu me acalmei que comecei a sentir a dor. Meu padrinho pegou o kit de primeiros socorros, o canivete deve ter me arranhado quando chutei a menina. Meu padrinho era uma negação em fazer curativos por isso chamou uma das atendentes para ajuda-lo.

- não vê que eu estou trabalhando?-disse ela- e você devia fazer o mesmo, eu não vou atender esse tanto de mesas sozinha.

Garota antipática, já não fui com a cara dela. Elias, o subgerente, fez meu curativo, ele tinha tanto cuidado que nem doeu quando passou álcool.

- quem feriu esse lindo rostinho? Perguntou ele.

- fui assaltada.

- é um perigo andar na rua hoje em dia, cheio de vândalos, um horror, quando eu ficar rico vou me mudar pra uma ilha quase deserta.

Elias era lindo, educado, charmoso e era só um ano mais velho que eu. Pena que era gay.

- seu padrinho fala muito de você. Por mim já estaria trabalhando aqui, seriamos grandes amigas! Digo amigos, mas não sou eu quem manda, o chefe disse que já temos funcionários demais.

- quer dizer que sem chance.

- não, eu não disse isso. Eu disse que o chefe acha que não precisamos, mas podemos provar que precisamos, entendeu? Venha fazer uma experiência amanha.

- se quiser eu começo agora, que a lanchonete tá cheia.

- e o dodói no rosto? É melhor sentar e ficar quietinha.

- não me trata como criança Elias.

- é que você tem um rostinho tão infantil, mas já que você insiste pega o avental e o chapeuzinho e pode começar.

Quando quero sei espantar a preguiça. Trabalhei a tarde toda e até esqueci a fome. Servi e limpei mesas, limpei o chão, fiz de tudo com animação e capricho. A garota antipática me encarava às vezes, ignorei. Cheguei em casa exausta e faminta, comi dois pratos cheios de comida e contei sobre o assalto e o novo trabalho. Depois fui ver as estrelas em um velho telescópio. Pedro sempre olhava comigo, mas hoje foi jantar na casa do pai. Subi ao topo de uma mangueira no quintal e fiquei escondida entre as folhagens. De lá eu podia ver tudo, a rua, a casa dos vizinhos e principalmente a casa do Tiago. Isso é ridículo, eu sei, espiar uma pessoa, mas estamos sujeitos a isso quando um sentimento maior nos controla, afinal era o único jeito de vê-lo e saber o que ele fazia. Ele saiu no quintal e falava alguma coisa com a vó, Leandro o irmão dele saiu só de toalha e eles conversaram, por esse bônus eu não esperava, Leandro de tolha com todo aquele corpo definido e eu assistindo de camarote. Tiago foi até a porta, uma menina estava esperando. Eu conhecia essa menina de algum lugar. Depois de pensar a reconheci, ela era a garota antipática da lanchonete. Ele a abraçou, eles foram para um canto e começaram a se beijar. Aquilo era demais pra mim, apesar de eu não ter esperanças de sair da paixão platônica, o ver beijando outra era insuportável. Uma voz gritou meu nome me assustei, desequilibrei e cai no chão.


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