Virou Simplesmente Amor escrita por Mary e Mimym


Capítulo 14
Ontem, Hoje e o Amanhã


Notas iniciais do capítulo

Bom... Não vamos fazer com que vocês percam tempo com desculpas. Já sabem mesmo e blá-blá-blá.
O capítulo ficou bem grande :3
Tenham uma boa leitura *-*



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Elesis levantou os olhos. Edel já não tinha mais o sorriso no rosto, ao contrário da rosada.

O Sr. Erudon pigarreou. Pensou até em tomar e partida e explicar a situação, mas preferiu arriscar e ver o que Ronan faria.

Um silêncio desconfortável reinou no cômodo por segundos que pareciam horas.

Edel colocou a bandeja sobre a mesa e sentou ao lado de Elesis. Ronan suspirou.

–Não, Amy, ela não é uma servente. - Disse o azulado, torcendo para que a jovem Frost não se constrangesse.

–Que bom, né? - A rosada se ajeitou na cadeira. - Eu cheguei a pensar que essa menina estava sendo uma audaciosa em se sentar à mesa conosco.

Ronan não estava gostando da conversa e lançou um olhar de poucos amigos para Amy.

–Foi tudo um mal entendido, só isso. - Amenizou a mãe do rapaz.

–Afinal, quem é ela? - Amy se demonstrou impaciente. Jin franziu a testa, pois estava achando sua namorada mesquinha demais.

O Sr. Erudon resolveu responder; contudo, seu filho foi mais rápido.

–Edel Frost, uma amiga da família e hóspede.

–Ora, ora, ora… - Amy entrelaçou os dedos, apoiando os cotovelos sobre a mesa. - Acho que ganhei uma nova amiga. - E sorriu cinicamente para Edel.

–Para com isso. - O ruivo, por sob a mesa, apertou a mão da Amy, sussurrando o que dissera.

Mais uma vez o silêncio e uma pertubação na cabeça e na barriga de Elesis. Por um momento, e sem saber explicar, ela também não gostou muito da presença da nova garota , assim como a rosada.

Não que Elesis estivesse com implicância, não. Era mais para um sentimendo novo, que vinha no pacote do namoro: O ciúme. Afinal, mesmo com poucos olhares entre as duas, a ruiva pode ver que Edel era uma bela menina e que estava próxima de Ronan, muito mais próxima que ela mesma.

Balançou a cabeça tentando afastar de si tais pensamentos. E deu certo.

Os serviçais da casa adentraram a sala para completarem a refeição. O som de talheres foi a trilha sonora de alguns minutos do almoço.

–Nem acredito que o Ronan vai dançar na festa. - Comentou Amy deliciando-se com a comida.

–Não estarei sozinho. - Disse o menino sorrindo para Elesis.

–É um prazer conhecer a graciosa menina e seu irmão. - De forma simpática e bem clara, a Sr. Erudon lançou um sorriso para os ruivos, mas só Jin retribuiu.

–É irônico tudo isso. - Continuou Amy - Mas, sinceramente, - comeu mais um pouco - prefiro assim. - e deu um beijo no rosto do ruivo.

Ronan riu, mas era bem visível o clima pesado naquele cômodo.

Silêncio.

–A comida está ótima. - Voltou Amy, querendo, a todo momento, que Elesis ou Edel falassem.

O Sr. Erudon não poupou elogios.

–Foi nossa hóspede quem fez. Digna de ser uma Frost. - Olhou para ela e Ronan. - E uma ótima menina para um homem de sorte.

–Com certeza ela encontrará um homem, até porque os daqui desta mesa já estão bem compromissados, né? - Amy sorriu para o pai de Ronan de forma debochada e superior.

O Sr. Erudo encarou a menina. Ronan pigarreou.

–Elesis também ama espadas como eu. - Soltou, sem nem imaginar como a ruiva reagiria. Assuntos aleatórios se fez parte do almoço. Aleatórios e sem sentido.

Edel se mostrou surpresa; Elesis, transtornada. Porém, espantou a todos. Até mesmo o azulado.

–Amar seria a palavra ideal para o que eu sinto quando emprenho uma espada, Ronan. - Olhou para ele. - E não imaginei sentir isso por alguém como senti por você.

–Por isso que no campeonato vocês fizeram o que fizeram. - Amy se empolgou.

–Temos três espadachins aqui nesta mesa, então? - O Sr. Erudon não poupou um sorriso para Amy.

–O Sr. está querendo me provocar, Sr. Erudon? - Amy largou os talheres.

–Só foi um comentário, minha querida. - O pai de Ronan sorriu de canto e voltou a comer.

–Que tipo de espada você costuma usar? - Perguntou Elesis, que parecia se sentir mais a vontade naquele ambiente.

–A Florete é uma tradição na família Frost. - Edel gaguejou de início, mas, ao focar na ruiva, sentiu-se mais segura em falar.

–A família Sieghart também tem tradições com espadas. - Comentou a Sr. Erudon. - E não imaginei ver depois de tanto tempo um membro presente nesta mesa discutindo sobre espadas.

Dúvidas surgiram na cabeça dos ruivos. Mas foi algo passageiro.

–Chega de falar sobre esse instrumento de violência. Quero tratar sobre outros assuntos. - Determinou Amy.

–E qual seria? - Perguntou a mãe do Ronan.

–A dança diva que faremos. - Amy sorriu - Digo: que eu - enfatizou bem. - e Elesis faremos.

–Edel entreabriu a boca, sabia que a rosada não fora com a cara dela, mas poupou saliva e se calou.

O Sr. Erudon também nada disse.

–Ainda é difícil de acreditar que essa ruiva cascuda aceitou o pedido do Ronan. - Continuou Amy.

Elesis desvencilou o olhar para outro canto do salão.

–Acho que chega de implicância por hoje, né, Amy? - Sugeriu Jin, envergonhado.

–Mas eu não fiz nada! - Se a rosada estivesse levantada, bateria o pé pela birra que fez.

–E eu acho que seria uma boa hora se eu e as meninas nos levantássemos para resolvermos este assunto, estou certa? - A Sr. Erudon já havia terminado o almoço e colocou os talheres no prato.

–Certíssima! - Amy quase deu um pulo da cadeira. - Mas as meninas a que se refere são apenas eu e Elesis, não é? - A rosada encarou Edel.

O Sr. Erudon não gostou do ato da rosada e já havia preparado argumentos, mas Edel foi mais rápida.

–Não se preocupem comigo. Tenho mais o que fazer. - O tom sarcástico da menina Frost fez as veias de Amy latejarem.

–Escuta aqui… - A rosada se calou quando Jin segurou a mão dela e implorou para que Amy não continuasse. Atendendo ao pedido sem palavras, do ruivo, ela terminou: - Se tem mais o que fazer, então pode se retirar e fazer agora, meu amor. O seu serviço de cozinheira já foi aprovado.

Edel se levantou bruscamente.

–Agradeço que tenha gostado, Amy, e não pense que me ofende com esse seu tom irritante e provocador. - Frost pediu licença e se retirou.

Ronan não teve tempo nem de reagir ao acontecido. Ao contrário do Sr. Erudon, que lançou um sorriso.

–Que hóspede mal-humorada vocês têm. - Debochou Amy.

A mãe do Ronan percebeu que o almoço havia chegado ao ápice.

–Meninas, acho melhor irmos, afinal, não temos o dia todo. - E, num suspiro pesado, levantou-se.

Elesis fez o mesmo e Amy só teve o trabalho de acompanhar as duas.

Ronan olhou para Jin, que reprovava tudo com a cabeça, espantado. Agora só restavam os três homens à mesa.

–Até o seu aniversário, meu filho, - O Sr. Erudon bebeu um pouco do suco em seu copo - teremos muitas surpresas. - Olhou para o ruivo. - Concorda, Jin?

Agora Ronan suspirou pesadamente.

–O futuro nos dirá, Sr. Erudon. - Retrucou Jin silenciando, mais uma vez, o cômodo.

***

Mari não conseguira dormir. O livro estava em suas últimas páginas estirado no chão com uma fotografia separando duas folhas. Seu celular estava em cima do travesseiro ao seu lado. Queria levantar de sua cama, mas o peso que, por algum motivo, recaía sobre si era demasiadamente forte. Talvez a única pessoa que pudesse ajudá-la também poderia atrapalhá-la.

Pegou o aparelho e o encarou. Mari tinha o número em seus contatos. Seria necessário ligar? Talvez aguentasse mais algumas horas até tudo se normalizar em seu interior. Depois da praia… Por que tudo tinha que voltar depois da praia? A cicatriz já estava sendo curada. As lembranças apagadas. O amor esvaído. Amor se esvai?

Apertou no ícone de ligação e fechou os olhos.

“Mari saía da Faculdade com a cabeça a mil. Estava no período onde já deveria pensar em seu TCC. Não que o Trabalho de Conclusão de Curso fosse um bicho de sete cabeças, afinal, Mari era considerada a melhor aluna da Instituição em sua matéria. Mas, até a mais desenvolvida, intelectualmente, tinha suas fraquezas.

Um moreno saía da sala com alguns amigos e brincava com seu caderno, jogando-o para cima. Astuto, segurava - em movimento - o seu material.

Mari estava passando por esse grupo. As meninas que rodeavam o moreno riram. Ela era estranha para uma universitária. Olhos bicolores e cabelo azul. Muitos ali tinham habilidades especiais, mas Mari era a única a ser diferente até fisicamente.

–Olha o desastrado aí… - E, dito isso, uma amiga do moreno o empurrou para cima de Mari. Como ele havia jogado o caderno para cima e se desequilibrou, acabou perdendo o domínio do mesmo.

Mari conseguiu segurar, pois não se abateu com o fato de quase ter sida atropelada pelo moreno. Um tanto irritada com aquela atitude estúpida, continuou seu rumo com o caderno na mão.

As meninas e alguns amigos do moreno riam. Um deles - que era ruivo - e o mais próximo, o cutucou e sussurrou:

–Não seja o tolo idolatrado.

O moreno riu.

–Vamos, Sieg? - Chamaram os outros amigos.

Sieg foi.

O ruivo balançou a cabeça e fez a direção inversa dos demais. Fora atrás de Mari.

Sieg, no meio do caminho, ao ver que seu melhor amigo havia voltado, parou. Olhou para trás e começou a correr.

–Hey! - Chamaram os “amigos”. As amigas começaram a ir atrás do moreno.

Ao chegar no refeitório, viu o ruivo e a menina dos cabelos azuis conversando. Ela, sentada no banco; ele, sentado na mesa com os pés no banco.

–Okay… - Sieg murmurou para si e depois começou a gritar para quem quisesse ouvir - EU FUI UM TOLO IDOLATRADO, está satisfeito?!

E se aproximou dos dois.

Mari o olhou, mas tudo o que via eram seus olhos… Tão diferentes quanto os dela.

Sieg ergueu os braços e depois os abaixou, batendo-os em suas pernas.

–Você ficou aqui o tempo todo com a mina e não pegou meu caderno de volta? Pelo menos desenrolou com ela? - E soltou uma piscadela para Mari, que apenas virou o rosto.

Enquanto isso, os “amigos” de Sieg se aproximavam.

–Não precisa disso, cara. - Disse o ruivo, descendo da mesa.

–Ué, eu só afirmei o que você disse. Talvez o correto fosse eu pedir desculpas para essa menina.

–Mari. Meu nome é Mari. - E se levantou também.

–Para a Mari, foi o que eu quis dizer. - Corrigiu-se o moreno - Mas e aí, Elscud, pegou meu caderno?

O ruivo suspirou. E a menina dos olhos bicolores pediu licença e saiu, com o caderno na mão.

–Eu atrapalhei vocês dois e agora minha matéria está em jogo, é isso? - Sieg cruzou os braços.

–Você continua um tolo, cara.

–O que vocês tanto estavam conversando, hein? - Perguntou uma das meninas, ao se juntar aos dois.

–Talvez sobre alguém que foi empurrado e agiu estupidamente diante a um outro alguém e não foi nem capaz de pedir desculpas, pelo contrário, - Frisou o ruivo - ele riu.

A “amiga” que empurrou Sieg sentiu a indireta. E o moreno também.

–Está ao lado dos oprimidos agora, Els? - Indagou, contrariada, a “amiga” que empurrou.

–Não, estou ao lado de uma futura professora que, como nós, deve ser respeitada.

Sieg abaixou a cabeça e suspirou.

–Aff, está tudo muito ético e moral isso aqui. - Reclamou um dos “amigos”.

Elscud ajeitou sua mochila e começou a andar para a direção que faria antes de ir atrás de Mari. Os outros o seguiram. Menos o moreno.

Sieg começou a andar em direção de Mari e apressava os passos.

–Sieg! - Chamou uma das meninas - Sieg! Hey! Sieg!

O ruivo sorriu orgulhoso.

–O que ele pensa estar fazendo?! - Indagou a mesma menina que o chamou.

–Indo atrás das suas matérias, ora. - Respondeu Elscud, dando a entender que não correria mais atrás de ninguém e iria embora.

–--

–Hey! Mari! - Sieg segurou no ombro dela, ofegante.

A menina parou.

–Se quiser seu caderno…

Calando-a e fazendo um “shiu”, o moreno tampou a boca de Mari com a mão.

–Deixa eu respirar, mulher. - Depois de se recompor e ter sua mão arrancada pela menina de sua boca, Sieg continuou - Eu quero meu caderno, sim. Mas, antes de tudo - E se ajoelhou - quero pedir… - Segurou a mão fria da de cabelos azuis.

–Uhul!!! - Começaram a gritar alguns universitários naquele âmbito.

–Solte-me! - Puxou Mari a sua mão, envergonhada. Sieg sorriu encantadoramente e continuou a segurar. Por algum motivo… Não era possível, mas Mari sentiu um frio na barriga.

–Deixe-me pedir, humildemente, perdão se lhe causei qualquer tipo de constrangimento.

–Poupe-me, Don Juan.

Uma risada de Sieg. Um sorriso de canto de Mari.

–Você sorriu.... - Comentou o moreno, levantando-se vidrado naquele canto da boca de Mari.

Um tempo indeterminado, porém pouco, que pareciam ser horas, Mari e Sieg trocaram olhares.

–Tome seu caderno. - Mari quase jogou-o no moreno e saiu dali o mais rápido que pôde.”



***

Elesis não estava se sentindo bem, afinal, estava defronte a mãe de Ronan.

–Então, – A Sra. Erudon observou como Amy e Elesis estavam sentadas: Amy com as pernas cruzadas e a ruiva se equiparando com um menino – não sei se Ronan comentou, mas não é necessário ensaios. Apenas o clássico jeito de se dançar uma música a dois.

A mãe de Ronan se levantou e Elesis não soube o que fazer.

–Por favor. – Pediu a Sra. Erudon, esticando o braço na direção da ruiva e abrindo a palma da mão.

–E-eu não sei dançar, definitivamente isso não faz meu estilo e...

–Vai logo! – Amy estava impaciente e acabou dando um tapa de leve no ombro de Elesis e encarou a ruiva.

Elesis fechou os punhos e se levantou.

–Na próxima vez que você encostar-se em mim, não vai ter maquiagem que salve o seu rosto!

Amy sorriu debochadamente. A ruiva respirou fundo. Lembrou-se da mãe de Ronan e engoliu seco. Depois se virou e viu o semblante espantado dela.

–Eu... – Elesis tentou se explicar.

–Você é um pouco temperamental. Compreendo. – Como a ruiva já estava de pé, a Sra. Erudon caminhou até ela e a pegou pela mão.

–Eu não sei dançar.

–Todo mundo só nasce sabendo uma coisa: Que está vivo. O resto aprendemos e aperfeiçoamos com o tempo, não se preocupe querida.

Elesis assentiu e ficou de frente para a mãe de Ronan.

–O que você deverá fazer é dar dois passos para o lado e dois para o outro, entrando em sincronia com a melodia e seguindo o ritmo que seu parceiro lhe proporciona.

–A senhora fala como se fosse uma dançarina profissional. – Disse Elesis, encarando os pés e um tanto acanhada.

A Sra. Erudon riu e respondeu:

–Eu fui bailarina antes de o Ronan nascer.

A ruiva a olhou. Admirava a beleza que aquela moça, mãe de família, ainda obtinha em sua face. Se usava maquiagem, era bem discreta. Os olhos azuis iluminavam a sua pele clara.

A mãe de Ronan sorriu ao perceber que Elesis a analisava. Segurou a cintura da ruiva e fez um sinal para que Elesis colocasse as mãos em seu ombro e começou a bailar. Elesis ficou estagnada. Não sabia o que fazer.

–Dance. – Pediu a Sra. Erudon, esperando que Elesis seguisse o ritmo sem música.

–Elesis, você precisa se mexer para começarem. – Interviu Amy – Requebre mais essa cintura travada.

–Você vai ver quem é a travada. – Elesis lançou um olhar para a rosada, que virou os olhos.

A ruiva estava começando a sentir seu sangue esquentar.

–Elesis. – Chamou a mãe de Ronan.

A ruiva percebeu que não deveria se alterar naquele âmbito. Àquela altura, a Sra. Erudon já havia parado de dançar. Elesis deu o primeiro passo e a mãe de Ronan a seguiu, gostando da atitude da menina.

–Olhe para o seu companheiro, não para seus pés.

Elesis ergueu seus olhos rubros para os olhos azuis. Ronan... Foi a primeira palavra que lhe veio a cabeça.

Amy aplaudiu duas vezes.

–Para quem disse que não sabia dançar, até que não está tão ruim. – Implicou a rosada.

A mãe de Ronan encerrou a dança e se afastou de Elesis.

***

Lothos estava inquieta em sua sala. Precisava conversar com alguém que sabia o que se passava. Estava relutante quanto aos treinos. Sempre esteve e seu pedido ao Lupus, naquele dia na calçada, a perturbava agora. Seria mesmo necessário?

Pensou em um dos seus professores, que não fosse Zero. Tirou o telefone do gancho e o colocou em cima de sua mesa. Encarou os números. Olhou para a porta e não viu ninguém. “Zero ainda não chegou”, pensou a diretora. Nem ela. Concluiu.

Guiou a cadeira até mais perto da mesa, pegou o telefone e discou.

***

“A azulada olhou para o livro em sua mão e olhou para o moreno. Ela sorriu.”

O telefone tocou. Sieg estava entrando em casa, era cedo e voltava da padaria. Tivera uma boa noite de sono, pois sabia que não precisaria acordar tão cedo para trabalhar. Duas semanas de recesso para os Professores. Lothos estava se superando.

Largou a sacola com pães no sofá e foi até seu aparelho residencial. Ao retirá-lo do gancho, o mesmo estava mudo.

***

“-Fique.

Como foi difícil absorver tais palavras. E, como fagulhas, penetravam o coração gélido daquela jovem professora.

O moreno estava ofegante, não que tivesse corrido, mas por estar desesperado. Sabia que Mari iria embora sem se despedir. Mas se ele a impedisse? Se o amor falasse mais alto?

–Você não me ama mais? Eu te magoei de alguma forma? – Tentava entender.

–Você nunca... – Mari olhou para outro local, outras pessoas, olhou para alguma resposta que pudesse ajudá-la – Não se trata de não te... – Ela abaixou a cabeça – Eu só... Preciso ir.”

Mari desligou o celular. O colocou em seu peito e se sentou na cama.

–O que está acontecendo? – Deu uma pausa – Por que está doendo tanto? – E apertou o aparelho, até o que mesmo fizesse com que sua mão ficasse vermelha.

***

Sieghart estranhou o fato de o telefone ter tocado e depois ter ficado mudo. Colocou-o no gancho e o tirou. Pôs na orelha. Nada.

–Eu hein...

Observou os fios. Até que seus olhos foram até a tomada. O fio estava no chão. Ouviu um miado vindo da cozinha e se inclinou para o lado.

–Filho da... – Era o gato da vizinha.

Soltou novamente o telefone e foi até o felino.

–Sai daqui! – Esticou o braço até a porta, apontando com o indicador – Nunca mais deixarei essa porta aberta, sua bola de pelo. Já pensou se é algo importante?! Sai!

E pisou forte no chão para espantar o gato, que miou e saiu correndo.

***

Ao se despedir de Elesis, Ronan parecia ser o equilíbrio entre amor e saudade. Queria acompanhá-la até sua casa, mas sua consciência estava presa nos cômodos adentro. Edel. Antes de Ronan voltar para casa, Amy sai do táxi e corre até o azulado, abraçando-o.

–Tenha juízo, hein. - E se aproximou mais da orelha de Ronan - Ficarei de olho nessa Edel.

Ao finalizar, Amy beijou a bochecha e voltou ao carro. Ronan pôde ver Elesis com um olhar confuso e Jin tampando o rosto com as mãos. Provavelmente o velocímetro estava ligado.

Ronan riu e, finalmente, entrou. Seus pais estavam na sala conversando e, ao passar por eles, nenhum comentário foi feito. Isso o entristeceu de certa forma. Era como se eles, nem mesmo a sua mãe, se importaram com sua felicidade.

Caminhou sem olhar para trás. Um erro, pois a sua mãe teve a intenção de falar.

Antes de bater na porta de Edel, recebeu uma mensagem. Um sorriso brotou em seu rosto.

Amy é irritante

Pq me deixou vir com ela? Era mais fácil ter

voltado para casa a pé haha’

Com o tempo você se acostuma

NUNCA u.ú

Imagine isso duas vezes

Pior quando Lire e Arme souberem huehuehue

Nem me lembre… ;-;

Tenho medo desse momento

Ronan parou e olhou a porta. Voltou para o celular e começou a digitar.

PERA! O_O

Oq?! .-.

Você me chamou por aqui?!

Tipo… tá mais que oficial

nosso namoro ♥

Pensei que já soubesse disso

E, se continuar com esse ♥, eu

termino tudo por aqui mesmo

Jamais diga isso ♥

Ronan esperou um pouco.

Elesis?

ELESIS

SOCORRO

Nunca mais uso coração,

prometo, só n me deixa

falando sozinho

TT_TT

Edel abriu a porta e viu Ronan com os olhos esbugalhados, já que não mostrava mais que a mensagem chegou à ela.

–O que houve, menino?

Ronan a olhou. Pensou em falar tudo, mas, depois de hoje, preferiu guardar seus sentimentos e o celular.

–Nada. - Afinou a voz. Edel arqueou as sobrancelhas e Ronan forçou uma tosse. - Nada não, eu só queria falar com você, mas não sabia como.

–Falar sobre… - Edel se encostou na parece e cruzou os braços.

–Ah… - Ronan desviou o olhar para a escada e depois se voltou para a menina. - O ocorrido no almoço. Você está aqui por um motivo e não quero que minha vida pessoal te atrapalhe.

Edel se espantou. Não esperava pelas palavras, sendo elas sinceras ou não.

–Você nunca me atrapalha, Ronan. - Arrependeu-se do que disse.

Ronan sorriu envergonhado.

–Mesmo assim… - Seu celular vibrou e ele novamente esbugalhou os olhos.

–Mesmo assim? - Edel descruzou os braços.

–Só um instantinho… - Ronan fez um sinal com o indicador.

Ele sorriu durante um suspiro de alívio. Uma mensagem era da Elesis; outra, o grupo que tinha com Lass e Ryan.

Edel ficou olhando-o, esperando pacientemente por uma resposta que ela sabia que não viria.

–Podemos conversar depois?

A menina suspirou.

–Tudo bem, Ronan. Eu não quero atrapalhar a sua vida. Apenas… - Virou-se para seu quarto. - Não se preocupe comigo. Sou apenas uma hóspede.

–Edel…?

Era tarde. A menina já não estava mais ali. Ronan voltou a olhar para o aparelho.

Malz, minha net caiu

Não me dê mais esse

susto, namorada u.u

Tudo bem…

Ronan sentiu sua barriga estremecer, como se já esperasse por uma surpresa. E teve uma.

Namorado

Sorriu. Queria muito saber como Elesis estava naquele momento, mas o que pôde fazer para não encontrar-se com ela, mesmo depois do almoço, foi ler o que estava no grupo dos meninos.

Ryan: #Socorro!!!

Preciso de tds aqui em casa logo

E tipo pra ontem

ME AJUDEM !!!

Lass: .-.

Já estou indo. '-'

Ronan se deu conta que ainda estava parado em frente à porta de Edel. Sentiu remorso. Mas tinha um amigo desesperado, uma namorada recente, um aniversário tradicional e as férias já se encaminhando para a sua metade. É… Ele se resolveria com Edel mais tarde.

Avisou Sebastian que estava de saída. Ao entrar no carro, já na rua, olhou de relance para sua casa e viu seu pai na sacada. Respirou fundo e fechou o vidro. Seguiu para a casa de Ryan.

***

Com a cabeça a mil, Lupus não parava de pensar: Por que ele sintia algo pela Lin? Por que ele aceitou ajudá-la? Por que Zero insiste tanto em continuar com os treinamentos? E por que Lothos pediria a Lupus que fizesse Lin ir embora? E seria ele capaz de fazer isso?

Lupus não sossegaria até responder a todas as questões. Uma a uma.

Não passou pela casa de Lin. Fez uma rota diferente. Passou pela rua dos ruivos. No exato e coincidente momento em que os dois chegavam em casa. Desciam de um táxi. Uma garota, a qual Lupus não recordava, mas que sabia que conhecia de algum lugar, saiu do carro agarrada no pescoço de Jin.

Era muita felicidade para absorver. Observou Elesis de longe. A menina mexia no celular e pouco dava atenção ao casal.

Lupus se manteve ali até que o táxi fosse embora e os ruivos entrassem.

–Irei acabar com essas ameaças… - Suspirou.

Continuou a andar e pegou seu celular. Ligou para um número e aguardou.

–Alô?

–Ainda está fazendo aqueles trabalhos?

–Vejam só quem resolveu aparecer! O asmodiano que roubou a minha vaga de ajudar a senhorita Von Crimson.

Acredite, eu te salvei. - Lupus suspirou - Mas não liguei para fazer as pazes, quero saber se ainda faz seu trabalho.

–Qual? De assustar riquinhos com assaltos? - O rapaz riu.

–Isso.

Faço mais isso não, bro.

–Você é um playboy desocupado e só vive na malandragem. Quebra esse galho pra mim.

–E em troca?

Lupus pensou bem. Teve um instante de silêncio, que foi quebrado por uma respiração pesada do outro lado da linha.

–Eu saio da cidade. Assim você fica com um concorrente a menos.

–Perfeito. Mais que justo.

Antes que o “playboy” pudesse continuar, Lupus desligou.

Seguiu o caminho para o Colégio. Ao chegar se dirigiu a quadra. Passou pela Direção e viu que Lothos estava ao telefone. Preferiu deixar para falar com ela mais tarde.

Adentrou a quadra e lá estava ela… Sentada na arquibancada, com Zero encostado na parede de braços cruzados.

–Adoro recepções calorosas. - Ironizou Lupus.

Lin levantou o olhar e sua mente se mergulhou em lembranças. Balançou a cabeça. Não deveria. Mas aquilo era mais forte.

–Quando começaremos com a briga? Não quero perder muito tempo.

–Tempo com o quê? - Zero deu uns passos para frente - Tempo em fazer nada?

–Você não sabe da minha vida.

–Não preciso saber para adivinhar a insignificância que ela tem.

Lupus acelerou os passos para chegar em Zero, mas Lin interviu se levantando.

–Chega! Por favor!

Zero sorriu.

–Não acredito que fez isso para me testar! - Lin o olhou indignada.

–Tudo é um teste para você, lerda.

–Quem é você para me chamar de lerda, pau-mandado?

–Pau-mandado? - Lupus arqueou a sobrancelha e a encarou - Está louca?!

–Louco está você! Se reclama tanto, por que vem?

–Voltamos a estaca zero… - O professor sabia que aquele treino era muito mais que força, mas não deveria ser repetitivo - Esqueçamos os motivos. Os porquês.

–Por quê? - Perguntaram Lin e Lupus juntos.

–Porque a verdade disso tudo só atrapalhará a minha chance de entender o que se passa com você, Lin.

Lupus foi questionar. Lin deu um passo a frente.

–Tudo bem. Sem perguntas, já que não obteremos respostas nenhuma como vem acontecendo há tempos. Só nos diga como será o treino de hoje. Também tenho mais o que fazer.

Lupus a olhou da cabeça aos pés.

–Quero que conversem. - Após dizer isso, Zero subiu os degraus da arquibancada e sentou no último.

Lin olhou para Lupus e ele fez o mesmo.

–Eu não vou ficar aqui para conversar com ele. - A menina estava surpresa com suas atitudes. Mas, ou era isso, ou era criar uma ilusão emocional em, futuramente, ter alguma coisa com Lupus.

Zero se manteve calado. Movimentou a mão e fez surgir, do chão, Ferrões Caçadores.

–Se tentarem passar, vai doer.

Lin suspirou. Não se atreveria.

–Sua habilidade não vai durar para sempre. - Jogou Lupus.

–Não, mas até lá, vocês ficarão aqui e conversarão.

–Nos obrigue! - Protestou Lin.

–Se quiserem ficar em silêncio, serve também.

E o silêncio se instalou.

Passaram-se trinta minutos. Os ferrões ainda estavam na saída da quadra. Lupus chegara perto umas cinco vezes. De tanto receber danos, parou.

Lin sentia algo inexplicável. Mas era bom. Era bom estar com Lupus. Vê-lo agir daquele jeito. Riu até de algumas tentativas falhas. O que lhe doía, era saber que ele queria ir embora. Seria o acaso do destino eles sempre se separarem em algum momento da vida?

Era duro pensar naquilo. Mas depois de tanto tempo sem silêncio, tendo Lupus ao seu lado, era difícil não viajar em seus devaneios.

Lupus sentou no meio da quadra. Exausto.

Lin agiu por impulso.

–Está tudo bem? - Manteve-se de pé.

Lupus não respondeu. A menina olhou para Zero, que estava estático.

–É engraçado te ver assim. - Ela riu em meio ao silêncio.

Lupus permaneceu quieto.

A barriga de Lin congelou e suas mãos tremiam. Era ela ali. Aquela menina tímida que Lupus conhecera na festa no início do ano. A Lin que precisava escolher lados e tinha um poder indecifrável, morrera por uns instantes.

Eram praticamente dois adolescentes confusos em um lugar ermo e silencioso.

Lin deu um suspiro de leve.

–Não tente. - Disse Lupus.

–Eu sei. Eu sempre serei um nada para você.

A menina se afastou um pouco. Zero observava os dois.

“-Um dia você vai entender, Zero, que nossas ações não são por impulso, por mais que pareçam… São necessárias.

–Lothos, você fala como se quisesse contar algo.

–Por enquanto… - Ela deu uma breve pausa - Quero apenas que se sinta em casa aqui no Colégio.

–Ficará difícil tendo o Sieg aqui.

–Isso você tira de letra. - Antes que Zero saísse da sala, Lothos ainda completou - Sua espada… - Ele se virou - Acho que já a vi em algum lugar.

–Acredito que não. - E saiu,”

Mais 10 minutos.

Lin estava sentada no primeiro degrau da aquibancada. Lupus se levantou com um pedaço da manga de sua blusa na mão. Parou em frente a Lin.

–Os ferrões acabaram dando um corte profundo no meu braço.

Ela não olhava para Lupus.

–Você… - Ele engoliu a seco - Você poderia dar só um nó para estancar o sangue?

Silêncio.

Lin se levantou e ajudou Lupus. Os dois ficaram um de frente para o outro. Lupus olhou para Zero. Respirou fundo.

–Você disse que tem mais o que fazer, o que é?

–Não te interessa.

–Estou tentando acabar com isso, Lin. Então me responda.

A menina também olhou para o Zero.

–Okay… - Ela se sentou, agora, no chão. Fazendo Lupus ter a mesma ação - Eu combinei com o Diogo de nos encontrarmos. Sei lá. - Ela riu - Para vermos um filme.

–E quem é esse? - Lupus sentiu algo diferente dentro de si. Uma… Dor....

–Ele é da nossa turma. Também participou do Campeonato.

–Hum…

Lin não havia percebido, fora inocente a esse ponto.

–Ele sabe…?

–Não. - Lin sentiu que era a hora de falar para alguém - Você, o Zero e a Lothos são os únicos que sabem realmente quem eu sou. - Ela abaixou a cabeça e encarou as mãos.

Lupus não queria continuar aquilo. Mas a dor… Era como se, se ele parasse de falar, a Lin pudesse ir embora. E ele não queria. Lupus não queria.

–Mas você não teve um mestre? Por que continua tendo que se controlar?

–Tive. - Ela olhou para Lupus com os olhos marejados - Desculpe. - E passou a mão para que as lágrimas não caíssem.

Lupus não entendeu nada e, sem ao menos desconfiar do que estava por vir, indagou:

–E o que aconteceu?

Lin sentiu sua pulsação acelerar.

Zero ficou atento.

–Você… - Ela virou o rosto - Você quer mesmo saber?

–Se perguntei, ora.

Lin suspirou. Aquilo lhe condenava. Precisava colocar para fora.

–Quando eu nasci… - Olhou para Lupus - Todos da Vila do Gaon acreditavam que eu seria uma reencarnação de Agnecia. Uma deusa que selou o mal dentro de si. Porém, quando esse mal ressurgia, o selo se abria.

Lupus ficou surpreso, mas nada demonstrou.

–E o mal despertava. Mas sempre era selado pela magia que Agnecia usou. Quando eu fui crescendo, não parecia que eu seria afetada. Parecia tudo sob controle. Mas teve uma noite… - Novamente os olhos de Lin se encheram de lágrimas - Enquanto eu dormia, a cidade caiu em escuridão. Começaram a bater na porta onde eu e minha mãe morávamos. Exigiam que eu fizesse algo para impedir o que quer que fosse. Mas eu era muito pequena e mal sabia o poder que habitava em mim. Minha mãe tentou impedir.

Uma lágrima desceu.

–Ela me pegou no colo, eu tinha uns cinco ou seis anos, e correu para dentro de uma floresta mais escura que a própria cidade. Quando souberam que minha mãe tinha fugido com a “reencarnação de Agnecia”, foram atrás e nos alcançaram. Ela me largou no chão e gritou para que eu corresse. Eu não queria! - Tampou os olhos com as palmas das mãos.

–Sua mãe morreu?

Lin balançou a cabeça.

–Como?

Ela o olhou, espantada, mas prosseguiu.

–Enquanto eu corria, minha mãe vinha atrás de mim. Mas teve uma hora que ouvi um estrondo e, quando olhei para trás, ela estava de joelhos e sorria para mim. Logo depois, senti alguém me puxando e me abraçando. Quando acordei, estava em uma igreja. Daí em diante, fui criada por um Sacerdote e, logo depois, por meus avós. Quando tinha 10 anos, tive um mestre que me contou tudo o que eu precisava saber. É claro que não foi tudo o que precisava ser dito. Toda a verdade, mas foi o suficiente para que eu aprendesse a controlar o que eu nem sabia o que era. Mas teve um dia… - Lin respirou fundo - Teve um dia que eu tive um pesadelo. Eu tinha 15 anos na época e, no meu sonho, eu lutava contra um mal, poderoso demais até para mim, mas eu venci.

–E por que foi um pesadelo?

–Porque eu… - Lin travou por uns instantes. Lupus, subitamente, segurou uma de suas mãos. Ela o olhou - Foi um pesadelo, porque eu destruía tudo ao meu redor e isso atingia as pessoas. Com mais um tempo de treinamento, eu sentia que algo dentro de mim estava incômodo. Como se quisesse sair. E saiu. Foi aí que aconteceu a tragédia que nos levou a estar aqui agora. Pelo menos, até onde eu sei....

Lupus arqueou a sobrancelha. Temeu.

–Você já foi capaz de matar alguém, Lupus?

Ele soltou a mão de Lin e se levantou.

–Aonde vai? - Perguntou ela.

–Isso não está certo.

–O quê? - Lin também se levantou.

–Você. Depois de tudo… Como consegue?

–Depois do que houve, eu vim para cá. E minhas memórias mais pesadas foram apagadas. Lothos fez isso. Lothos, de certa forma, me salvou. O que eu te contei, são vagas lembranças, como se fosse um sonho. Mas eu sei que aconteceu.

–Lothos…? - Lupus ficou ainda mais intrigado.

Silêncio.

–E seu mestre?

–Eu só… - E mais uma vez abaixou a cabeça - Eu só sei que ele morreu tentando me salvar. Não me recordo. Foi apenas o que me disseram.

–Mas você acha que…?

–Sim, que eu o matei.

Lupus e Lin olharam para Zero, o mesmo se misturava com a sombra.

–Há um controle dentro de mim, graças aos selos. - Lin respirou fundo e olhou para Lupus - Acho que chega de falar de mim, né?

–Então voltaremos ao silêncio. Porque não falarei nada de mim, ainda estou… Absorvendo tudo o que disse.

–Você deve me odiar depois disso.

–Não te odeio.

Os dois se entreolharam.

–Porque eu passei pelo mesmo… - Lupus fechou o punho - Perdas… Sacrifícios… Pesadelos que se tornaram verdades. E tive alguém que eu queria proteger, mas.... - Como se tirassem um peso das costas de Lupus, ele deu uma respirada capaz de reestabelecer ar em seus pulmões para que os mesmo se revitalizassem.

Agora foi Lin quem segurou a mão de Lupus e se aproximou dele.

–Somos parecidos. E, sinceramente, mesmo eu não significando nada para vo… - Lupus colocou o indicador nos lábios de Lin.,

–Não repita isso. Você é tudo pra mim.

–Como você pode ter mudado de opinião?

–Eu não sei… Eu só sinto. Sinto que sem você meu peito dói e me dá vontade de matar todos ao meu redor. Mas eu sei que não irá passar.

–E a sua última opção foi revelar o que sente?

–Ainda não sei o que sinto e não quero saber. Só não…

–Não…? - Lin se aproximou mais.

–Não quero que se encontre com esse tal Diogo.

Ela esboçou um sorriso.

–Esse pedido é complicado. Porque eu estarei revelando que sinto algo por você.

–Isso está mais que óbvio. - E um meio sorrio saiu da face de Lupus.

Os dois ergueram um pouco as mãos e as cruzaram.

–Sente isso? - Perguntou Lin.

Lupus balançou a cabeça positivamente.

–Se aceitarmos esse sentimento, acredite, sofreremos.

–E se isso já estiver acontecendo?

Lin se calou. Os ferrões da saída da quadra desapareceram. Zero não olhava para os dois. Tampouco demonstrava alguma reação.

–Ele sabia que isso aconteceria, né? - Perguntou ela.

–Ele sabe de muita coisa… - A resposta de Lupus foi num tom diferente, mas Lin ainda não havia se dado conta.

Zero desceu, surpreendendo-os.

–Estão cometendo um erro. - E saiu da quadra.

Lupus foi tirar satisfações, mas Lin o segurou.

***

No dia seguinte, Elesis acordou da pior maneira possível, já imaginando um dia chato: com Amy cantarolando em sua sala. Tentou conter o som esmagando o travesseiro em seu ouvido, mas não adiantou. Pegou este, se cobriu com a coberta e saiu do quarto parando no meio da escada.

–Será que dá, pelo menos de manhã, pra calar a boca?

–Olha só… - Antes que pudesse discutir com Elesis, Jin interrompeu sua namorada, aparecendo no cômodo.

–Pra quê o travesseiro?

Elesis olhou para sua mão e para o casal, deu um sorriso sonolento e tacou o objeto.

–Durma na sua casa, troço rosa! E não venha me acordar, porque Jin faz seu trabalho perfeitamente na hora certa. - Disse enquanto retornava para o quarto.

O ruivo não resistiu e riu, após sussurrar para a rosada:

–Bom dia.

Tentar voltar a dormir, seria inútil. Só aquela caminhada até a escada já a tinha acordado, um banho completaria o processo.

Vestiu-se e pegou o celular, eram cerca de nove e meia da manhã. Não mexera muito no celular no dia anterior e estranhou as poucas mensagens que tinha no grupo de seus amigos. Costumava ser bem movimentado, o celular vibrava intensamente como se pedisse para desfilar na Sapucaí, mas se tinha dez mensagens eram muito.

Não se deu ao trabalho de ler. Lembrou-se da conversa, pelo aplicativo, com Ronan e sorriu. Desde que assumiu o relacionamento com rapaz, dois dias atrás, não sabia explicar mais nada que sentia. Estava feliz, tudo bem, mas se perguntassem o porquê, talvez responderia “Não sei, só estou feliz.”

Saiu de seus devaneios quando Jin bateu na porta.

–O que quer? - Disse, após abrir, como se ainda estivesse aborrecida por ter sido acordada com a Amy cantarolando.

–Nós vamos ao shopping. - O irmão decidiu ser direto. - Vai?

–Com você e o troço rosa? Não acha que bastou ontem?

–Acho, mas não vai ninguém a mais. Amy achou que seria interessante um encontro de casais.

–Casais? - Elesis arqueou uma sobrancelha.

–Sim, o Ronan já está aqui. - Disse tão naturalmente, que parecia que o azulado já era parte da família. De certa forma… Desde o início do ano ele já perturbava parte da família...

–Não acha melhor ficar em casa? - Resmungou um pouco enquanto Jin suspirava pesadamente.

–Ok, divirta-se fazendo o almoço…

Elesis observou o irmão descer as escadas e processou as informações. “Fazer o almoço?”, pensou e logo mudou de ideia.

–Ela vem? - A rosada estava impaciente.

–Espere um pouco. - Sorriu o ruivo. Aquele argumento do almoço nunca falhava.

–O que disse a ela? - Perguntou o azulado que chegou depois da travesseirada que Elesis deu no casal. Amy já o avisara de tudo em meio a madrugada.

–Que ela faria o almoço. - Os dois riram e começaram uma contagem regressiva: -Cinco… Quatro… Três… Dois… - E apenas ouviram a mesma gritar “Descendo”.



***

–To com fome… - Reclamou Elesis, já que a mesma não tinha tomado café e saíram cedo para o shopping.

Até então só estavam rodando e observando Amy entrar de loja em loja para ver roupas. Felizmente não demorava muito, afinal, a rosada sabia que ninguém ali curtia muito a programação. Logo Ronan também reclamou que estava com fome e, quando Amy abraçou o braço de Jin, ouviu, ainda que meio baixo, a barriga do mesmo reclamar.

–Tá… Tudo bem! A fome venceu! - Declarou gerando comemoração do azulado e um “até que enfim” da ruiva.

Conversas durante o almoço era especificas de cada casal. Amy puxava assuntos aleatórios que rendia mais com Jin, enquanto que Elesis aproveitava alguns para fazer piadas que só Ronan entendia. Dentre todos, só um assunto rendeu para os quatro após o almoço:

–Já contou para suas amigas, Elesis? - Perguntou Amy.

–Contei o quê? - Ronan riu. Ele já sabia e esperava.

–Como “o quê”? Sobre você e Ronan! - Exaltou-se.

–Fala mais baixo, troço rosado.

–Ah! Para. Todos do shopping nos conhece, né? - Ironizou.

Elesis olhou para os dois lados, curvou seu corpo para frente querendo falar especificamente com Amy.

–Tá vendo aquela garota ali? - Apontou e esperou a rosada afirmar com a cabeça. - Ela é da minha turma. - E se endireitou na cadeira.

–Hum… Legal! Vou falar com ela.

Quando estava se levantando, a ruiva ameaçou:

–Eu quebro a sua cara!

–Jin não vai deixar. - Deu de ombros. - Qual o nome dela?

–É Celina. - Respondeu a azulado não conseguindo segurar o riso. Levou um tapa de Elesis na cabeça logo em seguida.

Jin e Amy não se aguentaram e riram da situação.

–Calma, eu não vou falar com ela. Mas com as suas amigas sim. Passa o celular!

–O que é isso? Assalto? - Brincou. - Não vou passar, nada. Até porque to sem crédito.

Amy bufou e estendeu a mão para o Ronan, fazendo ele entender que agora ela queria seu celular

–Na-na-ni-na-não. - Disse balançando o indicador.

–Por quê? - Perguntou pronta para iniciar um escândalo.

–Ainda não coloquei crédito também. - Gargalhou. - Mas a gente resolve isso. Preciso de internet para conversar com a minha “Cinde”...

–Não ouse terminar, ou mostro o que é conto de fadas na sua cara.

Ele riu e foi andando até o estande da operadora pra recarregar. Quando voltou, Amy abordou algo interessante…

–Ô gênio, como você vai conversar com sua namorada se a mesma tá sem crédito?

–É verdade… - Parou um pouco para pensar. - Eu coloco crédito no meu celular depois. Um dos dois vai ficar sem internet mesmo…

–Mas você não acabou de colocar crédito no seu telefone, Ronan? - Perguntou Jin, confuso.

–Na verdade… Coloquei no dela. - Olhou para Elesis que estava com os olhos arregalados como quem dizia “Você é doido?”, e ele sorria como se dissesse “um pouquinho”. - Fora que vindo de mim, poderia parecer uma brincadeira, mas se usarmos o telefone dela…

–Poderia ainda soar uma brincadeira, porque eu poderia pegar e mandar a mensagem. - Jin completou sorrindo travesso.

–Vocês vão roubar o meu celular pra falar com as minhas amigas?

–Não, só vamos te forçar a mandar áudio no grupo. - Ronan sorriu, como se fosse uma missão fácil.

–Espera um minuto... - Amy pediu a atenção. - Vocês têm um grupo e eu não estou incluída?

–Proibido para rosadas. - Elesis riu de sua piada e Ronan tentou segurar. Ele tentou... Não quer dizer que conseguiu.

–Como assim? Vocês têm um grupo e eu não estou nele!

Jin levou suas mãos até o rosto, não acreditando que a rosada estava escandalizando por um chat em grupo. Elesis revirou os olhos. Ronan deu um fim no escândalo, pegando o celular da Elesis, que estava na mão da mesma, e adicionou Amy, gerando aborrecimento da ruiva e uma mensagem de Ryan.

Ryan: "Amy entrou no grupo"? Hã?

A rosada pegou o celular de Ronan e enviou um áudio.

–É isso aí, meus fãs, a diva chegou para movimentar o grupo!

–Não somos seus fãs… - Provocou Elesis.

–Não vão começar a discutir sobre fama, né? - O ruivo estava receoso, mas pronto para qualquer confusão.

–Não, Jin.

Amy fez questão de responder para anunciar que cederia toda a atenção para Elesis. Não que esta concordasse, mas com Ronan segurando-a, a rosada estava livre para mandar áudios pelo celular da ruiva.

Arme: Elesis colocou Amy no grupo?

Espera... A voz é da Amy???

–Por quê essa carinha de tenso da Arme?

–Porque eles sabem que eu não te suporto, né, Amy?

–Obrigada, Elesis, eu também de amo! - Sorriu debochada.

Amy começou um discurso no áudio que foi interrompido pelo Ronan, e completado por este, com o anúncio, enfim, do namoro.

Lass: Os dois se deram conta, enfim?

Ryan: Aeeeeew!!! õ/

Acabou as ameaças!!!!

kkkkkkk

Lire: Parabéns...

Lass: kkkkkkk

Arme: hahaha!!! Até que enfim!!!

Jin não resistiu e tomou o celular para entrar na conversa também.

Na realidade, tá a msm coisa de ameaça

Mas pode ser que piore

huehueheuheuehue

(Jin aki)

Lire: Felicidade, pra vocês…

Arme: Lire, você tá bem?

Lire: Claro.

–Alguém pode devolver meu celular? - Suplicou Elesis revirando os olhos.

Jin sorriu para a irmã.

–Não.

Arme: Só to tentando entender pq tá Jin, Ronan e Amy

mexendo no celular da Elesis.

Ryan: Verdade! Kd a Elesis?

Tomamos o celular

Mas ela tá aki

Tá mandando um oi

Lire: Oi

***

–Já chega!- Arme colocou o celular no bolso e pegou uma bolsa. - Vô! Tô saindo! - Anunciou já fechando a porta.

Estava indo para a casa da Lire. Precisava dizer algo a ela. Não aguentava saber que a amiga estava mal, e podia sentir isso até pelas mensagens do celular.

Estava se aproximando da casa da amiga quando pegou o celular novamente.

Lire, vc não tpa bem

Tá*

To sim.

Não tá! Abre a porta aqui.

Lire se espantou com a mensagem, mas pensou melhor e aquilo era a cara da Arme.Levantou da cama e foi abrir a porta. Arme nem olhou para amiga, só marchou casa adentro indo direto para o quarto da loira jogando a bolsa na cama e sentando de cara emburrada. Lire observou aquilo com uma sobrancelha arqueada e foi pausar as músicas que tocavam no notebook.

–O que você estava ouvindo?

–Música. – Respondeu sem dar muita atenção.

–Jura? – Arme aproveitou sua impaciente e não economizou no sarcasmo. Se aproximou da mesa onde ficava o notebook e olhou as lista. – Ron Pope... Lifehouse... Levi... Filha! Quer se cortar?

–Não é da sua conta...

A baixinha congelou. Ela sabia que não devia se meter. Que de tanto fazer isso quase perdeu os amigos, mas aquele momento... Ela teria a ousadia de dizer que era para o bem psicológico de Lire. Esta olhou para a amiga e percebeu o quão fria foi falando com ela.

–Foi mal...

–Não, tudo bem. – Suspirou. – Eu sei que não deveria me meter. Nem devia ter... – Parou antes que falasse que foi à casa de Ryan no dia anterior. Tentou...

–Não devia o quê? – Lire a encarou. – O que você fez?

Arme suspirou. Agora já era.

–Eu... – Hesitou. – Passei no Ryan depois que você me ligou.

–Você o quê?! – Lire sentiu uma raiva, uma dor, não sabia se queria avançar em Arme ou sair para a rua sem rumo. Sumir.

Arme ficou nervosa e começou a falar rápido.

–Eu fui na casa do Ryan, eu senti que precisava fazer alguma coisa. Sabe como dói ver a amiga depressiva quase se cortando? Lire, você tá emanando energia negativa. Eu queria saber o que o Ryan tinha na cabeça pra fazer isso com você. Eu só quero ajudar. – No final estava quase chorando. Mas, mesmo que chorasse, Lire não estava disposta a perdoar.

Lire se encostou na parede e escorregou para o chão, abraçando suas pernas e escondendo o rosto. Arme se aproximou em silêncio e sentou de frente para a amiga apoiando a cabeça entre as mãos. Lire sussurrou, em tom quase inaudível, que não queria mais. Estava cansada. A rejeição doía. Era isso o que ela, talvez, se sentisse: Rejeitada.

–Lire, ele te ama… Do jeito dele. E acredite, é muito mesmo.

–Claro que não… Ele tem vergonha… Ele evita andar comigo…

–Vergonha? De onde tirou isso? Lire!

–Não, Arme! Você não entende! - A esta altura, ambas já estavam alteradas. - O Lass não te evita; O Jin não evita a Amy, e olha que ela constrange todo mundo; e agora o Ronan e a Elesis… O Ryan… - Sua voz falhava um pouco. Até que algo pareceu dar um estalo em sua mente. - Ele te disse algo?

–Bom…

–Não quero saber! - Respondeu apressada. - Se ele não tem coragem de me contar, problema é dele.

Ok… Arme sabia que Ryan estava fazendo burrada. Era uma surpresa muito boa, uma ideia maravilhosa, mas ainda sim, arriscar tudo era burrada, mas não deixaria ele ser chamado de covarde, por tudo o que ele estava fazendo, era preciso mesmo de coragem. Claro que ela não contou nada, mas relembrou à Lire quem tomou a atitude para se declarar.

–Claro, com um empurrão é fácil! - Rebateu Lire, tentando quebrar o discurso da amiga.

–Eu posso até dar um empurrão para agir, mas eu não controlo o que as pessoas dizem. Se ele tomou CORAGEM para dizer que gosta de você, é porque ele gosta.

Lire se calou. O momento do baile lhe veio à cabeça.

“–Lire... – Ryan olhava apaixonadamente para a menina.

–Diga. – a loirinha olhava para ele com um sorriso no rosto.

–Espero que não me odeie depois do que eu vou falar.

–Não vou te odi... - Ryan a impediu de falar colocando sua mão nos lábios dela, o que fez com que Lire se assustasse um pouco.

Ryan respirou fundo, estava determinado, olhou para a loirinha e foi o mais doce possível.

–Eu gosto de você.”

–O problema é comigo? - Arme não respondeu. Ficou calada. Não sabia o que dizer e pensou que talvez Lire tivesse falando consigo mesma.

“-Eu também gosto de você. – Lire respondeu sem entender o real sentido da palavra “gostar” dita por Ryan.

Ryan levantou uma sobrancelha meio confuso, ele não entendeu a reação da Lire.

–Eu falei que gosto de você e...

–E eu respondi que também gosto, você é um grande ami...

–PARA! – Ryan não acreditou que a loirinha não havia entendido, colocou as mãos no rosto desesperado.

–O que foi?! – a menina ficou preocupada.

–Lire, eu gosto de você! – ele tentou mais uma vez.

–Eu sei. – ela riu ainda sem entender.

–Lire! – o alaranjado gritou o nome dela perplexo com a situação.

–Ryan! – a loirinha gritou o nome dele, porque ele gritou o dela.

O menino não conseguia falar, a emoção e a confusão eram tanta que Ryan ficou em estado de choque. Lire o balançou pelos ombros para ver se ele reagia.

–Você sabe como eu fiquei nervoso para te falar isso?!

–Hã?! – Lire começou a achar que Ryan estava sendo grosseiro.

–Você não entendeu nada! – Ryan não conteve seu momento de raiva.

–Não fala assim comigo! – Lire também não se conteve.

–Desculpa! Mas eu estou muito... muito... – ele começou a abaixar a voz, triste – Por que você não entendeu?

–Entender o que? – a loirinha estava muito confusa com aquilo.

–Lire, EU TE AMO!”

Uma lágrima escorreu com a lembrança. “Foi lindo”, pensou. Mas ele não é mais o mesmo… Ou ela não seria mais a mesma? O que deveria fazer? Que atitude deveria tomar? “Farei nada. Se ele quiser continuar, ou terminar, que venha até mim. Ficarei bem aqui.


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Notas finais do capítulo

Nós sentimos saudades, tá? *-*
O que acharam?
Críticas?
Erros?
Ameaças?
Podem nos matar, mas no revivam pra terminar a história u.u -qqq
Beijos :3
P.S.: Sim, as mensagens são trocadas por whatsapp kkkkkk ~le propaganda sem remuneração -q



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