–Newt! Abra essa porta agora!- gritou Sophie batendo na porta que acabará de fechar.

–Ei, senhorita- disse o guarda que estava dormindo, se aproximando dela- O que faz essa hora acordada? Volte para seu quarto.

Sophie o examinou, usava roupas pretas, sua cabeça era raspada e usava... usava uma arma. A garota a encarou, nunca tinha visto uma arma de perto. Sempre vira em fotos ou filmes de ação, mas nunca vira pessoalmente, muito menos pegado em uma.

–O que foi? Quer uma dessas?- perguntou o guarda assim que percebera oque ela estava encarando.

Sophie abriu a boca para dizer algo, mas as palavras não saíram, então resolveu fecha-la de novo.

–Volte para seu quarto, senhorita, e vá dormir.

–Eu... Eu preciso falar com meu noivo– disse Sophie fazendo as aspas com os dedos na palavra “noivo” e um pouco mais alto para que Newt escutasse.

–Você pode falar com seu “noivo”- ele fez o mesmo que Sophie- amanha de manha. Agora esta tarde e você deve dormir.

Sophie o encarou, depois a porta de Newt, e resolveu entrar em seu quarto. Ela não entendeu metade da conversa de Newt, mas a outra metade só confirmou o que ela mais temia. Newt não tinha medo de morrer, não era muito inteligente, conhecia Adam, era corajoso tudo indicava que ele... ele era um prontidão, era essa coisa que estava diferente nele... Sophie encostou na porta e deslizou, sentando no chão coberto de carpete.

–Não pode ser... Se não...- disse a si mesma, não acordando Lady.

Se não estou morta, terminou a frase em seu pensamento. A garota estava certa. Se Newt fosse mesmo um prontidão, ela estaria morta, um prontidão não pode nunca tocar em um apreensor. E ela tocara em Newt, varias vezes, fazendo assim ela e todas as pessoas que tocaram nele, pessoas mortas.

Mas como ele esta aqui, na Apreensão? Eu o conheço desde pequeno, como me enganou assim? Quem era Cassie? Por que ele teria que me fazer sofrer? Perguntas como essas, e varias outras martelavam em sua cabeça. Sophie na entendia, como? Como? E como? Essa era a mais forte das perguntas, ela martelava sem parar em sua cabeça. Com tantas perguntas, tantos pensamentos, e tantas hipóteses, Sophie caiu no sono, ali mesmo, encostada na porta.

*****

–Sophie? Sophie, acorde. Porque dormiu no chão?

Lady a acordou depois de muito sacrifício. Já era de manha, o sol batia na janela, cegando os olhos de Sophie.

–Eu... É uma longa história- disse bocejando.

–Pode me contar no café, que é daqui 5 minutos, então se apresse.

Sophie se levantou e foi até seu armário, suas roupas não estavam ali, no lugar havia roupas todas iguais, como uniformes. Ela resolveu pegar um shorts e uma blusa, os dois da mesma cor, um cinza misturado com branco que era a cor da Apreensão, e com o símbolo da Apreensão gravado no canto das roupas, uma coruja com grandes olhos e com cara de desafiadora. Sophie adorava aquele símbolo, ele retratava exatamente o que os apreensores tinham que ser, desafiadores, desafiando o outro de que você é mais inteligente. Ela se trocou e prendeu os cabelos castanhos em um rabo de cavalo.

–Sabe, eu acho muito lindo seus olhos, eles são um azul profundo, de dia são como piscinas, e de noite como o céu estrelado- disse Lady.

Sophie sorriu, ela nunca percebera isso.

–Hum... Obrigada, nunca tinha percebido isso.

–Ok, agora vamos que estamos atrasadas.

Elas foram até o refeitório, Sophie procurou Newt no meio dos 32 jovens que estavam lá, mas não o achou.

–Depois do café quero que todos vão para o pátio que entraram, vamos começar nossa jornada lá- disse Toby a todos.

Depois do café, todos foram até o pátio, Lady foi para perto de Charlie, quem ela estava destinada a casar, assim como todos foram se juntando em seus devidos pares. Sophie esperou Newt, mas ele não apareceu.

–Vamos deixa-los mais fortes, esse é o começo dos testes, todos vão correr 60 voltas para aquecerem e mais 30 para ficarem em forma, depois, vamos treina-los para aguentar pesos e seu próprio corpo, e por fim, vamos ensina-los a lutar.

60 voltas? E Esse era o começo? Pensou Sophie.

–Vamos, vamos, vamos- gritou Toby e todos começaram a correr em circulo.

Sophie achava isso uma bobagem, pareciam vários veados correndo em circulo, e o objetivo é para ficar mais fortes? Que idiotice. Mesmo assim, a garota começou a correr. Ela corria muito bem, pelo fato de correr no parque, mas ela não corria em círculos, mudava o curso cada dia. Estava na frente de todos, Juliet apareceu ao seu lado de repente.

–Você corre bem, hein?- disse ela.

–É que corro no parque todos os di... Ei, espere, tenho que falar com você sobre o tes...

–Não, aqui não, e só vou responder suas perguntas se vencer de mim.

–Esta me desafiando?

–Se quiser suas respostas, ganhe-as de mim- Juliet sorriu e começou a correr mais rápido, deixando Sophie para trás.

Sophie ficou nervosa por Juliet ter desafiado ela, por isso iria ganhar, por raiva. A garota começou a correr muito mais rápido do que corria, quando ela passava perto de Toby seus cabelos se arrepiavam com o vento que deixava para trás. Na trigésima volta, ela conseguiu alcançar Juliet que sorriu com a raiva da garota, fazendo Sophie sorrir também, se ela continuasse assim, iria ganhar. Trigésima oitava... Quadragésima quinta... Quinquagésima sexta... Na quinquagésima oitava volta, Sophie conseguiu passar Juliet, mas na setuagésima volta, Juliet acelerou o passo muito rápido, vencendo de lavada de Sophie.

–Intervalo de 10 minutos e voltamos para fazer as 30 voltas de restam, espero que estejam bem aquecidos, que ainda temos muito que fazer- gritou Toby á todos.

Sophie estava sem folego, nunca correra tanto assim em sua vida. Ela desabou no chão e respirou com dificuldade. Juliet sentou ao seu lado.

–Você... Corre... Muito...- disse ela sem folego.

–Olha... Quem... Fala- respondeu Sophie.

Depois de 5 minutos respirando com dificuldade, Sophie conseguiu beber um pouco de água, assim como Juliet.

–Olha, eu sei que não ganhei, mas tenho que saber do que estava falando, e se... Se Newt tem a ver com isso- Sophie conseguiu falar.

–Newt? O que tem ele? Você contou há ele? Eu disse que não podia contar para ninguém, muito menos para um inf... – e então parou antes de terminar a ultima palavra.

–Um inf... o que? Do que esta falando?

–Tenho que ir, tenho que saber o que exatamente posso lhe contar, se eu contar de mais, não vai ser nada bom... Para nós duas- disse ela preocupada.

–O que? Não estou entendendo, do que esta falando?- perguntou Sophie confusa.

–Nada... Só volte ao seu treinamento, tenho que resolver algumas coisas...

–Mas...

–É uma ordem, deve respeitar as ordens de sua mentora, senhorita Sky, quando estiver preparada vai saber...

Depois de dizer isso, Juliet foi embora. Sophie ficou confusa e furiosa por Juliet não lhe contar o que queria saber. Ela jogou a garrafa de água no chão com toda sua força, fazendo a garrafa se espatifar. Sophie voltou a si, ela estava totalmente diferente, ela nunca fora violenta, mas assim que entrou na academia, ela... ela mudou. Sophie virou uma pessoa mais madura, sem medo de revelar o que realmente pensa...

Todos a olharam com pavor, pensando que a menina enlouqueceu. Ela olhou em volta e correu até o banheiro, lavou o rosto, ajeitou o cabelo, e olhou para si própria no espelho. Estava suada, com a blusa cinza colando em sua pele, seu cabelo escorria suor, e seus olhos não estavam mais um azul piscina como Lady disse, eles estavam azul celeste escuro. Algo de errado estava acontecendo com aquela garota.

–O que há de errado comigo? Eu... Eu sou um monstro- disse ela se afastando do espelho.

–Será que... que estou morrendo? Por ter encostado no Newt?- lagrimas começaram a cair de seus olhos- Eu... Não quero morrer.

Sophie falava com si própria, até que Lady entrou no banheiro.

–Sophie, está tudo bem?

–Não, eu...

Lady começou a se aproximar.

–Não toque em mim, posso... posso te matar.

–O que? Sophie, do que esta falando? Você não vai me matar- disse Lady um pouco assustada.

–Eu não quero, mas... Talvez possa, e Lady, você é uma garota legal, não vai querer morrer agora, não é?- disse Sophie se afastando mais ainda de Lady.

–Sophie... Esta me assustando- disse Lady com os olhos começando a enxerem de lagrimas.

–Não, não chore Lady, eu... Eu estou morrendo, por que encostei em um prontidão- disse Sophie que também estava chorando. Ela parecia uma louca.

Lady levou as mãos á boca.

–Temos que ajuda-la, você não pode morrer- disse ela se aproximando- E você não vai me matar, é você que esta contaminada, e eu tenho que ajuda-la.

–Não, por favor, não chegue mais perto, tenho medo de que se você me tocar poderá ficar contaminada também, e não quero machuca-la – com certeza Sophie parecia uma louca.

–Esta tudo bem... –Lady já chegará ao seu lado.

–Não! Saia! Agora!

Então Sophie gritou, ela estava com medo de morrer, e com medo de matar a amiga. Queria sair de lá o mais rápido possível.

–Vamos lá, todos voltando a correr- gritou Toby lá de fora.

–Eu vou morrer- murmurou Sophie.

Ela encostou na parede, colocou as mãos nos cabelos suados e deslizou para o chão.

–Eu vou morrer- murmurou novamente.

–Não, Sophie, você não vai morrer- disse Lady sentando no chão abraçando a amiga.

–Não devia ter tocado em mim...

–Vou sofrer com as consequências- disse Lady.

Ficaram as duas abraçadas no chão do banheiro por um grande tempo. Até que ouviram Toby gritar.

“Bom, bom trabalho. Chega por hoje, amanha voltamos a correr mais 20 voltas e vamos para os exercícios... Estão liberados”

–Acho melhor sairmos. Toby não vai gosta nada de não termos terminado a primeira tarefa- disse Lady.

–Você sabia que eu e você vamos morrer, não é?

–Eu não sinto nada de diferente, talvez você não tenha se contaminado...

–Tenho quase certeza que sim, Lady.

–Por que não conversa com quem você acha que foi contaminada? Se você quiser posso ir com você.

–Eu tenho que conversar com ele sobre varias coisas...

–Então vamos encontrar esse cara.

Elas se levantaram, saíram do banheiro sem ser percebidas e foram direito para a porta do quarto de Newt. Sophie bateu com força e um garoto de sua altura, loiro de olhos azuis abriu a porta.

–Charlie- disse Lady.

Charlie encarou Sophie e depois Lady, e imediatamente a abraçou com força.

–Ai Meus Deuses, onde estava? Fiquei muito preocupado com você.

–Eu estava com a Sophie, ela precisava... conversar.

–Podia ter me avisado.

–Meus Deuses?- perguntou Sophie, fugindo totalmente do assunto.

–É, Charlie acredita que existe outros Deuses Romanos e Gregos.

–Algum problema com isso, Sophie?- perguntou Charlie.

–Não. Problema algum. Hum... Você viu o Newt?- perguntou Sophie.

–Ele saiu cedo e disse que ia treinar, não voltou até agora, e não o vi na corrida hoje, então não sei onde ele esta.

Mas Sophie sabia.

–Obrigada- disse ela e começou a correr para onde ele a levara no dia anterior.

–Tome cuidado Sophie!- gritou Lady.

–Pode deixar!

Sophie errou alguns corredores, mas chegou a porta com a placa “NÃO ENTRE SEM UM MENTOR ACOMPANHANDO”. Mesmo assim Sophie entrou, com cuidado para não fazer barulho. A sala estava escura. Ela encostou na parede e respirou com dificuldade, até que uma luz apareceu, na verdade, não era exatamente uma luz, mas uma sombra de uma pessoa. Era como um alvo com o formato de um pessoa e algumas ledes em seu contorno. De repente uma faca atingiu o alvo bem em seu coração. Sophie abafou um grito.

No meio da sala estava Newt com o mesmo uniforme que usava, ele estava totalmente suado, e cansado, seus cabelos prateados pingavam suor, e seus olhos cinzentos estavam cobertos por uma venda, usava um cinto cheio de facas afiadas. Ele estava de frente com Sophie, mas não podia vê-la. Outro alvo apareceu a sua esquerda. Ele atingiu a faca na cabeça do alvo. Em seguida apareceu outro alvo a sua direita, ele acertou a faca em seu peito. Depois de alguns segundos um alvo apareceu atrás de Sophie. Newt pegou a faca e mirou, mesmo não vendo onde estava atirando. Sophie começou a tremer, ele poderia mata-la, ali e agora, só pelo fato de jogar a faca no alvo que ela estava na frente. Mirou bem em sua cabeça. E então atirou. Sophie virou o rosto e soltou um grito, mas a fata lhe vez um corte no canto da testa que começou a sangra.

Newt tirou a venda imediatamente após o grito, assim que tirou a venda, a sala se iluminou.

–Ai Meu Deus. Sophie! O que faz aqui?- disse ele nervoso.

–Ser atingida não estava nos meu planos- respondeu ela.

Ele rasgou um pedaço da camiseta e limpou o sangue de seu corte.

–Me desculpa, pensei que estava sozinho- disse ele um pouco mais calmo- Vou te levar para a enfermaria.

–Não! Não antes de você me explicar tudo. Eu vou morrer mesmo.

–O que? Como assim vai morrer?

–Até parece que você não sabe- disse ela se sentando no chão.

Newt fez o mesmo.

–Olha, eu sei que você quer saber o porque daquela minha conversa ontem a noite...

–Não o porque, sim o como.

Newt passou a mão no cabelo e bufou.

–Por onde começar...

–Que tal começar quando você me enganou desde pequena? Eu sei que você é um prontidão.

Ele a encarou surpreso.

–Você é muito inteligente, hein?... Sim eu sou um prontidão, e não sou o único aqui.

–Do que esta falando?- disse Sophie confusa.

–Não posso te dizer tudo, tem alguém que já esta encarregado de fazer isso.

Sophie ficou nervosa, mas percebeu que se ficasse nervosa não iria conseguir o que queria.

–Que história era aquela de você e uma tal de Cassie- assim que disse o nome, fez uma cara de nojo.

Newt caiu na gargalhada.

–O que foi?- perguntou Sophie.

–Esta com ciúmes de mim e da Cassie.

–Não, não estou- disse Sophie cruzando os braços.

–Sei... Mas você estava falando...

–Ah tá, o que você e essa Cassie estão planejando? E o que tem a vê comigo e com o Adam?

–Adam? Você o conhece?- perguntou Newt surpreso e um pouco nervoso.

Sophie tampou a boca imediatamente. Não devia ter dito o nome dele? Como poderia explicar que conhecera um... Um prontidão. Espere, Newt é um prontidão, então não daria nada em explicar para ele...

–Talvez... Mas você ainda não me explicou nada- disse Sophie.

–Isso pode dificultar tudo...- sussurrou ele.

–O que?- perguntou Sophie confusa.

–Nada... E hum... O que eu posso falar para você é que é melhor você esquecer tudo o que ouviu noite passada.

–O que? Como assim? Não posso esquecer!

–Você deve esquecer Sophie, é para o seu próprio bem.

–Você não se atreva a falar que é algo para o meu bem, por que você não fez nada para o meu bem, só me matou. Vou morrer por sua causa, sabia disso?!

–Por minha causa? Do que você esta falando?

–Você me tocou Newt! Um prontidão não pode me tocar. Você... Você também vai morrer...

–Ai Meu Deus, eu não posso te contar a verdade, mas o que posso te contar é que não vamos morrer, tenho certeza disso.

–Como assim?

–Já que você não vai esquecer, vou ter que faze-la esquecer, só até que seja a hora de você se lembrar e saber de tudo- seus olhos estavam começando a ficar cheios de lagrimas.

–Do que esta falando Newt? Por esta chorando.

–Me desculpa Sophie, só preciso que beba isso- ele se levantou, foi até um armário pequeno, pegou um frasco com um liquido amarelo e deu para Sophie beber.

–O que é isso?

–Só beba, por favor, não complica as coisas.

–Me fale o que é isso que eu bebo.

–Vai te fazer dormir, só... só isso.

Ela o encarou, ele estava acabado, cansado e chorando. Sophie não entendeu muito bem o que estava acontecendo. Newt não lhe disse nada que possa esclarecer seus pensamentos, só o fato de que não vão morrer, mas será que era verdade? Sophie olhou o liquido amarelo e depois de alguns segundo o tomou. O liquido era azedo, ela deixou cair o resto que tinha. Se sentiu tonta, enjoada e com dor de cabeça, se inclinou para frente e caiu nos braços de Newt.

–Só vai se esquecer desse dia- sussurrou Newt em seu ouvido- Me perdoe, Sophie, mas foi pelo seu bem.

O garoto sabia que era necessário usar soro, se sentia péssimo por usar, mas não era ele que tinha que explicar tudo a garota caída em seus braços, ele só tinha que deixa-la forte, era seu dever, não podia fazer mais que isso nem menos.

Sophie desmaiou, esquecendo de tudo o que lhe acontecera nesse dia todo.