Castelo de Wookfield, século XIV. Em dias normais, era provável que o mesmo estivesse sendo sede de algum dos muitos bailes que o rei e a rainha costumavam organizar. Ambos eram adorados e respeitados pelo povo do próspero vilarejo, que, após um longo período de guerras, passava agora por uma paz que todos desejavam que durasse eternamente.

Depois do jardim do palácio, seus aposentos eram o local no qual Lady Brackett passava mais tempo. Estes tinham sido decorados com os mais finos tecidos do reino, o que incluía as magníficas cortinas vermelhas de seda presas à extensa janela. Esta estava entreaberta, permitindo a entrada de uma brisa suave no interior do amplo cômodo.

Além da cama revestida por inúmeras colchas cor de sangue, o quarto também era ocupado por um armário no canto esquerdo e uma pequena mesa no canto direito, destinada à fiar e bordar. Porém, a moça também a utilizava para leitura, mantendo o hábito em segredo tanto dos pais quanto do marido e do irmão mais velho, que governava o reino vizinho.

As paredes de pedra, aliadas ao mobiliário de madeira maciça, conferiam ao local um certo ar pesado – o que explica a preferência da rainha pelo jardim. A jovem assumira o trono com apenas quinze anos de idade, apenas alguns dias após seu casamento com Lorde Ellsworth, três anos mais velho. Agora, meia década mais tarde, os dois haviam conseguido finalmente trazer estabilidade ao reino.

Mas essa aparente estabilidade estava chegando ao fim.

Um homem alto, por volta de seus vinte e quatro anos, preparava-se para deixar o cômodo. Cuidadosamente, retirava as luvas brancas manchadas de sangue de suas mãos. A faca de prata recém-utilizada encontrava-se agora lacrada em um pequeno cofre de madeira, com o brasão da família entalhado na base.

– John? – Chamou o rapaz, sua voz ligeiramente mais grave do que o habitual.

Rapidamente, um outro homem atravessou o corredor principal, alcançando o local para o qual havia sido requisitado. Este tinha estatura menor e suas mãos estavam trêmulas, assim como sua voz.

– S-sim, senhor? – John fez uma tentativa de reverência, sua expressão misturando medo e tristeza.

– Está feito. Os guardas vão chegar daqui a pouco. Quero que dê um fim nisso, entendeu? - O maior entregou-lhe o cofre. Apesar da voz baixa, falava com um tom de autoridade, fazendo com que o outro assentisse prontamente.

O homem então sorriu, visivelmente satisfeito, enquanto empurrava um dos tijolos da parede. Imediatamente, uma passagem se abriu, revelando uma saída de emergência, e os dois mergulharam na escuridão.

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Estava prestes a amanhecer. O céu ganhava suaves tons de azul, ao mesmo tempo em que três homens com uniformes da guarda real entravam no castelo. E Lady Brackett estava caída no chão de seus próprios aposentos, o vestido branco manchado de sangue.