The Strange Girl - Franklin escrita por Chibi Midori


Capítulo 4
Like Jack and Sally




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Deus vai me ajudar. Hoje a Gretchen vai me ignorar. Tudo vai voltar ao normal. Provavelmente sonhei o dia de ontem. Gretchen Gardiner falando comigo. Garotos drogados de Los Angeles. Dinossauros roxos que tem pactos com o demônio. Enfim, ontem foi um sonho muito estranho.

- Oi, Luh. – uma voz alegre me saudou.

- Me chamou de que? – perguntei me virando... E colidindo com o peito largo de alguém.

Eu não sabia quem tinha falado. Mas eu virei rápido demais e recebi um abraço e um beijo na testa. Ah. Ainda to sonhando. Beleza.

- Ah, ei. – Cumprimentei. É o filho do senhor Watson. O drogado. Qual é o nome desse infeliz mesmo? – Você me chamou de que?

- De Luh. Você falou que não gosta do seu nome por que acha idiota. – ele declarou.

- Por que Luh não é nem um pouco idiota, né? – fiz uma careta que estragou a minha ironia. – O que você quer? Zoar com a minha cara por que meu nome é estranho?

- Você é a “Emo do primeiro ano”? – ele perguntou

- Não! Quem te disse isso? – olhei pra ele, espantada.

- Todo o mundo pra quem eu perguntei. Todo o mundo menos aquela garota de cabelo castanho. Ela falou que você é a nova melhor amiga dela. Qual é a sua aula agora?

- Literatura. Por que as pessoas acharam que você estava interessado em quem eu sou? 

- Por que eu perguntei. – ele respondeu, simplesmente.

- Por quê? – parei de andar

- Por que você me disse pra perguntar. Disse ontem que se eu quisesse saber exatamente quem era você, teria que perguntar aos outros. Por que eu só o que eu precisava saber sobre você, era o que os outros achavam – Ele citou cada palavra que eu falara a ele no dia anterior, deu de ombros e voltou a andar. – E aí, não vai me dizer SUA definição de você?

- Não. Por que você quer saber?

- Ah, me diz, vai! – ele insistiu.

- Eu digo se você adivinhar meu nome do meio.

- Isso não é justo! – ele pensou antes de responder. – Sally?

Parei outra vez e olhei pra ele, chocada. Choquei um ovo de galinha.

- COMO você sabe, seu enguiço? - ofeguei

- Seu nome é mesmo Ludmille Sally? – ele parou surpreso ficando de frente pra mim.

- Como você sabe? – repeti. Quer dizer... Não dava pra ele ter adivinhado de primeira.

- Sei lá, eu arrisquei... E acertei.

- Por que você arriscou “Sally”? – perguntei. Afinal... Foi estranho. Um cara drogado de Los Angeles adivinha meu nome do nada?

- Por causa da Sally de “O Estranho Mundo de Jack” – ele sorriu – É a sua cara.

- Ah, ta. O dia fica perdido quando alguém não compara você a uma criatura toda feita de restos mortais de outras pessoas. – falei com a voz carregada de ironia. – Por que eu te lembro “O Estranho Mundo de Jack”? Eu nem gosto.

Ora, se não é a maior mentira já contada na história do universo. Ele deu um sorriso mais largo ainda e indicou a minha camiseta baby look preta... Que por acaso tinha três rostos do Jack sorrindo maldosamente de três ângulos diferentes e os dizeres “The Nightmare Before Christmas”. 

Puta que pariu. Ele riu me abraçou pelos ombros como se eu fosse alguma coisa dele, sei lá, e voltou a andar. E eu reparei que todo o mundo me estava olhando. Olhando pra mim e o filho do senhor Watson. Merda.

- Me larga. – pedi.

- Não. – ele sorriu. E eu choquei um ovo de avestruz.

- Como assim “Não”? Me larga! – mandei dessa vez. Esse cara ta me irritando. Ele tem mesmo problemas mentais?

- Esquece, Emily. – Ele deu uma risadinha. Eu vou esganar esse garoto. “Emily”. Ele ta me comparando com a “Noiva Cadáver” agora?

E daí que a “Noiva Cadáver” tem um enredo super lindo e me fez chorar? E daí que “O Estranho Mundo de Jack” é meu filme preferido? O que o filho do meu chefe tem haver com a minha vida? EU não gosto de ser comparada com as minhas personagens preferidas nos filmes. E também não gosto de garotos que me chamam de “emo do primeiro ano”.

- Emily? - Repeti

- Sim. Emily, the Strange. Minha irmã adora as histórias dela. Você é branca, tem cabelo preto, usa muito preto, anda de skate, tem um gato preto... Só falta o estilingue.

Ele não precisa saber que realmente tenho um estilingue. E eu sei quem é Emily, the Strange. Ontem ele me acompanhou até a minha casa. Nós fomos recebidos pelo Mouche, é claro. E o filho do senhor Watson – como a maioria das pessoas – ficou meio cismado por meu gato ser preto. 

Mas eu encontrei o Mouche quando ele ainda era filhote. Ele estava preso entre os galhos de uma árvore. E eu subi na árvore e salvei-o. E eu lasquei o rabo no chão torcendo o tornozelo, é claro. Mas deixei o Mouche no veterinário antes de ir ao pronto-socorro. E o Mouche foi comigo. Amor a primeira vista, bem.

- Me larga, Jack.

- Há. Isso aí é uma cantada ou está tentando ser engraçada? – ele me perguntou. – Meu nome não é Jack, Sally

Nossa, como ele se acha. Que menino chato, pelo amor de Deus!

- Eu não estou te cantando. Você me falou que tem namorada, não é verdade? – rebati – Só esqueci seu nome. Espera. É alguma coisa com J. Agora me solta, porra!

- Eu solto de você adivinhar meu nome. – ele deu uma risada enquanto entrávamos na sala de literatura.

- Ah, não seja mau! – gemi quando todas as pessoas que estavam sentadas me encararam. Normalmente eu entro e saio das salas de aula despercebida. Exceto quando eu derrubo as coisas de alguém.

- Ok, eu te solto por que você lembra que meu nome é com J. Meu nome é Josh, Luh. – Ele falou a ultima frase lentamente como se falasse com alguém com problemas mentais. É irritante quando um cara retardado fala com você como se você fosse a retardada.

Eu sentei e ele sentou ao meu lado. Mal reparei que eu ocupei o lugar ao lado da Gretchen.

- Luh é o cacete. Eu tenho um nome feio o suficiente. Não preciso de apelidos estranhos, Jeremy. – O chamei de Jeremy só por implicância mesmo. E ele percebeu.

- Oi, Ludmille. – Gretchen chamou timidamente.

- Gretchen! Ah, não tinha te visto aí. – falei tentando ser educada.

- No seu lugar eu também não notaria, parceira. – Gretchen me puxou pelo braço me forçando a debruçar-me pela minha carteira para a carteira dela – Não como esse gostoso ao meu lado. Ele perguntou por você. Ele me pediu pra falar sobre aquela garota branquinha que gosta muito de roupas pretas... A Williams, nas palavras dele. Eu achei que ele estava meio a fim de você... Mas depois dessa cena, não tenho mais dúvidas.

- Não tem nada haver. Ele tem namorada. Ele só estava me irritando. – bufei.

- Nesse caso, eu quero que ele me irrite também. Um tesão desses me abraçando e me levando pela escola. Quem é ele? Eu pensei que conhecesse todo o mundo daqui.

- É filho do senhor Watson. – respondi. – Chegou aqui ontem.

- Ah, você vai pegar o filho do chefe, então?

- Eu já disse que ele tem namorada, Gretchen. Que saco! – sibilei – E por que estamos falando dele?

- Por que ele está claramente a fim de você.

- Não já disse que não tem nada haver? Que merda!

- Pare de falar palavras de baixo calão. Os caras preferem as delicadas e educadas. – Gretchen ralhou.

- Eu to pouco me lixando para o que os caras acham de mim, Gretchen. – grunhi de mau humor.

- Você é lésbica? – ela arregalou os olhos pra mim.

- Ah, pelo amor de Deus! Claro que não sou lésbica! – sibilei

- Ah, bem. Por um instante você me assustou. Eu não queria que a minha nova melhor amiga fosse lésbica. Não sou preconceituosa, nem nada, só acho nojento. – Gretchen se empolgou de novo e sorriu para o Josh... Que com certeza estava escutando nossa conversa nada discreta. 

- Oh, Luh. O professor entrou na sala. – Josh sussurrou no meu ouvido. Eu ODEIO quando falam no meu ouvido. Eu morro de cócegas e fico toda arrepiada. E o Henry, meu irmão maligno que assiste ao desenho do dinossauro roxo que tem um pacto com o capeta (cismei, não foi?), sabe disso. Sempre que eu estou distraída o Henry sussurra no meu ouvido só pra me ver me encolhendo e arrepiando – antes de sair correndo atrás dele.

- Luh! – Gretchen repetiu – Que fofo! Como eu não pensei nisso antes?

- Ah, muito obrigada. Satisfeito? – perguntei lançando um olhar fulminante ao Josh. Ele sorriu e murmurou “Muito”. Cara de pau é pouco. Eu vou matar esse cara. E daí que eu provavelmente vou perder o emprego por matar o filho do meu chefe? Talvez eu tenha que matar a Gretchen também por que ela é bem louquinha. 

- Vou matar você, Jason. Esquartejar e mandar os pedaços pra sua namorada em Los Angeles. – sussurrei.

- Você é muito sádica, Luh. E muito malvada também.

- Van Gogh mandou a orelha pra prostituta por quem era apaixonado. – observei 

- Van Gogh era doido. – Hangar, Josh.

- Você também não é muito normal. – Touchê, Ludmille.

- Não penso em me matar. Tampouco em cortar a minha orelha. – Resposta besta dele. 

- Não estava pedindo sua permissão. – Revirei os olhos. Já vi muita gente idiota. Mas nunca quanto esse cara.

- Por que você é tão má, Sally?

- Por que você se acha tanto, Jack? – Eu o chamei de Jack. De novo. Que Jack Skellington me perdoe. Eu só não consegui pensar em mais nenhum nome com J. – Sério, cara. Você não é normal.

- Suponho que já saiba o apelido de Gregório de Matos e Guerra, já que não está prestando atenção, senhorita Williams? – interrompeu o professor Tosco de literatura.

Vai ficar no chão, fessor. Eu estudei.

- Boca do Inferno, senhor. Gregório de Matos e Guerra recebeu este apelido por causa de suas poesias satíricas entre as quais a mais polêmica seria “Pica-Flor” que ele escreveu pra uma freira. – falei bem séria. Eu ADORO quando um professor me faz uma pergunta por que eu não estou prestando atenção na aula. Me sinto tão inteligente.

- Olha só... – Josh murmurou quando o professor deu às costas novamente, com a cara no chão. – Já tenho alguém de quem colar nas provas...

- Vai se foder, Josh. – Sibilei.

É. Este ano vou ter problemas. Merda, merda, merda.


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Notas finais do capítulo

¹As pessoas que nunca assistiram O Estranho Mundo de Jack e não entenderam: Sally é a personagem apaixonada pelo Jack. Como o Josh chama a Ludmille de "Sally" e ela chamou ele de "Jack", ele brincou dizendo que ela estava cantando ele.