V

Uma dor rápida e forte atinge minha perna e na mesma hora caio. Por sorte pus a mão no chão pra não ir de cara contra ele. Olhei pra trás, todo mundo me olhando, e três babacas rindo atrás de mim.

– Ai meu deus Stefan, você é o cara mais sacana de todos! – um cara com o cabelo louro disse rindo como o diabo, o outro que estava do lado nem conseguia dizer nada de tanto rir, o do meio, o tal Stefan estava com os braços cruzados, como se dissesse: missão cumprida. Era incrível como ele era lindo, e ao mesmo tempo um demente sádico.

– Bem vinda loirinha! – ele disse, num sorriso sarcástico. Ele estendeu a mão, me levantei com toda raiva do mundo.

– VAI SE FODER! – eu explodo, surpreendendo até a mim mesma. Ao invés de esperar uma reação dele eu o empurrei, e ele cambaleia para trás. Não de modo com que caia, mas de modo com que tirasse ele do meu caminho.

Enquanto ia de caminho com o cara que estava segurando a minhas malas, - que por sinal estava com a maior cara de assustado - eu pude ouvir várias pessoas rindo de mim. Ou da minha reação. Ou da reação do garoto retardado, nunca se sabe. O tal homem andava até meu maldito quarto que nunca chegava. Ele não sabia o que dizer. E o silêncio entre nós dois estava inquietante. Enquanto vou andando milhares de coisas se passam em minha mente. Quem aquele otário pensa que é, para me fazer cair? Ele estava procurando fazer uma gracinha comigo, chamar a minha atenção ou só me zoar na frente de todo mundo? E o mais importante: o que é que eu fiz para ele?

Quando enfim chego no quarto o agradeço, o homem me dá uma chave e volta na direção onde inicialmente viemos. Quando abro a porta uma rajada de ar fresco me atinge, e eu já gosto do quarto desde o começo. Fala sério. Quem não gosta de dormir embaixo de um ar-condicionado? O quarto é espaçoso. Uma escrivaninha básica já com alguns lápis, uma janela com cortinas rosa, que estava fechada, deixando o quarto escuro demais para minha preferência, duas camas, pôsteres de astros do rock... Espera aí. Ai céus, não. Eu vou ter que dividir um quarto? Mas que merd...

Eu só quero ver quem vai dividir o quarto comigo. Minha primeira impressão das meninas desse colégio não foi muito boa.

Sentei na cama de casal com os lençóis brancos. Quase tinha certeza de que o a cama da minha colega de quarto era a que tinha o lençol rosa e preto. Deitei na cama e pus as mãos no rosto. Só queria pegar meu celular e dizer obrigada ao meu pai. Primeiro, me põe nesse colégio cheio de cretinos, segundo, tendo que ficar nessa porcaria e só sair nos finais de semana. E agora eu tenho que dividir meu quarto! Que ótimo! Quando ver o meu pai ou aquela bruaca plastificada vou me lembrar mentalmente de mandar ele irem para o inferno. Pego a minha maleta menor, a procura do meu celular quando me dou conta que não é permitido, e por isso meu pai o tomou de mim. Fala sério, como é que eu vou viver sem o Candy Crush para me consolar?
Tomo coragem e levanto da cama. Fui explorar o quarto. Abri uma porta que estava do ‘’meu lado’’ do quarto. Tinha um banheiro. Tão branco e tão limpo que chega deu dor nos meus olhos. Não tinha nada. Só uma toalha branca. Provavelmente eu não terei que dividir o banheiro, penso aliviada. Saio do banheiro e abro as portas duplas de uma vez só. Um guarda-roupa. Um pouco grande demais para as minhas duas maletas, mas quem se importa? Ok, eu admito. Eu estive um tanto quanto errada em reclamar. A única coisa que iremos fazer juntas é dormir no mesmo cômodo. Que alívio.

Peguei minha mala e abri, tirando e colocando no cabide minhas roupas. Depois de terminar, abro as cortinas. A luz agride meus olhos mas segundos depois me acostumo, e abro a outra cortina. E quarto fica muito mais bonito sem toda aquela escuridão fantasmagórica. Voltei pra cama e fiquei lá, deitada. De tênis e tudo. A porta se abre e eu estremeço.

–Quem é você?