A Garota dos Meus Sonhos escrita por Meire Connolly


Capítulo 7
O último adeus




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Acordei com uma dor de cabeça do caralho e raios de sol na minha cara. Esfreguei meus olhos e coloquei minha mão sobre eles num gesto inútil de tentar tapar o sol. No meu quarto não havia tanto sol assim, havia?

Senti minhas costas totalmente dormente, e minha respiração um pouco acelerada. Minha garganta doía e meu corpo estava em constantes reclamações. Abri os olhos com dificuldade, e encarei o Sol que estava em cima de mim. Assustei-me e me sentei sem nenhum cuidado.

Olhei em volta. Estava deitado por sobre a neve no deque, próxima a entrada do Parque. Coloquei minha mão na cabeça, tentando me concentrar somente no que havia acontecido anteriormente. Olhei para o Sol, e percebi ser mais de meio-dia. Olhei em direção ao Parque. Vazio, fechado. Que dia que era mesmo?

Senti um aperto no coração e respirei fundo tentando controlar a dor que meu corpo consumia. Olhei em volta, percebendo um papel dobrado ao meu lado. Resolvi pegar, sem conferir se fosse uma brincadeira de mau gosto. Abri o papel vagarosamente.

Senti meus olhos lacrimejarem e tudo veio com o vento que batia contra a minha cara. O movimento estranho, a chegada da ambulância, a loira na maca, os enfermeiros me segurando, algum líquido sendo injetado em meu braço, a máquina com a linha reta.

Não segurei quando as lágrimas quiseram sair. Não as deixei presas dentro de mim como vinha fazendo há anos. Deixei com que elas escorressem, e que toda aquela culpa a qual eu sentia fosse embora juntamente com elas, e que todo aquela dor que me consumia por dentro se dispersasse. Entretanto de nada adiantou quando percebi que na lista de Rapunzel havia um quarto item que não tinha antes. Eu realmente não sabia o que fazer. Ficar ali parado, sentado no meio do deque, entre a neve úmida e que já havia me deixado úmido, era uma opção cobiçada.

Nossos encontros vieram em tona a minha mente. Quando ela se colocou na minha frente, me defendendo de Trecck, quando relei em seu braço fino e ficamos extremamente próximos, quando combinamos de sair, e ela percebeu que eu não tinha feito roteiro e cheguei atrasado. Quando a garota riu e saiu caminhando. Quando pulamos a grade que separava o deque privado. Quando a garota me confirmou não ter tido um caso com Sontag, quando a loira se deitou em meu braço, e ficamos pertos um do outro, sentindo nossos corpos se auto esquentarem. Quando sai dali, me sentido usado, e Rapunzel chorou. Quando nos beijamos pela primeira vez e senti seus lábios em contato com os meus, quando senti seu cheiro doce ao contrário de seu estilo. Quando nos encontramos para ir ao parque, quando ela sorriu por ter ganhado um boneco, quando ela me puxou de um lugar para o outro e me fez sentir uma criança, quando ela riu com todas aquelas minhas histórias, quando eu falei que ela poderia ser minha namorada e sua reação sem nexo, quando nos encontramos depois de um mês, e ela me falou que estava com câncer, quando eu falei que a amava, e ela sorriu, retribuindo o meu eu te amo. Quando eu conheci seu quarto, e o modo que ela se deitou ao meu lado, quando ela disse que eu tinha de ser eu mesmo, quando ela sorriu a me ver acordado no outro dia, quando ela começou a cobiçar a ideia de fazer uma lista de desejos. Quando fomos realizar seus desejos, e ela entrelaçou nossos dedos enquanto caminhávamos pela rua e desviávamos das pessoas que compravam presentes de Natal ou então apenas passeavam. Quando fomos fazer o piquenique e ela ficou me encarando arrumar o local, quando ela começou a organizar o local e perguntou o porquê de estar encarando-a. Quando eu sai dali para começar a realizar seu terceiro desejo, e a resposta que lhe dei foi um sorriso travesso, como se tudo fosse ficar bem.

Nada estava bem, nada iria ficar bem, nada ficou bem. Ela se foi. Ela foi embora, não nos despedimos, e nem ao menos fiz o favor de ficar ao seu lado, e de mentir, dizendo que tudo ficaria bem. Dizer, que eu estava ao seu lado, que eu cuidaria dela e que como eu queria que ela continuasse ao meu lado para sempre. Eu seguraria sua mão, entrelaçaria nossos dedos e deixaria com que algumas lágrimas escorressem de meu rosto, fazendo Rapunzel sorrir com o fato de me ver chorando novamente. Ela enxugaria minhas lágrimas e eu lhe daria um sorriso falso, confirmando de que tudo ficaria bem. Tudo.

As lágrimas escorriam sem se preocupar em parar ou então de acabar um dia. Aquela culpa, aquela dor me consumiam e eu sentia meu peito se abrir deixando a mostra meu coração para quem quisesse vir pegar. Chutei um pouco de neve e gritei.

Gritei deixando com toda aquela dor se dissipasse, com que toda aquela dor horrível que consumia meu coração sair pelo grito. Desejei que tudo fosse embora, que todos aqueles sentimentos de raiva, de culpa, de tristeza, de amor, de infelicidade fossem embora, que sobrasse somente o Jack Frost. Um cara frio que trabalhava para Sontag.

Desejei que Rapunzel fosse apenas um sonho de minha cabeça, e que eu acordasse deitado em minha cama, encarando aquele teto sem nem saber quem era, ou deixou de ser Raio de Luz. Desejei que a garota dos meus sonhos nunca tivesse existido, e que eu parasse de amá-la. Desejei que meu coração fosse forte o suficiente para eu conseguir aguentar toda aquela dor e aquele sofrimento que agora me consumia por dentro. Desejei ardentemente que aquilo tudo não passasse de um enorme pesadelo, e que tudo, tudo na minha vida voltasse a ser como antes.

Mas eu sabia. Sabia que era impossível. Rapunzel era real. Sua doença sem cura era real. Seus últimos minutos comigo fora real. Suas últimas falas fora reais. Seus toques foram reais. Seus sorrisos e gargalhadas eram reais. Sua respiração se tornando debilitada, seu coração parando, tudo isso fora real. E, seria impossível eu voltar a ter a minha vida normal. Seria impossível eu entrar em minha casa e não ver aquela caixinha de veludo grudenta e melecada e não se lembrar da loira. Seria impossível eu ver algo de Doctor Who e não se lembrar da loira. Seria impossível vir ao deque e não lembrar-se da loira. Seria impossível ver uma loira e não lembrar-se de Rapunzel. Seria impossível entrar em uma joalheria e não lembrar-se da loira. Seria impossível eu não sonhar com Rapunzel.

Aquilo parecia ser um castigo. Um castigo que Deus jogou sobre mim, sobre o protagonista de um filme que eu não queria fazer parte. Tudo aquilo parecia ser irreal, diferente, inovador. Parecia ser impossível acreditar que as duas pessoas que eu mais amava na minha vida, eu as perdi por culpa do câncer.

Levantei-me ainda atordoado e olhando em volta. As coisas do piquenique haviam ido embora e eu fiquei mais aliviado que minhas coisas estavam comigo. Mas, logo esse alívio passou. Minha vida não faria mais diferença, eu estava sozinho, e a única pessoa que poderia me fazer companhia agora fora embora. Foi embora sem ao menos se despedir, sem ao menos dizer um tchau.

Olhei novamente para a lista de desejos de Rapunzel, e me culpei imensamente. O fato de Rapunzel não ter câncer não era culpa minha, no entanto, o fato dela ter morrido sem ao menos ter alguém conhecido por perto que pudesse lhe dizer palavras reconfortantes e lhe passar a mão pelo cabelo, era culpa minha. Senti mais lágrimas escorrerem quando reli o quarto item, que não havia sido escrito antes.

“Ser pedida em namoro por Jack Frost”.

– X –

O velório de Rapunzel havia sido marcado para as três da tarde. Iria ter uma missa, e logo após o caixão iria ser levado pra o cemitério. Nesses dois dias, fiquei trancado em casa, recebendo mensagens de Sontag. Suspirava a cada vez que lia uma de suas mensagens perguntando se eu estava bem, e se precisava de alguma coisa. Perguntei-me diversas vezes se eu contava ou não para Sontag que eu sabia que ele era gay. No entanto, eu nunca contava. Sempre mantinha aquilo para mim.

Eu não tinha dormido direito, e todas as vezes que eu tirava um cochilo, logo acordava com um pesadelo. Na maioria das vezes, Rapunzel estava morta, deitada em um chão de neve, dizendo que eu era um egoísta, e que deveria ter passados seus últimos minutos de vida ao seu lado. Sempre era isso, e eu sempre quebrava algo quando acordava.

A caixinha de veludo havia sido jogada fora, assim como as roupas que eu havia comprado para usar no encontro com Rapunzel. No entanto, sua lista de desejos havia sido emoldurado e pendurado na parede de meu quarto. Todas as vezes que eu a lia, sentia uma culpa imensa me invadir, e meu coração parecia parar por alguns segundos.

Peguei a roupa mais fria que eu tinha. Quase todos de Corona conheciam Rapunzel, que se não fosse pelo fato de conhecer Raio de Luz, seria pelo fato de que a mesma era voluntária em diversos projetos que a prefeitura realizava. Sontag havia me ligado ao meio dia, perguntando se eu ia, e se queria carona. Respondi que aparecia por lá mais tarde, mas que sim, iria. Tinha que ver pela última vez a garota dos meus sonhos.

Coloquei uma calça jeans escura, uma blusa preta de gola e um moletom preto. Não penteei meu cabelo, nem fiz nada para esconder minhas olheiras. A intenção não era mostrar o quanto eu estava triste, realmente não era. Eu só não queria ter que me preocupar em fazer essas besteraidas para o velório da loira. Isso não era certo.

Eu fui caminhando também. Passei em uma floricultura e comprei uma rosa, da mesma cor que eu havia entregado a loira no nosso primeiro encontro. Pedi para o cara colocar um lacinho rosa no caule da flor e fui andando em direção ao local.

Eu sabia muito bem que bastantes pessoas iriam até o velório, mas não fazia ideia de que eram tantas. Meu coração pulsava e minha mão suava frio. Será que eles me culpariam? Será que me expulsariam do velório? Será que aqueles enfermeiros estariam lá e não me deixariam chegar perto da loira?

Balancei a cabeça retirando de todos os meus pensamentos, essas besteiras. Caminhei por entre as pessoas, entrando no salão onde a loira estava. Senti minha respiração pesar e meus passos se cessarem. Eu realmente queria fazer aquilo? Realmente queria ter que encarar seu corpo morto e lembrar que o culpado dela não ter ninguém por perto nos seus últimos minutos de vida era eu?

– Olá Frost – escutei uma voz conhecida ao meu lado e me virei para observar Sontag. Vê-lo assim, daquele jeito, bem arrumado, e de preto, já sabendo que ele era gay me assustou um pouco, mas fiquei reconfortado quando o mesmo colocou sua mão direita sobre meu ombro. – Eu sinto muito.

Assenti. Na verdade, ele não deveria falar isso para mim. Nem namorado dela eu era! Nós ficamos duas vezes, mas, trocamos ‘eu te amo’. Eu não sabia o que responder, muito menos o que agir. Sontag saiu de perto, e eu comecei a tomar coragem para ir em direção da loira.

Suspirei e comecei a caminhar. O caixão estava aberto, e em volta dele, algumas flores repousavam, todas lindas, grandes, e majestosas, todas lindas e belas, como Rapunzel. E a minha era somente uma rosa com um laço rosa.

Assim que cheguei, senti as lágrimas virem a tona. Rapunzel estava de olhos fechados, mas era como se eu conseguisse ver seus olhos verdes vazios, opacos por debaixo das pálpebras. Seus lábios finos estavam retos e com certo brilho nele. Sua pele estava branca, e por um segundo, suspeitei de que ela estava mais branca que eu. A garota usava uma calça jeans, coturnos e uma jaqueta jeans fechada. Suas mãos estavam juntas e por cima de sua barriga. A mesma, já não se movimentava por culpa da respiração. Estava parada, estática, assim como a loira.

Como eu pude deixar você sozinha? Como eu pude não ser responsável e ficar com você em todos os momentos? Porque eu não te pedi em namoro? Porque eu não fiz uma declaração de amor? Porque eu fui um idiota o tempo todo com você?

Enxuguei duas lágrimas que escorriam pela minha bochecha. Essa era a última vez que eu veria a loira, a última vez que tocaria nela, a última vez que sentiria toda a dor e culpa virem à tona ao mesmo e com mais dores possíveis. Seria a última vez que eu poderia me despedir de Rapunzel.

Encostei minha mão sobre a sua. Sua pele estava gelada, e isso me trouxe a recordação de quando sua pele era quente, quando seu contato me trazia uma corrente elétrica, quando seu sorriso iluminava o mundo, quando seus olhos brilhavam sem motivo aparente, e quando tudo isso fora morto enquanto eu estava preocupado em realizar seu terceiro pedido.

Coloquei minha rosa entre suas mãos e não me contive quando vi que minha pulseira ainda estava em seu pulso. Mais lágrimas saíram e escorreram por todo o meu rosto, e eu não dei o trabalho de enxugar. Eu não queria. Eu realmente não queria ter que vê-la partir.

Com receio, mas com coragem, depositei meus lábios no topo de sua cabeça, e sorri ainda grudado a garota. Podia sentir todos os olhares dos presentes sobre mim, mas ignorei. Eu tinha que me despedir. Encarei seus olhos fechados, e passei meu dedo por toda a extensão de seu rosto, sorrindo comigo mesmo, lembrando-me de quando fiz isso e Rapunzel corou.

De uma forma lenta, coloquei meus lábios por cima dos da garota. Sei que isso pode parecer estranho, mas, Rapunzel sempre seria a garota dos meus sonhos, por mais que eu não quisesse mais isso. Rapunzel nunca sairia de minha vida. E, tudo, tudo me lembraria dela. Cada pessoa, cada loja, cada série, cada filme, cada lugar, tudo me lembraria a loira, a garota dos meus sonhos, a Raio de Luz, a Rapunzel.

Desgrudei-me dela e enxuguei uma lágrima minha que havia caído em seu rosto macio e delicado, agora, frio, sem emoção. Passei minha mão pelo seu rosto, novamente, e era como se ela estivesse viva, ali, comigo, e tudo aquilo não estava passando de uma mera brincadeira.

Mas não.

Tudo isso era verdade. A mais pura e sincera verdade. Rapunzel estava morta. A loira estava morta. Raio de Luz estava morta. A garota dos meus sonhos estava morta. Todas estavam mortas. E nenhuma delas ressuscitaria para me dar um último beijo, ou falar que um dia talvez, a gente se reencontrasse numa outra vida, no céu, ou em qualquer outro lugar.

Era hora. Eu tinha que me despedir. Nunca mais veria seu rosto angelical, nunca mais ouviria sua doce e melodiosa voz, nunca mais sentiria seu corpo quente contra o meu, nunca mais a veria ruborizada, nunca mais entrelaçaria nossas mãos, nunca mais a veria se arrepiar, nunca mais ouviria sua risada gostosa, nunca mais pularíamos a grade do deque privado, nunca mais abraçaria seu corpo e a protegeria de qualquer coisa, nunca mais poderia dizer ‘eu te amo’, e nunca poderia pedi-la em namoro. Isso era um fato. Eu nunca mais a veria. E eu tinha de aceitar isso, de uma forma ou outra. Rapunzel se fora.

– Adeus, garota dos meus sonhos – sussurrei enquanto a via abrir seus olhos verdes, sorrir de uma forma triste e acenar, enquanto ouvia sua triste voz retumbar em meu ouvido.

– Adeus, Jack.


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Notas finais do capítulo

E, é isso ai.
FIM da fanfic
Adeus a todos por aqui
Espero que tenha gostado Emilly, de verdade.
Eu chorei quando fui revisar os dois ultimos capítulos.
Mas estou bem agora.
Obrigada por terem favoritado: Any Frost Odair, Emilly Lorene e Eveline Frost.
Obrigada também a Myh, que me falou por MP ter gostado.
Obrigada a todas e até algum dia (mentira, ainda tenho fanfics para continuar).
Estou com depressão pós-fanfic, mesmo essa sendo uma short feita de presente.
Em todo caso, amo vocês :)
Espero que comentem falando o que acharam da fanfic :)
Até algum dia.
Tchau.
É, isso é um adeus.
Não chora, não chora, porra.
Amo vocês.
"Adeus, Jack" *lágrimas*