A Garota dos Meus Sonhos escrita por Meire Connolly


Capítulo 6
A lista de desejos broxante


Notas iniciais do capítulo

ignorem o titulo, hehe



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Passei a noite ao lado da loira. Não, não teve nada de mais. Eu subi para o seu quarto, e a menina me proibiu de falar alto, pois sua mãe já dormia. Ela explicou que não havia contado nada para a mulher, pois não a queria deixar preocupada a mais. A loira me explicou que a vida de sua mãe se resumia em trabalhar para conseguir sustentar a ambas.

Assim que entrei e seu quarto, me deparei com um local de paredes brancas, e ameno. A loira disse que tinha gostos bem diferentes, e eu sorri quando vi que a rosa que eu havia lhe dado estava dentro de um pequeno vaso, e a mesma, já estava começando a ficar murcha.

Eu esperei Rapunzel se trocar no banheiro, para irmos dormir. Conversamos praticamente a noite toda. Tudo em sussurros e sorrisos. Dessa vez, nós nos conhecemos melhor. Eu contei a ela sobre minha vida, minha mãe, e como entrei para esse mundo. Rapunzel me contou sobre sua mãe, sobre seu pai, que havia abandonado as duas quando Rapunzel ainda era um bebê, sobre como começou a entrar para o mundo das drogas e, por persistência minha, de como havia começado e terminado com Trecck.

Depois, a loira começou a bocejar. Eu ria toda a vez que ela bocejava, e ela me batia toda a vez que eu ria. Começamos a falar sobre Sontag, e ela me contou que conseguia fazer chantagem com o cara, pois o mesmo (preparem-se para a revelação do ano) era gay.

Por um segundo, eu ri, de verdade. Ai eu percebi que ela estava falando sério e fiquei pasmo. Meu chefe era gay. Não, não que eu fosse preconceituoso com essas pessoas, mas, Sontag não parecia ser gay. E, antes de Rapunzel se cobrir e me puxar para mais perto da mesma, ela me falou uma coisa que retumbou em minha mente até a hora em que eu dormi.

– Você não precisa obedecer Sontag o tempo todo.

No outro dia, eu acordei com alguns raios de sol em minha cara. Percebi que a loira não estava mais na cama, e olhei em volta para ver se a encontrava. Sentei na cama e esfreguei meus olhos, tentando conseguir ajustar o foco de minha visão.

Bocejei e retirei a coberta de cima do meu corpo, no exato momento em que a porta se abria e Rapunzel entrava com uma bandeja em mãos. Arregalei meus olhos completamente assustados.

– Eu é que deveria estar trazendo uma bandeja para você – resmungo enquanto cruzo os braços e faço bico. Tinha que ser cavalheiro agora. Não que eu não tivesse de ser antes, mas agora era especial e diferente. Agora eu tinha um determinado tempo e tinha que aproveitá-lo.

– Mas, você está em minha casa – a loira retrucou enquanto exibia um sorriso e colocava a bandeja em cima de minhas pernas. Observei Rapunzel vir ao meu outro lado e se aconchegar perto de mim.

– Feliz natal – sussurro em seu ouvido, fazendo a menina se sentar ereta e ao meu lado, pegando um pão de queijo da bandeja.

– Feliz natal para você também, albino – a garota falou soltando um riso ao pronunciar meu novo apelido. Reviro os olhos e sorrio. Cara de Neve, Frost, idiota, albino... Mais alguém quer me dar um apelido?

– O que iremos fazer hoje? – a loira pergunta enquanto morde o pão de queijo. Percebo que se eu não começar a comer logo, perderei todo o meu café, se bem que, estava na casa de Rapunzel, teria que dar o privilégio a ela, e também porque, bem... ela...

– Eu não pensei em um roteiro... – começo a falar.

– Como sempre, né – a garota murmura, mas alto o suficiente para eu escutar.

– Ei, eu tinha os meus compromissos, ok?

– Sim senhor – a loira levanta os braços em sinal de rendição e pega uma xícara.

– Quando a minha mãe recebeu o laudo – minha voz falha. Eu realmente falaria sobre aquilo? Bem, eu realmente não havia superado, vou ser sincero com você, mas, querem saber? Foda-se. Eu ainda sentia muito a perda de minha mãe, e falar sobre ela sempre resultava em lágrimas – ela... Ela fez uma lista de desejos para realizar.

– Ah sim! Como em Last Holiday, né? – a loira perguntou com certo interesse no assunto. Assinto devagar, não querendo tocar mais no assunto. – Bem, eu também fiz isso, mas, acredito que a minha lista seja bem inútil comparada ao do filme.

Observo a loira atentamente ir em direção a uma cômoda e abrir a primeira gaveta, revirando suas roupas e retirando de lá um papel. A garota volta a se sentar ao meu lado, e decido tomar um pouco de leite. Pela minha idiotice, viro a xícara com tudo, queimando a minha língua (bela Jack Frost, bela! Daqui a pouco, Rapunzel poderá escrever um livro “Como, o que cara que dizia que eu era a garota dos seus sonhos, era um idiota”. Já estou até vendo o sucesso que ele irá render, na boa.

Rapunzel riu com o meu desleixo, mas logo esticou o papel para mim. Deixei a xícara sobre a bandeja e coloquei a língua para fora, colocando um pão de queijo para dentro da boca, não ajudando em merda nenhuma, já que o pão de queijo estava quente. Ouço Rapunzel soltar uma risada, e a encaro, mostrando a língua para ela (vocês acreditariam se eu dissesse que tenho vinte e cinco anos?).

Pego a lista de suas mãos e me surpreendo por ter somente três pedidos. Leio o primeiro com certo entusiasmo. “Realizar um piquenique”. A letra era redonda e delicada, assim como Rapunzel (exceto a parte do redonda), e aquele primeiro pedido, me assustou. Encarei-a.

– Idiota, né? – perguntou parecendo totalmente envergonhada. Neguei com a cabeça.

– É bem diferente da imagem que eu tinha de você – comentei sem querer. Rapunzel ergueu aqueles olhos verdes dóceis e cruéis ao mesmo tempo, me fazendo engolir em seco e esquecer-se de minha língua que ainda ardia e queimava. Suspirei. – Eu nunca irei parar de fazer bobagem – comentei com a voz modificada por conta da língua queimada, e escutei uma risada de Rapunzel.

– E, é isso que me faz querer ficar mais perto de você, e ter a certeza de que você é diferente – sussurrou mais baixo que o normal. Sorri, mesmo não tendo entendido algumas parte, mas mesmo assim, sorri.

Ajustei a folha em minhas mãos e li o segundo item. “Comprar todos os Boxes de Doctor Who”. Arquei uma sobrancelha. A garota era realmente viciada nessa série. E, eu como um bom cavalheiro, compraria todos. Se bem que, quantos boxes seriam?

Foquei no terceiro item. “Comer algodão doce com sorvete.” Fitei Rapunzel, que apenas deu de ombros.

– Vi na TV e quero experimentar – explicou enquanto mordia outro pão de queijo. Sorri para a loira.

– Iremos realizar todos os seus desejos – falei enquanto puxava a loira para um abraço. A mesma sorriu e pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos.

– Você foi a melhor coisa que me aconteceu – Rapunzel comentou. Senti um suspiro e logo em seguida sorri.

– E você é a garota dos meus sonhos – respondi enquanto passava minha outra mão em seu fino braço, aconchegando-a e deixando claro que eu queria o seu bem.

– Vamos começar quando? – a loira perguntou com uma felicidade enorme, me fazendo sorrir para ela.

– X –

– A toalha deve ficar ali – Rapunzel falou apontando para um canto perto de um banco. Bufei antes de esticar a toalha sobre o chão.

Havíamos começado a realizar o desejo da loira. Por mais que estivesse com neve, resolvemos fazer o tão desejado piquenique. Já havíamos comprado todos os boxes e eu havia conseguido um bom desconto. Depois, partimos para o deque, onde faríamos o piquenique.

Mesmo Rapunzel insistindo em fazer o piquenique em sua casa mesmo, ou em outro dia, não a escutei. Queria realizar seu desejo o mais rápido possível, e faria aquele piquenique naquele dia, naquela hora, no lugar apropriado em Corona, no caso, o deque.

O fato de ser Natal não retirou o movimento intermediário que o Parque recebia. Algumas crianças corriam, outras sorriam com presentes, outras tiravam fotos, pais corriam trás de seus filhos, e etc... Mas nada disso me importava.

Assim que eu estiquei a toalha improvisada, estiquei um cobertor fofo e quente que eu havia comprado em uma loja (para o piquenique), colocando outro cobertor por cima e por fim, a toalha original de piquenique. A tradicional toalha xadrez com vermelho e branco.

Rapunzel estava sentada no banco, com a cesta em seu colo, encarando eu terminar o serviço. A menina arqueou uma sobrancelha em minha direção e a única coisa que fiz fui sorrir para a loira.

Peguei a cesta das mãos da loira e coloquei-a no centro da toalha. A loira se aproximou de mim e sentou-e na toalha, sorrindo (que acredito eu, por ter visto toda aquela produção linda e maravilhosa realizada por mim. Ah, caso vocês queiram piqueniques ajeitados, podem falar comigo, sim? Sou bom com isso).

Abri a cesta e retirei as coisas que tinham lá dentro. Duas caixinhas com suco de uva (sim, a loira quis comprar isso... O que? Foi ela que quis! Ela! Ok, ok, admito, fui eu), um pacotinho com pães de queijo, dois pacotinhos de salgadinho, uma garrafa de refrigerante, chocolate em barra e bombons. Bem nenhum de nós fez um piquenique antes, e nem sabíamos o que comprar, oras!

A loira ajeitou tudo em cima da toalha, fazendo com que nada caísse. Observei-a enquanto terminava de organizar. Seu cabelo estava solto, e levemente cacheado. Usava um lenço em volta do pescoço, e um sobretudo azul escuro por cima da uma blusa branca e uma calça jeans agarrada ao corpo. Seu costumeiro coturno estava em seus pés e a garota tinha uma leve maquiagem no rosto. Era simplesmente a garota mais linda do mundo.

– O que foi? – Rapunzel perguntou me encarando. Sorri para a garota.

– Nada – falei, deixando um ar de desconfiança da parte dela. Lembrei-me do terceiro item de sua lista, e olhei para o Parque. Provavelmente, já teriam para comprar, tanto o algodão doce, quanto o sorvete. – Calma ai, que eu já volto – falei enquanto me levantava.

– Aonde vai? – a loira perguntou me fitando com curiosidade. Dei um sorriso travesso a ela e sai correndo em direção a entrada do Parque.

Admito, eu quase me perdi dentro daquele local. Corona pode ser uma cidade pequena, mas, o Parque que cidade tinha, não era nada pequeno. Aqueles brinquedos, as barracas, as pessoas, me deixaram extremamente confuso e acho que demorei trinta minutos para finalmente encontrar uma barraca onde vendia algodão doce. Peguei dois algodões. Um azul e outro rosa. Depois, parti em busca de alguém que vendesse sorvete.

Eu tinha certeza de que vendiam sorvete naquele Parque. Mas, naquele inverno, com neve caindo, e no Natal, acho que seria meio impossível, mas, Deus (aquele que insisti em me colocar em um filme, e eu já falei que não sirvo para contracenar) iluminou a barraca solitária que estava ao lado de uma barraca de chocolate quente. Sério mesmo?

O cara queria falir né? Primeiro, vender sorvete no inverno era raro. Agora, vender sorvete ao lado de uma barraca de chocolate quente (vale lembrar que era inverno e nevava) era para falir de vez. Aproximei-me da barraca, e vi o sorriso do cara iluminar tudo em volta. Sorri com sua felicidade e esbanjei no sorvete.

Certo, produtos comprados, agora faltava encontrar a saída.

Por mais que eu estivesse morando em Corona por quatro anos, nunca tinha ido ao Parque. Assim, sozinho, eu realmente não iria. E, nunca, nunca tinha alguém que quisesse me fazer companhia. Então, sem Rapunzel ali ao meu lado, me puxando de um lado para o outro, eu realmente estava perdido.

Quando, finalmente, eu encontrei a saída (que acreditem, não foi uma tarefa fácil. Eu com o meu orgulho, não quis admitir que estivesse perdido em um parque de diversões, então, não perguntei a ninguém), e sai dali mais aliviado do que nunca, percebi uma movimentação mais a direita.

Dei de ombros e continuei andando até o nosso piquenique. Assim que cheguei, não vi Rapunzel por perto. Depositei os sorvetes e os algodões na toalha e fique em pé, rodando meus olhos pelo local a procura da loira de sobretudo azul escuro.

Não a achei.

Olhei novamente para aquela movimentação que não tinha quando eu havia saído, e perguntei o que teria acontecido. Perdi-me em pensamentos, e só fui acordar, quando escutei o barulho da sirene de uma ambulância. Olhei ao redor, tentando encontrar a loira.

Olhei novamente para a movimentação. A ambulância havia parado. Não. As portas dela haviam se aberto e maca tinha sido descida. Não poderia ser. Percebi movimentos rápidos vindo dos enfermeiros. Realmente, não poderia ser.

Não pensei duas vezes antes de sair correndo em direção a ambulância. Empurrei as pessoas que estavam ao redor, sem me preocupar com os seus xingamentos e empurrões que recebia de volta. Assim que cheguei ao centro da coisa, vi o que eu menos queria ver.

Rapunzel estava na maca. Seus olhos estavam semicerrados, e garota olhava de um lado para o outro. Fiquei estático por dois segundos. Como? Como aquilo estava acontecendo? Como Rapunzel estava assim? Como?

A maca adentrou a ambulância, e percebi que se ficasse parado, não conseguiria me aproximar dela. Foi quando a confusão entre mim e enfermeiros começou. Empurrei o que estava impedindo que as pessoas se aproximassem e corri em direção à ambulância. Outro enfermeiro que estava do lado me agarrou pela barriga, não me fazendo conseguir chegar perto da loira.

Rapunzel! – gritei meio desesperado e já sentindo as lágrimas descerem de meu rosto. Como aquilo poderia estar acontecendo? Tentei me soltar dos enfermeiros enquanto observava um enfermeiro cuidar da loira lá dentro. – Rapunzel! – gritei mais forte. As lágrimas já estavam começando a embaçar minha visão, e isso me deixava estranhamente desconfortável. Uma máquina, que possivelmente, relatava seus batimentos cardíacos foi ligada. – Rapunzel! – Tudo estava embaçado, eu não conseguia enxergar nada, nem sentir mais nada. Tentava a todo custo me soltar daquelas duas mãos grandes e fortes que me seguravam, impedindo de correr até a loira e me desculpar. – Rapunzel! – minha voz saiu mais fraca. Porque eu havia a deixado sozinha? Porque não fiquei com ela? Como tudo isso estava ocorrendo? Porque tudo isso estava ocorrendo? Hoje era Natal! No Natal ninguém poderia morrer, as pessoas tinham que comemorar, e ganhar presentes. Ninguém poderia morrer. – Rapunzel! – De uma forma inútil, bati com o cotovelo na cara do homem, no entanto, ele me soltou por poucos segundos e consegui correr até a porta da ambulância, mas, antes que eu pudesse entrar, outro enfermeiro me segurou. – Rapunzel! – De nada adiantaria eu ficar gritando, mas eu tinha que me despedir. Tinha que dizer adeus, tinha que lhe dar um último beijo, tinha que sentir sua pele macia, tinha que sentir seu cheiro inconfundivelmente doce, tinha que ouvir sua risada gostosa, tinha que ouvir sua voz que mais parecia uma melodia, tinha que ver seus olhos brilharem de felicidade, tinha que agarrar sua cintura, tinha que lhe dizer ‘eu te amo’ novamente, tinha que segurar sua mão, mostrando a proteção que teria de mim, tinha que abraçar seu pequeno corpo e fazê-la com que se sentisse protegida, tinha que sussurrar em seu ouvido e sorrir quando visse seus pelos eriçarem, tinha que passar a mão pelo seu rosto, sentindo cada detalhe daquela pele macia, tinha que sair mais vezes com ela e beijar suas bochechas, tinha de ver suas bochechas ficarem ruborizadas com cada elogio que eu lhe entregava, tinha que ficar encarando-a enquanto fazia alguma coisa, observando sua concentração em fazer certa coisa com muito capricho e cuidado, tinha que rir novamente com seus comentários sem nexo, e sentir sua mão em contato com a minha pele, me dando um tapa enquanto ria, tinha que observar seus fios louros voar com o vento que fazia, tinha que lhe desejar feliz Natal e lhe comprar um verdadeiro presente, tinha que ser sincero e pedi-la em namoro, sem medo das consequências. Era impossível acreditar que tudo aquilo estava acontecendo.

Enquanto me debatia inutilmente com aquele enfermeiro, pude ver o outro enfermeiro que estava lá dentro com ela, olhar espantado para a máquina que media seus batimentos cardíacos e fazer um gesto para o enfermeiro que me segurava.

Meus olhos percorreram o corpo da loira, já ligado em vários equipamentos, com um enfermeiro desesperado ao seu lado, e foi parar na máquina que media seus batimentos cardíacos. Meu coração parou, minha respiração ficou mais pesada, meus gritos já não saiam, minhas lágrimas escorriam sem medo e preocupação, meus movimentos eram em vão.

Senti algo entrar em meu braço e olhei para um enfermeiro que enfiava uma seringa em mim. Provavelmente para dormir. Não liguei. Não tinha mais jeito. A loira não me ouviria mais, não me veria mais, não sentiria meu toque contra o seu, e a única coisa que eu poderia fazer era chorar mais e mais contra o seu corpo frio, branco, e sem vida. Minha visão foi ficando cada vez mais turva, minha respiração já não se concretizava como antes e tudo a minha volta estava girando. Olhei para Rapunzel, e por um mísero segundo, desejei que tudo aquilo fosse um pesadelo.


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Notas finais do capítulo

Eu ia postar esse capítulo juntamente com o outro, ambos no mesmo capítulo, mas, ai eu achei que ficaria muito grande, e decidi não fazer isso. Ai eu dividi em dois :)