A Garota dos Meus Sonhos escrita por Meire Connolly


Capítulo 4
Jack Frost não serve para contracenar




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No mesmo dia, eu a tinha levado para o beco, e ela entrou naquela porta. Sai dali feliz da vida, e fui para a casa. Ela tinha aceitado o meu convite de ir para o parque sem cigarros, como um casal normal. Ok, a parte do casal ela não falou nada. Na verdade, na hora da gente se despedir, nem trocamos um selinho. O que me deixou meio decepcionado. Mas, tudo bem.

Rapunzel não tinha falado nada da gente estar namorando, e eu tinha a quase certeza de que era o homem que tinha que tomar essa decisão. Mas sabe quando você não sabe se ela realmente quer, ou se simplesmente estão tendo um caso? É estranhamente estranho.

Para o nosso terceiro encontro (na verdade, seria a terceira vez que nós nos veríamos, e o nosso primeiro encontro), eu decidi que tudo iria dar certo, e pelo menos na terceira vez em que nos veríamos, e na terceira impressão, Rapunzel ficaria feliz. E, eu estaria apresentável.

Decidi acordar cedo no outro dia. Era meio dia quando o despertador tocou. Isso para mim é cedo, ok? Levantei-me e fui em direção ao banheiro, tomar um banho reforçado. Depois, coloquei uma calça jeans e uma blusa azul com um casaco marrom, e passei numa lanchonete, para tomar meu café/almoço.

Por fim, decidi ir primeiro á uma loja escolher uma roupa, depois iria á uma loja de presentes, comprar algo para ela, e por fim iria para casa, me arrumar e fazer um roteiro no parque.

Assim que entrei na loja, senti o cheiro de perfume masculino, e agradeci; isso, talvez, disfarçaria o cheiro de tabaco que meu casaco exalava. Andei mais um pouco, pensando no que eu poderia vestir num encontro, até um homem se aproximar de mim.

– Precisa de ajuda, senhor? – perguntou. Fitei-o. Terno, calça social, sapato social, e por fim, um crachá com ‘Alex’ escrito. Sorri para o homem.

– Preciso de uma roupa apresentável para um encontro – informei-o, que logo deu um sorriso, como se conhecesse bem essa área.

–Venha comigo, senhor – pediu enquanto caminhava até uma parte onde vários manequins estavam vestidos de diferentes formas.

– Hum, você poderia escolher alguns conjuntos e me entregar. Eu visto e seleciono – falei sem ele perguntar. Alex assentiu e saiu na direção dos manequins. Virei e vi todos os provadores. Todos com uma cortina azul na frente, e na frente de todos, um espelho enorme.

Andei até um e retirei meu casaco. Pelo menos na loja não estava tão frio. Na verdade, o dia não estava tão frio quanto estava ontem. Deixei meu casaco pendurado em um negócinho e peguei os cabides com o primeiro conjunto que Alex havia acabado de me dar.

Assim que vesti, sai, me encarando naquele enorme espelho. Sabe, quando você se olha e pensa seriamente se aquele é realmente você? Eu estava vestido igualmente á Alex. Calça e sapato social. Camisa branca, gravata azul, terno cinza. Eu estava ridículo. Se Rapunzel me visse assim, provavelmente riria e diria que eu estava ridículo. Neguei com a cabeça e peguei os outros cabides que estavam na mão de Alex.

Entrei no provador e arranquei aquela roupa ridícula, colocando a outra troca. Sai dali e me encarei no espelho. Eu vestia uma calça de couro, preta, agarrada, uma blusa branca e um blazer preto. Encarei minhas pernas e quase gargalhei, mas como eram as minhas pernas fiquei quieto e fiz cara de ridículo. Imaginem a Rapunzel me vendo assim! O encontro (sim, agora era oficial que sairíamos em um encontro, o que me deixou mais aliviado) inteirinho ela ficaria rindo e gozando da minha cara. Peguei os cabides que estavam na mão de Alex e voltei ao provador.

Troquei e sai me encarando no espelho, me sentindo satisfeito. Vestia uma calça jeans, uma blusa branca meio grudada ao corpo, outra blusa xadrez com azul preto e branco, e um casaco marrom fino por cima de tudo. Bem o meu estilo. A minha cara. Rapunzel não riria, o que me deixaria imensamente feliz, e aproveitaríamos o resto da tarde juntos. Quem sabe, até, eu não a pediria em namoro. Ok, ok, muito cedo, acabamos de nos conhecer, mas, fazer o que? Ela é a garota dos meus sonhos.

Paguei por aquele conjunto e sai da loja mais feliz. Passei em uma loja de perfume e resolvi comprar um perfume para mim. Quando perguntei a Alex (sim o cara da loja; ele se mostrou eficiente e me deu algumas dicas enquanto eu pagava) o que eu deveria dar de presente á ela, ele me respondeu que não era lá muito necessário, já que a gente nem se conhecia direito, mas, que seria bom se eu desse alguma coisa durante o encontro. Uma flor retirada do jardim mesmo, aquele ursinho de pelúcia que eu ganhei no jogo (mesmo eu achando que isso não faz o estilo dela). Então, desisti de comprar o perfume, e qualquer outro presente para ela.

Desisti de comprar por um tempo.

Assim que passei em frente a uma joalheria, tive de parar para ver. Eu havia visto uma pulseirinha de ouro com um coraçãozinho pendurado, e o melhor, naquele que eu vi tinha um nome escrito. Eu poderia comprar e escrever o meu nome. Assim, ela nunca mais se esqueceria de mim. Esqueci as dicas de Alex e entrei na loja, pedindo a pulseira e logo em seguida, pedindo para marcar o meu nome. Jack Frost. Fiquei mais aliviado quando o cara escreveu meu nome sem demonstrar já o tê-lo ouvido. Paguei e sai radiante.

Antes de ir para casa, resolvi passar em uma lanchonete. Peguei um lanche e refrigerante e fui em direção á minha casa. Cheguei, comi o que tinha que comer e fui tomar um banho. E, posso dizer, pela primeira vez, depois que me mudei para Corona, eu estava tomando um banho direito.

Lavei, esfreguei, cantei (ignorem essa parte, eu estava feliz), me ensaboei umas quinhentas vezes e quando vi, faltava uma hora para o horário marcado. Sai do banheiro tropeçando nas roupas e sapatos que eu tinha jogado pela casa e corri para meu quarto, colocando a roupa nova. Assim que terminei de me vestir, dei uma penteada no meu cabelo, mas o mantive meio bagunçado, deixado uma impressão bem legal dele.

Coloquei meu sapatênis e passei o perfume novo, numa dose, acredito, um pouco exagerada. Peguei a caixinha onde a pulseira estava e já ia saindo de casa, quando me esqueci da carteira. Taquei a caixinha em cima de uma mesa e sai correndo em busca da carteira no meu quarto. Fui encontrá-la na calça que eu estava vestindo antes, dentro do banheiro.

Corri para a cozinha e assim que peguei a caixinha da pulseira me culpei imensamente. Havia tacado a caixinha em cima de alguma coisa melequenta. No momento, eu não fazia ideia do que era aquilo. Era meio vermelho, meio branco, enfim, era nojento. Retirei a caixinha me xingando e corri para o banheiro. Peguei a pulseira com a mão limpa e a coloquei em cima da minha cama, depois, como faltava trinta minutos para o horário marcado, meti a caixinha embaixo da água que escorria da torneira.

E foi a pior coisa que eu fiz.

A caixinha, toda de veludo, ficou mais melecada, e nojenta. Além do veludo ter se grudado todo. Peguei uma toalha e tentei enxugar, mas o veludo não secava! Olhei no relógio quinze minutos. Iria me atrasar novamente. Larguei a caixinha, enxuguei minhas mãos, sequei meu suor, peguei a pulseira, enfiei no bolso do casaco e sai correndo. Correndo na velocidade da luz.

Cheguei à entrada do beco e ela ainda não estava ali. Olhei para o sol se abaixando e sorri. Seria um bom dia. Andei devagar até a porta que tinha ali, e passei a mão sobre meu cabelo, logo em seguida, resolvi enxugar meu suor com a manga da camisa xadrez. Assim que passei a mão sobre todo o meu rosto, a porta se abriu, e por um segundo, meu mundo desabou.

Rapunzel estava perfeita!

Seu cabelo loiro estava enrolado e lhe caia delicadamente nas costas. Seus olhos estavam realçados, mas não da forma da noite anterior. Bem mais bonito. Seus lábios estavam com uma cor mais clara e com um brilhinho. A menina usava um vestido branco com florzinhas rosa que lhe marcava a cintura e ficava solto depois. Usava uma meia calça branca e sapatilhas. A menina vestia somente uma jaqueta jeans e tinha um lenço em volta do pescoço.

– Você está linda! – falei sem ter o controle total de minhas palavras. A menina deu um sorriso meio tímido e fechou a porta atrás de si.

– Vamos? – perguntou.

Coloquei as costas de minha mão nas minhas costas, e Rapunzel passou o braço sobre o vão que havia feito. Sorri para a menina e começamos a andar. Andamos até o parque, quando eu lembrei que não havia feito um roteiro. Quase que me xinguei em voz alta. Andamos até a entrada do mesmo, quando a garota se soltou de mim e saiu correndo em frente a uma barraca. Sai atrás dela.

– Olha Jack! – exclamou enquanto apontava para um boneco. Era um boneco de ação, vamos assim dizer. Eu não saberia dizer quem era. – O único que falta para a minha coleção. O décimo primeiro Doctor – falou com esperança na voz. A voz de Alex pareceu retumbar em minha mente. Dê presentes durante o encontro, ganhando jogos, ela irá gostar. E ela queria aquele boneco. Sorri para a menina, e chamei o homem.

O jogo era simples e fácil. Você tinha que acertar os patinhos que ficavam rodando. Seria fácil, se eles estivessem naquela velocidade, devagar e tranquilos. Mas quando ele perguntou o que eu queria ganhar, e eu falei que era o tal boneco, ele sorriu e aumentou a velocidade, diminuindo as minhas chances. O que? Velho vagabundo. Iria piorar minha situação com a loira.

Peguei uma bolinha, das quatro que tinham ali, e mirei em um patinho, era irritante ficar os vendo rodando, e te deixava tonto, mas, como no caso era eu, e eu era um viciado, era meio difícil ficar tonto com aqueles patinhos rodando. Taquei a bolinha numa patinha com um vestido vermelho, nem chegou perto.

O velho riu.

– Ninguém nunca conseguiu ganhar esse boneco, e olha que estamos com ele faz mais de um ano.

Agora sim eu iria ganhar aquele boneco.

Peguei a segunda a bolinha, e mirei em um patinho com um casaco azul. Não sei por que, mas o relacionei com Sontag e joguei a bolinha, derrubando o patinho. Rapunzel vibrou ao meu lado, e por alguns segundo me senti especial. Peguei a terceira bolinha. Se eu acertasse o patinho, ganharia, caso contrário, teria mais uma chance para deixar a loira mais feliz.

A terceira bolinha voou na direção da patinha com o vestidinho vermelho. Rapunzel vibrou do meu lado e eu encarei a loira sorrindo, pronto para pegar o boneco e lhe entregar. Entretanto, assim que eu virei, vi a patinha em pé. Encarei o cara.

– Como aquilo não caiu? A força com que eu taquei foi enorme! – gritei mais alto. O velho deu de ombros e me mostrou a última bolinha. Cerrei os punhos. – Escuta aqui – falei me aproximando do velho, que me encarou bufando. – Você sabe quem eu sou? Cara de Neve ao seu dispor, camarada – quase gargalhei com a atitude do velho ao ouvir meu apelido, e nome no mundo das drogas. – Então, aquela patinha deveria ter caído.

– Desculpe-me, desculpe-me – falou recuando dois passos. – Toma, fica com o boneco.

O boneco que a loira queria voou em minhas mãos, e eu peguei, sorrindo para o velho.

– Foi muito bom fazer negócio com você – afirmei e me virei, vendo Rapunzel me encarando meio assustada. Droga. – Fiz errado, não?

A loira deu um meio sorriso e beijou minha bochecha.

– Você foi incrível, Cara de Neve – sussurrou em meu ouvido.

– Para você – falei lhe entregando o boneco. Rapunzel pegou e o abraçou, depois pegou na minha mão e me puxou.

– X –

– Você deveria ser escritor – a loira comentou. Eu ri para ela. Eu escritor? Ah, por favor!

A noite já reinava e o céu estava lindo. Desta vez, decidimos sentar no deque do parque mesmo. Em um canto meio afastado, longe de todos, mas aos olhos de quem passava por ali.

Rapunzel tinha o Doctor em seu colo, e comíamos algodão doce. O meu era azul, e o dela, era rosa. Bem infantil, não? Eu já havia pegado uma rosa de um homem que estava vendendo, e dei a ela. A mesma também repousava em seu colo, juntamente com o Doctor, como se ambos fossem seus filhos.

Fomos a vários outros brinquedos. Montanha russa, roda gigante, casa fantasma, enfim, vários. E, depois de um dia cansativo, resolvemos descansar. Dei a ideia de sentarmos no deque, e a mesma aceitou.

Comecei a contar para ela todas minhas ‘histórias’ como Cara de Neve, retirando risadas, suspiros e tapas da parte dela. Ria com praticamente todas as suas atitudes. E, sim, caros amigos! Eu havia conseguido colocar meu casaco marrom por sobre seus ombros! Vamos, comemorem comigo, eu sou um vencedor! Parece que eu fui para a Lua.

E, então, depois da pequena frase dela, e da minha risada nada legal, falei uma coisa meio idiota, vamos assim dizer.

– E você deveria ser minha namorada.

Isso soaria como um pedido de namoro. Lembram quando eu disse que a pediria em namoro? Bem, eu não havia planejado nada, e a pulseira que eu havia comprado ainda descansava em meu bolso. E minha jaqueta estava com ela, que legal...

Acho que a reação que eu esperava foi totalmente diferente de como ela reagiu. Bem, eu esperava que ela sorrisse e aceitasse o meu possível pedido de namoro, que saiu mais como uma afirmação. No entanto, ela ficou séria e me encarou. Sua expressão não era do tipo você pirou? Ou então, qual é o seu problema? Você é somente minha diversão! Sua expressão era estranha, mas ao mesmo tempo, triste.

– Acho melhor eu ir embora – afirmou enquanto se levantava e praticamente tacava minha jaqueta em meu colo.

– Ah claro – falei totalmente desnorteado. Não consegui acreditar em sua reação. Ela não achava que eu era diferente? Poderia me dar uma chance, então! – Tome – voltei a colocar meu casaco por sobre seus ombros, e sua reação foi diferente da primeira.

Na primeira vez que eu coloquei o meu casaco, Rapunzel riu e disse parecíamos estar em um filme de romance. Depois, ela abaixou a cabeça, com um sorriso tímido e agradeceu, dizendo que ninguém nunca havia feito aquilo com ela. Agora, quando eu coloquei o casaco pela segunda vez, a menina me devolveu um sorriso extremamente falso e se limitou a abaixar a cabeça.

Andamos em silêncio até o beco. Rapunzel me devolveu o casaco, e abriu a porta, fechando-a logo em seguida. Sem se despedir, sem falar tchau, sem depositar um beijo em minha bochecha. Fiquei ali por cinco minutos, encarando aquela porta escura e resolvi tentar descobrir qual quarto era o dela. Dei alguns passos para trás, e uma janela, a do terceiro andar, ganhou luz. A lâmpada daquele cômodo foi acesa. Era lá que a garota dos meus sonhos morava. Um dia, isso me poderia ser útil.

Continuei encarando aquela janela por, mais ou menos, quinze minutos, até a luz ser apagada. Suspirei e abaixei minha cabeça. O que eu havia feito de errado? Tudo bem, não era o melhor cara para se namorar, mas, Rapunzel havia retribuído o beijo na noite passada, e ela parecia estar feliz ao meu lado. O que tinha acontecido?

Suspirei e chutei uma pedra. Assim que sai do beco, senti algo em meu ombro esquerdo. Olhei para cima em busca de algum passarinho maldito, mas a única coisa que encontrei foram nuvens carregadas. Bufei.

Alguém avisa a Deus que eu não faço parte de um livro ou de um filme? Que eu não quero que chova toda a vez que eu fico triste? Mas que merda! Como isso é insuportável. Bufei e sai andando. Já que estava chovendo, e já que Deus não colaborava comigo, resolvi contracenar. Pelo menos, quando as pessoas ficam tristes e começam a chover, elas ficam na chuva, caminhando, e se duvidar, chorando.

E foi o que eu fiz. Continuei caminhando na chuva, com os olhares estranhos sobre mim, ignorando totalmente o fato de estar molhado e que poderia pegar um resfriado do caralho. Decidi então, parar de agir como um idiota e comecei a correr. Tudo bem, eu estava inteiro ensopado, mas ficar alguns minutos sem tomar chuva me ajudaria.

Essa é a prova de que, Jack Frost não serve para fazer papel de um personagem. Tá ligado, Deus? Não me coloque em um filme, ok?


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