Sentei-me a frente de Victoria, observando sua delicadeza ao tocar nos talheres. Ainda não acreditava. Minha grande inimiga estava sentada à mesma mesa que eu. Ela sorria, o que mais me assustava.

– Você está... Bem?

– Ora – ela riu despreocupadamente. – Qual o problema, Katharine? Não tocou em seu café.

– Eu – engoli seco. Já que Victoria estava calma, minha cabeça explodia de perguntas e respostas. – Eu gostaria de saber sobre o passado da minha mãe.

Ela depositou a xícara na mesa e levantou os olhos.

– O que deseja saber?

– Eu soube pouco. Não só da minha mãe, mas de Richard também.

– Sua mãe dizia que Richard a maltratava – começou ela, dando um gole em seu xá. – Lucinda achava ele um louco. Quando você nasceu, sua mãe não teve outra saída. Então, continuou morando com Richard. Em certo tempo, não aguentou mais. Foi quando completou 6 anos de vida. Mas, Lucinda descobriu que estava grávida, então fugiu com Jonathan. Ela apagou parte de sua memória, para não se lembrar deste lugar – ela apontou para o enorme salão.

– Então... Quer dizer que... Eu cresci aqui?

Ela assentiu, escolhendo um doce.

– Richard ficou furioso. Odiava seu irmão, principalmente por roubar sua esposa. Contudo, mandou atear fogo em sua casa, na Flórida. Ele não soube, mas, Você e Lucinda, tinham sobrevivido. Além de tudo, mal desconfiava que Peter era seu filho. Passou anos pensando que sua antiga família havia morrido. Mas, não. Lucinda estava usando uma grande barreira que os favorecia, uma barreira mágica. Estava segura lá. Quando seu irmão morreu, ela perdeu suas forças, deixando o caminho livre. A barreira se desfez facilmente, então regressei à sua casa.

– Como minha mãe alcançou os poderes? Meu avô era um feiticeiro maior também?

– Sim, seu avô e sua avó. Eram grandes líderes. Eram poderosos, ninguém ousava desafiá-los. Sua avó morreu em uma batalha, na ilha de Solaris. Já seu avô, apresentou uma morte desconhecida. Ninguém ao certo sabe. Ele desapareceu, nunca mais voltou.

– Isso é estranho.

– Muito. É o suficiente?

– Espere... E Christine? Como veio parar aqui? Ela já morava nessa mansão quando eu nasci?

Victoria hesitou. Vi seus olhos tremularem, enquanto deixada sua xícara de lado.

– Christine. Sim, ela já residia essa casa. Até cuidou de você.

– E como ela chegou aqui?

– Victoria e eu éramos muito amigas, na escola de feitiçaria.

– Espere... Victoria? – mirei em seus olhos e a analisei.

Ela tentou disfarçar, endireitando-se na cadeira.

– Ah perdão? O que estávamos falando?

– Não – a interrompi. – Espere... – ponderei um segundo e suspirei. Victoria nunca agiria assim, nem por vontade própria. Ela sorria como nunca sorriu, me dizia coisas que só uma pessoa sabia... Levantei-me em um pulo e a encarei. Os olhos azuis cintilavam. – Christine?

Ela deixou uma torrada no prato e se ergueu.

– Kat, espere.

– Mentiu para mim.

– Eu posso explicar, é uma questão de tempo...

– Eu confiei em você!

– Sente-se, por favor. Vou te explicar cada detalhe.

– Não, não, não! – cobri os ouvidos com as mãos e cerrei os olhos fortemente. – Estava do lado de Victoria desde o começo!

– Não! Eu nunca vou estar ao lado dela... Estou com você.

– Não, não está.

Ela se transformou em Christine e tocou o meu rosto. Senti uma lágrima quente incidir. Recuei.

– Desculpe, Katharine. Estava tentando lhe ajudar.

– Me ajudar?! Desculpe-me, Christine, mas não é este o tipo de ajuda que eu precisava.

– Você iria matá-la, se eu não tomasse nenhuma providência. Não podemos matá-la, Kat... Ela esconde segredos cruciais para salvar sua vida. Não estou brincando.

– Estava a defendendo! – rodeei a sala, as mãos nos ouvidos. – Não quer que ela morra! Você está do lado negro! Como nunca duvidei? Está com livro! Você, desde o primeiro dia em que a conheci... Estava na sala de Richard, na escrivaninha de Richard!

– Era uma carta para Alaris! – ela rebateu, segurando meu antebraço com força. – Uni muita energia negra para enviá-la, era impossível atravessar essa barreira. Tudo isso foi para te salvar, para salvar sua mãe!

Me soltei com vigor, exalando raiva. Enxuguei as lágrimas e a encarei.

– Não acredito em você – isso foi tudo.

Dei meia volta e saí pelo corredor sombrio. Christine ficou de pé, me observando quietamente. Entrei em meu quarto e me tranquei. Quebrei alguns objetos e me desesperei, sentando na porta, o queixo apoiado nos joelhos. Solucei.

– Ela mentiu para mim e para Raj. Estou sozinha. Estou... Sozinha.