Agatus - A Descoberta escrita por Letícia Francesconi


Capítulo 4
Ilusão Insensata


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora, pois fui viajar e não deu tempo para escrever. E agora, mais um dos sonhos delirantes da Kat...
Beijosss seus lindos ♥



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Afundei em minha cama bagunçada, jogando algumas roupas de lado. Enrolei-me ao cobertor branco, inteiramente amarrotado, que conservava uma fragrância de rosas. Eu detestava isso.

Sucumbi ao sono profundo sem mesmo perceber. Minha mente voltou-se ao delírio insano de meus sonhos vazios. Eu estava de pé. Observava o horizonte branco e inteiramente álgido. A neve encobria meus ombros, enquanto uma aura gélida passava por meus ouvidos. David me admirava com um olhar consternado. Seus olhos estavam raiados em veias vermelhas. Seus lábios não mantinham mais o sorriso inebriante que eu conhecia.

Segurava em mãos uma adaga perfeitamente detalhada.

– Não se arrepende Kat? – ele parecia arrasado – Por que fez isto? – as palavras que ausentavam de sua boca rígida, pareciam machucar a ele próprio.

Eu não entendia o que era aquilo tudo.

– Seu irmão não merecia isso. – disse David com tamanha aflição. – Sua mãe não merecia isso, eu não merecia isso! – ele alterou a voz – Devia sentir vergonha de culpar seu pai. Ele não tem culpa.

Hesitei por um instante. David estava me deixando completamente confusa. Meu pai havia morrido há anos, não entendo o porquê desse conflito tolo. Afinal, David jamais tocaria nesse assunto perto de mim.

– David. – ele ainda me fitava. – O que?

– Pare de ser ridícula Kat! Você sabe do que eu estou falando. Richard não é o único culpado nessa história toda. Eu sei do seu poder. – Disse ele lentamente. – Eles estão mortos por sua culpa. Você desejou isto. Agora, aguente.

Suas palavras ardiam como fogo abrasador. Eu estava confusa. Minha cabeça girava. David estava ficando louco. Ele estava a ponto de me golpear com a adaga em mãos, agora sobreposta acima da cabeça. Fechei meus olhos com medo do pior. Meu melhor amigo me mataria. Isso era o fim.

Um grito culminante invadiu meus ouvidos. Abri os olhos. David estava de pé, com uma espada intensamente brilhante atravessada em seu peito. Uma garota loira, ligeiramente alta, se mantinha atrás de David, segurando firmemente a espada, ainda cravada nele. Tinha certeza, seu rosto era familiar.

– Katharine, não deve confiar nesse tolo. – ela estava descontraída. Pude notar certo sarcasmo em sua voz. – Apenas me escute – ela retirou violentamente a espada enterrada em David, que caiu no chão forrado de neve. Ele gritava alto. Sua camisa estava ensopada de sangue. – Jake está nos esperando.

– Quem é você? – falei, temendo a chorar. – O que fez com ele? – minha garganta ardia e meus olhos já estavam completos de lágrimas.

A garota desviou o olhar rude de mim para o corpo ensanguentado de David.

– Não se iluda Katharine. – seu olhar voltou-se para mim. – Ele te odeia mais do que Richard, apesar de que ele é apaixonado por você. – ela parecia falar sério. David não é apaixonado por mim. – Ou melhor – seus lábios rosados, se curvaram num sorriso ameaçador – era. Que maravilha, amor e ódio juntos. – a espada passeava por suas mãos. – Pare de chorar. Jake nos espera. – ela agarrou meu pulso esquerdo fortemente, me puxando.

Rejeitei essa possibilidade. Meus pés cravaram-se na neve gélida. Ela me agarrou mais forte do que antes.

– Vamos. – ela me lançou um olhar brutal. Suas unhas eram como as garras de um tigre feroz. Empurrei-a contra uma árvore coberta pela neve. O impacto foi grande, fazendo a neve compactada na árvore chover sobre nós. Entretanto não foi possível me soltar de suas garras. Ela retribuiu o empurrão se jogando contra mim. Desabei no chão frio junto a ela. Meus olhos estavam cerrados, meu coração disparava.

– Basta. – desta vez era uma voz rígida e alta. – Diana, levante-se. – era um garoto loiro e alto. Suas feições eram compatíveis com as da garota loira.

Rapidamente, ela se levantou, retirando a neve de seus ombros e de seus cabelos dourados. Seu olhar rude mudou para assustado.

– Jake eu apenas estava...

– Calada. – ele estava irritado. Devo admitir, ele era admirável. – Diana, o que é aquilo? – ele apontou para o corpo de David. – Foi você?

Diana abriu a boca, mas em seguida a fechou. Agora estava de cabeça baixa, como uma criança que fez algo errado.

Jake respirou fundo.

– Tudo bem, agora vamos. – ele estendeu a mão direita para mim. – Levante-se.

O ignorei, levantando sozinha.

– Quem são vocês? Por que mataram meu amigo? O que...

– Basta! – Jake me interrompeu. – Você faz muitas perguntas. Seu pai a espera – ele deu uma simples pausa – no inferno! Junto com a vadia da sua mãe!

Diana lançou uma risada grotesca, seguida de outra, desta vez de Jake.

Corri ao corpo de David a procura da adaga. Jake e Diana ainda permaneciam rindo, quando peguei a adaga e corri na direção deles. Jake esqueceu a risada e direcionou a atenção para mim.

– O que é isso? – soltou outra risada – É tolice tentar matar quem se encontra morto.

Ponderei. Mortos? Então como eu poderia estar os...

– Foi você, Kat. – disse Jake – Você nos matou. Você matou a sua família. Seus desejos são irreprimíveis. Você não pode mais os controlar. – suas voz era amarga. – Eles são cruéis. Eliminam o que você odeia e o que você ama. Agora, aceite o preço da escuridão.

Tome muito cuidado com o que você deseja Katharine.

Diana riu, em seguida disparou um olhar fugaz contra mim, o sorriso ainda nos lábios.

– Seus poderes são inúteis a mim. – Jake a olhou intrigado. Diana revirou os olhos claros. – A nós.

– Sabe Katharine, uma das profecias de Agatus, diz que não devemos mexer com magia negra, apenas se soubermos lidar com ela. - disse - Haja o que houver - seu tom era novamente amargo – você está condenada...

Jake se aproximou de mim lentamente, os punhos cerrados, se mantinham colados no corpo. O olhar estreito, de um azul claro, como o de Diana, se iluminava por completo, num azul celeste arrebatador. Seus olhos agora, eram como um farol azul. Diana se posicionou ao lado de Jake, largando a espada prateada. Seu olhar estava como o de tal, uma chama, azul fulminante, queimava nele.

Era como se o vento, de repente, passasse por seus cabelos, igualmente dourados. Tudo que estava ao nosso redor, se elevou vagarosamente. O gelo queimava minha pele. Pude ver diversas pedras ao meu redor flutuando. Algumas delas giravam em círculos, formando um pequeno redemoinho de rochas congeladas. Logo se formaram vários deste, fazendo com que o ambiente se tornasse repleto de pedras. Senti-me no espaço-sideral. Jake pronunciava algumas palavras desconhecidas, como num feitiço.

Diana elevou as mãos à altura da cabeça, enquanto Jake a olhava atentamente. Era como se estivesse empunhando as pedras no ar. Ela parecia não aguentar. Eu podia ver isto. Seu rosto estava pálido, as bochechas enrijecidas. Jake já estava perdendo a paciência.

– Solte as pedras. – disse ele de modo indigesto.

Diana o fitou nervosa.

– Não posso controlar – sua expressão mudou para assustada. – é mais forte do que eu.

Jake se irritou.

– Por Agatus, não é capaz de praticar nada sem minha ajuda? – ele elevou as mãos, como Diana tivera feito antes. O brilho poderoso dos olhos dela havia sumido, agora estava como antes. Ela abaixou a cabeça, as pedras levitavam e giravam ao meu redor. Era impressionante.

Um som irritante e insistente invadiu meus ouvidos. No mesmo instante, Jake abaixou as mãos, fazendo as pedras colidirem no chão congelado. Eles se entreolharam indiferentes.

O relógio tocava alarmante e ensurdecedor, me despertando do delírio de meus sonhos.

Minhas pálpebras estavam coladas. Meu pescoço suava, apesar do tempo frio. Havia uma enorme pressão em minha cabeça. Não me lembrava de nada. O sonho foi inusitado e vago. Acho que poderia nomear de... Pesadelo.

Abri as janelas, aceitando a pouca luz do sol entrar. Ela era esbranquiçada e cegante. Pude notar que a neve ainda caia lentamente. O sol a derretia conforme passava por tal. Admirei a paisagem sombria que o tempo mantinha. As nuvens estavam espaças e pesadas, a forte brisa balançava as árvores carregadas de neve. Não havia pássaros. Era divertido e estranho de se ver.

Ajeitei meu cabelo embolado – devo admitir, estava como uma bruxa de filme de terror que David adorava ver. Escovei os dentes rapidamente, o que deixava minha mãe furiosa.

Desci as escadas velozmente, sem medo de tropeçar em um brinquedo de Peter. Afinal, ele cresceu. Era inevitável encontrar um desses brinquedinhos espalhados pelo chão. Já fui parar incontáveis vezes no hospital por descuidos de Peter.

As janelas estavam cerradas, as persianas abaixadas, deixando a casa mais escura do que ela normalmente se encontrava.

Nenhum sinal de Peter. Direcionei-me a cozinha, que cheirava a café fresco. Minha mãe estava na mesa, com os cotovelos apoiados nesta, a xícara de café em mãos. Os cabelos estavam desgrenhados ainda presos no mesmo coque de ontem. Seus olhos estavam cansados.

Ela desviou o olhar da xícara, que emitia um vapor branco, para mim.

– Bom dia. – disse calmamente. Sua voz se encontrava um pouco entorpecida.

Sentei na cadeira ao seu lado.

– Bom dia. – falei sem a olhar, com medo de que ela relembrasse da nossa discussão anterior.

Um silêncio arrebatador pairou na mesa. Ela olhava apenas para a xícara de café, sem desviar um segundo sua atenção para mim.

Logo me lembrei da festa que David tivera me convidado. Teria de convencê-la a deixar-me ir. Isto não era importante para mim, e sim para David. Lembro-me da vez em que tentei ir a uma festa à fantasia de uma amiga da escola. Foram quase três dias de discussão, pois ela queria que Peter fosse junto. Era sempre assim. Peter tinha sempre que intervir nos meus planos e nas festas que eu frequentava.

Mas agora, eu estava de castigo.

– Mãe eu – dei início, mantendo um tom convencedor – tenho uma festa para ir hoje à noite. David irá me buscar...

– Não. – disparou – Está de castigo. – ela olhou para a xícara intrigada, que agora parecia estar vazia. Ela se levantou da cadeira, que emitiu um ruído irritante.

– Mas – comecei – por que estou de castigo? O que foi que eu fiz?

Ela me olhou. Seus olhos eram de um azul brilhante. Era como se eu tivesse a insultado.

– Há tempo que você merecia isso – sua voz era firme – Você tem sido uma péssima filha nos últimos tempos e...

– E você uma péssima mãe.

Ela largou a xícara, que se fragmentou no piso limpo. Seu olhar era trepidante. Ela não esperava por essa resposta de mim, e nem eu. Ignorando a xícara estilhaçada no chão, ela se apoiou na pia, com a cabeça baixa.

– Você não irá a lugar algum, e nem Peter.

– Eu não iria levar ele.

– Calada! – ela gritou. Poucas vezes ela se alterava por minha culpa.

Lancei-lhe um olhar fúnebre. Ela não retribuiu por tal ato.

Levantei-me e subi as escadas. Tranquei-me no quarto, sem ao menos comer uma fruta. Não era habitual ficar horas sem comer.

Liguei a TV e por ali fiquei. Mas de uma coisa eu tinha certeza.

Eu iria à festa.


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Notas finais do capítulo

Ueshueshues gostaram??



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