Amor Paranoico escrita por Anna, More Dreams


Capítulo 5
My Galaxy


Notas iniciais do capítulo

Sei que demoramos, desculpa gente. Foi a vez de eu (Beatriz, ou Anna) de fazer o capítulo e eu estava um pouco enrolada, mas o capítulo está aqui e na minha opinião tá uma fofura. A Gio pediu para eu postar e dizer que ela tá morrendo de saudades de vocês, e eu também estou



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Ainda não havia entendido como podiam existir pessoas desnaturadas neste mundo para ter o trabalho de tentar argumentar sobre o fato de acharem dirigir cansativo. Como pode haver cansaço em uma coisa tão... Tão maravilhosa? E também tão relaxante? Não tenho dúvidas de que direção é a minha única terapia, e é a única que funciona comigo.

Isso com certeza só podem ser asneiras de pessoas ocupadas e cegas... Porém, não cegas de visão, mas sim, cegas de coração, de alma. De qualquer forma, dirigir é algo que faz parte de mim, é algo que faz parte do meu mundo, é algo que me faz estar no mundo.

Desde pequena, sempre sonhei com o dia em que eu, finalmente, fosse tirar a minha adorável, tão sonhada e esperada, carteira de motorista. Quando o dia chegou, meu coração se encheu de uma alegria tão estupenda e tão genuína, que a tempo não sentia. Os olhos de meu pai se encheram de um orgulho sincero.

Lembro-me também das palavras que ele disse após me soltar de um gigante e apertado abraço de urso: "Sua mãe ficaria muito orgulhosa de você". Disse isso com todas as letras, que pareciam ter sido escolhidas delicadamente, como rosas sendo colhidas pelas mãos de seu jardineiro dedicado.

E, por mais que eu saiba que aquelas palavras foram um elogio à minha pessoa, fiquei muito magoada com elas, e, admito que senti um bocadinho de raiva das mesmas rosas espinhentas.

Por mais que o tempo tenha passado, falar sobre a mamãe (ou então, simplesmente tocar em um assunto relacionado a ela) é muito difícil para mim e para meu pai também — por mais que o mesmo odeie admitir, acho que é só para eu não ficar ainda mais triste — até hoje.

E por mais que eu tenha tomado a difícil decisão, e ter jurado solenemente a mim mesma, que daria um tempo ao tempo, para que ele me curasse... Sentir falta dela é inevitável. Ela era meu sol, minha lua, minha estrela cadente, minha constelação favorita...

... Ela era — e sempre será — a minha galáxia.

***

Tive de parar após mais alguns minutos dirigindo, por conta de um único e estúpido semáforo, que quis ficar vermelho bem na hora em que eu iria passar por ele. Ele não podia simplesmente esperar mais alguns segundos? Porque tinha que ser tão egoísta?!

Isso é apenas mais uma coisa para o meu dia ficar ainda mais horrível. Primeiro fui obrigada a acordar cedo, depois tive de ir para uma consulta que não via a mínima utilidade em fazer, lá descubro que posso ficar internada e passar mais tempo do que eu realmente preciso, fui a “intrusa” de uma roda de terapia, um garoto com bulimia nervosa surtou bem quando eu estava me apresentando, o amigo dele que primeiro me encantou, me tirou do sério depois. E isso sem mencionar que ainda estou um pouco brava com meu pai.

E agora eu estou com lágrimas por escorrer de meus olhos, cansada, longe de casa, encantada por um garoto irritante e com fome.

Espera... Eu disse que estou “encantada” por aquele tal de Chase? E com fome? E... Espera, eu realmente estou chorando!

É, parece que nada mais pode estragar o meu dia, afinal, ele já está um completo desastre. Eu acho que quando o sol apareceu hoje de manhã cedo, ele teve o seguinte pensamento: “Nossa, hoje eu estou me sentindo tão bem, estarei mais quente do que nunca, farei as pessoas suarem e esse será o pior dia da vida de Ariela Parker”. É senhor sol, seus pensamentos foram atendidos como uma suplicante prece.

***

A fila do Mc Donald’s estava estupidamente enorme. Sério, a coisa chegava até mesmo dar uma pequena curva, e eu, estava no meio daquilo tudo estranhando o fato de estar com fome, afinal, já havia comido hoje. De qualquer forma, eu deveria ter trago alguma coisa, até mesmo uma garrafa d’agua serviria.

Fico naquela fila vendo uma mãe brigar com o seu filho por algum motivo desconhecido por mim, por mais alguns minutos, até que, percebo que a fila simplesmente não está andando, e saio daquele lugar com cheiro de hambúrguer gorduroso e batata frita crocante de mais para o meu gosto.

Vou para o estacionamento e entro em meu carro, dando a partida e caindo na estrada novamente, porque não quero ir para casa e encontrar meu pai lá. Ainda estou magoada e quero me dar um tempo daquele lugar. As lembranças estão se tornando um pouco que... Desconfortáveis novamente.

Então pego meu pen drive que estava no porta trecos, ponho no encaixe do rádio e aumento o volume quando R5 começa a tocar “(I Can’t) Forget About You”, e deixo que a estrada me guie.

***

A estrada me "levou" até a praia. Ok, não foi bem a estrada... Eu é que já estava com essa ideia quando sai do Mc Donald’s. Acontece que, hoje está um lindo dia (o sol não está tão quente, e há uma leve brisa no ar) para não fazer nada, apenas observar as ondas baterem nas rochas da costa...

E como eu não tenho nenhuma coisa para fazer em casa, e, em nenhum outro lugar do planeta... Decidi atender a esse meu pequenino desejo, para ver se eu fico um pouquinho mais contente.

Estacionei o meu carro em uma vaga de frente para uma barraca que dizia vender sucos e saladas de frutas, e desci do mesmo. Fui até a barraca (já que ainda estava com fome), e percebi que não havia ninguém ali, apenas um rádio tocando para o nada em uma estação de música country.

Estranhei. Normalmente quando os donos desses quiosques saem, eles deixam alguém tomando conta do lugar, mas, ali, não havia ninguém. Ou então, não havia ninguém aparentemente.

E foi exatamente por isso que eu tive a mais brilhante das ideias: ver se realmente não tinha ninguém ali, e foi por isso também que eu posicionei o meu tronco para frente, apoiando o mesmo no balcão, possibilitando assim a minha visão de dentro (digo isso, no sentido mais literal que a cena pode ter) do mesmo.

– O que, exatamente, você pensa que está fazendo? – Disse uma voz por de trás do balcão. Ok, talvez me esgoelar para ver se tinha alguém para me atender, não tenha sido uma boa ideia.

Os olhos do garoto eram de um verde imenso, seu cabelo era lindo, liso em uma tonalidade um pouco que mel, seu maxilar era perfeito, ele parecia perfeito... Parecia um anjo que tinha caído do céu só para poder entrar na minha vida e ficar com vontade de me xingar... Por ironia total do destino, a pessoa que estava à minha frente no balcão era o Chase. E eu não sei por que, mas... Quando os nossos olhares se cruzaram completamente, parece que a irritação abandonou um pouco os seus olhos verdes cintilantes. Pelo menos eu acho.

– Ariela! Mil desculpas por ter te tratado assim, é que... – Sentia em algum lugar dentro de mim que ele iria continuar falando sem parar, por isso acenei levemente com a cabeça e disse:

– Tudo bem, tudo bem! – Olhei para ele mais um pouco antes de prosseguir – Eu é quem devo pedir desculpas, afinal foi eu quem lhe deu o susto. Então... Desculpa, ok?

Ele assentiu e logo perguntou:

– O que você está fazendo aqui? – Primeiro, olhei para ele como se o mesmo fosse um E.T., depois me lembrei do motivo inicial de eu estar ali, então respondi:

– Bom... Eu estou com fome, você está atrás de um balcão que diz vender salada de frutas e eu quero comer salada de frutas. – Tentei ser o mais óbvia possível. Por favor Chase ponha esse cérebro para funcionar!

Ele assentiu e logo começou a preparar a tal salada. Ainda bem, acho que não iria conseguir ficar mais algum tempo sem nada no estomago. Quando já estava com a salada em mãos, logo tratei de pegar o dinheiro que se encontrava no bolso de trás da minha calça jeans, e dá-lo imediatamente a Chase.

– Então... – Disse colocando o dinheiro no balcão. – Até. – Me virei e comecei a ir embora, ouvi um “até” vindo da parte dele e comecei a apertar o passo, tomando cuidado apenas para não deixar a salada cair.

Quando cheguei ao carro, coloquei o potinho com a salada de frutas no teto do carro e abri o mesmo. Foi exatamente nesta hora que ouvi um grito de meu nome. Era Chase gesticulando com ambas as mãos em volta da cabeça e do corpo. Acho que ele quer falar alguma coisa comigo. Só acho.

Com um suspiro, fechei a porta do carro, peguei a salada e fiz o percurso de volta. O que ele quer desta vez?

Tinha a plena consciência de que estava com uma tremenda carranca, então, tratei de tentar desfazê-la, afinal, o garoto bem ou mal tinha sido legal comigo.

– O que é? – Perguntei arqueando as sobrancelhas.

– É que, sabe... – Começou ele enrolando – O dono do balcão já vai voltar e estava pensando se você não gostaria... Se você não gostaria de dar... Uma volta comigo na praia. – Respondeu por fim ele, como se não soubesse quais palavras usar ao certo.

Ok, isso foi quase fofo.Quase.

Fingi pensar, ou melhor, pensei realmente por uns três segundos e depois decidi:

– Uma volta não faz mal a ninguém, não é?

Ele concordou e não me restou nada a fazer, a não ser ficar sentada no banquinho comendo a minha salada de frutas e esperando o dono do quiosque chegar, o que não demorou muito, foi apenas o tempo de eu começar e terminar minha “refeição”.

– Ariela, este é o Zeke, meu primo e dono do quiosque. – Chase disse enquanto cumprimentava um garoto da mesma altura que ele, mesmo tom de pele e mesmo cabelos, porém, de olhos completamente diferentes. Enquanto os olhos de Chase eram de um verde lindo que me fazia ficar perdida e sem saber o que dizer e fazer, os de Zeke eram de uma tonalidade escura em cor castanha.

Apenas acenei com a cabeça e disse um “prazer em te conhecer”, olhei para Chase e os dois logo se despediram, de forma com que eu e Chase começamos a nos afastar e ir em direção à praia.

– Então... – Disse depois de um tempo – Porque quis vir passear?

– Por que quero te conhecer – Respondeu ele, dando de ombros.

Fiz uma careta. Ninguém nunca quis “me conhecer” antes. Não sabia nem o que aquilo significava de fato! Conhecer o que? Já fomos apresentados, então ele já me conhece. Sei que ele deve ter boas ideias em sua cabeça, mas não consigo parar de pensar em um lado ruim da coisa. Se é que existe um.

– Me conhecer? Por favor, defina “conhecer alguém”. – Ele me encarou com uma pequena careta e um esboço de sorriso em lábios.

– Conhecer alguém, saber do que agrada a pessoa e do que não agrada, do que convêm e também do que não convêm, de suas qualidades e de seus defeitos. Essa é a minha definição de “conhecer alguém”. – Respondeu, fazendo as aspas com os dedos.

– E porque você iria querer me conhecer? – Perguntei arqueando uma sobrancelha.

– Porque você parece ser uma pessoa inteligente... E legal – Chase olhou para mim e riu da enorme careta que estava estampada em meu rosto – Ah, a verdade é que eu não sei, tá legal? É só que... Parece-me interessante à forma que você vê as coisas, e isso, faz com que você seja legal.

– Gostei da resposta. Foi bem pensada – Disse.

– Obrigado, vossa senhoria – Ele fez um cumprimento estranho como os dos tempos antigo e eu ri daquele simples gesto bobo.

– Você deveria fazer mais isso, sabe?

– Sim. – Franzi o cenho. - Na verdade... Eu não sei... O que eu deveria fazer mais? – Perguntei.

– Rir, você tem um sorriso lindo. – Respondeu.

– Lindo? – Indaguei.

– É lindo. Na verdade, não é só o seu sorriso que é lindo, seus olhos são lindos, seu cabelo é lindo... Você é linda! – Disse ele meio que sem jeito e eu corei. Nunca tinha sido tão elogiada em toda a minha vida e fiquei quase sem palavras.

– Obrigada – Agradeci meio envergonhada e sem saber o que responder. – Você também não é nada mal.

– Fico honrado em saber disso.

Eu sorri e logo ele sorriu também. Ficamos alguns minutos em silêncio e admito, eu estava gostando da companhia dele. Ele parecia ser o tipo de pessoa que você sente a necessidade de falar todos os dias, pois senão, parece que falta algo em seu cotidiano. Chase Martins parecia o tipo de colega que eu estava procurando em silêncio... E parecia ser o tipo de pessoa que vale a pena perder o tempo.

Espero solenemente não estar errada.

– Que tal se nos fizermos um jogo? – Eu disse de repente, surpreendendo até a mim mesma. – Eu digo três coisas aleatórias sobre mim e você faz o mesmo. – Ele concordou e quando ia falar algo, interrompi-o – Então tá, você começa.

Ele riu, balançou a cabeça jogando aqueles cabelos lisos para um lado e depois para o outro e começou a falar.

– Fato número um: eu odeio picles, não só por que tem um gosto amargo, mas também pela tonalidade dele que é muito estranha. Fato número dois: não gosto de ficar parado por muito tempo, e, fato número três: amo biologia. – Ele parou e depois retomou a fala: – Agora é a sua vez, três fatos sobre você, senhorita.

Fingi pensar, ou melhor, pensei realmente por alguns rápidos segundos. O que eu poderia falar? Porque mesmo eu fui inventar aquela brincadeira? Acho que eu só queria saber alguns fatos dele, mas não pensei nos meus próprios.

– Hm... – Enrolei – Fato número um: já pintei o meu cabelo de castanho, mas achei que ficou estranho, por isso descolori. Fato número dois: tenho preferência por filmes de comédia, mas gosto de filmes em geral. Fato número três: acho que estava errada em relação a você.


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Notas finais do capítulo

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