Dente de leão - Após A ESPERANÇA escrita por Tanise Bach


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Volto para a casa antes que escureça completamente e adormeço rápido. Estou em um barco e vejo os cabelos loiros de Prim queimarem e caírem sobre mim, permaneço ali queimando com ela até a dor me consumir.



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Estou abraçada em um travesseiro enquanto observo o velho Buttercup se espreguiçando, tiro os fios de cabelo grudados no rosto pelo suor e sinto as lágrimas surgirem seguidas de soluços. Todas as noites sou perseguida por pesadelos e quando são como os de hoje não procuro razões para levantar, apenas me enrolo na coberta e espero a dor diminuir. Lembro-me do último inverno e de como Prim corria atrás do gato para vesti-lo com algo de lã, aquele gato estúpido era tudo o que me restou dela. Vou até o banheiro e enquanto espero a banheira encher me deparo com a imagem esquelética e assustadora no espelho, estou absurdamente magra, minhas costelas estão saltadas e é possível distinguir cada osso do meu corpo... Entro na banheira e tento me convencer de que preciso me alimentar direito, na verdade estar tomando um banho decente já é um grande passo. Sinto-me culpada pelas mortes que causei e culpada por não aproveitar a vida que muitos morreram para me proporcionar... Eu apenas não consigo esquecer a dor e não sei como fugir disso, tenho passado algum tempo me entretendo com livros ou filmes, mas nada disso parece fazer sentido afinal eu deveria estar morta com eles.
Desço para a cozinha e já encontro minha companhia matinal, Greasy Sae me serve leite e pão enquanto me conta as novidades dos distritos e coisas como uma receita de carneiro ou o casamento de alguém, eu tento mexer a cabeça e soltar alguma palavra como ''bom'', nunca gostei de conversar com as pessoas e hoje não é o melhor dia para tal coisa.
– Está preocupada com o menino não é?_ sua expressão é gentil.
– Não sei muito bem o que fazer, faz tanto tempo e... E não sei o que dizer._ Essa é a verdade dolorosa, eu não faço ideia de como agir.
– Bem, eu não o conheci muito para dizer algo, mas acredito que ele não vai exigir nenhuma palavra sua..._ ela pega minha mão e continua – Você não precisa ter medo querida! Ele provavelmente está tão assustado quanto você e todos sabem que você não é muito boa com palavras não é mesmo?_
– Acho, acho que sim._ Eu não tinha pensado muito sobre isso.
– Ainda é muito cedo, tente dormir mais um pouco e eu termino aqui._ Mesmo sendo paga para isso Greasy aparenta uma preocupação real comigo.
– Obrigada._ Forço um pequeno sorriso.
Subo as escadas e me jogo na cama, nenhum sono parece ser o bastante para meu corpo doente e devido aos pesadelos qualquer cochilo tranquilo é bem vindo. Acordo com as batidas fracas de SAE na porta me chamando para o almoço e então me lembra da primeira refeição que fizemos nessa casa, minha mãe tinha feito um cozido qualquer e Prim havia assado batatas e elas ficaram horríveis – sorrio – Gale disse a ela que estavam maravilhosas e quando Prim se distraiu ele jogou todas as que estavam em seu prato para Buttercup, ela percebeu e saiu correndo atrás dele com uma colher de pau.
Ouço vozes na rua e sinto borboletas revirando meu estômago, vou até a janela e perco o ar.Peeta estava com os cabelos mais longos e bagunçados desde a última vez que o vi, estava com um jeans escuro e uma jaqueta, segurava uma caixa enorme e gargalhava enquanto Haymitch arrastava uma menor com muito esforço. Ele parou e observou a casa, abriu a porta e desapareceu.
Não sei explicar ao certo o que senti quando vi seu sorriso e talvez uma palavra apenas resuma tudo: saudade.
Desço as escadas com as pernas ainda trêmulas e me esforço para comer um pouco, enquanto dou as primeiras garfadas me pergunto qual a razão para tanto nervosismo, afinal era ele.
– Eu lavo os pratos hoje._ digo antes que SAE comece a lavar o seu.
– Você poderia fazer algo mais produtivo não acha?_ ela aponta a porta e sorri.
– Não sei se é uma boa ideia_ digo enquanto levanto e vou até pia, começo a lavar a louça e quando estou terminando quebro um copo. Vejo o sangue aparecer em minha mão e de repente me vejo dentro da arena, Clove está em cima de mim com sua faca e estou desesperada tentando me desvencilhar, Tresh parte pra cima dela e quando dou por mim estou sentada no chão da cozinha gritando.
– Oh meu Deus! Você está bem?_ SAE me olha apavorada enquanto me ajuda levantar.
Meus olhos se enchem de lágrimas e corro até a sala, encontro a jaqueta do meu pai e a abraço enquanto choro. Vejo o sangue escorrer pelo meu braço e grito quando minha mente volta às lembranças da arena, então tudo fica escuro.

GREASY SAE POV.
A menina corre para a sala e um rastro de sangue a segue, seus gritos começam a me assustar então corro em direção à porta.
– Haymitch! Haymitch!_ onde será que aquele maldito bêbado se meteu? Ouço a menina gritar e vou à casa do garoto.
– Haymitch!_ Grito e finalmente o vejo cambalear.
– Que diabos acon._
– Katniss!_ não preciso dizer mais nada, ele sai correndo em direção a casa e o menino também.
*
Abro os olhos e estou deitada em minha cama, minha mão está enfaixada, tento me sentar mais ainda estou tonta. Seco o suor no rosto e então noto seus olhos azuis me fitando, ele me olha preocupado e quando percebe que estou o observando abre um doce e velho sorriso.
– Bem, esse não era o jeito que esperava te encontrar._ ele diz na tentativa de uma piada.
–Ah sinto muito pelo traje inadequado._ imito o sotaque da capital, sorrio. Não preciso fingir um sorriso para ele, Peeta os conseguia de verdade.
– Está tentando morrer de fome?_ ele pega meu braço fino e o observa.
– Talvez eu apenas não saiba cozinhar._ faço uma careta e puxo meu braço, ele é a única pessoa que me resta.


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