Dente de leão - Após A ESPERANÇA escrita por Tanise Bach


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Que a sorte esteja sempre a nosso favor!



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Acordo com o ar gélido entrando pela janela, ainda é cedo e a neblina cobre o verde da campina escondendo os primeiros raios de sol, o frio aterrorizava as pessoas e o inverno costumava ser a pior época do ano quando a fome e falta de recursos assombravam o distrito. Levanto-me e apago as brasas que ainda restam na lareira, o frio não me assusta mais, não posso dizer se algo ainda me assusta ou apavora, não sinto mais nada.
Vou até o banheiro e encaro as olheiras escuras que passaram a fazer parte do meu rosto e as ignoro do mesmo jeito que passei a ignorar as falhas do meu cabelo recém-cortado nos ombros após uma crise de choro, imagino o que Effie diria se me visse assim e isso me arranca um pequeno sorriso. Depois do fim da revolução as coisas mudaram, as pessoas começaram a reconstruir seus distritos e a Capital tem nos enviado recursos para hospitais, escolas e cada vez mais o distrito parece estar funcionando bem, não que eu passeie muito por ele, as pessoas ainda me assustam. Desço para a cozinha e como o resto do bolo feito por Greasy e me deparo com a imagem assustadora de Haymitch cambaleando até mim.
– Bom dia docinho!_ Ele me diz com uma garrafa em uma mão e puxando a cadeira mais próxima.
– O que você quer?_ Pergunto rispidamente.
– Seus gansos enfim morreram e você não tem mais ninguém para atormentar?
– A sorte nunca está a seu favor mesmo queridinha._
Haymitch me observa enquanto deixa a garrafa e coloca uma mão em meu ombro, seu semblante fica inexpressivo por um segundo e finalmente cospe as palavras: - O garoto, ele chega amanhã.
Sinto o peso da frase sobre mim, é como se o ar deixasse meus pulmões e fogo tomasse lugar, minhas pernas perdem sua força e caio em cima de algo. Eu tentei evitar o assunto por muito tempo e a dor de não poder tê-lo comigo me impedia de pensar na possibilidade de sua volta, afinal o que ele faria no distrito doze? Peeta não tinha mais nada a sua família se foi aqui e o amor que ele sentia por mim foi destruído pela Capital... Porque ele voltaria? Sinto minhas mãos formigarem e meu estômago se contrai diante do nervosismo, nunca fui boa em demonstrar sentimentos, mas acredito que a expressão de pânico de Haymitch tenha haver com isso.
– Você vai sobreviver._ ele diz com a provável intenção de acalento.
Em todos esses meses de dor nunca parei para pensar em como Peeta estava, me sinto culpada por isso, afinal ele não teria passado por tudo isso se eu simplesmente tivesse comido aquelas amoras. Depois que voltei da Capital me prendi em lembranças e dores vivadas aqui e na guerra, a dor e o ódio tomaram conta de mim. Perdi tudo o que mais amei, tem dias que sinto a saudade de Prim me cortar como se rasgasse a pele e dilacera-se a carne, hábitos como trocar de roupa me machucam e trazem pesadelos ao lembrar como Cinna me vestiria se estivesse aqui e mesmo depois de todos esses meses é como se o fogo ainda queimasse minha pele. Eu simplesmente ignorei o fato de que Peeta ainda estava vivo e que graças a mim havia se transformado em tudo o que não queria ser... Uma peça dos jogos. Levanto-me e deixo o velho bêbado sozinho, vou até a porta e pela primeira vez em muito tempo vou até a floresta, o meu único lar. Passo pelas árvores que escalava com meu pai quando pequena e pelas pedras onde me sentava com Gale quando caçávamos. Gale, onde ele está agora? Nunca o culpei pela morte de Prim, apenas percebi que o que tivemos nunca seria o mesmo... Passei muito tempo confundindo a amizade e o carinho com sentimentos mais profundos e quando precisei da sua amizade ele fugiu, me deixou queimar sozinha aqui. Ando pela floresta até o alaranjado do sol começar a se esconder nas colinas, o laranja me traz a lembrança dos cílios longos e loiros de Peeta e como seus olhos brilhavam quando via o pôr-do-sol. Volto para a casa antes que escureça completamente e adormeço rápido. Estou em um barco e vejo os cabelos loiros de Prim queimarem e caírem sobre mim, permaneço ali queimando com ela até a dor me consumir.


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