Tudo Por Você escrita por Renata Leal


Capítulo 4
Festa




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– Gabi! Meu Deus, você não está pronta. – Marcela invadiu o meu quarto. Tomei um susto de leve, pois estava lendo as partes que grifei no livro.

Eu tinha realmente me concentrado a tarde inteira nos estudos e estava muito confiante para a primeira prova. Fala sério, quem estuda num sábado?

– Pronta? – perguntei, estranhando.

– Sim, você não vai a festa da Vitória?

– O que? Festa da Vitória? – me lembrei da tal festa que Rodrigo me falou.

– O Rodrigo me disse que tinha mencionado com você, por isso que não te falei nada. – ela disse, abrindo o guarda-roupa.

– Ah, sim. Eu não vou não, Marcela.

– Como assim não vai? Que ânimo que você está, Gabi, credo!

– Primeiro, a Vitória me odeia. Segundo, eu disse para o Rodrigo que eu não ia. Terceiro, eu tenho que estudar.

– Primeiro, a Vitória não te odeia, eu conversei com ela, ela só estava chateada e com ciúmes, não se preocupe. Segundo, não importa o que você disse para o Rodrigo. Terceiro. Alô? Quem liga para os estudos em pleno sábado?

– Ciúmes? Sério, isso? Não. Eu não posso. Disse para ele que não ia.

– Ligue para ele e diga que vai. – ela disse, pegando meu celular e me entregando.

– Ficou maluca?

– Não. Você vai com essa roupa. – ela disse pegando uma blusa branca linda e com um tecido fininho e uma calça jeans azul que eu, simplesmente, fiquei apaixonada. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para a Letícia: vou para a festa da Vitória, a Marcela não vai me deixar em paz.

– Você enlouqueceu. Não vou nessa festa. E que roupas são essas?

– São minhas e, sim, você vai. Se veste logo, estou te esperando lá embaixo.

Antes dela fechar a porta, falei:

– Marcela, você não está entendendo. – eu disse olhando para o celular, pois a Letícia tinha respondido a minha mensagem: Que ótimo! Já estou chegando. A gente se ver lá, beijo!

– Você que não está entendendo, Gabi. Se troque, agora.

Obedeci e fui até o banheiro pensando em que desculpa daria ao ver o Rodrigo naquela festa.

۞

Eu estava completamente perdida naquele lugar e não conseguia, de maneira nenhuma encontrar a Letícia. O único problema é que se eu procurasse demais, eu podia acabar achando o que eu não queria – o Rodrigo.

Meu celular vibrou. Mensagem. Com um certo medo, olhei para a tela e, quase ajoelhando para agradecer a Deus, era Letícia. Ela me disse que acabou de me ver do andar de cima e estava descendo.

– Gabi, eu não te entendo. Se o Rodrigo te ver...

– Cala a boca, você já o viu? Tentei convencer a Marcela que eu não queria e não podia vir, mas conheço minha prima o suficiente para saber que ela não ia se convencer e que ia me trazer aqui de qualquer jeito!

– Não. Ainda não. Que coisa...

– Temos que dar um jeito de fugir daqui antes que...

– Bom te ver por aqui, Gabriela. – Vitória interrompe, mais educada, impossível, a minha agradável conversa.

– Oi Vitória. Eu só vim porque...

– O Rodrigo te convenceu. Eu sei. – ela disse em tom de desprezo.

– Não. Na verdade, foi a Marcela que quase me arrastou para cá. Ela queria muito que eu viesse. Inclusive eu disse para o Rodrigo que não vinha.

– É mesmo? Pois, vai ter que logo, logo dizer um “oi” porque ele chegou tem uns dez minutos e, como eu já tinha te visto, porém não tive tempo de falar com você, já avisei para ele que a grande amiga dele está aqui. – ela disse, levantando magicamente uma única sobrancelha e fazer aquela cara ridícula que só ela sabe.

– Que ótimo, eu queria mesmo que ele soubesse que eu estivesse aqui – para ver como eu sou mentirosa. Quase completo, mas segurei minha língua. Sarcasmo é comigo mesma.

– Então fiz a coisa certa.

– Você faz a coisa certa.

Ela me fuzilou com o olhar.

– Com licença, tenho outros convidados a atender.

– Fique à vontade – eu disse enquanto ela se esbarra no meu ombro.

– Tem como ser mais ridícula? – Letícia me perguntou. Logo notei que ela tinha se afastado ao ver que Vitória se aproximou.

– Não, impossível.

– Você está bem? Se quiser que eu ligue para o meu pai, ele vem nos buscar.

– Não, a Marcela vai ficar chateada comigo e não quero explicar para meus tios e para meus pais o motivo da minha volta inesperada.

– Tudo bem...

De longe, avistei o Rodrigo e tentei me esconder em uma pilastra logo ao meu lado.

– Ótimo, agora a festa vai começar. Ele te viu? – Letícia perguntou.

– Não, eu acho. Espero que não veja. Serei a grande mentirosa e ele nunca vai me perdoar.

– Você gosta dele?

– Ficou maluca? Eu odeio esse menino, ele é muito chato e fica me mandando mensagens me confrontando o tempo inteiro. Ele quer sair comigo e como eu não quero, invento desculpas. Mas, adivinha? Ele não desiste.

– Então, porque está preocupada em ele te ver aqui?

– Porque eu não gosto de ser grossa com as pessoas.

– Achava que as pessoas só se importavam em ser fria ou grossa com alguém, quando gostava desse alguém... Mesmo que ele fosse o mais chato de todos.

– Isso não acontece comigo.

– Você quem sabe – ela disse dando um gole no refrigerante que segurava há um bom tempo.

– Escuta, o que será que vai acontecer se ele me ver aqui? Apesar de já saber.

– Nada. Ele vai ficar chateado, eu acho. E vai te evitar, eu acho.

– E vai me odiar.

– Pensei que não se importasse.

– Eu não me importo.

– Você quem sabe – ela disse, rindo e num tom de sarcasmo. Pelo visto não sou a única que gosta de ironia.

– Para. É sério.

– Eu não estou fazendo nada.

– Sei.

– Eu juro.

– Tudo bem – eu disse, me rendendo.

É. Finalmente o Rodrigo desapareceu. Droga. O perdi de vista.

– Mudou de ideia sobre a festa, Gabi?

Eu estava ferrada. Simplesmente ferrada. O cara mais chato que eu já conheci estava tocando o meu ombro com sua mão fria e falando num tom de voz terrivelmente e assustadoramente doce.

– Ah. Rodrigo. Oi. Eu só vim por causa da Marcela. Ela só faltava me arrastar para essa festa.

– Tudo bem. Gabi, eu entendo que você não queira sair comigo – notei que a Letícia estava se afastando –, mas não entendo porque não quer falar comigo.

– Do que você está falando? – se eu fosse mais inteligente, poderia ter mandando uma mensagem para ele, avisando que iria a festa, mas a Marcela me deixou tão aflita que nem pensei nisso na hora.

– Eu sou um amigo. Eu faço de tudo para agradar você, para te animar e tentar me aproximar cada vez mais... Como um amigo, é claro. Mando mensagem e me importo com você. E você age como se não estivesse nem aí, como se eu fosse um “tanto faz” na sua vida – aquelas palavras estavam me ferindo cada vez. Eu merecia ouvir tudo aquilo. Eu sou uma idiota. Tudo o que ele queria era a minha amizade e eu estava sendo uma completa idiota fazendo um papel ridículo.

– Rodrigo...

– Eu entendo, de verdade, que você não queira passar mais tempo comigo. Talvez eu esteja te pressionando muito. Eu acho que você vai ficar feliz com o que eu vou te contar. Eu cansei, não vou mais correr atrás de você e não quero que você se importe comigo, se é que um dia se importou. Você só responde friamente as minhas mensagens, me evita no colégio, me evitou aqui na festa...

– Do que você está falando?

– Não diga que não me evitou aqui porque eu sei que você me evitou. Eu te vi chegar e não foi por culpa da Vitória que eu sabia que você estava aqui. Eu te vi. No início, eu só queria ficar com você. Eu nunca senti algo tão forte por alguém, como eu senti com você. Sabe porque eu sou assim? – eu vi os olhos dele se encherem de lágrimas. – Porque quando eu tinha onze anos, me apaixonei pela primeira vez. Não foi uma paixão qualquer, foi de verdade. Roberta tinha quatorze anos e só me desprezava, mas eu gostava dela mesmo assim e chegou uma hora que não aguentei mais e disse o que sentia. O que ela fez? Riu de mim e contou pra suas amigas, que tiraram sarro da minha cara. Um ano depois eu já tinha superado a decepção e conheci Tatiana, da mesma idade que eu. Nós gostávamos um do outro, mas ela sumiu do nada. Eu procurava ela por toda parte, mas não a encontrava. Umas semanas depois, eu recebi uma carta dela dizendo que a mãe teve que viajar de última hora e ela não teve como se despedir de mim; pediu desculpa e disse que não daria certo nós dois. Mais uma decepção. Depois disso, fui afim de algumas garotas, mas nada comparado ao que eu sentia por Tatiana. E agora, você aparece. Pois é, até você aparecer. Só de te olhar eu já sinto meu coração bater mais forte, meu sangue correr mais rápido... Até a minha respiração acelera. Eu juro que não sei o que está acontecendo comigo.

– Rodrigo, eu...

– Eu sinto muito por te deixar chateada. Eu nunca quis fazer isso. – eu não conseguia interrompê-lo, eu estava a ponto de chorar. Eu não acredito que eu fui tão ridícula a esse ponto.

– Você não me deixou chateada.

– Deixei sim. Se não tivesse deixado, nada disso estaria acontecendo.

– Rodrigo, por favor...

– Eu não sei mais o que dizer. Só que eu acho que gosto de verdade de você. Gosto como nunca gostei de mais ninguém nessa vida. Ninguém vai mudar o que eu sinto por você. Eu gosto de verdade de você.

– Para, por favor...

– Eu sinto muito. Tenho que ir – ele disse, me dando as costas e me deixando sozinha, com lágrimas escorrendo pelas minhas bochechas e o coração entalado na garganta e sem conseguir dizer uma palavra se quer.

۞


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