– Alô? – atendi o telefone.

– Ei, Gabi!

– Quem é? – perguntei.

– Rodrigo, lembra de mim?

– Ah, oi. – eu disse secamente.

– Aconteceu alguma coisa? Nunca mais te vi. Procurei você por toda a parte.

– Ah. Também nunca mais te vi.

– Pois é.

– Como conseguiu meu número? – fiquei curiosa.

– A Marcela me deu – ele respondeu. Valeu, Marcela. Muito bom você ter dado o número do meu celular sem a minha permissão para um menino que eu mal conheço e que a ex-namorada dele me acusou de ter culpa pelo término do seu namoro com ele.

– Ah.

– E ai, o que vai fazer no fim de semana?

– Não sei. Acho que vou sair – menti.

– Vai na festa da Vitória? – pelo que a Letícia me contou, por ser rica, a Vitória comemora o seu aniversário todo o ano e faz festas incríveis.

– Ficou maluco?

– Qual é? Vamos!

– Você só pode estar louco. Aquela menina me odeia. Vai me expulsar da festa.

– Não se você for comigo. Vamos?

– Se eu for com você? Pior ainda. Aquela garota é obcecada por você, se liga.

– Eu sei que é, mas eu quero ir com você.

– Bom, acontece que eu não quero.

– Ah. Tudo bem. – ele disse decepcionado. Não precisa se decepcionar, Rodrigo. Tenho certeza que a próxima que você chamar vai topar ir com você.

– Vou desligar, tenho muita coisa pra fazer. Tchau.

– Tchau, Gabi. – ele disse.

Desliguei.

Como um galinha desses, que já pegou todas, que pode conseguir tudo o que quer, quando quer e como quer, vai ficar mal por causa de uma recusa? Uma recusa. Fala sério, a próxima que ele chamar, topa sair com ele. Por que ele vai se deixar abater porque uma não saiu? Não caio nesse papo. Não sou idiota.

۞

– O que o Rodrigo quer com você? – a Letícia perguntou. Estávamos conversando já há um tempo pelo telefone.

– Não sei. Ele é esquisito. Até parece que vou na festa da ex-namorada dele, com ele.

– Você faz certo. Não saia com ele, não. Ele é um galinha. Não vale a pena.

– Isso mesmo. – falei. – Leti, eu tenho que desligar, vou ler um pouco.

– Tudo bem, Gabi. Tchau. Beijos.

– Beijos. Tchau. – falei e desliguei.

No mesmo instante recebi uma mensagem:

Não sei o que aconteceu com a garota simpática e legal que eu conheci há uns dias, mas eu estava ansioso pra ir com ela na festa. Desculpe se te ofendi de alguma maneira para você tratar tão mal quando eu te liguei. Espero que responda esta mensagem. – Rodrigo.

Ele não cansa. Chato.

Rodrigo, me desculpe por ter te tratado mal. Eu estava com a cabeça quente e acabei descontando em você. Não posso ir a festa, tenho um compromisso no dia.

Coloquei o celular em cima da mesa de canto da Marcela e coloquei no modo silencioso para ninguém – o Rodrigo, especificamente – me incomodar mais e peguei um livro para ler.

۞

São 11h38min e os meus tios vão achar que eu sou uma folgada. Não li nem cinco páginas do livros e fui dormir porque eu estava cansada demais. Olhei meu celular e ele deixou três mensagens.

Ah, eu entendo. Tudo bem. Espero que um dia saia comigo, vou gostar da sua companhia. Quer saber? A gente podia sair no sábado, o que acha? Vamos jogar boliche ou ver um filme no cinema... O que prefere?

Ao ler a primeira mensagem me deu vontade de responder: Não acho uma boa ideia, porque você não convida uma das meninas do colégio? Vai ser ótimo, você conhece a boca de quase todas não é mesmo? E eu prefiro mesmo não sair com você. Beijos, Gabriela.

Apaguei essa possibilidade no mesmo instante. Claro que eu não ia enviar aquilo. Vontade não me faltava, mas não sou esse tipo de pessoa.

Li a segunda.

Acho que você dormiu. Tenha uma boa noite. Gostei de te conhecer.

Que bom para você. Espero que a gente nunca mais se veja.

Bom dia, Gabi. Como dormiu? Estou lotando a sua caixa de mensagens, não é? Você deve estar me achando um chato, eu sei, mas eu gosto de falar com você. E então, vamos sair hoje?

Que patético. “Você deve estar me achando um chato, eu sei”. Quanto blá, blá, blá. Que irritante. Será que ele não se cansa? Será que ele não se liga que eu não quero absolutamente nada com ele?

Por fim, respondi.

Eu dormi, desculpa, estava muito cansada. Bom dia. Esse fim de semana não vai dar porque eu tenho que estudar bastante. Afinal a festa é hoje não é? Espero que se divirta.

O celular permaneceu no modo silencioso, porém não o deixei no quarto para não correr o risco da Marcela mexer. Levei para o banheiro junto a minha toalha e minhas roupas e tomei um banho frio.

Ao sair do banho, vesti-me e reparei que tinha uma mensagem.

Vai estudar no fim de semana? Ou é uma desculpa para não sair comigo? Não precisa mentir... Se não quiser sair comigo, pode falar, eu vou entender.

Se fazendo de inocente... Que lindo. Se fosse tão fácil e não grosseiro eu falava, seu palhaço. Respondi:

Mentindo? Agora você me ofendeu...

Ridículo.

Coloquei o celular para carregar e desci. Tomei um pouco de Nescau e comi um pão. Sempre reparando se a Marcela iria subir ou não. Fui ao banheiro e escovei os dentes com a porta aberta. Fui no quarto e peguei o celular.

Desculpa, mas parece que você não quer sair comigo. Qual foi? Somos amigos, não somos? O que há de errado comigo que você me evita tanto?

Bom, vamos ver. O que há de errado com Rodrigo? O que será? Estou tentando procurar algum defeito, mas está difícil. Oferecido, ridículo, aproveitador, mentiroso, fingido, chato, egoísta, prepotente... Resumindo, todos os defeitos para eu definitivamente odiar você.

Parece que não quero, mas infelizmente não posso evitar de recusar as suas propostas porque eu já tenho compromisso, me desculpa.

Ele respondeu logo.

Então, faz assim... Já que você quer sair comigo, me diz o dia que você está livre.

Ops... Droga. Agora ferrou.

Rodrigo, de verdade, me desculpa, mas acho que não vai dar por agora porque eu me preocupo muito com os estudos e quero estar sempre estudando para não deixar as notas caírem.

Não é possível que você não tenha um dia livre!

Desculpa.

Podemos estudar juntos, não tem problema.

Enlouqueceu? Está doente ou com febre. Breno veio na minha cabeça rapidamente. Professor particular. E, não, não há nenhuma possibilidade de estudarmos juntos.

Rodrigo... Por favor.

Estou sendo insistente e chato, não é?

Um pouco... Por favor, eu não quero te chatear. Estou sendo sincera.

Tudo bem, Gabi. Não se preocupe. A gente se ver qualquer dia desses, pode ir estudar. Beijo.

Beijo, Rodrigo.

Caramba... Eu acho que foi um pouco chato da minha parte colocar a culpa nos estudos. Não quis parecer completamente desinteressada para ele não se sentir mal... Se é que um menino desses se sente mal com uma recusa. Deve sentir porque todas o desejam, então ele está acostumado a ouvir muitos “sim” e raros “não”. Deve ser por isso que ele insiste tanto me mim. Ou não. Não sei, estou confusa. Só acho que ele não deveria se sentir mal, porque tem tantas que o desejam...

Finalmente. Paz. Só isso que eu quero no meu fim de semana.

Separei os livros de Física e de Sociologia para estudar hoje. Amanhã vou estudar para Química e Biologia.

۞