Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 4
Guerra fria


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, capítulo seguido :)



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No mês seguinte não consegui arrancar sequer uma palavra do Edward além de “oi”. Isso porque era eu quem iniciava a conversa. Na maior parte do tempo ele apenas me ignorava, sua atitude voltou a ser como naquele primeiro dia de aula.

Pelo menos Alice ainda falava comigo. A gente se aproximou bastante e ela chegou a sentar em minha mesa de almoço algumas vezes, o que causou estranhos comportamentos, tanto dos que almoçavam comigo quanto da família dela. Meus colegas achavam aquilo esquisito, então poucos conversavam com ela. A família dela ficava olhando com caretas de nervosismo. A única que conversava normalmente com nós duas era Ângela, que era o mais próximo de uma amiga que eu tinha ali.

No começo, logo após o acidente, eu era o centro das atenções. Todos queriam saber o que tinha acontecido, como eu estava. Como se ninguém houvesse presenciado. Repeti a história oficial várias e várias vezes: eu estava distraída quando a van apareceu de lugar nenhum. Edward estava por perto e conseguiu me puxar do caminho a tempo. Sim, eu estava mais que bem.

Quanto à história verdadeira... Ainda aguardava meu coleguinha bipolar voltar a falar comigo. O tanto que tinha de lindo, perfeito, charmoso, Edward tinha de estranho. Doía de verdade admitir isso. Quando aparece um cara como aquele...

Outra pessoa que inexplicavelmente havia se juntado a nossa mesa (já lotada) após o acidente era Tyler. Ele sempre puxava assunto comigo, como se fossemos amigos de infância. Forçava uma intimidade que não existia.

Uma noite, estava preparando o jantar (como sempre) e Jessica me ligou, toda animada, falando sobre um tal baile.

— Que baile é esse?

— Você não sabe? É o baile Sadie Hawkins, no qual as meninas convidam os meninos.

— Ah. — Eu não sabia de baile algum.

— Aliás, foi por isso que liguei. Se incomoda se eu convidar Mike para o baile?

— Por que me incomodaria? — perguntei, sonsa como sempre.

— Bom — disse após um curto silêncio. — Vocês estavam saindo e tudo mais...

— Jess, só tivemos um encontro. E não rolou nada. Sério, investe nele, vocês combinam.

— Sério?

— Sério. — Mais que sério, os dois eram a mesma pessoa em corpos diferentes.

— Que ótimo! — E então ela começou a tagarelar. Deixei que falasse a vontade no viva voz enquanto eu terminava a janta. No final, a única coisa na qual realmente prestei atenção foi quando ela disse que aquela saída, que combinamos anos atrás, deveria acontecer na semana seguinte. Para comprar vestidos e tudo mais. Eu não lembrava sequer de tê-la convidado, mas ok.

Liguei para Ângela em seguida. De maneira nenhuma enfrentaria um dia sozinha com Jessica e suas amigas histéricas. Ela adorou a ideia, parece que iria ao baile com o Eric. Sorri com a ideia, ele era uma ótima pessoa.

Depois de pensar mais um pouco, decidi chamar Alice também. Não éramos tão próximas nem nada, mas suas roupas de grife mostravam um ótimo gosto para moda. E ela era incrível como pessoa, sua personalidade era tão encantadora e cativante quanto a aparência.

Ela aceitou com uma empolgação típica e ofereceu o carro para que todas fossem juntas. Aquilo era um alívio: minha pobre picape provavelmente não aguentaria uma viagem tão longa e eu realmente presava por sua vida.

Ótimo, já tinha a viagem para a compra do vestido preparada. Só não tinha um par. Pequeno detalhe.

No dia seguinte corri para avisar Jessica que Alice nos daria carona a Port Angeles, mas ela estava estranha, quieta. Aquela não era a Jessica tagarela que conhecia e imaginei se Mike teria algo a ver com aquilo.

Alice sentou conosco no almoço aquele dia.

— Faz tanto tempo que não saio de Forks! Se não tivesse falado nada eu provavelmente continuaria por aqui — disse com sua voz de sino.

— Também estou precisando sair um pouco da cidade. Já sabe mais ou menos qual vestido quer?

— Eu tenho o modelo perfeito em mente. Acho que vou precisar procurar uma costureira, dificilmente o encontrarei em lojas.

— Eu não faço ideia de qual comprar. Não sou muito boa nisso — reclamou Ângela.

— Eu te ajudo, querida, não se preocupe.

— Alice, esqueci de falar ontem, pode convidar sua irmã para a viajem também. — Depois que liguei para ela, pensei na falta de educação que seria não convidá-la. Além disso, seria mais uma fonte de aproximação com os Cullen. Sem segundas intenções.

— Eu vou falar com a Rosie, — falou delicadamente e desconfortavelmente. — mas acho que ela vai recusar. Ela já está com o vestido pronto.

Como se ouvisse nossa conversa, Rosalie fez cara de quem comeu e não gostou da mesa que estava sentada. Decidi não insistir mais no assunto.

Mais tarde segui para a aula de Biologia. Edward estava lá, na mesma posição de sempre: sentado no canto de sua cadeira, o mais longe possível de mim, mãos cerradas e a cabeça apoiada nelas.

— Boa tarde. — Ele levantou a mão em resposta sem olhar para mim. Nem insistia em mais conversar mais que isso, depois de todas aquelas semanas aprendi que seria um monólogo.

Sentei em minha cadeira espalhafatosamente, jogando minhas coisas para todos os lados, balançando meu cabelo para perto dele e aproximando-me para pegar o que caia no chão. Um hábito que eu desenvolvi em resposta ao dele. Era engraçado assistir Edward enrijecer toda vez que eu fazia isso.

Dessa vez, ao levantar, topei com um Mike apoiado em minha mesa.

— Oi — disse como se eu não tivesse falado com ele no almoço. Ele era outra pessoa bem estranha, Forks estava cheia delas.

— Oi.

— Bell, eu... — Até hoje eu me perguntava por que me apelidaram de Bell. Bella, Isa, todos eram apelidos bem mais óbvios. E bem melhores também. — Olha, vou direto ao ponto. — Mike parecia mais nervoso que o normal — Jessica me convidou para o baile.

— Uau, que ótimo! Você aceitou certo? — Forcei uma empolgação, claro. Mike não estaria tão nervoso apenas para me contar aquilo.

— Na verdade, pedi um tempo para pensar.

— Por que faria isso? — percebi que Edward começou a prestar atenção em nossa conversa. Enxerido. Então quer dizer que eu não podia conhecer seus segredos, mas ele prestava atenção em minha vida?

— É que... Sabe, eu... pensei que você me convidaria...

— Desculpa, Mike. — Pobre criança pretenciosa. Mas aquela cena triste dele acendeu uma luz em minha cabeça. — É que pretendo convidar outra pessoa.

— Eu conheço? Por que ainda não o convidou? — Legal, agora ele estava ofendido.

— Você conhece sim. O problema é que ele parece ter alguns... Ahn... Probleminhas mentais. Mas assim que ele decidir voltar a agir feito uma pessoa normal pretendo convidá-lo. — Edward me encarou sem pudor algum. Pelo menos entendeu a indireta. — Você devia aceitar logo o convite de Jessica. Ela é linda, ótima personalidade e duvido que vá esperar muito tempo.

— É, tem razão — falou a contragosto e foi se sentar em seu lugar. Pobre Mike.

Senti que o olhar de Edward continuava sobre mim, então encarei de volta.

— Bella...

— Está falando comigo de novo?

— Na verdade não.

— Ok. — Fingi que estava prestando atenção na aula. A todo minuto parecia que ele queria dizer algo, mas nada saia. Ao fim da aula, finalmente tomou uma atitude.

— Tenho sido mal educado, não é mesmo?

— Ótima descrição. — Ele sequer pareceu se incomodar com o meu comentário.

— Desculpa.

— Aleluia! — Resolvi aproveitar seu momento “acordei do lado certo da cama” — Quer ir ao baile comigo? — Mesmo tendo escutado minha conversa com Mike pareceu surpreso com o pedido.

— Ao baile?

— Sim.

— Com você?

— Meu Deus, está difícil de entender ou quer que eu desenhe? — Edward estava realmente testando minha paciência. Sorte dele que era lindo.

— Acho que não vai dar. — Eespire fundo Bella. O ruivinho valia o esforço.

— Não precisa responder agora, certo? Mais tarde me ligue falando a resposta. Alice tem o meu número. — E saí da sala correndo. Que cara problemático.

A educação física foi pior que o normal. Iríamos jogar basquete. Meus colegas iriam na verdade, eu só tentaria escapar da bola. Claro que levei duas pessoas ao chão comigo nessas tentativas. Depois de apenas um mês de aula, meus colegas já aprenderam que eu não era tão legal quanto parecia.

Foi um alívio entrar em meu carro depois das aulas. Estava louca para chegar em casa. Já sabia que ficaria checando meu celular a cada dois minutos esperando uma ligação de Edward Cullen.

Queria muito me aproximar dele, descobrir como tinha me salvado naquele dia, e o baile era uma ótima desculpa para isso. Lidar com sua personalidade estranha seria um detalhe a superar.

Tentei sair do estacionamento, porém tive que parar. Um volvo prata bloqueava a passagem e o motorista me vigiava através do retrovisor. Falando no diabo... Parecia estar aguardando os irmãos.

Do carro atrás de mim desceu o Tyler. Droga, agora as pessoas pensavam que eu estava causando um engarrafamento. Abri a janela para me desculpar.

— Desculpa, Tyler, é que o babaca do Cul...

— Calma, não é isso. Quero falar com você. — Respirou fundo e cuspiu de uma só vez as palavras. — Quer ir ao baile comigo?

Olhei para o Volvo novamente e percebi que Edward se acabava de rir lá dentro. Idiota! Ele sabia! De alguma forma sabia o que Tyler tramava. Esperando os irmãos coisa nenhuma.

Sai de minha picape batendo a porta com força atrás de mim. Tyler pulou para trás assustado, sem entender nada. Segui em direção ao Volvo. Edward abriu a janela com a feição meio surpresa, ainda com vestígios de seus risos.

— Tenho cara de palhaça por um acaso? — Seu rosto endureceu. Não parecia esperar aquela reação. Continuei antes que perdesse a coragem. — Larga de ser infantil, Cullen. Aceite logo o convite para o baile.

Ouvi uma gargalhada estrondosa atrás de mim. Ao me virar, topei com os irmãos de Edward, que ouviram a conversa. Emmett se acabava de rir, Alice colocava sua pequena mão sobre a boca, controlando a risada. Jasper e Rosalie simplesmente pareciam descontentes com minha presença. E olha que com a loira eu ainda não tinha trocado uma única palavra.

— Ele aceita, Bella — Alice respondeu. Aquilo foi o suficiente. Voltei para meu carro sentindo as bochechas queimarem de vergonha. Eu tinha mesmo acabado de fazer aquilo? Tyler ainda me esperava, meio deslocado.

— Desculpa Tyler, mas vou ao baile com o Cullen. — Sério?

Sai do estacionamento o mais rápido possível depois que o Volvo liberou o caminho, cantando pneus.

Chegando em casa, tentei me concentrar no preparo do jantar. Acabei passando o bife e as cebolas demais, e o arroz ficou meio duro. Só agora me tocava de que iria ao baile com Edward Cullen, o cara que em um só mês me destratou, salvou, ignorou, zombou e era lindo de morrer. Ah sim, e tinha algumas habilidades extraordinárias.

Meu pai chegou um pouco mais tarde e não reclamou do jantar. O que comida pronta não fazia com uma pessoa? Lembrei então que deveria avisar a ele sobre Port Angeles.

— Pai, vou sair esse fim de semana — informei. Parecia estranho pedir permissão para sair.

— Vai aonde?

— Port Angeles. — Percebi seu olhar surpreso. — Com algumas amigas. — Aquilo pareceu aliviá-lo.

— Que bom, já fez amizades. O que vão fazer lá?

— Comprar os vestidos do baile. — Grande erro ter dito aquilo. Só me lembrei de minha mãe e seus longos interrogatórios naquele momento.

— Claro, o baile! Já tem par?

— Edward Cullen. — Eu acho.

— Cullen, ahn? — Pareceu surpreso com aquilo. — Ótima família, deve ser um bom rapaz. — E voltou sua atenção para a comida. Sério? Só isso? Morar com Charlie era menos complicado do que parecia.

Aproveitei que havia lembrado de minha mãe para ligar para ela. Renée sim teve muitas perguntas a fazer.

— Conte tudo com detalhes, querida.


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