Blood Slaves escrita por Jéssica Aurich


Capítulo 15
O pianista - Edwad's P.O.V.


Notas iniciais do capítulo

Certo, Black Star, eu tentei atender ao seu pedido e escrevi o capítulo POV Edward, espero que tenha atendido suas expectativas também :)

Boa leitura, meus amores ♥



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— Nós, seres humanos, somos insignificantes. No entanto está aqui se abrindo com um deles.

— É, estou. — Como se eu já não tivesse me tocado daquilo. Eu, que havia desistido da minha humanidade há muito, estava ali contando sobre o que desisti para o que deveria ser meu alimento. Tive que sorrir ante essa ideia. O que aquela garota estava fazendo comigo? — Bom, é isso. O tão interessante passado de Edward Cullen sobre o qual estava tão curiosa.

Contar meu passado para ela fez com que eu me sentisse mais leve, como quando eu me alimentava e a urgência da sede me abandonava. Infelizmente, uma sensação vinha junto com aquela, a certeza de que eu teria que me alimentar novamente, e novamente. A urgência sempre voltava.

— Bom, acho que agora é sua vez. O que Isabella Swan esconde?

Ela se remexeu desconfortavelmente na grama e olhou para o céu, e eu entendi que era uma maneira de não me encarar.

— Quando eu tinha 16 anos — começou enfim. — minha vida se resumia a estudar, desenhar e ler. Meu quarto virou a minha bat caverna e de lá eu só saia para ir à escola. Minha mãe decidiu que eu precisava de uma “vida” — falou, fazendo as aspas no ar com os dedos. — Ela comprou um piano usado e pagou 6 meses de aula adiantados para mim. Ou seja, ou eu fazia as aulas ou era dinheiro jogado fora. E eu costumo ter grandes batalhas com minha consciência, então resolvi fazer. Peguei o endereço e fui até o pequeno estúdio, onde me mandaram para uma pequena salinha com um único piano de calda para esperar o professor. Eu esperava um senhor de cabelos brancos e três filhos para criar, não me pergunte o porquê. Mas ao invés disso, me enviaram o Ian.

Tive uma pequena reação desagradável àquele nome. É claro que o grande fato desconhecido sobre Isabella Swan envolvia um cara.

— Cabelos castanhos, olhos verdes, alto e extremamente magro, ele era idêntico ao personagem de um livro que eu estava lendo na época e fiquei encantada com aquilo. Sua primeira aula nada teve a ver com música. Ian fez perguntas sobre mim, perguntas muito pessoais. Eu nunca fui de falar muito sobre mim mesma, principalmente naquela época, mas por algum motivo estranho respondi tudo com sinceridade. Voltei para casa assustada comigo mesma. Na aula seguinte, ele apareceu feito uma criança saltitante, me puxou para o piano e tocou uma música para mim, pedindo que eu a deixasse tocar minha alma. E ela tocou, como tocou, aquela música resumia tudo o que eu contei para ele, tudo o que eu era.

Sonata ao luar? — perguntei a contragosto.

— Essa mesma — respondeu, perdida nas próprias lembranças.

Por isso naquele dia ela estava toda estranha enquanto tocava o piano. A música a lembrava dele. Aquilo me deixou com raiva e uma sensação estranha, desconhecida. Aquela sensação me deixava com vontade de puxar Bella para mim e expulsar esse Ian da vida dela, mesmo que ele fosse apenas uma lembrança. O que estava acontecendo comigo?

— Todas as minhas lições foram baseadas naquela música, eu fui aprendendo a tocar piano, a tocar aquela melodia que tocava a minha alma. E não foi só aquilo que fui aprendendo, a cada dia conhecia melhor aquele professor que, com o tempo, foi deixando de ser apenas um professor. Começamos a sair, e descobrimos que tínhamos muito em comum. Confiávamos um no outro, gostávamos da companhia um do outro. Ele era meu melhor amigo.

“Um dia teve uma festa na escola, despedida de um colega. A festa ia ser à noite, no ginásio. Eu nunca fui o tipo festeiro, mas como era a despedida de alguém, resolvi ir. E convidei Ian para ir junto. Acabou chovendo durante a festa, o ginásio não era coberto. Houve gritos de garotas com o cabelo escovado, correria para todos os lados, Ian e eu fomos parar no carro dele, encharcados e caindo na risada, uma coisa levou a outra e acabamos nos beijando. Nós pulamos o muro da amizade e fomos para o lado do algo mais.”

Eu estava rangendo os dentes para não interromper a história. Fui eu quem pediu para compartilhar o passado. Isso não me impedia de sentir raiva extrema daquele cara, no entanto. Aquela ali era minha humana.

— No começo foi legal, eu gostava muito daquele cara, ele me fazia bem, nós tínhamos uma música só nossa, um casal normal em início de relacionamento. O problema é que o tempo foi passando, e o “cara do outro lado” foi se mostrando um cara carente, meloso, do tipo que enxergava nós dois como uma só pessoa. Mal completamos um mês de namoro e ele já tinha certeza de que eu era a mulher da vida dele e que me amava. Aquilo foi demais para eu aguentar, eu acredito que amor é algo que se constrói, é preciso tempo e dedicação, não acontece tão rápido assim. Eu sentia falta do meu amigo.

Eu estava começando a gostar um pouquinho mais daquela história. Se terminasse com o coração daquele cara partido em mil, não me importaria nem um pouco.

— Surgiu uma oportunidade para o Ian em uma cidade vizinha, um intercâmbio musical para o qual havia sido convidado. Achei que aquela seria a oportunidade perfeita para terminar o namoro, ele viajaria por um tempo, teríamos espaço para processar tudo aquilo. Foi horrível sabe, ele chorou, eu chorei, tentei explicar, mas ele dizia que não entendia, até que, por fim, eu fui para casa. No dia seguinte ele viajou, mas nunca chegou até a outra cidade. — Seus olhos começaram a lacrimejar conforme falava. — Ele sofreu um acidente no meio do caminho e a ambulância o trouxe de volta para o hospital de Phoenix. Ian foi levado para a ala da UTI, em estado grave. Eu cheguei no hospital no momento em que o levavam em uma maca, havia tanto sangue sobre o corpo dele... tanto sangue... Ian estava entre a vida e a morte e a culpa era toda minha.

Ela agora chorava de verdade, falava entre soluços. Sentei e a puxei para o meu colo, abraçando-a, dando conforto, mas tentando não interromper. Eu sabia que ela precisava colocar para fora o que a magoava tanto.

— Precisei de uma semana inteira para reunir coragem e fazer outra visita, tamanho era o remorso que eu sentia. Entrei devagar no quarto. O cheiro de hospital fazia tudo parecer tão pior do que já estava. Quando entrei, ele estava ligado a vários aparelhos e o som do seu batimento cardíaco era a única coisa que quebrava o silencio. Ele dormia, mas mesmo assim me ajoelhei ao lado dele e pedi perdão várias vezes. Aquilo era minha culpa. Minha. Ouvi seu batimento cardíaco aumentar e ele abriu os olhos. Sabe o que ele disse? Que não me culpava. Que a culpa era dele, por me amar demais. Aquilo me quebrou em mil, Edward. E logo depois um som agudo preencheu o quarto. Não tinha mais batimentos. Não tinha mais nada. Só o olhar sem vida que continuou me encarando, a decepção para sempre cravada ali.

— Bella...

— Eu nunca mais toquei em um piano, desde então. Doía demais. Até aquele dia, na sua casa.

Ela já não chorava mais, não como antes, pelo menos. As lágrimas continuavam caindo, mas ela encarava o nada, sem reação. Eu continuei abraçando, embalando como a uma criança.

— É engraçado, sabe. — falou depois de alguns minutos — Eu nunca contei isso para ninguém, nem mesmo para minha mãe. Parecia errado, eu devia guardar ele comigo, seguir com essa dor só para mim, talvez para pagar pelo que eu fiz. Mas agora, dividindo tudo isso... Não que a culpa ou a dor tenham ido embora, só que eu posso ver que tem muito mais que tristeza nisso tudo. Acho que eu preciso dizer adeus para o Ian, nos libertar, acho que já é hora, só não sei como. Você me entende?

Eu sabia que a pergunta era retórica, mas eu entendia. E como. Por quanto tempo fiquei remoendo meus sentimentos por Elizabeth, remoendo tudo o que perdi? Quanto tempo levou para finalmente deixar minha humanidade para trás? E mesmo assim tudo o que consegui foi enterrá-la fundo dentro de mim, onde eu não pudesse alcançá-la com frequência.

— Não se preocupe Bella. Vou te ajudar a fazer isso.

Aquela clareia, então, deixou de apenas parecer um santuário para realmente virar um.

********

Ainda ficamos um tempo na clareira, tivemos um piquenique ao pôr-do-sol em silêncio, apenas aproveitando a companhia um do outro e digerindo tudo o que havíamos dito. Depois a levei para casa, ainda em silêncio. Quando chegamos, ela ia descer do carro, mas voltou.

— Esqueci de te falar uma coisa.

— Fale então.

— Você não vai gostar. — O que mais poderia vir aí?

— Fale, Bella.

— Bom... Eu meio que combinei de sair com o Jake sexta. Só para avisar. Tchau.

E saiu correndo para dentro da sua casa, batendo as portas atrás de si na pressa. Ela realmente não tinha aprendido nada nos últimos dias? Nunca é bom irritar um vampiro.


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