Beatrice já se sentia muito melhor na noite de sábado, com seu vestido novo e “muito mais bonito”, como ela gostava de dizer. Ela já estava usando seu vestido azulado, que tinha as duas mangas caídas nos ombros e duas alcinhas de sustentação, flores azuis na cintura e uma saia com tule.

–Você é definitivamente a dama de honra mais linda que eu já vi – eu falei colocando a tiara de flores em cima do cabelo loiro caindo em ondas por seu ombro.

Tris da um sorriso iluminado e me olha de cima a baixo.

–E você, além de ser a melhor mãe do mundo, ainda é a mais linda.

–E isso é um exagero.

Ela faz que não com a cabeça, pega um colar dourado em cima da cômoda – o colar que Lily me entregou –, e o estende em minha direção.

–É lindo mamãe, você não vai colocar?

Pego o colar da mão dela e o examino mais atentamente, havia um escrito minúsculo atrás do pingente, mas ainda assim era legível. Mesmo assim, eu não entendi o que estava escrito, era uma língua diferente, provavelmente latim.

–Nam meus rosae – leio.

–O que significa? – Tris me pergunta com a expressão intrigada.

–Não sei – digo, franzindo a testa.

A porta do meu quarto – ou antigo quarto, na casa dos meus pais – se abre e Hugo entra, vestido com seu terno e super elegante.

–Ei princesa – ele se dirige a Beatrice. – Vovó está te chamando, ela quer ver como você ficou.

Beatrice coloca as duas mãos na cintura e olha para Hugo como se ele estivesse mentindo.

–Claro, eu não tenho mais cinco anos sabia? Eu sei que vocês vão conversar sobre alguma coisa que eu não posso saber, mas tudo bem eu vou.

Tris sai do quarto com cara de decepcionada e Hugo fecha a porta.

–Rose Weasley – ele diz. – Vou ficar de olho em você nesse casamento, mocinha.

Dou um suspiro e sorrio.

–Hugo – abraço ele, que não fica surpreso com o gesto e retribui. – Meu irmãozinho.

Bagunço seu cabelo e ele me olha com cara de bravo, mas depois sorri e arruma o que baguncei.

–Rose, se você quiser, posso pedir à Lily e podemos trocar de par quando entramos, eu entro com você e Dominique com Scorpius.

–Tudo bem, eu não me importo, isso é passado.

Ele arqueia as sobrancelhas e pousa suas mãos em meus ombros, depois me puxa para mais um abraço.

–Você é forte minha rosa, mas não precisa mentir pra mim. Eu sei que ainda é difícil para você.

Respiro fundo e encosto minha cabeça em seu ombro, não vou chorar, não valeria a pena borrar minha maquiagem por ele.

–Tenho que superar isso de uma vez por todas, mesmo que seja do pior jeito possível – murmuro. – Eu só não entendo porque a Lily fez isso.

Hugo contrai os lábios que se transformam em uma linha fina, como se estivesse escondendo algo.

–Eu também não sei, mas acredito que não foi por mal.

Assinto com a cabeça, sei que Lily nunca iria querer meu mal.

–Vamos, temos um casamento para ir.

***

Fui a primeira a entrar na igreja. Não olhei nos olhos de Scorpius e nem lhe dirigi a palavra, apenas enlacei meu braço no seu mecanicamente, como pedia as regras.

Ele também não falou comigo, até o instante em que estávamos já no meio do caminho e ele pisou na barra de meu vestido – imagino que sem querer – e pediu desculpas. Eu não pude segurar, então murmurei com a voz quase imperceptível:

–Como sempre, um grosso, não se preocupando se vai ou não ferir as pessoas, não é Malfoy?

–Me desculpe Rose – ele engoliu em seco e pelo tom em sua voz, pude perceber claramente que ele não estava se referindo à barra do meu vestido.

–Não, nem mesmo tente se desculpar, não há nada que você possa me dizer que conserte o que você fez com o meu coração.

Scorpius abaixou a cabeça e não disse mais nada, eu também fiquei em silêncio até sentarmos, Hugo e Dominique ao nosso lado.

Lily entrou chorando de emoção, o beijo que ela deu em Cole no final da celebração foi um dos mais apaixonados que eu já vi. E quando fomos tirar fotos, ela estava com um sorriso que chegava até as orelhas.

Scorpius teve que enlaçar minha cintura para algumas fotos e eu não conseguia controlar o que estava sentindo naquele momento, apesar de ainda com raiva, meu coração disparou contra a minha vontade quando senti seu toque novamente. Tão confortável, tão familiar...

Avistei Tris conversando com Alvo e a chamei, me desvencilhando de Scorpius rapidamente.

–Mon ange, você estava deslumbrante! – abracei-a o mais forte que pude sem desmanchar seu penteado. Ela sorriu para mim e se virou, percebendo a pessoa atrás de mim.

–Olá! – Tris acenou sorrindo. – Meu nome é Beatrice, mas acho que você pode me chamar de Tris, se preferir.

Ela estendeu a mão e ele a apertou com a sua, sorrindo simpaticamente.

–Oi Tris, sou Scorpius, e a proposito, você é uma garota muito doce.

Eu estava completamente paralisada com a cena, tanto que quando Beatrice me mencionou na conversa, eu meio que despertei de um transe.

–Bem, eu acho que puxei isso da minha mãe aqui – e apontou em minha direção.

–Tenho certeza que sim – ele sorriu fracamente em minha direção e eu desviei o olhar. Tarde demais, ela já havia notado a minha perturbação.

–Vocês se conhecem, maman?

–Não tanto quanto eu pensei – só de pirraça fixo meu olhar no dele, esperando uma resposta.

–Weasley, se não parar de me provocar...

–O que? O que você vai fazer, Malfoy?

Ele estreitou os olhos para mim, me desafiando a dizer mais algo.

–Tris – ouço Lily chamando-a a alguns metros dali. – Venha aqui.

Ela me olha desconfiadamente e depois finalmente cede e vai até Lily.

–É surpreendente como me esqueceu tão rápido – Scorpius diz olhando para Beatrice.

Mas que ousadia a dele dizer isso, o sangue começa a esquentar pelo meu rosto coberto pela raiva.

–E o que eu supostamente deveria ter feito? Deixado a minha vida de lado para chorar feito uma louca por você, para sempre? Suicidar-me?

Seus olhos se voltam para o teto e depois para mim novamente.

–Eu nunca disse isso.

–Eu não entendo Scorpius, você me deixou e agora, depois de anos, vem querer tirar satisfações? Eu não sou mais aquela garota fácil de deixar levar que era antes, as coisas mudam.

Viro-me para ir embora, mas ele me segura pelo braço, não forte o bastante para me machucar, mas de alguma maneira é como se seu toque me ferisse, como se eu estivesse tocando o caule da rosa magica.

Scorpius me puxa para si antes que eu possa puxar o meu braço de volta.

–Podemos conversar? – estamos a centímetros um do outro, mas eu ignoro a situação, tenho que ser forte.

Tiro meu braço de sua mão e reúno toda a frieza que consigo para dizer:

–Não tenho nada para conversar com você.