Hiho Diário.
É meu caro, aqui estou eu novamente com as mãos calejadas de tanto dar pedrada e tacar lanças em monstros, mas pronto para lhe contar as boas novas meu velho. Lógico, dentro do templo. Esses templos são lugares sagrados, diário, e não podemos de forma alguma duelar nessa área. Não que eu tenha medo meu amigo, mas para registrar minhas aventuras, preciso estar em um local seguro mesmo. Sempre tem alguém maloqueiro por aqui que tenta judiar da gente sabe?! Sou obrigado a recorrer a esses lugares também. Mas ta, não importa, importante que to vivo e cala a boca.
- preciso comer, já to ficando maluco. .

É normal questionar a vida, ainda mais quando não estamos em melhores condições para poder ter uma vida tranqüila. Eu achava que Rookgaard era o inferno meu caro, mas não, estava muito enganado. Aqui sou obrigado a dormir na rua, treinar, me esconder, caçar, fugir. Eu que reclamava da violência que presenciava na minha vila, onde eu estou hoje não me assusto com o coitado morrendo do meu lado e sendo roubado. É “embaçado o bagulho” aqui.
Desde minha chegada, diário, eu achei que a iria me sentir mais seguro, feliz, que realmente as coisas seriam fáceis. Aprendi agora a não ter pensamentos precipitados.
Toda rotina que eu trouxe de Rookgaard deixei de lado. Meus olhos hoje, vêem que além do horizonte existem montanhas muito maiores para tentar chegar ao topo. Consigo ver realmente que o mundo que acreditamos ser tão imenso não está no giro que damos em torno de si próprios, mas sim nos passos que daremos nos lugares onde nossos olhos perceberam diante do giro. Pois é diário, é assim que traçamos nossos caminhos para nossas buscas, sem mesmo saber o que buscar, apenas pelo prazer da conquista.

Mas chega de “lenga lenga” que eu quero lhe contar sobre as loucuras que passei e presenciei.
Tudo começou com as dicas de Sir Bozo. Logo eu, que não entendo nem porque o pijama que eu usava era azul, vou lá saber por que fui querer ser paladino?! Mas tudo bem. Escolha feita não tem volta. Peguei as pedras como Sir Bozo recomendou e fui lá treinar. Como? Simples, diário, tacar nos bichos. Puxa vida, me senti tão mal por escolher essa profissão maluca. Eu sei que é normal matarmos monstros com espada, usando escudo, é digno, luta corpo a corpo sabe diário?! Mas estufar os bichos de pedrada até matá-lo? Pois é. Fiquei horrorizado com o primeiro Trol que peguei. Ele veio bem faceiro, com aquele jeitão de “songo-mongo” dele gritando: - Hummm!... Dogs! – E já comecei a arremessar as pedras que juntei e estava em minha sacola. Ele foi se machucando, ficando irritado, eu correndo e tacando, ele ficando fraco, mais fraco, muito fraco, fugindo e comecei a correr atrás. Mas me deu dó do bicho, diário, ele já tava parecendo um urso de pelúcia surrado com o tempo sabe?! Mas surrado de pedrada mesmo, com tufos de pelo no chão ele agonizava ainda. Peguei o pouco do dinheiro que esses Trols carregam. Não sei qual a finalidade do ouro nas mãos desses bichos tão burros, mas na minha é essencial hehe! Então meu caro, por mais que fiquei com dó do bicho, segundo Sir Bozo que parece que num tem sentimentos (pois contei a ele sobre o coitado do Trol e ele ria) me dizia que era bom caçar desta forma, pois assim ajudaria a desenvolver minhas técnicas à distância. Ta, e por quais motivos quero desenvolver técnicas à distância?! Foi a primeira vez que vejo Sir Bozo irritado diário, quando perguntei isso a ele ouvi aos berros: - SEU IDIOTA VOCÊ ESCOLHEU PALADINO PRA QUE? PRA JOGA DARDO DE CERTO? – Obviamente fiquei calado, de cabeça baixa fui saindo e continuei a surrar outros bichos com pedras, e com lanças também. As lanças eram interessantes, mas eu sempre errava. Era muito normal eu perde-las, pois, a cada um Orc que eu acertava, corria de quatro... De quatro Orcs, diário.

É estressante, meu caro, mas sabe aquelas sensações que eu tinha quando batia nos bichos com espadas e me defendia?! Aqui sinto isso quando estou tacando lanças e pedras nos monstros. E minha mira ficou boa até. Já parei de acertar os outros. O ultimo acidente foi eu estar mirando num Orc e um rapaz entra em minha frente, por engano acabei embolando o moleque na cabeça, fiz até sangrá-lo. Pedi desculpas e tudo mais, porém o menino saiu desesperado dali gritando: - PK! PK! VOU CHAMAR MEU AMIGO. – Será que precisava tanto só por causa de um acidente diário?! Bom, até ai tudo bem sabe, foi engraçado. O problema maior foi que realmente veio um amigo dele, mais forte, por sua aparência dava para notar que o bravo guerreiro conhecia bem as terras de Thais. Mas no final deu tudo certo, diário. Conversei com o rapaz, expliquei que foi um acidente, ele acreditou, mas falou para que eu ficasse “esperto”. Mais esperto que já sou impossível. Sou um mar de esperteza, um oceano de inteligência. Desculpe meu caro diário, mas eu sou “foda”. O que foi hilário foi ele dando bronca no garoto que acertei a pedrada, era coisas do tipo: - “Se é burro também. O cara é tão fraco quanto você e se me chama pra isso?!”... – Ofensas à parte, mas é sempre bom evitar bater boca com os antigos moradores desse vilarejo.

As cavernas aqui são complicadas para exploração. Sempre tem alguém e precisamos respeitar a pessoa que chegou antes. Uma chatice. Acredita diário, que cheguei a ver um bilhete na entrada das cavernas com os dizeres: “Lady Cicrana caçando aqui”?! – Fiquei de boca aberta. Isso já é o cúmulo do egoísmo. Como pode um local que é praticamente considerado “patrimônio público” poder ter algo assim? Como se alguém fosse dono? Eu fico louco. Mas tudo bem, aqui não dá pra abusar da boa vontade. Fiz o que Sir Bozo me pediu no dia mesmo, diário, depois voltei para depositar no banco um pouco do dinheiro que juntei. Antes que eu pensasse em guardá-lo, Sir Bozo me levou até a loja dos paladinos. Lá, eu fiz uma aula rápida de magia. Diário meu caro, é impressionante. Vou falar baixinho aqui, mas... “Eu dou a luz”. Verdade meu velho, gastei alguns “mangarotes”* e posso fazer luz meu amigo. Foi legal. Lá na loja, conversei com “Elane”. Pedi a ela que me ensinasse a fazer luz, ela fez com que eu fechasse os olhos, me concentrasse, e pronto. Senti uma leve sensação de que minhas mãos poderiam fazer algo, um formigamento ou sei lá. Pensei até em dar uma bordoada na cara de Sir Bozo pra ver se passava, talvez ele achasse engraçado isso, mas não fiz. Fiz apenas o que ele me pediu. Falou para que eu dissesse “utevo lux”. - Utevo lux? - Disse eu questionando e como se minha aura ficasse visível, iluminando todo o ambiente. Fiquei impressionado admirando em meu corpo brilhoso a luz que me envolvia. Sir Bozo recomendou para que eu comesse algo regularmente, assim eu poderia fazer magia sempre e desenvolver essa habilidade também. É estranho, por mais que eu esteja feliz diário, algumas coisas parecem ser tão irreais que é difícil acreditar ainda. Jamais eu me imaginaria “dando a luz”. Mas minha frase “utevo lux” já virou um “tic-nervoso”. A todo o momento estou cantarolando “utevos luxs”. Mas sempre tem um momento que falha. Sou obrigado a me alimentar mesmo estando sem fome apenas pra recarregar as energias e voltar a dar a luz.
Pois é meu caro diário, coisas boas e ruins sempre acontecem, mas sigo firme e forte pra continuar vivendo. Já vou indo, pois tenho que me preparar para estrear o meu arco. Estou louco para conhecer os “Cyclops”, os “Minotauros Guardiões", bichos que precisam ser mortos por aqui. São considerados ameaças. Quero tentar tomar algum banho, ou lavar as mãos pelo menos, estou meio sujo depois de uma infestação de ratos que teve aqui na Praça de Thais. Mas em breve te conto todas as “novas”. Até mais meu caro. Urgh! Que fome do caralh....