Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 24
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Obs: Leiam a parte do Alec e da Shellby ao som dessa música: http://www.youtube.com/watch?v=oQfXH9gOjFw

Obs²: Leiam a parte do Mizu ao som dessa música: http://www.youtube.com/watch?v=7H47oQH1TW4

Ah, só o que interessa dos vídeos são as músicas mesmo, aff. qq



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/44619/chapter/24

"Certa madrugada fria, irei de cabelos soltos ver como crescem os lírios. Quero saber como crescem simples e belos - perfeitos! - ao abandono dos campos. Antes que o sol apareça, neblina rompe neblina, com vestes brancas, irei. Irei no maior sigilo para que ninguém perceba, contendo a respiração. Sobre a terra muito fria dobrando meus frios joelhos farei perguntas à terra. Depois de ouvir-lhe o segredo, deitada por entre os lírios, adormecerei tranqüila."

 

(Os Lírios, de Henriqueta Lisboa)

 

 

 

Shellby POV On.

 

 

         Anoitecera, e sozinha eu permanecia. Rumores cada vez mais próximos e um silêncio impertinente que fazia zumbir meus ouvidos de maneira desconfortável: aquele era o escuro. Nem para o céu eu podia olhar, admirando a bela lua e as estrelas de diamante. Não havia lua ou estrelas naquela noite. O céu estava encoberto por uma camada negra, uma neblina fumaçenta que engolia Priston na penumbra, revirando-o em seu estômago vazio. Meu coração tremia, tremia mais do que em qualquer outra noite. Tremia por pensar que poderia não existir para mim outra noite. Tremia por imaginar que tudo seria destruído por um tufo violento, que arrasaria céus e terras, transformando aquele mundo em um inferno flamejante. Tremia por sentir medo de que Alec não voltasse, medo de que ele se perdesse para sempre de mim.

 

"- Então Deus me dera o amor para que eu apenas conhecesse o doce sabor daquele sentimento?" - grunhi dolorosamente no fundo de meu coração aflito

 

         Deixei que meu corpo desanimado caísse sobre a pequena cama no fundo da barraca escura, esparramando meus cabelos no travesseiro macio e frívolo quando o grande chapéu abandonou minha cabeça, indo em direção ao chão. Meus olhos vagavam perdidamente pelo teto daquela sutil tenda, sutilmente lacrimejantes. O aperto que ameaçava esmagar meu coração era cada vez mais doloroso, mais cruel. Onde Alec estaria naquele momento? Talvez, perdido no breu noturno assim como eu. O tempo passava rapidamente, tão veloz quanto o som que se dissipa abafado em uma tempestade. Meu tempo estava acabando, nosso tempo. Eu precisava encontrar Alec antes que fosse tarde demais, e dizer o quanto eu o amava, o quanto eu o queria eternamente.

         Ergui-me da cama em um silvo eufórico, pronta para me lançar porta à fora na procura desesperada por meu amado, quando sublimemente seus olhos verdes dançaram graciosamente diante dos meus. Nosso tempo havia congelado naquele instante.

 

- A.. Alec? - murmurei chorosa, desabando após um suspiro aliviado que me fez sentir uma leve pluma a planar no ar - Alec! - sibilei ofegante enquanto me jogava na direção de seus braços quentes, deixando que as protuberantes lágrimas descessem de meus olhos na forma de incontroláveis cataratas; soluços brotavam de minha garganta, apressados, atropelando uns aos outros, embora o que eu mais desejasse era poder falar o quanto eu estava nostalgicamente feliz

 

- Eu disse que voltaria. - ele disse gracioso, sorrindo afável enquanto seus braços se fechavam ao redor de meu corpo, protegendo-me com sua estatura grande e calorosa; não importava o que acontecesse, eu não podia controlar o pranto desesperado

 

- Alec, você..! - solucei novamente, sentindo todo o meu corpo tremer ouriçado junto do seu; meus braços apertavam-se ao redor de seu tronco palpitante, praticamente esmagando-o, enquanto meu rosto estava colado ao seu peito, proporcionando à minha orelha ouvir os batimentos macios de seu coração - Você voltou para mim! - sussurrei comovida

 

- Acha mesmo que eu a deixaria sozinha? - ele brincou sorridente, erguendo meu rosto ao tocar os dedos na base de meu queixo trêmulo; seu olhar carinhoso invadiu o meu, confortando-me de uma maneira que apenas Alec sabia como fazer; seu olhar era doce e corrosivo, totalmente capaz de dominar-me - Não seja tola, Shellby. - disse ele, delicado ao afagar meu rosto úmido

 

- Você demorou. - murmurei, então contendo os soluços e convulsões de meu corpo; meu rosto estava docemente próximo ao dele, de modo que conseguia apreciar sua respiração tocando minha face

 

- Me desculpe. - pediu ele, e como eu poderia resistir àquela voz macia e arrastada badalando em meus ouvidos - Agora, eu só quero você. - disse Alec sorridente quando sua boca tocou o canto de meus lábios; sua mão acariciava delicadamente meus longos cabelos negros, posicionando-os atrás de meus ombros

 

- Eu... - vacilei devido à proximidade, cerrando os olhos com um tremor que percorrer todo o interior de meu corpo, desde os pés até os fios de cabelo - Eu te amo. - enfim revelei, embora eu soubesse que aquilo não devia ser uma total novidade

 

- Shellby... - ele sorriu gracioso e satisfeito, envolvendo simetricamente seus braços ao redor de minha silhueta, e naquele abraço me trazendo para junto de seu corpo - Então você..? - ele sussurrou ao pé de meu ouvido, suavemente

 

- Sim. - assenti segura, embora meu corpo ainda tremesse - Eu quero ser sua. - suspirei, e uma sutil curva tomou conta de meus lábios

 

         Aquilo não foi um pedido, mas sim uma ordem de meu coração. Alec e eu, éramos um só. Seríamos um só mesmo que a vida nos separasse, mesmo que a morte nos levasse, mesmo que nascêssemos em outros mundos. Seríamos um só desde que nossos corações não negassem aquele sentimento. Seríamos um só para sempre, um único amor.

         Alec passou seu elegante braço por trás de minhas pernas, erguendo-me junto a seu peito. Para que servia o chão se podíamos voar? Delicadamente, enquanto seus lábios saboreavam os meus, ele depositou-me sobre a cama. Iluminados pela tênue claridade do abajur sobre a mesa ao canto, eu abri os olhos para apreciar o perfeito rosto de Alec. De tão perto, seus olhos fechados transpareciam serenidade, fascinando-me. Envolvi meus frágeis braços ao redor de seu pescoço, eletrizando-me ao sentir o quão sua nuca ardia febrilmente. Suas mãos, seus lábios, seu peito, seu corpo inteiro ardia do mesmo modo, com a mesma intensidade. Senti que jamais conheceria o frio, pois Alec era incrivelmente caloroso. Sua boca ávida passeou por meu queixo, descendo por meu pescoço e alcançando meu colo alto, agora incrivelmente corado por efeito dos beijos que ali eram depositados. Meu coração desejava saltar do peito, abrindo um rombo em meu corpo para proporcionar alívio ao calor que crescia dentro de mim. Suspirei ansiosa, como se fosse me afogar com o próprio ar, quando uma mão grande e agradável tocou o alto de minha perna, ousando profanar o tecido que cobria minha pele pálida. Instantaneamente, sua mão parou, assim como seus lábios que acariciavam o topo frágil de meu ombro, então desnudo pela gola do manto que fora forçado a deslizar para o lado. Senti a respiração de Alec tocar minha pele, aquecendo-me graciosamente.

 

- Quando a chuva cai... - ele começou, murmurando com sua voz incrivelmente lasciva e macia - Eu sempre penso em você. É bonito, é calmo, suave de se ver. É como você, Shellby. - ele deu uma pausa, ocupando aqueles breves segundos com um delicado beijo na pele alva de minha garganta, então continuou, roucamente - Mas eu não consigo impedir que meu corpo entre debaixo da chuva, não consigo apenas olhar, eu preciso sentir o frescor na palma da minha mão. Eu sou ainda uma criança, deslumbrado com o encanto da chuva. Então, apenas me deixe sentir. Eu prometo ser cuidadoso, o mais cuidadoso do mundo. Porque Shellby... - ele sussurrou meu nome, tocando seus lábios na orla de minha orelha - Eu amo sentir isso. - revelou, docemente

 

         Desmoronei por completo. Alec sabia me tocar profundamente, fazer com que meu coração se comovesse, fazer-me sentir coisas boas, e eu nem sabia como ele fazia aquilo. Acolhida naquele invólucro de amor, aquecida debaixo do corpo gentil de Alec, do homem que eu realmente amava, entreguei-me sem hesitar. Eu dissera, praticamente afirmara, que desejava ser dele. Aquela poderia ser nossa última noite, e se fosse eu não me importaria com pendência alguma quando tudo acabasse. Eu acabaria junto com ele, e tudo estaria bem para mim. Eu dissera o que meu coração por tanto tempo guardara na solidão, provara do sentimento que me fora correspondido, apreciara os mais sinceros beijos. Eu tinha tudo o que queria, bem ali rente ao meu corpo. E então se tudo terminasse ao amanhecer, eu estaria feliz com a lembrança de que para Alec eu seria sempre como a chuva. Sobre a mesa, repousavam docemente lírios brancos.

 

 

Shellby POV Off. Mizu POV On.

 

 

         Oh, como eu era sozinho e melancólico na ausência de Hakuna. Sem ela, minha luz se apagava, se tornava longínqua e tristonha. Sentado na varanda de minha casa meramente iluminada, eu percebia quanta falta me fazia aquela mulher. Era uma saudade apertada no peito, nostálgica, dolorosa de ser mantida. A lembrança rosada de minha Sacerdotisa vinha e partia de minha memória, transformando minhas doces recordações em uma espécie de flashs luminosos. Seu rosto sorridente surgia diante de meus olhos, e então quando eu tentava alcançá-lo com minhas ávidas mãos, ele desaparecia no ar como uma frágil fumaça. Seus olhos reluziam em minha mente, como se tocassem meu coração, forçando-o a fraquejar diante da ausência dela. Aquilo era realmente a imagem da dor da saudade.

 

"- Hakuna, onde você está?" - delirei, sentindo-me tão longe da felicidade, da vida que me abandonara com a partida de Hakuna

 

         Imaginei o que ela estaria fazendo naquele momento, se Mystic estava tomando conta de minha amada com cautela. Recusei-me a pensar o pior, o tortuoso. Hakuna incrivelmente não combinava com pensamentos pessimistas, escuros. Quando eu pensava nela, eu só pensava em doçura, em sorrisos calorosos. Ela era como o sol do amanhecer, frágil e belo, essencial para a vida do sol do quente meio-dia que era eu. Subitamente, sublimes recordações me engoliram nostalgicamente.

 

Flashback On.

 

         "Na véspera de Natal, Richarten costumava ser a mais bela cidade do continente. Era como um sonho caminhar por entre as guirlandas e fitas vermelhas a sustentar grandes esferas douradas e prateadas no alto das árvores e portas. As pessoas se tornavam amistosas como nunca, sorridentes como se fossem presenteadas durante todo o dia, como se voltassem à infância para brincar com bonecos de neve com narizes de graveto. Hakuna, mais do que eu era fascinada pelo brilho natalino, deslumbrando-se com a transformação radiante.

         Naquela tarde, ela havia me levado para Richarten, praticamente suplicante. Encantado pelos largos sorrisos de Hakuna, fui facilmente convencido sobre aquele passeio. Caminhávamos de braço dado pelas ruas enfeitadas, admirando cada detalhe que reluzia em contato com o sol agradável.

 

- Olhe, Mizu! Morangos cristalizados! - ela disse radiantemente surpresa, apontando para a vidraça de uma confeitaria; pude notar seus olhos brilharem na direção do prato de morangos coberto por fino açúcar

 

- Hum, parecem bons. - sorri, passando o braço delicadamente por cima de seus ombros quando ela se curvou diante da vitrine

 

- Vamos comprar alguns para nossa Ceia de Natal! - propôs ela, erguendo-se novamente para me fitar com seus orbes rosados e suplicantes; como eu poderia resistir àquele meigo olhar da mulher que eu amava? - Por favor... - pediu ele, cruzando as mãos pequenas e pálidas em frente ao rosto enquanto sorria delicadamente para mim; certamente, ela sabia que já havia ganho

 

- Certo, mas só alguns. - assenti risonho - Afinal, não queremos falir antes de casar, não é? - lembrei com ironia, enganchando suavemente meu braço no seu outra vez

 

- Claro, amor! Não se preocupe, sou uma mulher muito econômica. - disse ela sorridente e entusiástica enquanto me puxava para dentro da confeitaria, divertidamente saltitante; algumas vezes, ela divertidamente se parecia com uma garota de doze anos de idade

 

- Assim espero, hum. - murmurei sutilmente zombeteiro, satisfeito por poder fazer Hakuna feliz com o meu amor

 

- Então, o que vão querer, meus queridos? - uma simpática senhora de cabelos acinzentados presos em um coque no alto da cabeça perguntou, cerrando seus pequenos olhos quando seu rosto sorriu para nós dois

 

- Uma dúzia de morangos cristalizados para levar, por favor. - pediu Hakuna, com a mesma simpatia da confeiteira

 

- Uma dúzia?! - repeti atônito, encarando-a - Você disse que era econômica. - lembrei derrotado, soltando um longo suspiro

 

- Mizu, não vá ensinar nosso filho a ser pão-duro! - brincou ela, pousando as mãos sobre a barriga ainda pequena

 

- Hunf, lá vem você de novo com essa chantagem. - disse ironicamente, depositando minha mão sobre as dela no alto do ventre

 

- HAHA! - ela riu extrovertida, então calando-me com um doce beijo sobre os lábios; o beijo de Hakuna tinha gosto de mel

 

         Por mais frágil que parecesse ser, ela sabia exatamente como me dominar, como conseguir as coisas de mim. Nenhuma outra pessoa poderia ter tanto poder sobre mim como ela tinha, de uma maneira tão delicada que me fazia querer cada vez mais aquela mulher ao meu lado. Naquela época, eu não entendia como as coisas realmente aconteciam ou deixavam de acontecer, mas eu já tinha certeza que o amor que nutria por Hakuna jamais abandonaria meu coração."

 

Flashback Off.

 

         Pelo resto da madrugada, eu permaneci a ruminar aquele silêncio, esperando ver a imagem iluminada de Hakuna chegar a cada instante. Dolorosamente, ela não voltou. Eu podia sentir o coração dela dentro do meu, e aquilo me fazia sofrer enquanto a escuridão da noite desaparecia.

 

 

"Onde você está, meu amor?"    


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Priston Tale" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.