Priston Tale escrita por Yokichan


Capítulo 16
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Cap curtinho por motivo de sono. q



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Ariel POV On.

 

 

         Destinada a passar meus dias a guardar aquelas paredes descomunalmente altas, eu começara a entender o verdadeiro sentido do "aprisionamento de bom grado". Pouco à pouco, na medida em que meu coração ia descobrindo o que nunca me fora revelado por incertezas daquela reclusa vida de Guardiã, eu ia descobrindo o quão bela podia ser um dia além daqueles muros gelados. Confinada na companhia de meu doce livro de poesias, as quais me divertiam e me tornavam nostálgica, eu revivia as lembranças de um homem em meus pensamentos. Seth, com sua galanteadora voz aveludada, recitando diante de meus olhos palavras embaladas que compunham aquela melodia, encantando-me, fascinando-me, como eu jamais imaginara que pudesse ser. Seth, meu precioso Seth logo não estaria mais ali. Eu viveria naquela melancolia por longas horas, na cruel espera de que ele chegasse do mesmo modo como havia partido, sem dar avisos. Tolamente, eu aguardava por aquela despedida que eu sabia não chegar. Era tarde demais, ou talvez cedo demais para aquelas fantasias que adocicavam minha mente. Meus lábios, agora solitários, traziam-me o sabor daquele beijo que deslumbrara minha noite, da forma que uma mulher sempre sonhou em ser beijada. Oh, doce e precioso Seth. E na companhia de papel de meu livro, eu suspirava. Oh, perigoso e precioso Seth.

 

 

Ariel POV Off. Seth POV On.

 

 

         Eu não poderia partir sem vê-la outra vez. Mal podia imaginar a hipótese de passar dois dias sendo torturado por minha própria mente, que pediria inutilmente pela imagem de Ariel, por aqueles lábios macios e doces, por aquele rosto sendo desenhado em minha memória. Eu não suportaria a sua ausência sem uma despedida que valesse a pena. Verkan havia me mandado para onde Judas supostamente perdera as botas - assim como todas as peças de seu precário vestuário -, nos confins daquele mundo remoto, onde nenhuma alma poderia trazer companhia à minha presença melancólica. Eu iria para a parte mais distante do continente, assombrada pelos fantasmas que há muito perderam suas vidas, mas eu iria de bom grado e com um sorriso no rosto se Ariel brilhasse diante de meus olhos uma última vez antes de minha partida.

         Corri desesperadamente pelas ruas de Richarten quando o Conselheiro dispensou-me, mas mal sabia ele que meu rumo ainda não era Heart Of Perum, e sim a desértica Navisko. Lá chegando, subi em largos saltos a escadaria empoeirada que levava ao interior do SOD, e no fim dessas, não esperei para descer o lance de degraus que desembocavam no tapete vermelho. Saltei lá de cima, sem hesitar. Foram breves e livres momentos aqueles em que meu corpo caiu, sendo empurrado para baixo pela força da gravidade, esvoaçando minha longa capa azul e cabelos por baixo do capacete de metal. Não ligaria se dissessem em tom crítico e mesquinho que aquela fora a cena mais indiscreta e estúpida de minha vida, eu realmente não me importaria se pudesse ver Ariel de bem perto. Pousei com um leve impacto no chão, colocando-me novamente a correr, desta vez na direção de minha guardiã preferida. Ela estava lá, como sempre, radiante em seu manto azul claro, parecendo brilhar especialmente para mim.

 

- Ariel. - chamei-a enquanto me aproximava apressadamente, ofegando devido à minha ansiedade

 

- Seth? - ela fitou-me nostálgica, como se não acreditasse que eu realmente estava ali quando se tem algo realmente importante para fazer - O que está fazendo aqui? - sondou preocupada, analisando-me rapidamente dos pés à cabeça

 

- Como pensou que eu poderia partir sem me despedir de você? - sorri, avançando alguns passos na direção dela

 

- Eu... - ela vacilou, deixando que eu invadisse seu olhar com meus orbes azuis como os seus

 

- Eu estive pensando enquanto corria até aqui. - comecei, segurando a pequena e delicada mão dela entre as minhas - Estive pensando e resolvi que eu definitivamente não poderia viajar somente com sua lembrança em minha mente. - revelei gracioso

 

- Não? - ela repetiu, incrédula e atônita; pude sentir sua mão tremendo debaixo das minhas, nervosamente

 

- Não. - afirmei, sincero - Ariel, deixe-me fazer uma pergunta. - pedi, aproximando-me perigosamente de seu corpo frágil

 

- O que é? - perguntou curiosa e envolvida em meu olhar, deixando um suave suspiro surgir ao fim de suas palavras

 

- Há chances de que quando eu voltar, você possa se tornar minha mulher? - perguntei sem hesitar, aprofundando meu olhar no seu, de modo que minha testa quase tocava na dela; o suspiro surpreso que ela deu naquele momento me encantou

 

- Sua mulher? - sibilou, e seus olhos azuis injetaram nos meus assombrosamente

 

- Eu a quero para mim. - revelei, avançando meus lábios para os seus, praticamente beijando-a sem pudor algum do público ao nosso redor

 

- Não... - murmurou ela, despedaçando uma parte de meu coração, e afastando sua mão das minhas, empurrou o meu peito com a pouca força que tinha; eu recuei

 

- Você não me ama. - constatei, dolorosamente; senti que os cacos de meu coração se desintegravam dentro de meu corpo

 

- Não é isso... - argumentou em murmúrios, baixando o rosto tristemente - É que... - sibilou tão baixo que mal pude ouvir sua voz

 

- Então o que é? Me diga! - supliquei, fitando-a nervosamente - Me diga, e eu farei o que for preciso! - prometi em desespero

 

- Eu quero que prove seu sentimento por mim, Seth. Eu quero uma prova. - disse ela, olhando-me em um lamento

 

- Uma prova. - repeti pensativo - Se é isso que quer, é isso que lhe darei. - assenti seguro de minhas palavras

 

- Seth... - ela murmurou, mas eu cortei-a com minha voz decidida

 

- Eu lhe disse que faria o que fosse preciso, não disse? Pois bem, eu lhe darei a maior prova de meu amor, a mais sincera. Se com essa prova você puder ser minha, apenas minha para que nenhum outro homem a toque pelo resto da vida, eu lhe trarei a prova que tanto quer. Eu a trarei em dois dias, e então você verá que nenhuma prova de amor será mais verídica e grandiosa do que a minha. - prometi com toda a certeza que se agitava em meu coração, e sob aquela promessa eu dei de costas para Ariel e parti

 

         Ainda pude ouvir a voz delicada e tristonha de minha doce Guardiã chamando-me, pedindo para que eu a escutasse, mas eu não me importava. Eu havia prometi que lhe provaria o meu amor, e para aquilo eu não tinha tempo a perder. Não importasse o que ela tinha para me falar, pois nada poderia ser mais grave do que as palavras que saíram de minha boca diante da imagem de minha musa de olhos azuis. O céu, o inferno, o sol, a lua, nada seria mais importante do que a prova de meu amor, e eu certamente faria aquilo.

        

         Por um dia inteiro eu viajei, a partir do momento em que dei as costas para Ariel. Andei por caminhos tortuosos, debaixo do sol ardente, da chuva gelada, por sobre os desertos movediços e os planaltos verdejantes. Por nada naquele mundo eu pouparia esforços para conseguir a prova de meu amor, o maior de todos os presentes que eu ainda deixaria sobre as mãos de Ariel. Eu a teria para mim, a faria minha mulher, e nada para mim era mais belo e feliz do que a idéia daquela união.

         Heart Of Perum era um local assombroso. Não se via nada além de montanhas e desertos para onde quer que se olhasse. Ali devia ser o coração do inferno, onde nenhuma vida pode sobreviver. Por mais que o sol brilhasse sobre aquelas planícies terrosas, jamais haveria ali um bonito cenário. Por mais que a lua iluminasse as altas montanhas, nunca uma noite seria bela o suficiente. O silêncio era perturbador, e se eu não fosse movido por motivos tão importantes, certamente eu enlouqueceria em menos de dois dias naquele lugar.

 

- "Não se esqueça do Fury, não se esqueça do Fury." - eu repetia para mim mesmo, tentando suprimir um pouco que fosse a lembrança de Ariel em minha mente

 

         Eu precisava cumprir minhas duas missões, minhas duas promessas, sem colocar jamais uma acima da outra. Um pecado, uma escolha injusta, era o que eu pensava sobre meus dois objetivos. Ser um guerreiro e ser um homem que ama não era uma tarefa fácil, mas eu tinha sido abençoado com o poder divino, e não abandonaria meu destino por motivo algum.

         A noite, no entanto, no alto daquela montanha, era como o purgatório. Eu não me sentia em paz, mas também não me sentia totalmente ameaçado. O vento uivava, perseguindo-me por onde quer que eu fosse, para onde quer que eu fugisse. A escuridão me abraçava com seu manto gélido, e por mais que eu me debatesse, ela não me deixaria até que a madrugada tomasse seu fim. Infeliz fora Verkan quando designou-me a um lugar tão cruel, tão amaldiçoado pelos demônios que habitavam o inferno. Heart Of Perum era a própria imagem do demônio, com todas as suas trevas, e se não fosse pela voz de Ariel em minha mente, eu teria adormecido em um sono profundo do qual eu jamais sairia.

 

- "Seth, eu quero que prove seu sentimento para mim." - a voz dela dançava em minha memória, deixando-me acordado para que as sombras da noite não me engolissem sem ao menos me mastigar com seus dentes feito lanças. 


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