–Acha realmente bonito ter uma doença e não nos contar? –Ariele disse enquanto caminhava de um lado para o outro.

–Sinto muito. – Falei com um pouco de dor.

–Quer alguma coisa? – Segui a voz e vi Margot parada ao meu lado.

Me segurei para não dar um pulo por causa do susto, ela com a cara toda pintada de caveira mexicana ainda me assustava um pouco.

–Quero que me explique o porque fez isso.

–Aquelas garotas lá fora não estavam com medo da menina que tinha esse rosto e na internet eu li que muita gente gosta. – Essa internet só serve para confundir ainda mais a cabeça dessa menina.

–Onde está o Paolo? – Perguntei.

–Ele desceu para atender a porta. – Respondeu Margot.

Do meu quarto pude ouvir quando Paolo gritou o nome de Ariele. Ela desceu, deixando eu e Margot sozinhos.

–Se aproxime. – Falei.

Ela se sentou ao meu lado e pegou a minha mão. Em anos Margot pela primeira vez tinha um olhar triste, quase igual ao do seu primeiro dia de aula.

–O senhor vai ficar bem?

–Provavelmente não, mas tenho certeza que Ariele e Paolo irão cuidar muito bem de você, minha menina perfeita. – Margot apertou minha mão e fechou os olhos. – O que está fazendo ? – Perguntei.

–Vi isso em um filme. – Ela respondeu e começou a sussurrar alguma coisa que eu não entendi.

Como ela dormia passava a maior parte do tempo lendo ou vendo filmes, muitas das coisas que ela via usava no dia seguinte com a gente.

Ariele entrou pálida no quarto.

–Margot vá para o seu quarto e não saía de lá até eu dizer que pode. – Margot tinha aprendido a sempre fazer o que nós mandássemos e sem questionar.

–O que houve? – Falei.

–Edgard eu sei que você não gosta de falar sobre a sua esposa e que já faz anos que vocês não se falam mas o que aconteceu entre vocês? – Eu nunca gostei de tocar no assunto da minha ex mulher, mas pela a cara da Ariele resolvi falar.

–Ela pediu divorcio em 1985 e depois disso eu fiquei três anos sozinho parecendo um bêbado largado no mundo até que o Paolo apareceu e trouxe de volta a minha ideia da garota perfeita. Mas por que você quer sabe disso? - Ela arregalou os olhos e se aproximou.

–Você está bem?

–Ariele me fale logo o que aconteceu.

–Calma. Só estou me certificando de que você não vai morrer agora.

Paolo abriu a porta e pude ver um jovem alto de cabelos lisos loiro escuro que ia até abaixo do seu peito, entrar junto com ele.

–Edgard esse é o Henry. Ele precisa falar com você. – Paolo disse antes de pegar na mão da esposa e sair fechando a porta.

–Em que posso ser útil jovem? – O menino tinha um rosto familiar.

Maxilar quadrado, olhos castanho bem claros quase dourados e esses cabelos enormes e lisos.

–Tenho uma carta para o senhor. – O garoto me entregou um envelope que tinha um cheiro conhecido mas só me lembrei de quem era quando vi a letra mais linda do mundo escrevendo o meu nome.

Era a letra da Marguerie, minha ex mulher. Aquela que eu tanto amei e perdi. Meu coração disparava conforme eu abria a carta, fiquei com medo de ter um treco de novo.

“ Querido Ed, quando receber essa carta pode ter certeza de que estou morta. Senti tanto a sua falta quando nos separamos mas sei que foi a coisa certa a fazer.

Infelizmente durante dezenove anos escondi de você o Henry, sim ele é nosso filho.

Descobri que estava grávida dois meses depois de você ir embora. Não te procurei porque achei que poderia cuidar dele sozinha e não queria lhe dar mais dor de cabeça. Mas Henry sempre me pergunta sobre você então decidi dizer onde ele poderia te encontrar.

Tenho certeza que você vive na Finlândia, um de seus sonhos era morar aí, nunca entendi o porque mas espero que tenha conseguido.

Por favor cuide do Henry, ele se tornou um garoto incrível do qual tenho certeza de que você irá se orgulhar muito.

Um grande beijo. Marguerie. “

Olhei para o garoto e quase tive um infarto de novo.

–Como assim você é meu filho? – Falei abismado.

–Bom sabe como é... Quando um cara e uma mulher se gostam eles fazem sexo e do sexo...

–Eu sei disso! – Interrompi o garoto. – Quero saber como ela pode ser capaz de te esconder de mim durante todos esses anos?

–Olha eu não sei. Minha mãe morreu tem um ano e só agora eu decidi vir te procurar, isso é estranho tanto pra mim como pra você então vamos facilitar as coisas. – O garoto é até que bem abusado.

Fiquei um tempo olhando pra ele tentando ver alguma coisa que lembrava a mim quando mais novo e achei, o formato de nosso rosto é o mesmo e antes de eu ter cabelos brancos era loiro escuro, bem parecido com o dele, mas Henry tem mais da mãe.

–Tudo bem garoto, mas vou precisar de uma amostra do seu sangue, só para ter certeza. – Ele balançou a cabeça dizendo Sim. – Ariele! – Gritei.

–Olá rapazes! – Ela entrou toda sorridente.

–Você poderia fazer um exame para saber se ele é mesmo meu filho?

–Claro! Vamos até o laboratório querido. Paolo, amor, você pode tirar o sangue do Edgard? Não é bom que ele fique andando ainda.

–Deixa comigo amor. – Os dois saíram pela porta e Paolo começou o processo em mim.

–Onde está Margot? – Perguntei.

–Não se preocupe. Ela não irá sair do quarto e nós já arrumamos o laboratório para que ele não desconfie de nada. – Paolo já estava enchendo o potinho com o meu sangue. – Então você é pai.

–Pelo visto sou. Louco isso não? Criei a Margot para ser como uma filha e agora descubro que sou pai.

–Prontinho. – Ele disse colocando um pedaço de algodão no pequeno furo feito no meu braço. – Agora descanse amigo.

Afundei minha cabeça no travesseiro mas não conseguia dormir. Minha cabeça não queria sair do dia em que deixei Marguerie.

Eu conseguia ver nitidamente seu rosto cheio de lágrimas e a sua voz fina e forte gritando comigo. Eu a deixei porque ela me pediu mas tenho uma parcela de culpa. Eu não ficava mais em casa, só vivia para o trabalho, qualquer mulher se cansaria de um homem assim.