“Finlândia, 5 de setembro de 1994.

A cada dia que passa Margot me surpreende mais, hoje mesmo durante o almoço ela me perguntou o porque de eu decidir faze-la, mas não foi a pergunta que me surpreendeu e sim o modo como ela fez, Margot me fez a pergunta em francês, língua que ela ainda não aprendeu. Sua capacidade é fascinante.

Conversamos com ela sobre a escola e sobre o fato que querermos que ela frequente este lugar, a principio Margot não entendeu muito bem o motivo dela ser diferente das outras crianças mas mostramos algumas imagens de meninas da mesma idade que ela. Margot me questionou o porque das crianças não terem marcas nos rostos e eu expliquei com apenas uma frase “ Você é especial”. “

Antes que eu pudesse continuar a escrever senti alguém puxar a minha camisa. Olhei e vi Margot usando um vestido verde claro com maguinhas brancas e um laço no meio.

–Você parece uma boneca. –Falei.

–Gostou Doutor? – Margot deu uma voltinha e seus cabelinhos balançavam junto com o vestido.

–Claro que ele gostou Margot. – Ariele falou enquanto colocava uma tiara na cabeça da menina.

–Você está brincando de boneca agora Ariele? – Perguntei.

–Você disse que eu podia vestir ela como eu quisesse, quero que ela se vista como boneca e tem mais, Margot gosta, certo querida?

–Sim! – Margot respondeu com um gritinho e esticou os bracinhos para que Ariele a pegasse no colo.

Fiquei observando as duas saírem, Ariele poderia ser a mãe de Margot, tirando o fato que uma é morena e a outra ruiva, acho que daria certo. Depois de vê-las saindo voltei a escrever em meu diário.

“ A relação de Ariele e Margot me preocupa um pouco. Ariele não pode ter filhos então seu instinto materno está todo ficado em Margot.

Minha esposa me largou antes que eu pudesse compartilhar o meu desejo de ser pai, claro que também me sinto responsável por Margot com esse lado pai falando alto e justamente isso que me preocupa. Não acho saudável Margot ter esse tipo de relacionamento com as pessoas afinal de contas todos morreremos um dia, menos Margot.

Dr. Edgard Virtanen “