Vi o dia amanhecer, e vi cada um de meus amigos acordarem. InuYasha havia acordado diversas vezes, apertado sua espada em punho, e fechado os olhos, ignorando a presença que sentira. Nada de importante acontecera, fora monótono pra mim, mas eu não conseguia dormir.
Pela manhã, seguimos nosso rumo. Paramos em outro vilarejo. Consegui uma hospedagem, e ficamos em uma cabana. Sango ficou a maior parte do tempo fora, desaparecendo por mais de duas horas. Preocupei-me e decidi procurá-la.
A encontrei conversando com um rapaz, o qual chamava de Kuranosuke. Riam e brincavam, se divertindo. A simples menção de vê-los juntos, fez meu sangue ferver... Nunca havia sentido um ciúme tão forte quanto aquele. Me vinha a mente um incontrolável vontade de dar-lhe uns cascudos, retirando-me de meu estado normal.
Controlei-me, a tempo de não atacar o homem. Preferi me retirar, tentando enfiar em minha mente a idéia de que eu estaria feliz se ela estivesse. Isso me conformava, mas não acalentava. Queria ela junto de mim, sentia uma necessidade de tê-la em meus braços, de tê-la só pra mim.
Senti-me um idiota por fazê-la sofrer daquela maneira, que eu sofria, naquele momento. Só conseguia me concentrar no rosto do rapaz, que me importunava. Quando, finalmente, me lembrei quem era o familiar homem, me arrependi de tê-lo feito. Era o príncipe, que a muito, havia pedido Sango em casamento. Me lembrei, também, que ela pensara, seriamente, em casar-se com ele, da última vez.
Decidi voltar, receoso de ser visto. Um misto de agonia, tristeza e remorso me acometeram, perfurando meu coração, como um punhal. A dor do ciúme era arrasadora, com meu coração estilhaçado, ferido e partido.
Eles conversaram bastante, mas o último assunto prendeu minha atenção, deixando-me preocupado.
- Você está apaixonada pelo rapaz que beijou Natsuko, não está? – Ele perguntou, obtendo um menear positivo de cabeça, fazendo-me sorrir, ao pensar que ela ainda me amava – Vocês tem algum compromisso?
- Tínhamos, mas ele disse... Ele... – Parou, sem conseguir falar, com lágrimas a escorrerem por seu rosto – Ele disse que me amava... – Kuranosuke, a abraçou, aproximando-a de si, fazendo-me ficar roxo de ciúme – Ele se declarou pra mim... E me prometeu que viveríamos juntos, depois que derrotássemos o Naraku... – Ela disse, em prantos, falando com dificuldade, soluçando. Isso me cortou o coração – Mas ele vai atrás de todas as garotas, em todos os vilarejos e dessa vez... Dessa vez ele fez o pior... Ele beijou outra garota, disse pra ela que não tinha compromisso com ninguém, que eu não era sua noiva, apenas sua companheira de viagem... Ele não me considera nem uma amiga... – Ela disse, com os negros olhos agoniados, sem poder prosseguir, recostada no príncipe, que parecia estar no controle da situação.
- Tudo bem, Sango-Chan... Eu estou aqui, não chore, ele não merece suas valiosas lágrimas... Quer se casar comigo? Eu aposto que eu a amo mais do que esse canalha. – Ele disse, me fazendo quase ter um troço ali mesmo. Esperei pra ouvir a resposta de Sango, que levantou os olhos, vermelhos, parecendo chocada.
- Eu... Preciso pensar... Eu ainda o amo, mas... Quero esquecê-lo... Preciso pensar, Kuranosuke.... – Disse, levantando-se e fugindo, fazendo eu sentir meu mundo acabar, em instantes...
Fiquei algum tempo ali, escondido, chocado demais pra sair do lugar, receoso de que ela pudesse, realmente, casar-se com aquele homem. Meu sentimento já não era mais ciúme, era desespero. Era inconcebível pra mim, ela era minha, ninguém tinha esse direito...
Me decidi, iria falar com ela esta noite, sem falta. Não haveria escapatória pra ela. Voltei, devagar, pra cabana, me sentando em um canto, sem falar com ninguém, absorto em meus sentimentos.
Quando noite caiu, jantamos, sem nada falarmos um ao outro, cada um pesando nos seus próprios problemas. Kagome, InuYasha e Shippou conversaram um pouco, mas eu e Sango não dissemos uma palavra sequer.
Após o jantar, me aproximei de Sango, falando em seu ouvido:
- Quero conversar com você, me siga. – Ela pareceu surpresa, mas me seguiu, sem discutir.
Saímos da cabana, indo pra um lugar mais tranqüilo. A olhei, sério e preocupado, tentando camuflar minha evidente tristeza e meus ciúmes.
- Sango... – Eu comecei, receoso – Eu ouvi o que aquele homem propôs... Eu queria lhe dizer que... Eu entendo que não me ame mais, que queira outra pessoa, mas... Eu queria saber se pretende aceitar o pedido...
- Miroku, eu... Não sei... Ele tem dinheiro, é bom pra mim, mas... Eu não o amo... Penso que serei feliz ao lado dele... Apesar de tudo... – Ela disse, acabando comigo.
- Vai aceitar? – Perguntei, aflito – Bem, isso não é da minha conta... – Disse, amargamente. O ciúme corrompia minha alma, formando cicatrizes, que se refletiam em meu olhar – Então, seja feliz ao lado dele... Só quero o seu bem, Sango-Sama... – Eu disse, fugindo, indo em outra direção, deixando Sango a me olhar, com olhar surpreso.
Eu não podia acreditar... A Sango ia se casar com aquele sujeitinho. O ódio e o ciúme me corroíam, enquanto eu vagava, na escuridão da noite, sentindo a tristeza me consumir e corromper ainda mais minha alma.

Continua...