Metamorfoses Voláteis escrita por Cupcake Says


Capítulo 27
Capítulo 26




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Morpheu volta ao alto da montanha onde estava as pessoas se dirigem a ele, mas em retorno ele só tem vozes abafadas... parecendo tão distantes, tão intangíveis.

– Senhor, onde estão os outros soldados? Está tudo bem?

– Giovanni, eu... – ele olha pro chão. – Eles... Estão mortos... – ele franze o cenho como se não soubesse como aconteceu, como se não tivesse estado lá.

Giovanni para no corredor.

– Como... como assim?

– Todos eles... Eu... não sei como... Eu virei as costas por um minuto e...

Um chiado agudo zumbia irritantemente nos tímpanos de Morpheu, impedindo-o de pensar, impedindo-o de coletar suas informações.

Eu já vi...

Eu conheço...

Sei que conheço...

No passado...

Mas não é possível...

Será que eu...

Mas eu não...

Quem...

Quem é...?

Astaroth...

­- Está tudo bem, senhor...? – Giovanni para ao lado de Morpheu, observando o tremer suave de suas mãos.

– Giovanni...

Preciso...

– Sim, senhor?

Parar...

– Preciso que me dê um tapa.

O barulho...

– Senhor?!

– Faça.

Ele se vira na direção de Giovanni que apesar de um tanto relutante, crava um tapa na lateral do rosto de Morpheu, quase que imediatamente ele suspira, sendo arrancado do torpor confuso onde sua mente havia sido imersa. Pelo menos por hora.

– Está me assustando senhor... - Giovanni comenta. balançando a mão no ar para dissipar o ardor que começava a se manifestar.

– Eu estou bem... Ai. – ele deixa uma das mãos na marca avermelhada.

– Ah! Perdão senhor, eu vou pegar gelo!

Giovanni sai da sala correndo, e Morpheu se senta, suspirando novamente, olhando pra janela, abrindo e fechando as mãos em punho para força-las a parar de tremer. Ainda absorto em seus pensamentos ele se pergunta o que será da vida de todos eles agora.

Não era a primeira vez que a morte o desafiava a correr mais rápido, mas era a primeira vez em que ele corria em direção a um muro.

O gosto amargo deixado pela vulnerabilidade, pela impossibilidade de se salvar...

Fraco...

Se houvessem mais como... como ele, estariam condenados e não haveria nada nem ninguém que pudesse salvá-los.

Porque não me matou também?

Queria que eu contasse?

Queria que eu desistisse?

Por que me deixou viver?

Por que somente a mim?

Qual...

O seu propósito?

Olhava seus soldados sentados ao redor do fogo do lado de fora, conversando em voz baixa, e pensava o que poderia fazer para evitar um massacre...

Mais um...

Massacre.

Lembrou amargamente dos homens mortos na neve lá embaixo, sentia raiva, sentia angustia, mas não podia sentir demais ou acabaria perdendo a capacidade de analise.

Precisava de álcool...

Precisava muito de álcool, e de um cigarro.

~*~

Tenho que encontra-lo...

Agora...

Antes que seja...

Muito tarde...

Klaus corria pela neve, seguido de perto pelo som de seus próprios passos, sua respiração pesada, curta na garganta.

“Não poderia matá-lo... Eu o amo...”

Os outros poderiam estar por perto, observando-o correr.

“Eu o amo...”

Tinha que evitar que o pior acontecesse.

“O amo...”

Tinha que salvá-lo.

Precisava salvá-lo.

O que ele faria se...

Não pudesse salvá-lo.

Amor.

De que lhe servia todo aquele poder...

Se nem ao menos podia salvá-lo.

Por favor esteja vivo.

Por favor...

Por favor...

~*~

Morpheu estava sentado do lado de fora, na neve, encarando enquanto ela caia do céu, em lágrimas congeladas, apática, desprovidas de emoção.

Assim como seus olhos.

Tem algo... errado.

Algo... fora do lugar...

Ele olha pra cima... então para as árvores na floresta.

Sentia sua humanidade borbulhando, mas seu corpo parecia se recusar a cooperar... Não estava mais em sincronia com seu próprio cérebro. Não conseguia entender... a sensação.

Que... sensação?

Ele se põe de pé, seguindo o caminho de seus passos, se sentia inerte, estava mesmo caminhando por vontade própria? Mas sabia que tinha a ver com o passado.

Com aquilo que tinha se obrigado a esquecer.

E agora não conseguia resgatar.

Se ele se cortasse agora... ainda iria sangrar?

Ouvia seus passos na neve, caminhando a esmo, caminhando sem olhar para os lados, sentia os ouvidos apitarem.

De quem era... aquela sensação nas pontas de seus dedos...

De quem eram... aqueles flashes de memória que surgiam e sumiam...

– Morpheu!

Morpheu levanta os olhos, poucos segundos antes de ser atingido pela figura de Klaus, ofegante, tremendo, atadando-se ao pescoço de Morpheu como se sua vida dependesse disso.

Ambos foram ao chão.

– Pensei que estivesse morto! Pensei que fosse tarde demais!

– ... Klaus...?

– Você está bem? Está ferido? Astaroth fez algo com você?

Astaroth...

Esse nome me é... tão familiar... eu não... me lembro...

– Tem algo errado comigo, Klaus... Eu não sei como... não... sei o que...

Morpheu franziu o cenho, como se tentasse alcançar um objeto no escuro, estava tão perto, mas parecia estar se movendo, fugindo, se escondendo dele.

Klaus o olhava consternado, a respiração ainda não havia estabilizado, as mãos trêmulas apoiadas no peito do comandante, que permanecia imóvel deitado na neve.

– Estava preocupado doutor... achei que tinha morrido... – ele olhava vagamente na direção de Klaus, as pupilas dilatadas, incapaz de manter o foco, incapaz de manter o controle. – Você está bem...?

Klaus apenas balança a cabeça energicamente, encarando o comandante, que parecia estar se perdendo em algum lugar.

Ele deposita uma das mãos no rosto do doutor, que imediatamente sustenta a mesma com a própria.

– Está tão gelado... – os olhos de Morpheu vagam na direção das árvores... – Não... não, não! Olhe pra mim! – ele para ambas as mãos no rosto de Morpheu, fazendo-o olhar para ele de novo. – Morpheu!

– Estou cansado, doutor... quando eu acordar... ainda vai estar aqui, não é? – ele apoia o rosto nas mãos de Klaus, os olhos entre abertos.

Não havia nenhum problema, nada de errado.

Ele estava plenamente saudável.

Ele estava de mãos atadas.

– Morpheu... Morpheu eu não sei o que fazer.... – ele sentia as lágrimas ardendo nos olhos, sentia a consciência escorrendo dos olhos do comandante, rápido, inflexível.

– Vai... ficar tudo bem... – ele fecha os olhos devagar, os músculos relaxando contra a manta de neve, o brilho gelado daqueles olhos azuis tornando-se foscos.

Não estava certo... aquilo... não era... não era natural.

Um nó se formou no meio da garganta de Klaus.

O que estava acontecendo? Porque sentia que havia perdido Morpheu para sempre? Como... se ele jamais fosse voltar...

– Morpheu... – as lágrimas escorrem pelos olhos do doutor, ele observa a imagem do comandante se rendendo a inconsciência, e não havia nada que ele pudesse fazer. – O que eu faço agora...? E se... E se você nunca mais acordar...?

Ele apoia o rosto no peito do comandante, soluçando alto, tremendo na ideia de que ele talvez não fosse mais voltar, que ele não sabia lidar com aquela inconsciência, sentia ela se mover, tóxica e nublada, opressiva. Sabia que ele não acordaria...

Nem agora...

Talvez não depois...

Sentia o ritmo cardíaco diminuindo, a respiração ficando mais fraca...

– Por que você foi... pra um lugar onde eu não posso seguir você...? – os dedos dele sendo fincados na neve entre as mechas de cabelo loiro espalhado pelo chão. – O que eu vou fazer de mim... Se eu não me pertenço mais...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo!
A coisa fica séria agora!
Agora vou focar mais na Legião e na história do Morpheu!