Metamorfoses Voláteis escrita por Cupcake Says


Capítulo 25
Capítulo 24




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Sentado na cabana de madeira no alto da montanha, Morpheu encara a lareira, a boca numa linha séria, os olhos focados no fogo, as mãos fechadas em punho, mordendo a unha do indicador com ansiedade.

Sentia o corpo pesado, ansioso.

Não sabia se Klaus ainda estava vivo, mas recusava a aceitar o fato de que talvez não estivesse.

E ele o havia deixado sozinho.

E partido.

Ele bate a mão em punho na superfície da mesa, a queimadura em sua mão reclamando, mas não é como se ele não merecesse.

Onde está sua honra agora?

Onde está seu valor agora?

De que te serve sua patente?

Ele suspira, irritado, afundando o rosto nas mãos, o cabelo escorrendo pelos ombros ao redor de seu rosto, os cotovelos apoiados nos joelhos, sentindo-se vazio.

Perdão, doutor... Perdão...

– Comandante. – Giovanni entra na sala, batendo na porta parcialmente aberta e empurrando-a devagar.

Morpheu levanta os olhos, mas fora não faz mais nada, olhando na direção de Geovanni com um olhar quase hostil.

– Comandante, Kirsh está muito mal, ele teve um arranhão e está muito febril.

– Veneno do Norte... – ele diz, olhando um dos cantos da sala.

– O que disse, comandante?

– Giovanni, preciso que façam algo, e não será bom. – ele se põe de pé.

– O que? – Giovanni endireita a postura quando o comandante se levanta.

– Sangrem ele. Vários cortes superficiais em varias partes do corpo, vai desacelerar a necrose... De qualquer modo depois de tanto tempo de encubação ele não deve ter muito tempo. – ele suspira, esfregando as têmporas. – Façam o tempo dele o menos doloroso possível, ainda temos algumas horas até amanhecer, tentem ganhar tempo.

– Sim, senhor.

– E diga aos outros soldados que a prioridade é cuidar para que os desenhistas consigam as plantas para os mapas.

– Sim, senhor.

Morpheu sai da sala, caminhando para fora da cabana, sendo engolido pelo silêncio da noite, acendendo um cigarro, sentindo as próprias mãos geladas, sentindo o tempo imobilizado ao seu redor, incapaz de respirar profundamente.

Ele encosta na lateral de madeira da casa, esfregando o rosto com uma das mãos, lutando contra a própria urgência de sair imediatamente, não podia, tinha obrigações com seu trabalho, com seus soldados. Obrigações que seus desejos pessoais não tinham nada a ver, e responsabilidades que não podia ignorar.

– Por que fez isso...? – ele suspira, olhando o céu sem nuvens e tingido de estrelas. – O que eu faço agora, doutor...?

Do lado de dentro, ele consegue ouvir os gritos estrangulados de Kirsh passando pela sangria, os nervos gritando, explodindo debaixo da pele.

~*~

Os raios de luz sangram pelo horizonte, escorrendo pela neve como o sague escuro de Klaus que escorria entre seus dedos, pingando na cobertura branca da neve numa abundancia que ele não tinha visto até hoje.

Ele sabia.

Aquilo era a vingança.

O contra-ataque.

A adaptação.

Aquilo era a ultimo aviso de que o Norte se recusava a cair, e aquilo significada que haviam acordado a Legião.

E se fosse esse o caso...

Haviam despertado Astaroth também.

Tenho que encontra-lo...

Tenho que contar sobre a Legião...

Tenho que contar sobre Astaroth...

Astaroth...

Tenho que mantê-lo... Longe de...

Morpheu...

– Morpheu...

O contato com a casca grosseira de árvore sob a pele fina de suas unhas, o ardor agoniado de sua pele lacerada, lutando para cicatrizar o mal que haviam infligido.

Não conseguia.

As mãos ardiam, as pontas dos dedos azuladas, quentes demais, ardendo, queimando, a pele fervendo cortada com o próprio veneno, com o veneno de outros.

Caminhava a passos pequenos e conseguia ver a própria respiração, e pela primeira vez desde que fora levado até a fronteira do sul, acreditava com sinceridade que iria morrer ali. Sozinho.

Mas não viu sua vida passando, nem suas memórias dançando atrás de suas pálpebras quando finalmente seus joelhos não mais suportavam o peso de seu corpo sobre eles. Deixou-se cair no chão. Chão frio e inflexível.

Sentia apenas frio.

Frio escuro e absoluto.

Não era só isso entretanto, estava cansado, tão cansado de lutar, de tentar, de cair, de assistir inerte enquanto o mundo se incendiava ao seu redor.

Havia matado todos os que o haviam seguido, o que era bom, eram noturnos, por mais de não saber exatamente como tinha essa informação, e pelo que ouvia seu cérebro sussurrar.

A Consciência os havia nomeado.

Xinklar as bestas originadas dos Clash.

Perguntava-se como haviam conseguido tornar os Drones em animais como aqueles, mas não tinha certeza se realmente queria uma resposta.

Já tinha provas de que a Consciência podia dobrar a todos como desejasse.

Sentia a neve fria ao seu redor, e seu sangue escorrendo de suas lacerações intermitentes, e o veneno fervendo seus pensamentos devagar, então se encolheu contra o chão de neve, chamando a inconsciência, esperando ser engolido pela escuridão profunda que circulava sua mente gasta.

Seus pensamentos nublados.

Mas ouvia passos por perto.

Passos que reconhecia.

Teria gritado, mas não podia mais... Não mais.

~*~

– Comandante?

Morpheu levanta os olhos do pequeno conjunto de papeis que ele estava se forçando a ler, tentando sem muito sucesso absorver as palavras que pareciam dançar pelo papel sem nenhum significado.

– Giovanni.

– Os desenhistas disseram que por hoje não podem fazer mais nada, já que a neblina dessa manhã ainda não se dissipou.

– De onde veio esse nevoeiro... – ele suspira. – Nós temos um prazo. – ele corre os dedos pelo cabelo, nervoso, batendo os dedos e abandonando os relatórios que sabia que não conseguiria ler sobre a mesa.

– Continuaremos amanhã.

– A neblina está muito densa, mas os soldados estão prontos para sair atrás do doutor a qualquer hora, senhor. – ele diz, pausando numa pose ereta e respeitosa.

– Nós... Não podemos... – sentiu a hesitação em sua voz, amarga e angustiada, sussurrando lamúrias em seus pensamentos.

Giovanni também pareceu perceber, pois em um segundo sua postura tremeu e ele parecia apreensivo no que dizer, apreensivo pela vida de todos.

– Estão dispensados hoje. – ele declara por sim, virando a cadeira para a janela e apoiando o rosto numa das mãos.

– Sim... senhor... – ele sai a passos trêmulos pelo corredor, como se incerto em deixar o comandante sozinho.

Morpheu se vê inquieto, saindo da casa para encarar o nevoeiro do lado de fora da casa, parado na borda da montanha, encarando a floresta de pedra metros abaixo, considerando a possibilidade de descer até lá, mesmo que por algumas horas apenas.

– Se eu voltar antes de escurecer...

Ele rapidamente dissipa o pensamento de sua mente, suspirando frustrado, ciente de que não poderia, olhando para baixo por alguns segundos para encontrar um ponto escuro no encalço da montanha, desfocado pela neblina.

Pequeno demais para um drone, ou um dos cães da noite anterior, mas ao mesmo tempo grande demais para um animal silvestre.

Então...

O que podia ser?

– Giovanni!

Giovanni sai correndo de dentro de um dos chalés, parando ao lado do comandante, em pose de continência.

– Comandante?

– Junte alguns homens, vamos descer.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo



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