Prologue: The Lady

Tedioso. Tal palavra era capaz de resumir com perfeição o baile daquela noite.  Damas bem vestidas, com grandes saiotes e jóias extravagantes passeavam de um lado a outro do grande salão, acompanhadas de seus consortes. Todas as pessoas deveriam trajar máscaras aquela noite... Aquela era uma idéia que agradava a muitos, mas não a um rapaz em particular.

Kamijo era um convidado especial da anfitriã de tal baile, a princesa em pessoa. Ela, uma amiga de longa data, dissera que o baile fora feito para animá-lo e tirar sua amada Lillie de sua cabeça.

Era impossível. Esquecer Lillie? Esquecer seu sorriso? O sabor de seus beijos? O tom aveludado de sua voz angelical? Esquecer até mesmo... Os olhos úmidos com os quais ela o mirou pela última vez, antes de desaparecer no horizonte azulado? Nunca.

Ela fora arrastada por seu marido, aquele a quem ela jurava não amar, para longe. Algumas vezes, várias cartas assinadas por ela chegavam à sua casa. Todas pareciam felizes e sem remorso. Ela estava continuando a vida dela, apesar de tudo.

Imerso nas lembranças de Lillie, ele atirou a máscara para longe e fitou o luar longamente. Estava decidido a passar o restante da noite daquela forma, bem longe do salão de baile, concentrado em suas memórias ao lado de sua amada.

Repentinamente, sentiu um toque delicado em seu ombro. Virou-se, espantado e acabou por bater os olhos em uma criatura lindamente curiosa. Trajava branco, tal qual o luar. Seu rosto era coberto por uma máscara que, infelizmente, ocultava boa parte de seus traços femininos. Seus cabelos loiros estavam arrumados com tamanha perfeição a ponto de mal se moverem ao que o vento batia.

- Quem é você? - Kamijo questionou, perplexo - P-Por que a senhorita não está aproveitando o baile como todos os demais? Eu-

Um dedo delicado, protegido por uma luva rendada, calou seus lábios. A dama estendeu a ele a máscara que minutos atrás derrubara. Antes que Kamijo pudesse, contudo, pronunciar qualquer palavra de agradecimento, ela o puxou para o salão, energicamente.

Repentinamente, não existia mais Lillie. Nem ao menos qualquer melancolia. Por várias horas a fio, somente sua doce desconhecida existira e juntos eram príncipe e princesa, dançando a valsa final de um belo conto de fadas.

Mais eis que o “felizes para sempre” não se concretizou. Ao badalar das doze, sem nenhuma explicação e sem sequer ter pronunciado uma única palavra, ela partiu às pressas. Incapaz de deixá-la partir, Kamijo a perseguiu e conseguiu segurar sua mão segundos antes dela pular para dentro de uma carruagem e desaparecer estrada a fora, deixando-o solitário, tão somente com uma lembrança e a luva rendada de sua mão esquerda.