Ryans Tales escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 5
Quinto Conto - Nem tudo volta ao normal.




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#Quinto Conto#: Nem tudo volta ao normal.

 

 

We must reinvent Love. [Panic! At The Disco, Mad as Rabbits.]

 

 

 

         Ryan ficou – mesmo sem vontade de curtir as férias – em Seattle. Precisava deixar tudo encaminhado para Brendon retirar o aneurisma. Agiria como médico e não importava mais nada. A saúde de Brendon vinha acima do relacionamento frustrado deles. Muito, muito acima.

 

         Ross sabia muito bem que Brendon estava em Seattle, porque vôo nenhum sairia naquele temporal. George não moveu nenhum dedo sequer para ir atrás de Brendon. Respeitava todas as vontades de Brendon e ele quis ir. Ninguém o obrigou. Grace, simplesmente, tinha vencido e ele não podia – não queria – fazer nada para mudar isso. Não queria tirar o livre arbítrio. Não quis interferir em sua vida pessoal.

 

         Tinha se passado três dias que Brendon tinha saído da vida de Ryan. Seria o dia da operação e Ross estava quase desistindo quando recebeu uma ligação da direção do hospital. Brendon tinha desmaiado, perdido a consciência e todos estavam desesperados. Ryan disse que era para fazer uma ressonância magnética e o levasse para o pré-operatório, pois iriam para Vegas o mais rápido possível. O aneurisma de Brendon precisava ser tratado e Grace não tinha dado ouvidos ao Ross, como sempre. Segunda vez que ela contrariava as ordens médicas e era a segunda vez que Ross tinha razão.

 

         Foi difícil convencer o médico responsável pela embolização de viajar para Las Vegas, mas quando conseguiriam, foram o mais rápido possível no jatinho particular do doutor. Por sorte, tudo correu muito bem. O procedimento foi feito, os médicos creditados e muito bem pagos por Ryan que tinha um sorriso idiota no rosto. É, ele nunca aprenderia. Jamais aprenderia a ser um mero espectador se tratando de Brendon. Ele não ia conseguir ser profissional o suficiente, ser frio como necessitava.

 

         Brendon acordou apenas no dia seguinte da operação. Encontrou Ryan com aquele sorriso satisfeito de “dever cumprido” e ao mesmo tempo, com aquele sorriso de alívio e levemente abobalhado de um homem apaixonado.

 

- Hey. Bem vindo de volta, doutor Urie.  – Disse Ross, analisando o prontuário. – Pelo que vejo, terá alta hoje.

 

- O que eu estou fazendo aqui? – Murmurou fracamente.

 

- O que devia ter feito há dias atrás quando estávamos em Seattle. – Relembrou, fazendo Brendon desviar os olhos e fazer menção em falar algo, mas foi interrompido por Ryan – Por sorte, nós chegamos a tempo de consertar o seu problema. Enfim, hoje durante a tarde você terá alta.  Repouse bastante por uns quatro dias, por precaução, okay?

 

- Okay, RyRo. – Disse informalmente. Aquilo doeu como nunca. Ross virou as costas e saiu pela porta. Disse ao Boyd que o filho receberia alta em breve e foi cuidar dos demais pacientes. A vida de Ryan voltava a ser ridiculamente mecânica, sem vida. Voltava a ser a mesma de quando Brendon estava em coma.

 

         Voltar pra casa não era uma tarefa muito fácil. Era frustrante e melancólico. Pior ainda era encarar o chalé que estava cheio de lembranças de antes do acidente, de durante o acidente, de depois do acidente. Lembranças que jamais se apagariam.  Estava ali um divisor de águas. Um antes e depois. Um Ryan com Brendon e um Ryan sem Brendon.

 

         Ross segurou as lágrimas no caminho de casa, em seu carro. Ligou o seu som no último e a música que tocava não ajudou a curar muito bem as feridas.  Era “Come Back Down”, da banda Lifehouse. A música parecia descrever a sua vida, seus sentimentos. O seu Brendon confuso, machucando-o e cortando-o até seus pedaços ficarem sem condições de ser retalhados.

 

- When you come around, I'll be there for you.Don't have to be alone with what you're going through – Ross cantarolou junto com Jason Wide. Chegou de xingar o vocalista e compositor da banda por ser tão exato nas palavras que queria dizer ao Brendon.

 

         Ao chegar ao chalé, encontrou Boyd parado no portão. Ross parou o carro e sorriu forçadamente para o mais velho. Boyd estava desacreditado em ver o doutor Ross tão desleixado consigo mesmo novamente, ele sentiu seu coração partir em vários pedaços. Ryan tinha se tornado quase como um filho para o mais velho. Ele sabia reconhecer o esforço do outro e isso seria o que viria a unir pai e genro eternamente.

 

- Não vai ser muito bom você continuar morando aí. – Disse Boyd enquanto abraçava Ross e lhe dava um beijo na testa. – Pode ir morar no apartamento de solteiro do Brendon que ele nunca usou.

 

         Ross decidiu aceitar, até se preparar psicologicamente para entrar naquele lugar novamente. Para morar ali. Com Boyd, foi mais fácil entrar e pegar as coisas necessárias para que eles morassem no apartamento um pouco menor que o chalé, mas seria ótimo para os dois. Charles entenderia o pai novamente. Sabia que Ross não era nada sem Urie e que ia precisar de cuidados especiais. Todos sabiam disso. Todos menos Brendon Boyd Urie.

 

#Flash Back#

 

 

     Las Vegas. Ryan e Brendon tinham acabado de cursar Medicina em Harvard e devido suas ótimas notas, foram indicados para um programa de treinamento e poderiam escolher a localidade que queriam atuar. Escolheram Vegas. Ora, para que mudar de cidade? O Dr. Telles era bastante simpático e amigo do casal. Nada melhor que trabalhar com ele.

 

         Ryan tirou a bagagem do porta-malas. Tanto as suas como as de Brendon. O carregador olhou torto para o casal, mas de tão acostumado com esse tipo de manifestação repreensiva que não incomodou nem um pouco.  O hotel que foram se hospedar não era um dos melhores de Las Vegas, mas Ryan gostava de lá. A fachada singela não chamava atenção apesar da dezena de carros extremamente belos no estacionamento do lugar. Eram cores neutras e um painel bem iluminado. Las Vegas também tinha seu lado sóbrio.

 

         Entraram na recepção do hotel e George foi direto ao balcão pedir um quarto. A recepcionista lançou um olhar para Brendon com doçura e o último contemplava com certo fascínio o traseiro de Ross. Ela riu baixinho antes de recompor-se e dizer cordialmente:

 

- Olá, senhores. Como posso ajudá-los.

 

- Olá. – respondeu inexpressivo – Reservas no nome de Ryan Ross e esposo.

 

- Okay. Um momento, por favor. – A mulher virou-se para o computador e começou a buscar pelo nome dito – O senhor disse o nome de seu esposo ou não?

 

- Oh, desculpe-me. – Sorriu de leve enquanto a moça olhava de soslaio para Brendon em sua aventura fascinante. – Brendon Urie. – Incomodado com os olhares da mulher para seu namorado, Ross  virou  o rosto discretamente e sorriu. Descobriu que a moça não provocava o seu garoto, apenas admirava seu ato, achando o mesmo engraçado e um tanto libidinoso. George soltou uma risada e a mulher, com o rosto levemente enrubescido, entregou as chaves magnéticas para o maior.

 

         Seguiram para o elevador e dessa vez, George fez questão de segurar a mão de Urie e acariciá-la enquanto esperava o elevador. Às vezes ele se transformava. Às vezes era carinhoso, extremamente doce e às vezes – sendo essa parte a maior delas – ele era frio, inteligente e sarcástico. Excessivamente sarcástico combinado com um excesso de ironia latente em cada frase.

 

         No quarto, Ross foi ligando o seu notebook enquanto Bden ia direto para o banheiro. Ross iria procurar um corretor de imóveis para poder viver em um lugar decente e que viesse a aconchegar o casal e futuramente os filhos do mesmo.

 

- Ryan, pode vir aqui e tomar um banho? – Bden gritou do banheiro, fazendo Ross rir e se manter concentrado em sua pesquisa. – Ry-an!

 

- Estou procurando uma imobiliária. Não quero morar em um hotel pra sempre.  – Resmungou Ross, relutando para não ir ao banheiro. Ele queria ir, na verdade, mas precisava buscar a casa ideal.

 

- A gente faz isso depois, juntos. Você precisa de um banho e descansar.  A final, você passou horas dirigindo aquele maldito porshe*  - Resmungou, fazendo Ryan largar imediatamente o computador e ir até Brendon, abraçar-lhe e selar os lábios deles demoradamente.

 

         Os dois eram – com certeza – feitos um para o outro. O lugar para morar era o de menos e Brendon sabia bem disso.  Queria só passar um tempo com seu garoto sem precisar ver o outro irritado por estar atrapalhando a direção. O porcshe era o carro que Ryan adorava, acima de qualquer outra coisa, por isso, apesar de tê-lo desde seus quinze anos, estava muito bem conservado.

 

         Ryan cresceu em uma família muito rica e por isso queria dar o melhor para o namorado. No dia seguinte, eles foram buscar um lugar para morar. Foram de mãos dadas. Andaram por muitas casas até encontrarem um chalé. Perfeito para os dois e para um possível filho. Não era perto do trabalho dos dois, mas parecia ter feito para eles. Pequeno, doce e aconchegante. Em conjunto, decidiram ficar com o local. Felizmente tinham condições de pagar.

 

 

#Fim do Flash Back#

 

 

 

         Ao chegar à antiga casa, Brendon teve uma sensação nostálgica. Seu quarto ainda estava lá, intacto, desde que foi para Harvard. Aquele cenário – mesmo com o cheiro de mofo -, estava em sua mente constantemente. As lembranças estavam impregnadas ali, o levando diretamente ao Ryan. Sempre de volta a ele e seu rosto fino, cachos pequenos e muitas vezes mal feitos. Levava ao homem magro que só vivia para amá-lo, mesmo sem ter o devido valor merecido.

 

         O cheiro era familiar. O pôster do Green Day lembrava dias felizes de romance, a decoração e por fim, a assinatura com os dois corações com as iniciais “R & B” dentro deles. Bden bem que tentou esquecer, mas Ross estava impregnado nele. Duas batidas na porta tiraram o Brendon de seu pequeno transe.

 

- Posso falar com você, Brendon? – Brendon assentiu e Boyd entrou trancando a porta atrás de si – Esse lugar é cheio de boas lembranças para você, não?

 

- É pai. – Disse e suspirou longamente – Mas tenho certeza que não é sobre isso que você veio falar.

 

- Tem razão. – Sentou na cama o mais velho – Eu fui um idiota por não ver o quanto você o amava. Eu infernizei a vida de vocês dois e eu realmente não tinha esse direito. Por isso, eu... Eu peço desculpas.

 

         Brendon sorriu e abraçou o pai bastante emocionado com aquela conversa. Eram sinceras as palavras de Boyd. O pedido de desculpas dele.  Tinha aprendido a lição de um jeito duro, mas amava seu filho acima do preconceito tolo que tinha.

 

- O que aconteceu de verdade para você mudar sua opinião?

 

- Eu vi o insensível do Ross chorando quando ele veio nos contar que você só acordaria por intervenção divina e que, como o seu coma era longo,  você poderia perder a memória e levaria algum tempo para recuperar isso se você viesse a se recuperar.  – Boyd mordeu o lábio inferior lembrando-se daquela triste cena e, por fim, Bden sentou-se ao lado do pai.

 

- C-como nós éramos, pai? Ryan e eu.  – Perguntou meio receoso e o mais velho lhe sorriu.

 

- Sabe aqueles romances infantis que todo mundo sonha em ter?  - Brendon assentiu – Você tinha achado seu príncipe encantado, príncipe esse que estava na pele de sapo, devo dizer. Eu não reagi nada bem, porque estive em um beco sem saída. Eu precisava confessar ao meu chefe que meu filho estava namorando o filho dele. Até agora, estou tentando entender por que você o deixou em Seattle?

 

- Eu... – Pausou por um momento – Mamãe me contou que Ryan era incrivelmente promiscuo. Isso foi um motivo mais do que suficiente. Ele era... Era mesmo assim?

 

- Tolice isso, meu filho. – Boyd acariciou o rosto de Brendon – Eu duvido que ele tenha te traído alguma vez. O que você fez com ele, Bden, não se faz nem com o seu pior inimigo. Querido, o Ryan pode ter sido realmente horrível no passado, mas o que ele enfrentou por você não tem tamanho, não tem preço. Você devia ao menos agradecê-lo por mantê-lo vivo tanto tempo. – Sorriu de leve, dizendo calmamente cada palavra, sem ter em momento nenhum aquele tom de “jogar na cara”. Brendon mantinha a cabeça baixa, arrependendo-se do que fez. – E me perdoe pelas duras palavras, hm? – O homem beijou a testa do filho e saiu. Sem grandes despedidas.

 

         Ao que o homem fechou a porta, indagações começaram a vir a sua mente. Apenas as perguntas que mais queria responder lhe interessava: o que Ryan Ross passou por ele? Como o ele o manteve vivo? Quem ele enfrentou?

 

#Flash Back# (Brend)

 

 

 

     O céu estava marrom naquele dia. A água da chuva caía gélida banhando a linda Las Vegas. Ryan enfiou as mãos pelos cabelos castanhos e os puxou de forma leve. A preocupação estava estampada na sua face, eram nove horas da noite e Charles não tinha aparecido em casa. Brendon por sua vez andava de um lado para o outro. A babá ainda continuava lá. Ela não tinha descuidado do menino um momento sequer, mas alguém havia pegado e menino uma hora antes do horário da escola, antes mesmo da garota chegar.

 

- Tem cheiro de Grace Urie nisso – Resmungou Ryan, movido pela preocupação, sem saber ao certo as palavras que lhe saíam pela boca.  Estava visivelmente abalado e aconselhado por um policial a esperar vinte e quatro horas para dar Charles Ross como desaparecido.  Brendon, ao ouvir o resmungo resignado de Ryan, irritou-se com ele.

 

- Você está querendo me dizer que minha mãe seqüestrou nosso filho? – Rosnou e Ryan apenas rolou os olhos. Brigar com Brendon era o que menos queria naquele momento, porém, Brendon disse, obrigando Ryan a se manifestar: - Por que tudo o que acontece de ruim com você, é culpa da minha mãe? Isso é patético. Ridiculamente patético, Ryan Ross!

 

- Porque o que você chama de ‘mãe’ me odeia. É uma cobra criada que só quer me ver derrotado – Ryan rebateu, suspirando em seguida – Ela destila veneno pelo suor! Toda vez  que esse menino vai pra casa dos seus pais, ele volta rebelde. Me respondendo horrores. Você quer mais motivos? Eu posso te fazer uma lista depois, mas agora, estou preocupado com meu filho seqüestrado.

 

- Ele te responde, porque você é um idiota egocêntrico. – A última declaração de Ryan deixou Brend bem pior. Ross arqueou a sobrancelha e ouviu um resmungo baixo – Infantil.

 

- Marionete! – Exclamou Ryan, cruzando os braços. Em seguida, Charles entrou pela porta e Ryan voltou-se para o menino que abraçou suas pernas. Ross acariciou a cabeça do menino e seguiu a ordem do pai indo para o seu quarto. – Eu disse que isso fedia a Grace Urie.

 

         Ross viu a mulher na porta que disse:

 

- Só estava com saudades do meu neto – deu os ombros e Brendon entreabriu os lábios tendo que engolir tudo o que disse para cima de Ryan. O som da voz de Brendon não saía e Ross começou a andar em direção a porta e gritou:

 

- Você tirou o meu filho da escola para envenená-lo contra mim! São quase dez horas da noite e o moleque deveria estar dormindo! Quantas vezes eu vou ter que repetir que não te quero perto de Charlie? – Com os olhos saltados de ódio, Ross pôs as mãos no ombro da mulher com certa violência, fazendo Brendon imediatamente puxá-lo pela cintura com uma força extraordinária e ficasse na frente e sua mãe.

 

- Pára, Ross! Pára agora! – Excedeu-se todo o limite de paciência e de tolerância de Brendon Urie. Estava mais exaltado que o comum. – Sandra Ross também não é um doce de pessoa, George. Acredite, aquilo é uma víbora!

 

- Quem disse que eu vou descordar, Brendon. Boyd. Urie?

 

 

         Aquela era a primeira vez que Ryan extrapolava qualquer limite de ironia com Brendon. Com Grace. Aquela foi a única vez que a mulher assustou-se totalmente com o jeito que Ross estava. O ódio emanado no olhar. A irritação. A força que ele fazia para não agredir um ali. O punho cerrado indicando que a qualquer momento ele perderia o controle. Apesar do medo, ela arqueou a sobrancelha e riu. Tinha conseguido o que queria: jogar um contra o outro de uma forma irreversível. Mas Brendon não queria – não conseguia – enxergar tal crueldade vinda de sua mãe.

 

         A raiva também corria pelo corpo de Brendon. Seus olhos grandes estavam quase saltando para fora, tamanho o jeito vidrado que estavam. Charlie desceu as escadas e se encolheu no último degrau.

 

- O que foi? – disse o mais velho ao namorado. Apontou a mãe, tentando mostrar a cena que Grace protagonizara. – Abre os teus olhos, marionetezinha. Abra os teus olhos porque eu não quero ser a lâmina que vai cortar os teus cordões. [silver][n/a: achei essa frase tão... Ryan *o*][/silver]

 

- O que quer dizer com isso?

 

- Que só porque você veio de uma família pobre, não quer dizer que sua linhagem é honesta.

 

         Ross trancou os lábios. Sabia que tinha dito besteiras. Sabia que tinha soltado  a língua demais. Dito o que pensava, tentando impor opiniões. De novo, tinha fracassado. Só que Brendon, cerrou o punho e diferente de Ross, não controlou a vontade de socar o maior. Foi um. Outro. Outro e por fim, o último que deixou Ross caído. Sabendo que tinha feito besteira, Ross não revidou nenhum dos socos.  Ofegante, Brendon gritou apontando o dedo pro rosto do namorado:

 

- Você me ofendeu, George Ryan Ross! – Rangeu entre os dentes. Seu lábio inferior aveludado, agora estava trincado pela raiva. Preso entre os dentes alvos do menor. Apesar da força para não gritar, para não assustar o Charles que já tinha os olhos arregalados ao ver o pai Ryan sangrando pelo nariz e boca, mas foi inútil. – Você, George, não passa de um maldito mimado, egocêntrico, metido a dono da verdade! Reclama da minha mãe, mas é tão controlador, mesquinho e venenoso quanto ela! Eu venho de uma família pobre, mas pobre porque a sua família fez ser assim! Não me venha falar de pilares de honestidade que você não tem condições disso! Não tem moral para tal feito, seu otário!

 

- Francamente? – Ryan disse após limpar o sangue da boca  e perceber Charles segurando o seu travesseiro. Escondido atrás dele com medo do que Brendon estava sentindo. Ele não devia ter presenciado aquela cena. Cego de ódio, Brendon ainda chutou o vento. – Desde quando você defende a sua família assim? Desde quando você assusta o Charles assim? – Apontou o menino escondido, fazendo com que, para não responder e traumatizar mais ainda o menino escondido naquele pedaço de pano, Brendon saiu batendo a porta.

 

         A chuva continuava fria e Brendon não estava agasalhado. Delineava o rosto pálido de Brendon Urie que queimava a sua pele alva. Caminhou alguns muitos quarteirões sem rumo nenhum, sozinho e sentindo cada vez mais frio, ficando mais trêmulo a cada passo. Sentou-se em um meio fio e ficou curtindo o frio, a água da chuva lavando o seu corpo magro. Um ou outro passava pelo local, mas Brendon não conseguia ver devido à visão turva. Ele não sabia se as lágrimas que derramava eram por arrependimento de ter socado Ryan até sua mão se cansar e ficar machucada, ou se era de raiva pelas ofensas que recebeu, ou se elas o xingavam de tolo por ter traumatizado o seu filho.

 

         Levantou-se e caminhou mais alguns quarteirões. Até achar um bar pequeno. Aonde só tinha bêbados debruçados no balcão ou nas mesas, ouvindo músicas sertanejas de péssima qualidade. Brendon pediu uma dose de pinga pura. Outra. E outra. E outra. E outra... Até que sua visão ficou turva novamente. Mas não pelas lágrimas, mas pelo nível alto de álcool em seu sangue. A bebida não apagou a dor em nenhum momento.

 

         Ryan ligou desesperadamente para o namorado quando conseguiu fazer Charles dormir. Na verdade, foi o pequeno que motivou a ligação. Uma atrás da outra, insistentemente. Só parou  de ligar quando foi chamado para participar de uma cirurgia de emergência. Deixou o menino com a babá e saiu em alta velocidade para o hospital.

 

Horas depois Brendon não olhou para os lados ao atravessar a rua e entorpecido pela bebida, não escutou o ronco do carro em alta velocidade vindo em sua direção. Não deu tempo de parar e o carro atingiu Brendon que rodou várias vezes no ar antes de bater contra o capô do carro e antes de bater violentamente a cabeça contra o meio fio.

 

Uma nova fase começaria para ambos ali. Naquele dia, naquele acidente.  O homem ao volante não prestou o devido socorro e Brendon começava a ter convulsões. Quem chamou o resgate foi o dono do bar.

 

O verdadeiro amor, começaria agora.

 

#Flash Back#

 

 

         Fim do expediente para Ryan Ross e ele não queria voltar para casa. Tinha o filho nos braços que dormia depois de reclamar que comida de hospital era ruim e que não queria mais comer aquilo. Um único problema nisso tudo era que Ryan não sabia – realmente – cozinhar e isso era tarefa de Brendon. Ross rolou os olhos. Lá estava Brendon de novo insistindo em fazer parte da sua vida, mesmo ele querendo descartá-lo.

 

- Papai. – Acordou e ronronou em seguida enquanto o maior o levava para o carro. Dessa vez, um Cadillac Cien, modelo de 2002 na tonalidade preto. Um carro que ele amava, na realidade – Cadê o papai Bden? Brigaram de novo?

 

- Ele não quis voltar comigo, campeão e eu não sei o porquê, ao certo.  – Ross desligou o alarme enquanto embalava o menino em seus braços – Quer comer algo quando chegar? Acho que deve ter McDonalds aberto ainda.

 

- Não, papai. – Disse o menino – Me leva pra casa da vovó. Lá tem comida e você vai poder dormir na cama que tem no apartamento do papai Bden.

 

O apartamento de Bden era realmente de solteiro. Um quarto, uma cozinha, uma pequena sala, banheiro e área de serviço. Era perfeito pra um solteiro morar e Ross tinha que dormir no sofá. Charles não gostava dessa possibilidade. Seu pai seria sempre seu herói e heróis tem que ser bem cuidados.

 

Gostou da sugestão do garoto e o levou o menino para casa dos avós por aquela noite. Ele precisava ver Alex. Precisava de um conselho. Precisava de um consolo, de saber se – realmente – tinha condições de seguir em frente. Em outras palavras: se ele precisava desmoronar. Precisava desistir por um instante.

 

Saiu da casa dos pais em alta velocidade. Parou perto de uma praça isolada. Já eram uma da manhã quando ele saiu da casa dos pais. Tinha tentado dormir e dormiu umas duas ou três horas, não mais que isso, porém seus sonhos trouxeram de volta algumas coisas – momentos felizes – de Seattle.

 

Acendeu um cigarro na praça e fumou-o de forma lenta. E depois outro. E depois outro. Só o poder relaxante do cigarro conseguia apagar um pouco da dor e por isso ele ia fumando um atrás do outro. Cinco da manhã, Ross foi ter com Alex. Precisava mais do que nunca daquela conversa.

 

O senhor de idade deparou-se com um homem com o jaleco branco totalmente sujo, fedendo a nicotina e com os olhos vermelhos. Com os cabelos totalmente despenteados, secos e armados. Alex chegou a assustar com a figura que viu. Estava péssimo novamente e então, Ryan tentou explicar:

 

 

- Ele... Ele simples...

 

Morreu a frase e com ela todas as condições de falar nesse assunto. Tentou vez ou outra, mas a voz não saía, as forças estavam esgotadas e as lágrimas queriam cair. Entendendo o que Ryan quis dizer, McWay afastou-se, dando espaço em sua desconfortável maca para Ross aproximar-se e deitasse ali. Foi o que ele fez sem demora, aninhando-se nos braços do mais velho.

 

- Você não estava certo dessa vez. – Disse Ross – Ele não me ama.

 

- E por que diz isso? – Alex estranhou. Conhecia a história dos dois, conhecia o amor de ambos e sabia que isso era só uma confusão de ambos os lados – Ao menos sabe o porquê da separação?

 

- Poderia te dar um milhão de hipóteses, porém a que mais me parece plausível é ele nunca ter me amado.  – Respondeu Ryan fazendo Alex mostrar mais sensatez do que Ryan estava acostumado a presenciar.

 

- Eu duvido, Ry. – Disse o homem, acariciando os cabelos do médico -  Uma vez eu te disse que quando se deixa alguém livre, se ele te amar, ele volta, embora para ele voltar é preciso que ele vá.  Foi escolha dele e opiniões podem mudar. Sempre mudam com o amadurecimento das pessoas.

 

- Mas... – A falha na voz do neurologista só significava a dor que passava e a falta de argumentos que tinha naquele momento. – Ele não vai voltar, não é?

 

- Você é uma das pessoas mais incríveis que eu conheço, doutor Ross. Você vai sobreviver sem o Brendon comemorando cada dia como se fosse uma vitória.

 

- E será. – disse Ryan, se ajeitando mais no colo do amigo – E isso ficou algo bem Alcoólicos Anônimos.

 

- Ryan, encare Brendon como um vício. Um mal necessário. Algo que você quer mais uma dose e não pode ter. Não pode mais ter porque ele não quer ter mais de você. Encare Brendon como um alcoólatra em recuperação vê aquela garrafa de vodca.  Tudo o que ele quer é resistir mais um dia sem pôr o líquido na boca. Você sabe que ele não é mais teu. Você sabe que tem um filho que te idolatra. Viva por ele, por teu filho.  Empurre um dia após o outro até que você consiga suprir a necessidade com lembranças. 

 

         Ross nunca soube a resposta daquela pergunta. Não ia perguntar novamente porque era aquilo que precisava ouvir . Alex consolou o mais novo até pegar no sono. Ryan se levantou com delicadeza e deixou um bilhete dizendo que tinha ido. Era dia quando Ross voltava para casa. Estava certo. Ele ia fazer Charles ser seu motivo de vida. Ia suprir sua necessidade de Brendon ali. No menino, que – querendo ou não – era filho de ambos. Até Charles via a tristeza do pai e por isso não lhe cobrava coisas. Tentava facilitar a vida do seu papai ao máximo, o pequeno compreendia muito melhor que um adulto.

 

         Ao entrar, deitou-se no sofá de qualquer jeito. Pediu pizza de qualquer coisa e quando ela chegou, comeu-a de qualquer jeito. Sem catchup, sem mostarda ou maionese. Apenas a pizza e sem mastigar direito. Ross nunca tinha aprendido a cozinhar. Brendon que era o ‘dono de casa’ do lar. Ryan era o pobre menino rico que não sabia viver.

                      

         Algumas semanas se passaram e a vida do jovem Ross continuava a mesma. Dia após dia. Hora após hora era igual. Vivia por Charles, comia porque o menino pedia, ia para o trabalho para ser considerado o herói do filho.  Para Brendon, estava cada vez melhor. Apesar de tudo não ter brilho e nem sentido. Ele tinha grande parte de suas lembranças de volta, porém a parte ‘principal’ ainda estava meio vaga. Ele tinha decidido não contar ao Ryan que lembrou do acidente, que odiava aquele – suposto – asco que Ross tinha de famílias pobres, mas faltava se lembrar como – realmente – era sua vida com Ryan. Faltava se lembrar dele: Ryan Ross.

 

         Com a carreira profissional retomada, Brendon conseguiu seu emprego de volta e boa parte dos privilégios que tinha antes exceto que ele tinha voltado a ser interno e isso não era realmente uma coisa muito boa, pois ele seria treinado por alguém bem conhecido: Ryan Ross. Bden não sabia como era trabalhar com ele e isso poderia ser bastante ruim para suas concepções que já estavam erradas.

 

         George estava parado contra o portal da porta e com os braços cruzados. Tinha a face fechada e aquela expressão de ‘eu-vou-matar-um-hoje’ presente no rosto do garoto deixou Brendon bastante intrigado e interessado no que poderia significar isso. Ao mesmo tempo pensou consigo: “Como pude esquecer alguém com traços tão bonitos?”, a resposta para isso é simples: não pôde.

 

- Urie, Philips, Tavares, Lissa e Brás. Vocês vêm comigo, agora. – Todos os citados correram até ele. Ross olhou para o seu relógio e sorriu sarcasticamente. Brendon chegou a assustar como o neurologista podia ser diferente do que ele acostumava ver – Todos vocês estão atrasados, um péssimo começo comigo. Memorizem algo: eu vou chamar nos pages de você uma única vez. Respondeu? Ótimo. Não respondeu? Vão ter a punição que merecem. Agora algo do qual vocês terão que respeitar eternamente: quando eu estiver com meu filho jamais, salvo quando for um caso de morte, me chame. Livros são ótimos auxiliadores e eu vou estar sempre pronto a orientar – Sorriu de maneira carregada – Eu mando, vocês obedecem. Sem questionamento nenhum, sem murmúrio, sem xingamentos. Aliás, o último item deve ser abonado do seu vocabulário em sua vida profissional. Meu humor nunca é bom então, pelo amor de qualquer coisa que vocês creiam, não esperem gentilezas minhas ou mesmo algum tipo de educação com vocês. Meus pacientes estarão sempre acima de vocês ou de qualquer pergunta que vocês venham a ter....

 

Brendon Urie franziu o cenho e Ashley que passava por ali, mexeu os lábios murmurando sem som nenhum um ‘esse é o Ryan Ross que eu conheço’. Ele deu de ombros de forma debochada arrancando um olhar frio de Ryan e um suspiro resignado do mesmo. Momentos depois, Urie voltou a se ater ao que George dizia:

 

- Eu não vou pegar leve com nenhum de vocês. Eu ralei muito para ser médico aqui, okay? Não vou favorecer ninguém. O caso do Brendon é diferente. Ele já foi treinado por alguns anos e está aqui para reaprender algumas técnicas mais novas e está aqui a pedido do doutor Telles. Se tiverem algo contra o doutor Urie, dirijam-se imediatamente ao Telles. Para quem não me conhece, sou o neurologista Ryan Ross e que fique claro que eu não vou sair com ninguém presente nessa sala. – Os demais médicos em treinamento se entreolharam enquanto Brendon abaixava a cabeça, mas Ross não parou aí: - Vamos ao trabalho: Dr. Philips e Dra. Lissa, o Telles precisa de internos hoje e vocês são os escolhidos. Vão! Brás, vá com o Tavares pra emergência  e Urie, vem comigo. Preciso falar contigo.

 

Cada um foi para o seu lugar determinado por Ross que seguiu com Urie até chegar em uma sala fechada. Eles foram em silêncio absoluto um com o outro. Entraram e então, quando Ross fechou a porta atrás de si, ele sorriu e disse:

 

- Bem, Dr. Urie. O Telles me pediu que treinasse você diferente dos outros. Supostamente, seus testes foram excelentes, mas eu não tive acesso aos resultados. Você realmente tem condições, segundo o chefe, de voltar a exercer a medicina.

 

- Obrigado.  – Disse Brendon – Não sabia que você tratava seus internos assim.

 

- Não é assim na maioria das vezes. – Resmungou pela repreensão – Só faço isso quando eles se atrasam e para mostrar que eu não sou nenhum tipo de brinquedinho de interno.

 

- Como você é esperto. – Brendon rolou os olhos, tomando para si a última frase. – Então... O que você realmente quer comigo?

 

- Você poderia pegar o Charles na escola para mim e trazê-lo para cá? É que eu terei uma cirurgia exatamente na hora que deveria buscá-lo. – Ross olhou para Bden que não lhe respondeu nada além de uma cara bem feia. Era o primeiro dia dele como trabalhador naquela clínica e estava faminto por um caso cirúrgico, por um pouco de medicina.

 

- Você é o pai dele, oras. Eu apenas o considero. 

 

Essa resposta deixou George com o queixo literalmente caído. Então ele ainda não tinha lembrado de nada? Sequer lembrava que eles tinham adotados Charles juntos? Pela primeira vez em toda a sua vida, Ryan decidiu forçar um pouco a memória dele, porque estava realmente cansado de bancar o bonzinho. Bden, por outro lado, guardava para si as cenas do acidente. Queria esclarecê-las, mas ao mesmo tempo, elas pareciam tão cristalinas quanto água de nascente.

 

- Como? Você não se deu ao trabalho de olhar a certidão de nascimento do menino quando esteve morando com ele, Dr. Urie? Ele é o seu filho também. O nome “Urie” lá não foi uma homenagem a você. Nós o adotamos há algum tempo atrás quando... Enfim. Faça seu papel de pai uma vez na tua vida.  – Ross rolou os olhos novamente, bufando alto com o que tinha ouvido. Ryan soltou uns palavrões baixos que fez Brendon dizer:

 

- Palavras desse calão deve ser banidas do vocabulário de um médico. – Ryro levantou os olhos para Brendon e engoliu a própria exigência com o gosto amargo de serem expelidas daquela forma por umas das pessoas que mais amava. Preocupado, Brendon disse: - E se eu entrar em um caso? Vou ter que parar tudo para ir buscar o menino as quatro?

 

- Você tem um treinamento especial comigo e vai entrar em um caso agora. Só que se não fizer o que eu peço e deixar o nosso filho na porta da escola, eu juro por tudo o que você ama que faço você demorar pelo menos trezentos anos para ser um médico.

 

- Okay. Eu vou. – Brendon disse desanimado, mas aquela advertência era mais que suficiente. Brendon não se lembrava de como era trabalhar com Ryan, não se lembrava de como ele poderia ser rígido, e estava decepcionado com aquilo e talvez – mas apenas talvez – fosse por isso que ele estivesse com medo de ficar sem algum caso. – Ele é mesmo o meu filho?

 

- Yep!  - Respondeu de imediato, sem nenhum vacilo – Charles sente a sua falta e e-eu... Enfim, vamos logo falar com a doutora Colleen que vai te detalhar melhor o caso. E por falar em dois médicos de áreas tão diferentes trabalhando juntos, já pensou em uma especialidade?

 

- Keltie Colleen? A obstetra?

 

         Brendon parecia lembrar-se bem dela, porém suas recordações não eram muito boas. Quando Brendon conheceu Ryan, ele namorava uma menina que ele tinha fixado aquela expressão triste na lembrança  quando juntos eles contaram o que Ryan sentia por Brendon e o que Brendon achava tão triste é que ela se conformou com o amor dos dois e jamais tentou algo para separá-los. Esse era o diferencial de valor em Keltie Colleen.

 

- Yeah! – Respondeu rápido – Ela se tornou uma ótima pessoa. – Deu um sorriso sincero, desfazendo a pose séria e de ‘guarda’ que tinha estado nos últimos minutos graças ao que Brendon tinha dito de Charles – que, aliás, vale dizer que Ross não acreditava naquilo até aquele momento.

 

         Keltie Colleen era realmente uma ótima pessoa. Ryan estava certo. Fora ela a pessoa que mais deu suporte ao Ross quando Bden estava internado. Keltie e Alex eram as pessoas que Ross mais tinha apreço e no caso de Keltie, era importante até mesmo pro pequeno Charles que a chamava de “mamãe”. Eles foram ao encontro da doutora para Brendon ficar a par do problema e de como iriam proceder.

 

         Às quatro horas, Brendon foi – com má vontade ainda – buscar o pequeno Charles. Foi no carro de Ross e isso fez o menino pensar que realmente era seu pai. Ao encontrar-se com Brendon na direção, ficou meio estranho e entrou na parte de trás do carro sem dizer nenhuma palavra.

 

         A verdade era que Charles – apesar de toda a falta que sentia de Brendon e principalmente da sua comida – sentia raiva por ser abandonado de novo por um pai. Ele cruzava os pequenos braços ossudos a altura do peito e encarava o maior pelo retrovisor. Charles não tinha uma cara bonita e Brendon, como seria de praxe, sorriu de maneira doce, vencendo tudo o que o menino tinha se disposto a sentir por Brendon Boyd Urie.

 

- Antes de irmos, vamos passar em alguma padaria e comprar algo para o meu pai comer, porque ele quase não come quando está trabalhando. – Disse o menino quase que ordenando o pai. Brendon arqueou a sobrancelha e, preocupou-se com a alimentação inadequada de Ryan Ross.

 

- Okay, Charles. – No início, foi tudo um silêncio tenso. Brendon desviava o olhar para o retrovisor e via o quanto o menino não tinha concordado com aquela situação. – Olha, a gente precisa conversar.  O que eu fiz foi melhor para o seu pai.

 

- Melhor, papai? – Seus ossos se descruzaram e encaravam o ‘pai’ com certa maturidade e ainda com aquela inocência de criança que ele sempre emanava. – Você não sabe o que é melhor para si mesmo quanto mais saber o que é melhor para meu pai.

 

Aquilo realmente calou Brendon momentaneamente. Charles mantinha os olhos fitos em Brendon que o encarava pelo retrovisor. Urie virou-se rapidamente para o menino e fez menção de falar vez ou outra, mas não funcionou. A voz não saia, ele então disse ao menino:

 

- O que o seu pai fez comigo não tem perdão.  – Virou-se e voltou a encarar o pára-brisas indo para algum restaurante a fim de que pegassem comida para Ryan. Mas a pergunta que ficou na cabeça do pequeno Charles é: o que Ryan tinha feito de tão ruim?  Voltaram a ficar em absoluto silêncio e foram para o hospital. 

 

O pequeno Charles era adorado pelas crianças internadas lá. Ele era engraçado e não deixava ninguém notar uma suposta tristeza por ali. Um trabalho voluntário exemplar para muita gente grande.  Brendon olhava Charles fazendo as crianças rirem e sentiu falta do lar que tinha antes. Sentiu falta dos homens de sua vida

 

Dias se passaram e as coisas eram cada vez mais frias entre Brendon e Ryan. Frias e profissionais demais. Aquele dia seria totalmente diferente dos demais. Aquele dia tudo ia se extrapolar, aquele dia, a vida deles iam mudar. Brendon conheceria o lado mais agressivo de Ryan, o lado lutador. O que é capaz do impossível por quem ama. Ryan caminhou até sua mesa e desacreditou no que lia. Tinha que estar errado.

 

Eram os papéis da família Urie, requerendo a guarda de Charles.

 

Desesperado, o neurologista começou a caminhar pelos corredores até achar Brendon. Era o nome dele que estava na petição.  Quando achou Bden, o puxou pelo jaleco e o jogou dentro de um depósito de suprimentos com todas as forças que tinha. O menor arregalou os olhos grandes e ficou pasmo com aquela atitude atípica de Ryan Ross que o soltou violentamente contra uma das paredes e o pressionou de uma forma que não tinha como sair dali. Perigosamente perto um do outro, porém Ryan não estava sentindo o corpo tremer, mas estava febril de ódio.

 

- Você. Não. Vai. Tirar. O. Charles. De. Mim! – Dizia Ross pausadamente, entre os dentes a fim de segurar o grito – Você não sabe metade do que eu sou capaz de fazer quando eu amo! Você disse que só considerava o Charles, não tem motivo nenhum para tirá-lo de mim, entendeu?

 

- Quer dizer que você não me ama? – Brendon e sua mania de levar as frases erradas para o pessoal. Então era isso o que Brendon concluía? Depois de tudo, era isso? Ryan nunca tinha amado? Tudo o que Ross tinha passado era por puro masoquismo.

 

Ross soltou Brendon totalmente irritado e deu um chute na porta. Entreabriu os lábios várias vezes, mas a voz estava morta em sua garganta. Não conseguia. Estava morta e retalhada como o seu coração.

 

- Não me ama? – Perguntou de novo – Eu lembrei do acidente. Eu me lembrei que éramos felizes na adolescência. Das marcas no meu quarto, de Harvard. Não lembrei de muitos detalhes, mas lembrei de grande parte. Agora que estamos separados, descubro que era melhor eu ter morrido.

 

- Nunca mais fala isso! – Ross gritou. – Eu dei o meu sangue pela tua vida e eu exijo que você dê um pouco de valor nas coisas que eu passei pra te deixar vivo três malditos anos! Mas a questão aqui é outra. Charles. Eu nunca proibi você de ver o Charlie, proibi? Eu nunca pedi para que você sumisse da minha vida, eu nunca cobrei nada por ter salvado a sua vida um milhão de vezes. A única coisa que eu vou pedir pra você em toda a minha vida é que você deixe o resto de motivo de vida que me sobrou.

 

- Do que você está falando, Ryan?  - Brendon parecia não saber do que se tratava. Porque tamanha fúria e, motivo de vida? Tirar o Charles dele?

 

- Que você não vai tirar o meu filho de mim! – Rolou os olhos. – E eu acho bom não me enfrentar no tribunal que eu posso utilizar tudo o que eu sei de você e de toda a sua família no tribunal. Então, Brendon, pense muito bem se vale à pena mexer comigo, mas principalmente se vale a pena me ter como inimigo. Agora sai e fecha a porta...

 

Pela primeira em toda a sua vida, Brendon viu Ryan decepcionado de um jeito que jamais imaginou que conseguisse chegar e pior, era um ato que ele nunca faria, nem passou pela sua cabeça, na realidade. Não era aqueles fraquejares simples. Aqueles que você simplesmente pensa em largar tudo o que é ou o que vive por um momento de fraqueza. Era um fraquejar de decepção que Ryan sequer fazia questão de esconder.

 

Mesmo com o pedido do maior, ele não saiu e isso obrigou Ryan a pedir mais uma vez e novamente, Brendon não obedeceu, mas não pelo fato de querer provocar Ryan, mas realmente, Brendon não conseguia sair do lugar. Era como se passassem cola instantânea em seus pés.  Ross, por sua vez, tinha se sentado no chão gélido e estava com a aparência a cada minuto mais decepcionada, mais fraca. Estampando em seu rosto delicado que todas as suas tentativas amistosas tinham falhado.

 

A única coisa que ele conseguiu fazer foi abaixar-se ao lado do maior e abraçá-lo.

 

George, por pura raiva, repeliu o abraço por várias vezes. Socou  o menor até suas forças se acabarem de uma vez por todas. Com uma força sobrenatural, Brendon conseguiu segurar o acesso de fúria de Ryan, se deixou ser socado como punição de algo que ele não fez. Brendon apertou o abraço e sussurrou:

 

- Eu estou com você – Ross não pôde mais resistir. Era tudo o que ele mais sonhava ouvir, mas queria que fosse verdade (mesmo que fosse verdade, quem deles acreditaria? Era mais fácil usar um ‘vai passar logo’, ou um ‘me desculpe’, porém essas palavras se faziam necessárias). – Eu estou aqui por você.

 

Repetiu a seqüencia várias vezes até que teve certeza de que Ryan tinha a convicção de que nenhum mal lhe aconteceria.

 

- Está? – Ross perguntou fraco – Você realmente está? Primeiro disse que eu nunca te amei, depois que era melhor ter morrido e para piorar tudo ainda quer tirar o Charles de mim. O que mais quer de mim, Brendon?

 

- Sh... Só quero que tire um tempo pra você. Eu conversarei com a minha mãe novamente. Ela não devia ter tentado entrar nessa guerra pra tirar o Charles de você, agora, concentre-se em recuperar as suas forças e principalmente, retome o que eu suguei de você.

 

         Ross riu fraco. Aquilo lhe soava como uma piada tola. Brend estranhou a expressão do homem acolhido em seu abraço. Um não tinha coragem de olhar para o outro, mas apesar do chão estar muito gelado, parecia-lhes confortável. Talvez por estarem acolhidos um nos braços do outro.  Então, Ross teve coragem de olhar para Brendon e tocar-lhe o rosto com seus dedos gélidos. O menor sorriu enquanto sentia seu corpo se arrepiar de frio e ao mesmo tempo, pela sensação que aquele toque lhe causava.  Por fim o neurologista disse:

 

- Sabe, Brend eu quero te dizer algumas coisas para sobreviver até aqui. Por doze fucking anos.

 

         Nesse momento, Brendon pareceu olhar com doçura e ao mesmo tempo, ele tinha medo, porque – de certa forma – Brendon tinha plena convicção de que não merecia o amor daquele homem perfeito. Aos poucos – talvez não aos poucos, mas aos muitos – Brendon estava notando o quão ingrato estava sendo e aquilo lhe causou muito desconforto. Ryan prosseguiu com seu discurso:

 

- Você entrou na minha vida feito um temporal. Pôs tudo de ponta cabeça para baixo e eu jamais reclamei disso. Na verdade, eu sempre gostei disso.  Depois que você pôs tudo de cabeça para baixo, começou a me moldar, a brincar com a minha vida como e quando quis. Você me moldou para ser dependente de você e agora me castiga por palavras do passado, por atos.... Um único erro e você me priva de tudo o que eu necessito ter.  Vai ser assim para sempre, querendo eu lutar contra ou não. Sem você realmente ao meu lado, eu jamais vou me recuperar . Jamais vou ter motivos pra sorrir e realmente espero que um dia, você veja isso.  Espero que você veja que eu estou destinado a viver para você.

 

- Esse é o problema, Ryan. – Brendon suspirou. Tenteou desvencilhar da carícia, mas ele já estava entregue demais a ela.  Ele apenas fechou os olhos para não se perder neles – Quero que passe a viver para você. Que se cuide como se eu estivesse ao seu lado.  Quero estar com você tendo a plena convicção de que você me ama o suficiente para suportar nossas brigas.  Sem falar que... Precisa controlar sua promiscuidade.  E precisa fazer isso sem mim, sem me ferir.

 

Ross soube que não ia adiantar falar sobre aquilo. Decidiu aproveitar o seu momento com Brendon Urie. Fazê-lo cair em seus braços ao menos um instante.

 

-  Eu estarei pronto para você  quando você me quiser.

 

Não deu mais para segurar. Por força maior, ambos chocaram suas testas arrancando um ‘ai’ de cada lado e um pequeno sorriso de ambos. Iam recair. Iam se entregar e nada poderia impedir aquele momento doce.  E uma vez que se recaia, não há como voltar atrás. Ryan via Brendon como Alex pediu, mas agora, não como algo nocivo, mas algo necessário para sua sobrevivência.

 

A proximidade dos lábios faziam Ryan estremecer. Levou suas mãos a nuca de Brendon, forçando-o a ficar ali, sentir seu rosto grudado ao de Urie era tudo o que ele mais queria e o que tinha no momento. Aproveitava cada minuto daquela proximidade insana com tudo o que tinha e com tudo o que queria ter.  Brendon por sua vez sentia a respiração falha de Ryan acariciar seus lábios ressecados e grossos de maneira sutil.  Seus lábios também tremiam de ansiedade e, por que não dizer que, tremiam de vontade de ter os lábios finos mais perto.

 

Brendon parecia fora de si. Tinha fechado os olhos apenas para sentir a carícia que o neurologista fazia em seu corpo e o que ele lhe causava. Ryan foi quem quebrou a – mínima – distância entre eles. Começando assim um beijo calmo, sem imposição de língua. Pequenos toques que, vez ou outra, faziam pequenos estalos que não incomodavam.  Era um beijo medroso, um beijo cheio de esperança, meio descompassado e necessário. Porém Brendon não conseguia raciocinar nem corresponder.  Sem separá-los, Ross murmurou algo inaudível, apenas para Brendon sentir:

 

- Não me rejeita agora.

 

Poderia parecer um pedido bobo, sem nexo, mas era um pedido desesperado, um pedido que machucava muito. Quando ele percebeu que Brendon não corresponderia, afastou-se dele, e sentiu que aquela hora sim tudo estava acabado. Virou-se de costas para Brendon e abraçou os próprios joelhos. Entretanto, Brendon voltou a si de maneira súbita e deu um puxão desesperado em Ross que caiu em cima do seu corpo. 

 

Não pôde resistir a aquele pedido, ainda que tenha tardado, mas não ia negar.

 

         E recaíram.

 

 

#Fim do Quinto Conto#


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