Ryans Tales escrita por rumpelstiltskin


Capítulo 4
Quarto Conto - Contos que não deviam ser contados.




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#Quarto Conto#: Contos que Não Deveriam Ser contados.

 

 

Now your pictures that, you left behind

Are just memories, of a different life

Some that made us laugh

Some that made us cry

One that made you, have to say good bye

Agora as fotos que você deixou para trás

São somente lembranças de uma vida diferente

Algumas que nos fizeram rir

Algumas que nos fizeram chorar

Uma que você fez ter que dizer adeus

 

 

 

 

 

 

#Flash Back#

 

 

Ross foi chamado em à sala do Dr. Telles, chefe do local. Na verdade, George já sabia do que se tratava, sabia bem que seria dito e estava decidido a não deixar o seu amado Brendon partir. Ele, Ryan Ross, ainda não estava pronto para isso.

 

- Dr. Ross, Sr. e Sra. Urie, tenho que falar sobre doação de órgãos e...

 

- Desculpe. - Interrompeu Ryan - Quem o declarou? - Perguntou arqueando frente ao seu peitoral magro. O rosto expressava aquela coisa sem dormir, sem utilidade. As bolsas nos olhos de Ryan incomodavam até mesmo o chefe dele. Ross não dormia a semanas, meses... Ele não comia nada bem e mesmo que Brendon - supostamente - respondesse bem aos tratamentos, o doutor Telles queria era acabar com o sofrimento de George Ryan Ross.

 

- Nenhum médico, Ross. O caso sempre foi seu desde o começo. Porém ele está há muito tempo em coma. - Respondeu o médico mais experiente, ajeitando-se na cadeira. - Vocês, da família,devem considerar a possibilidade de doar os orgãos dele.

 

         Ryan ficou indignado com o discurso do doutor. Olhavam os pais de Brendon arregalando os olhos e Boyd buscando segurança em Ryan que apenas balançava negativamente a cabeça e se deparou com a pergunta de Boyd:

 

- O que acha disso, Dr. Ross? - George manteve o olhar sereno e suspirou.

 

-Que se vocês assinarem esses papéis estarão matando o seu filho. Sabendo disso, eu, enquanto namorado dele, não posso deixar que o faça e não posso deixar menos ainda enquanto médico encarregado. O paciente Urie responde aos medicamentos e seu cérebro está em plena atividade.

 

- Pois... Ele está sofrendo? - Perguntou Grace, olhando diretamente para o doutor Telles.

 

- Não sei dizer ao certo, mas eu acredito que sim. - Sorriu o homem - O fato é que seria um desperdício de órgãos se eu não insistisse.

 

         Grace chegou a hesitar, mas quando por fim decidiu assinar, Ryan pôs a mão no papel e encarou os olhos da mulher que demonstrava todo o seu ódio

 

- Eu não vou deixar você matar o seu filho apenas para me contrariar! - Ryan por fim se exaltou. Grace e Boyd se entreolharam - Volto a repetir, ele tem respondio ao tratamento. É besteira deixá-lo partir agora... por favor.

 

 

         Um lamento, um pedido que era para ser uma ironia. Mas todos ali sabiam que ele implorava pela vida do namorado. Como médico e bom profissional, Ryan conseguiu convencê-los. Ryan teve que ficar com uma responsabilidade acima da normal naquele caso. Seria pra sempre até que ele por fim, acordasse.

 

#Fim do FashBack#

 

 

 

 

         RyRo chegou em casa animado. Já tinham se passado dois meses da visita dos pais de Ross ao Brendon e, na realidade, o tempo só tinha piorado. Piorava a cada minuto por causa dos zilhões de dúvidas que Brendon tinha na cabeça. Cada dia que passava, Urie tinha mais sede de respostas, sede de suas respostas, de seu passado e por esse motivo, se encontrava às escondidas com Ashley.

 

         Durante aqueles dois meses, Brendon se encontrava com ela periodicamente. Já tinha notado o brilho no olhar dela quando estava com ele, mas precisava saber do seu passado e Ash era a única que contava sem rodeios. Sem mentiras. Naquele dia, Ross chegou e ela estava na sua casa, sentada em seu sofá conversando com Brendon. O seu Brendon.

 

         Ashley usava um vestido jeans quatro dedos acima do seu joelho, que definitivamente estava chamando  a atenção de Brendon para seus 'atributos físicos'. Suas pernas estavam cruzadas e aquilo deixava a coisa mais chamativa ainda. George rosnou baixo ao entrar e ver aquela cena em seu sofá e trancou a porta atrás de si. Subiu as escadas e sentou-se no topo dela. Ele não estava pronto para ver a independência do seu amado. Não conseguiria deixá-lo sair de sua vida com outra pessoa.

 

- Bden, já fez as malas? - Disse enquanto se encostava na parede para ficar mais confortável.Passou os olhos pelo local e encontrou um carrinho de seu filho jogado pela casa. - Charles! - gritou e o menino veio o mais rápido que pôde. -  O que esse carrinho está fazendo aqui? Quantas vezes já te disse pra não deixar isso perto da escada?

 

- Mas papai, vou contar um segredo bem secreto. - Abaixou o tom de voz e se abaixou para falar com o pai. Pôs a mãozinha em forma de concha no ouvido de Ryan e aproximou-se pra lhe contar o segredo. - Deixei o carrinho aí para a moça que está com o papai Bden tropeçar. Eu não gosto dela. - Chales olhou para o pai com um pequeno bico nos lábios e Ryan não segurou a risada e rio baixo. Puxou o filho para o seu colo e o abraçou.

 

- Só não vou castigar você porque eu também queria que ela caísse. - O menino se desprendeu do abraço após a confissão de Ryan e começou a pular e gritar:

 

- Papai tá com ciúmes, papai tá com ciúmes!  - Mais que depressa e rindo um bocado, Ryan segurou o menino e tapou sua boca com as mãos longas por alguns minutos. George estava vermelho como um tomate, mas achava aquilo engraçado. Estava mesmo com ciúmes, só não queria ser descoberto.

 

 

         Bden, no sofá da sala, também corou com a brincadeira, mas sentiu também uma imensa alegria. Alguns minutos depois a menina foi embora e Urie subiu as escadas encontrando Ross no topo delas. Charles não estava mais lá. Tinha ido guardar o carrinho. O maior estava debruçado no corrimão e Boyd sentou-se no último degrau.

 

- Com ciúmes, Ryan? - Perguntou Brendon enquanto sorria. Ryan olhou para ele de soslaio, mas não consegiu vê-lo. - Achei que você não tinha isso.

 

- E-eu? C-claro que não... - tentou parecer firme, mas não conseguiu. Bden deu um sorriso de canto de lábios e abraçou George por trás.

 

- Mesmo? - Sussurrou próximo ao seu ouvido - Por que você ficou uma gracinha com ciúmes. Ciumento.

 

 

- Já fez a mala? - Desviou do assunto e Brendon deu-lhe um beijo na bochecha. Ryan mantinha o cenho franzido e uma expressão ligeiramente divertida, porque não conseguia convencer o seu namorado de nada mesmo.

 

- Estava com ciúmes sim. - Ryan torceu os lábios em rejeição, recebendo em toca uma risada maléfica de Brendon.

 

- Eu não estou com ciúmes, okay? Okay! - Afirmou Ryan virando-se para encarar os olhos de Brendon, sua face que estava com aquela expressão doce e encantadora que só ele tinha - E você também não tirou os olhos das pernas dela. Eu vi!

 

- Estavam a mostra e... São bonitas. - Urie deu de ombros e fazendo uma brincadeira - Quem dera eu ter iguais.

 

- Vai se fo... - Brendon interrompeu o esbravejar de Ross com um beijo rude e bem provocativo. Prendia o maior com as duas mãos fortemente seguradas ao corrimão da escada. Minutos depois, ofegantes, o beijo parou e eles mantiveram as testas encostadas. - Fez as malas? - Sussurrou.

 

- E para quê? - Perguntou o outro. - Quer se livrar de mim, é? - Um bico adorável se formou nos lábios ligeiramente inchados de Brendon, fazendo George não resistir a tentação de morder aqueles lábios com delicadeza e responder entre eles:

 

- Vamos para Seattle. - Ross abriu seus olhos encarando a face confusa do menor. Um pequeno sorriso se formou e Ross continuou sua explicação - Vamos para você fazer uns exames com uma das melhores neurologistas e depois, quem sabe, curtir uma semana a dois.

 

- E Charles?  - Bden perguntou receoso, com a sobrancelha erguida - Vai ficar com quem, uh?

 

- Meus pais, oras. - Respondeu sem dar muita importância ao assunto e desvencilhando-se do abraço - E vamos logo fazer as nossas malas que o vôo sai em algumas horas.

 

 

         Divertidamente eles correram pela casa e começaram a arrumar suas malas de qualquer forma. As suas e as de Charles que também entrou na brincadeira. Eles deixaram Charles com a mãe de Ross e seguiram viagem. Porém, Ross no meio da brincadeira toda, tinha esquecido as passagens e tiveram que esperar o próximo vôo.

 

         Ao chegar em Seatle, Ryan percebeu que não tinha feito reservas em um hotel, então tiveram que se contentar com uma suíte simples. Nada de presidencial. Bden estava visivelmente cansado e Ryan da mesma forma. Eles apenas se jogaram na cama macia e limpa sem pôr - ao menos - seus pijamas.

 

- Amanhã a gente vai a consulta com a Dra. Anne e depois... Hm... Sei lá, você escolhe! -Tirou os sapatos enquanto dizia. Estava apenas sentado na cama enquanto os tirava, Brendon, por sua vez, já tinha se deitado.

 

- Okay. - Suspirou - Ei, sabia que a última vez que você teve tempo de me contar uma história sobre Joshua e Alec foi a dois meses atrás?

 

         Bden fez um bico infantil enquanto Ryan terminava de tirar a camisa. Na realidade, por estar de costas, o bico não fez o efeito necessário, então Urie envolveu seus braços pelo corpo de Ryan que mordeu seu lábio inferior devagar, pensando se deveria ou não levar aqueles dolorosos contos à diante.

 

- Você não leu a parte que eu deixei escrita, não é? - Perguntou se ajeitando na cama para poder acolher melhor o garoto em seus braços e o viu manear negativamente a cabeça - Okay. Chegou em uma das partes mais dolorosas da história deles.  Alec sequer gosta de comentar, porque é algo que ele nunca contou a Joshua. Alec chegou a casa de seu pai e este o aguardava.  Alec tinha passado uma noite ímpar com Josh e o sorriso em seu rosto era impossível de ser escondido. Nada poderia tirar a alegria que tinha dentro dele, nem mesmo o seu pai seria capaz disso. Alec tinha somente dezessete anos nessa época.

 

- Suas malas. - Apontou o pai - Tome um banho, tira esse fedor dele do seu corpo e leve suas malas para o carro. Te matriculei num internato bem longe daqui. - Dizia o pai de forma decepcionada, Alec entreabriu os lábios surpreso com o que acabara de ouvir.

 

- C'mon pai. Eu fui aceito nas melhores universidades do mundo:Oxford e Harvard. E eu já decidi que vou para Harvard cursar medicina, querendo você ou não.

 

- Sobe as malditas escadas e vai para o teu banho agora. Antes que eu perca a paciência contigo. - O homem olhou fundo nos olhos do filho que retribuiu da mesma forma desafiadora.

 

- Quer saber quais são meus sonhos? Eu vou cursar medicina na Harvard daqui há alguns meses, serei um ótimo cirurgião cardíaco, terei minha própria clínica e com toda a certeza do mundo, eu vou estar casado com Josh. Que aliás, preciso dizer que, não é da sua conta o que está rolando entre Josh e eu! E você não vai conseguir tirá-lo de mim. Não vai passar o que sentimos um pelo outro, não se iluda dizendo que vai passar, porque não... não vai passar!

 

         Alec sentiu o peso da mão do pai em seu rosto. Direto no olho esquerdo foi aonde o punho cerrado de seu pai atingiu. O olho de Alec chegou a ficar roxo por causa daquela pancada. A primeira reação do menino foi levar a mão ao local  atingido e sentiu um ódio remoer seu corpo. Um ódio que nunca tinha sentido antes. Percebendo então o que tinha feito, o pai de Alec o abraçou, porém o mais novo ficou imóvel, demonstrando toda a sua indiferença com aquele ato.

 

         Os lábios de Alec tremiam e os olhos queimavam por causa da vontade de extravasar no choro todo aquele ódio, mas seu gigante ego não estava deixando as lágrimas caírem na frente de seu pai. O mais velho soltou o filho e Alec foi ao seu quarto e passou dias lá. Dias sem ir à escola, dias sem sair para comer e, principalmente, dias sem falar com Joshua que fez o último achar que estava sendo rejeitado. Isso quase foi o fim da relação dos dois.

 

 

- RyRo? - Bden interrompeu arrancando um sorriso bobo dos lábios de Ryan. Lá estava o seu garoto o chamando de RyRo. Sentia falta daquilo há muitos anos. Mesmo com aquela alegria, Ryan temeu a pergunta - Por que Alec não quis ver o Josh?

 

- Por causa do olho roxo. Ele não quis ser visto naquele estado e não queria mentir para o namorado. - Ryan respondeu totalmente desatento, porque na realidade doía muito falar sobre aquilo. Coisas das quais passou para ficar com Bden, mas que em momento nenhum se arrependia de ter passado por elas.

 

 

- Por que Alec mentiria? - Perguntou Brend retirando Ryan do seu pequeno transe. O maior deu um beijo barulhento na face do outro - Posso contar um segredo? - Bden sussurrou contra o ouvido do maior fazendo-o perder o chão e os sentidos. Moveu a cabeça positivamente e Brendon continuou: - Essas histórias de Josh e Alec me parecem tão... Familiar.

 

 

         Ryan que já tinha um sorriso bobo nos lábios só conseguiu ampliar ainda mais o mesmo. Abraçou o menor com todas as forças e começou a enchê-lo de beijos. Brendon ficou sem entender a felicidade que Ross estava ao ouvir tão simples frase. O brilho do olhar de George encantou, mexeu no fundo da alma de Brendon e fez com que ele temesse as decisões que sairiam apartir daquela viagem.

 

- Que foi? - Perguntou Brendon sorrindo.

 

- Isso... Que acabou de acontecer é, com certeza, uma das melhores coisas que poderia ter acontecido na minha vida nos últimos quatro anos e meio.

 

- Sério? - Brendon arregalou os olhos e olhou dentro dos olhos de Ryan. Acariciou com doçuara a pele alva de Ryan e sabia que estava próximo o fim dos dois. Sabia que estava próximo da decisão que tinha que tomar. Aquelas expressões felizes de Ryan mexia com sua alma de uma forma irreversível. Ele estava decorando cada detalhe daquele rosto apaixonante.

 

         Ross, por sua vez, tinha o sorriso cada vez maior com aquelas carícia. Ele nunca olhou detalhes, nunca conseguiu perceber pequenos detalhes, não conseguia perceber que aquilo era sim uma despedida silenciosa. Então Ryan respondeu:

 

- Sério. Eu não poderia pedir mais nada no mundo para ser feliz.

 

         Ele devia ter contado que era porque Josh e Alec eram eles, mas não contou. Bden sorriu novamente e nessa troca de carícias ambos dormiram. Um nos braços do outro. Incertezas sobre deixar ou não Ryan rondavam os sonhos de Brendon e aquela foi uma noite bastante agitada. Para ambos.

 

         Quando amanheceu o dia e Brendon acordou primeiro, principalmente porque seu sono foi o menos tranqüilo dos dois. Ele concluiu que um banho ajudaria a passar por aquilo.

 

         George acordou tateando a cama e se tranqüilizou ouvindo o barulho da água caindo contra o corpo de seu namorado. Ele rolou na cama por alguns instantes de forma preguiçosa e coçou os olhos. Então ouviu Brendon entoar meio desafinado - de um jeito que na verdade, Ross adorava ouvir -, a música Wonderwall do Oasis:

 

- Because maybe, you're gonna be the one that saves me. And after all...You're my wonderwall.

 

         Abriu os olhos e sorriu novamente. Adorava ver o quanto Bden estava animado, mas ele realmente estava? Cantar geralmente não é um sinônimo de felicidade, mas sim um atalho para vencer seu medos e espantar seus males. Exorcizar seus próprios demônios, como dizem. E levantou e foi preparar uma roupa para irem a consulta e percebeu que o celular de Brendon tocava.

 

- Bden, seu celular tá tocando. - Disse, separando uma camiseta branca, um colete ligeiramente cinza, um cachecol de tricô igualmente cinza, um paletó preto e uma calça jeans. Seattle estava meio frio e ele sempre achou lindo usar cachecóis, sem falar em chapéus.  - Bren-don! - Chamou de novo dessa vez um pouco mais alto e ouviu como resposta:

 

- Atende pra mim, querido. - Ryan deu de ombros e foi ver o que era, deprando-se com uma mensagem de Ashley desejando boa viagem, que tudo desse certo para ele e blá, blá, blá. Ross revirou os olhos de forma cansada e murmurou irritado algumas palavras de baixo calão. Leu umas duas ou três vezes e apagou. Pôs o aparelho no ouvido e fingiu ser um mero engano. Ciúmes... Ryan se descobria cada vez mais ciumento. - Quem era?

 

- Ah... - Ross abaixou-se até a mala para pegar sua toalha - Engano, Bden.

 

- Sério? - Brendon parecia perceber a mentira do amado. Aliás, Brendon parecia resgatar a cada minuto mais tudo o que conhecia de Ryan Ross que assentiu com a cabeça dando um sorriso leve. 'Por que Alec mentiria para Joshua?', resposta óbvia demais: ciúmes.

 

         George então rumou ao banheiro sem olhar pros olhos de Bden que ria enquanto vestia sua roupa: uma simples camisa de manga longa preta e calça jeans. Tomaram o desjejum numa lanchonete perto do hotel e seguiram para a doutora Anne Nicolas, uma das melhores neurologistas de todo o país.

 

 

         Anne ficou muito feliz por receber Ryan e Bden. Ela já tinha ouvido falar das coisas que Ryan enfrentou no hospital por Brendon e por muitas vezes confessara que nunca tinha visto ninguém amar com aquela intensidade. Era impossível para qualquer ser humano comum. Anne sempre soube o quanto Ross era especial, meigo e doce mesmo quando ele só apresentava estupidez.

 

 

         Dra. Nicolas fez os exames necessários e pediu para que a sua ajudante levasse Brendon para fora. Precisavam conversar - Ross e ela -, de médico para médico. Ross aproveitou para analisar o jeito extremamente ético de se portar da sua companheira de profissão.

 

- Ryan, olha só... Eu tenho o prazer de te dar ótimas notícias e notícias bem desagradáveis. - A mulher entrava na sala com alguns exames nas mãos. Ross mais que depressa correu em sua frente e acendeu as luzes dos quadros brancos onde se colocariam os exames para que ambos pudessem analisar. - Eu pedi para falar com você sozinha, porque eu quero preparar você e porque preciso que você aja naturalmente.  - Ela pôs as ressonâncias magnéticas nos lugares aonde eles analisariam todos os resultados e voltou-se para ele arqueando uma das sobrancelhas.  – Posso contar contigo?

 

- Claro.  – Respondeu quase sem poder se controlar apenas pelo fato das notícias serem ótimas – Agora fale o que você vê antes que eu pire aqui.

 

- A memória dele está realmente ótima. Eu fiz perguntas de todos os tipos, todos os testes existentes e ele se saiu muito bem, exceto quando eu  o forcei a lembrar de sua vida pessoal. – Ryan sorriu grandemente ao ouvir aquilo. Apesar de tudo, Brendon estava bem e era aquilo que realmente importava. – Só que agora é a hora que eu quero que você aja naturalmente com ele.

 

- Okay, o que há?

 

- Urie tem reclamado para você de cefaléia, perda de consciência, vômitos ou convulsões? – A doutora apontou com uma pequena baqueta de metal, apontava aquela dilatação. Ross arregalou os olhos e desacreditou no que estava vendo.  – Não preciso explicar para você o que eu vejo, não é?

 

- Fuck! – Exclamou. – Eu não tenho tido tempo de cuidar dele nos dois últimos meses por causa de cirurgias atrás de cirurgias e ele jamais reclamou de dores para mim. E como vamos cuidar desse aneurisma. Cirurgia ou embolização?[red]*[/red]

 

- Embolização. – Respondeu ela sorrindo. – Cirurgia somente em casos extremos. O bom é que a lesão que ocasionou o coma estava ótima e completamente bem tratada. É questão de tempo que ele se lembre do que vocês viveram e... – A frase morrera ali, como se ela não quisesse tirar as esperanças dele. - Eu vou chamar um médico amigo meu para me ajudar na embolização, okay? Conversa com ele sobre isso e quando me fale. Como o meu amigo mora na Inglaterra, ele vai demorar uns dois dias para vir. Não que seja longe, mas ele é um dos melhores que eu conheço e deve estar cheio de cirurgias para fazer.

 

 

- Obrigado, Anne. – Ross sorriu de leve – Eu converso com ele ainda hoje e te dou a resposta necessária.

 

- Quanto à memória dele o que você anda fazendo para estimular?  Você sabe que ele... Pode não se lembrar de nada, não é?

 

- Jogos, contos, álbuns, vídeos... – Respondeu rápido e evasivo – De certa forma, se ele se lembrar da noite do acidente, eu estou no mínimo perdido.

 

 

         Exatamente nessa hora, Brendon entrou fingindo não ter ouvido nada. Estava curioso, mas com certeza Ashley o ajudaria a entender. Anne conversou com ele sobre sua memória e Ross sobre o aneurisma. Bden confessou que não quis incomodar Ryan com seus problemas físicos. Achava que era melhor assim, que RyRo já tinha cuidado muito dele. Sempre seria assim, sempre tudo estaria bem.

 

         Combinaram então de fazer aquele procedimento daqui a três dias, porém Bden não quis ficar internado. Ele poderia até gostar de hospitais, mas não para estar internado em um, a final, eram os seus últimos momentos com ele, não eram? Sempre aquela maldita confusão ia continuar em sua cabeça até quando?  Ao saírem do consultório de Anne foram tomar sorvete, ir ao cinema ou qualquer coisa do tipo. Seattle era, com certeza, uma bela cidade.  Ross ajeitou os óculos escuros e desacreditou na figura que vinha em sua direção.

 

         Ross não fez questão de disfarçar o ódio que sentia ao ver Grace Urie se aproximando. Como ela soubera que eles estavam em Seattle? Só tinha uma explicação plausível. Apenas Ashley sabia, ela com certeza, tinha dado com a língua entre os dentes. Ross deu um passo para trás e abraçou o namorado com gosto, de modo que provocasse ira em Grace e ao mesmo tempo, evitaria de Ross seguir seus instintos e  matá-la. A mulher fez o mesmo movimento que Ross fez com os seus óculos. Ao mesmo tempo causando um clima realmente tenso entre eles.

 

         Ela estava carregada de compras e Ryan revirou os olhos. Apesar de ter visto seu filho, o sorriso que tinha. Ross não conseguia fazer bem a Grace e vice-versa. Então, após alguns palavrões resmungados baixo e algumas auto-repreensões, Ryan proferiu.

 

- Eu devia ter ido para New York. – A mulher entregou as sacolas para o motorista dela e abraçou o filho, arrancando-o fortemente dos braços de Ryan. Era uma guerra entre os dois e isso estava perdurando por anos e anos. Não era as escuras. Todo mundo sabia que se odiavam. – Oi pra você também, Grace.

 

- Oi – Respondeu fria voltando-se para o filho – O que você está fazendo aqui, meu filho? – Pôs as mãos no rosto do garoto, o tirando de perto de Ross.

 

- Ryan me trouxe até uma doutora chamada Anne Nicolas para eu ver meu progresso. – o menino deu um beijo carinhoso na testa da mãe - Eu estou bem.

 

         George apenas cruzou os braços e ficou esperando com uma cara nada boa. Aliás, fazia a pior cara que encontrou para o momento.  Ela olhou para Ryan e ele novamente ajeitou os óculos escuros.

 

- Depois quero que você vá a um médico em NY. Não confio em nada que venha desse aí. – Ross arqueou a sobrancelha com desdém dela, mas não ficou surpreso com aquele tom de voz, na verdade, ele segurou a língua, mas resmungou para si mesmo:

 

- Como se o que viesse de você fosse confiável.  – Grace abriu a boca para responder, mas Brendon foi mais rápido.

 

- Vocês dois querem parar? Parecem duas crianças mimadas que eu não consigo controlar! – Ross assentiu com a cabeça e a mulher encolheu a mesma.

 

- Eu espero que esteja pronto, Ross. – Ryan tirou os óculos encarando a iris da matriarca e aí sim, exibiu seus olhos castanhos vidrados de ódio. Ele não estava assim até ela afirmar isso. – Está pronto para perder?

 

- E você? Está pronta? – Ironizou enquanto cerrava os punhos – Porque se não estiver pronta, é bom se preparar, sua ingrata.

 

- Você sabe que não foi por minha culpa que... - Ross mais que depressa pôs a mão sobre os lábios dela, tapando sua boca. Não era assim que Brendon saberia como as coisas funcionavam. Não era para Brendon saber da briga antes da hora.

 

- Você sabia, sra. Urie que não deve forçar a memória do seu filho com coisas inúteis.  - Ross resmungou perto do ouvido dela e com medo do que Ryan era capaz de fazer a mulher assentiu e Brendon entrou no meio da briga o tirando de perto dela e então, Ross disse alto: - Fica bem longe de mim antes que eu perca o controle.

 

 

         Não era a primeira vez que Grace e Ryan se enfrentavam daquele jeito. Durante doze anos o ódio entre eles só tinha crescido. Não sei se devo dizer que tinha culpados, mas tinha agravantes. Grace sempre estava pronta para tirar George Ryan Ross do sério e sempre chegava perto. Ninguém nunca soube realmente o que a mulher conseguia com isso.

 

- Vamos sair daqui. - Brendon puxou Ross de forma ágil e se despediu de sua mãe com um sorriso. Na verdade, estava intrigado e Grace conseguiu o que queria. Fazer o filho vir procurá-la. Os olhares curiosos  contemplaram o clima de lua de mel do casal e a felicidade do mesmo indo embora.

 

         George caminhava em passos firmes e irritados, Brendon quis rir situação, mas contemplou os olhos cheios de raiva do namorado e temeu. Cruzou os braços na altura do peito e continuou caminhando até o hotel, cantarolando algumas músicas. Eles ficaram em casa aquele dia todo e Brendon acalmou Ross do jeito que melhor sabia: com carinho e cuidado.

 

         Passaram horas abraçados. Ryan não estava com uma impressão boa, mas deduziu que fosse só a presença dela em Seattle que o incomodava. Percebeu, então, que já não era mais dia e que apenas a luz da lua clareava o quarto deles. Ross se aconchegou nos braços do menor e ronronou de forma doce. Bden sorriu e beijou Ross como nunca tinha feito antes. Ao término do beijo, Brendon disse:

 

 

- RyRo, eu queria sair hoje. Pra me divertir.  - Falava contra a pele do pescoço de Ryan que se arrepiava. Bden estava com aquela voz manhosa que o outro não conseguia resistir. Roçava os lábios grossos na pele do outro que só acariciava os cabelos escuros. - Que tal dançar um pouco? Quebrar esse clima de nada pra fazer que estamos?

 

- Eu sou horrível dançando. - Disse George com o tom de voz baixo só para curtir as chantagens de Brendon.

 

- Ah, mas é só para a gente não passar esse tempo em Seattle em branco.

 

 

         Ross tirou o celular do bolso e bateu uma foto daquele momento. Como sempre fazia quando ficavam sós. Tinha adquirido aquela mania quando Bden sofrera o acidente. Cada momento deveria ser registrado. Bden conseguiu fazer Ross levá-lo para dançar. Brendon sempre conseguia o que queria com um pouco de jeito e manha. Ross assentiu desanimado e Bden foi se trocar no banheiro.

 

         O problema do neurologista é não observar detalhes e com isso, não conseguia ver o quanto aquilo soava como uma despedida ou simplesmente o quanto Bden tinha dúvidas. Ross estava feliz como nunca estivera antes. Era merecido, com toda a certeza e era isso que faltava em Brendon enxergar.

 

 

 

#Flash Back#

 

 

 

 

         Regresso em Harvard. Regresso de meio de ano. Ross voltaria para Las Vegas para ver sua família, mas principalmente, para rever Bden. A última imagem que tinha do seu rosto, era aquela tristeza do último dia que se viram. Quando chegou em casa, na zona nobre de Las Vegas e foi muito bem recebido. Ross tinha olheiras profundas embaixo dos olhos e seu cabelo estava natural como não se via há muito tempo. E, não era só por causa dos estudos. Ele tinha adqüirido alguns amigos, algumas amigas e isso fazia com que ele fosse baladar, dançar e beber alguns goles.

 

         Ele pôs o chapéu na cabeça e seguiu para o subúrbio de Las Vegas, sozinho e em seu próprio carro. Brendon estava lá, em uma cadeira de balanço tentando entender a biologia. Ross não quis avisar a Bden que iria. Queria chegar assim, de surpresa, para saber como ele estava a vida do amado sem ele.

 

         George estacionou em frente da casa de Brendon que ergueu a cabeça reconhecendo o rosto magro do amado. Ambos os corações batiam rápido, desesperados. Bden correu o máximo que pôde até os braços de George. Patricamente arrancou-o de dentro do carro. Saudades. Muitas, muitas, muitas, muitas saudades.

 

- Brenny!  - Exclamou quando foi acolhido nos braços do seu garoto. Ryan fechava os olhos enquanto apertava o abraço. Estava sentindo falta daquele abraço e ele poderia ter quantos abraços  ele quisesse, das pessoas mais diferentes, mas jamais conseguiria ter aquela sensação com outros abraços.

 

         Devido à pequena diferença de idade, Bden e Ryan não foram juntos para Harvard. Essa diferença vinha brincando com eles há algum tempo. Nunca estudavam na mesma sala, nunca se encontravam em nada. Jogavam um contra o outro nas gincanas, mas isso nunca os impedira de ficar juntos.

 

- Ah, RyRo! Que saudades. - Afirmou segurando com as duas mãos o rosto do maior – Que bom que você veio. Estava ficando maluco sem você.

 

- Eu não poderia ficar sem ver você.  – Respondeu Ryan selando os lábios deles por um longo espaço de tempo.  – Não dá para ficar sem ver você, mesmo que no fim do recesso eu tenha que fazer todos os tipos de prova que você imaginar, eu não me importo em vir ver você.

 

         Então, Bden passou a olhar detalhes do rosto alegre de Ross. Estreitou o abraço dos dois e desceu os lábios para o pescoço dele e ali acabou achando uma pequena surpresa. Era uma corrente de ouro, mas o que lhe chamou a atenção era que Ryan não fazia questão de esconder.

 

- Comprou?  - Perguntou Urie com a curiosidade estampada em seus olhos castanhos. Ross maneou negativamente a cabeça. Era tão simples Ross dizer um ‘sim’ para Bden, mas esse não seria ele. Estaria mentindo para o seu amado, mas as coisas complicariam aí. Brendon teria razão para ter ciúmes e Ryan sabia que sim. – Quem te deu?

 

- Uma garota da faculdade. – Respondeu frio.

 

- E por que você aceitou isso? – Disse Bden visivelmente irritado. Torceu a ponta do nariz, fazendo George soltá-lo e mesmo assim achar adorável aquela pequena demonstração de ciúmes.

 

- Sem ciúmes, okay?  - Ross resmungou. Estava cansado de ciúmes. Bden era assim o tempo todo e isso gerava brigas entre eles, sufocavam ambos. – Ela me deu de aniversário.

 

- Ry-an. Estamos em julho. Seu aniversário é em agosto. – disse manhoso. Ryan gostava daquela manha, mas mesmo assim, franziu o cenho mostrando desaprovação. Virou-se de costas para o namorado. Não queria cair naqueles olhos manhosos que lhe faria fazer qualquer coisa. Não queria confessar que ele tinha ficado com a menina que lhe deu a corrente.

 

 

         Era uma menina na estatura de Brendon, tinha os cabelos pretos e rosto expressivo. Eles tinham bebido muito aquela noite, para comemorar o sucesso que estava sendo o curso, como Ryan era querido pela turma – por ele sempre explicar melhor que os professores e ajudar a todos com as notas – por tudo o que acontecia ali. Fizeram Ryan beber dizendo que seria a única vez, e qualquer baboseira desse tipo. Com um pouco de manha, ele caiu. Se embebedou.

 

         Ele finge não se lembrar de como foi parar na cama da garota, todo nu e com uma dor de cabeça horrorosa, mas sabe muito bem o que ele fez. Sabe a traição que cometeu. Sabe que aceitou a corrente por gostar da menina e como o pedido de desculpas dela.

 

         Para mostrar mais irritação com os ciúmes de Bden, Ross começou a contar em voz alta e o quão – supostamente – descabido era aquilo, mas ele sabia que não. Levou uma das mãos a corrente e a escondeu embaixo da roupa. Bden, por sua vez, abriu o fecho da corrente e colocou em si.

 

- Pare de mentir para mim e eu paro de sufocar você. – disse Bden por fim, voltando a abraçar o namorado por trás e ficando na ponta dos pés para alcançar o lóbulo do namorado e dar um beijo ali. George não notou que a corrente não estava no seu pescoço, ele apenas acariciou os braços do namorado com cuidado. Não queria brigar.

 

         Brendon então se lembrou de uma coisa que sua mãe tinha dito e foi aquilo que fez Bden apertar o abraço do namorado. Um medo lhe subiu a cabeça e ele começou a se apavorar mais e mais. Ryan conheceria gente nova. Ryan mudaria. Ryan chegaria a mentir. Ryan trairia e Brendon se machucaria.

            

- Só tenho medo de perder você. – Ross sorriu amplamente. Virou-se de frente para o namorado que se confortou para deitar os pés no chão novamente. Ross acariciou docemente o rosto do namorado e o beijou de novo, com toda a calma do mundo e em seguida disse:

 

- Não importa o que aconteça em Harvard. Você nunca vai me perder.

 

- Então vem. Vamos entrar. – E eles entraram para a desgraça de Grace Urie e Boyd. Ficaram juntos trocando carícias o dia todo.

 

#Fim do Flash Back#

 

 

 

         Ross se arrumou. Não estava muito a fim de sair, mas por Brendon ele faria tudo. Ele ainda tinha aquela sensação ruim de que tudo acabaria a qualquer momento.  Pôs então uma calça jeans listrada em preto e branco, uma blusa escura e uma boina qualquer. Não estava com muita vontade de se arrumar, mas Brendon merecia um pouco de capricho.

 

         Bden, por sua vez, usava uma simples camisa xadrez e uma calça jeans. Seu cabelo estava um pouco grande e sua barba um pouco maior que costumava usar. Ryan não reclamava do visual do amado, mas lhe incomodava um pouco aqueles pêlos no rosto de Bden.

 

         O telefone de Bden tocou e ele viu no visor de quem se tratava. Deu um jeito de ficar sozinho para atender. Era George II que estava cansado de esperar Bden se afastar do filho por vontade própria. Ele ia ter que fazer alguma coisa para acelerar o processo.

 

- Alô. – Sussurrou Brendon – Pode falar, RyRo está no banheiro penteando os cabelos.

 

- Você já deve saber porque eu estou ligado, Urie. – disse frio do outro lado da linha. Alguns dias antes de Brendon e Ryan irem para Seattle, George II fez uma visita ao Brendon – a qual ele não contou para ninguém – em que George tinha proposto algum dinheiro para ele sumir e como era esperado, George não deu tempo de Brendon responder, apenas saiu dizendo que ia dar algum tempo para ele pensar.

 

- Eu não quero seu dinheiro, senhor Ross. – Afirmou – Porém sairei da vida do seu filho muito em breve.

 

- Ótimo. – Desligou sem mais rodeios. Brendon sentiu a vontade de chorar chegando, mas não poderia, pois viu Ryan saindo do banheiro.  E ele estava lindo, apear de não ter demorado muito para ficar pronto.

 

- Vamos? – Bden somente assentiu com a cabeça e eles foram para a noite em Siattle. Bden, na verdade, estava querendo – além de curtir os últimos momentos com o namorado -, encontrar um motivo inexistente para deixá-lo de vez. Urie gostava de ser esse suposto ‘sanguessuga egoísta’.

 

         Eles voltaram para o hotel mais ou menos três da manhã. Depois de terem dançado muito, bebido bastante, burlado algumas regras... Ryan, cansado, se jogou na cama do jeito que estava, enquanto Brendon saiu de novo. Foi ver a sua mãe. Queria respostas sobre a briga de mais cedo. Dizem que mães são suas melhores amigas, mas Grace Urie era mesmo a melhor amiga de Brendon? Não, dessa vez, não.

 

         Bden andou sozinho pelas ruas de Seattle, por fim acabou ligando para a mãe vir buscá-lo e assim foi feito. Ao chegar ao hotel em que a mãe de Brendon estava eles entraram em absoluto silêncio até que, com um copo d’água nas mãos  e entregou para o filho.

 

- O que te traz aqui, querido? – A mulher rompeu o silêncio e Brendon bebericou a água oferecida.

 

- Medo, mamãe. – Respondeu Brendon. – Eu não sei o que fazer da minha vida. Eu não sei o que fazer com a minha relação com Ryan.

 

- Você sabe que pode contar comigo para o que quiser, meu filho. – Grace falou, segurando uma das mãos do menino que correu até ela e deitou-se no sofá, pondo a cabeça em seu colo.

 

- Eu andei pensando... Aliás, me fizeram refletir bastante nesses últimos meses e chegar à conclusão que o melhor é deixar Ryan seguir a vida dele sozinho. Sem mim.  Só que eu não tenho motivos reais. – Disse por fim. – Ele é perfeito em tudo e eu só tenho sugado dele.  George é lindo, nós temos uma vida maravilhosa juntos, mas ele precisa de um tempo sozinho. Precisa recuperar tudo o que eu tirei dele.

 

- Brendon, meu filho.  – Grace acariciou os cabelos do filho e enrolou o seu indicador nele. – Sem querer pôr mais lenha na fogueira, mas vocês nunca foram um casal perfeito. Vocês brigavam o tempo todo e ele não gostava que Charles viesse nos ver. A mim e ao Boyd. Realmente, eu tenho tentado te dizer isso, porém você nunca tinha parado para me ouvir. – A mulher suspirou, arrancando um olhar indignado de Bden. – Meu pequeno Bear, Ryan veio de uma família muito rica e acho que você bem sabe o que eles fizeram conosco. Eles, os Ross, não merecem nenhum tipo de consideração.

 

 

- O que realmente aconteceu a aquele dia? O que a família do Ross fez conosco? – Bden arqueou a sobrancelha e a mãe deu um sorriso sem emoção.  – Mãe, por favor.

 

- Okay. O Ryan vai querer me matar depois que eu contar tudo, mas eu não posso negar a verdade a você, Brenny. – Brendon olhou a mulher que se ajeitou no sofá – Bom, o pai do Ryan sempre foi um engenheiro bem sucedido e o seu pai sempre esteve junto com ele. Eles eram realmente muito amigos e decidiram fundar aquela empresa. Quando estávamos no mesmo status que o Ross, George fez meu marido assinar uns papéis em branco e nesses papéis ele redigiu um texto que meu marido transferia tudo o que tinha da empresa para ele. Então, ele nos deixou sem nada. Boyd o procurou meses depois, pedindo que lhe restituísse o emprego e foi por isso que você conheceu o Ryan.

 

         Brendon quase desacreditou em toda aquela história, mas lembrou-se que o pai de Ryan era capaz de qualquer coisa. A mãe de Brendon conhecia o seu menino, sabia que ele tinha acreditado e sabia que essa era a verdade. Ela queria falar sobre o Ryan. Sobre  o que não gostava nele, porém não queria que o filho a achasse intrometida, mas por sorte, veio a questão. A ordem, na realidade.

 

- E Ryan?  Como era minha relação com ele.

 

- Bom, a relação de vocês nunca foi muito ‘normal’, não só por vocês serem gays, mas vocês sempre estavam brigando. Foram nove anos antes do acidente e por inúmeras vezes você voltou chorando para minha casa pedindo abrigo. Porém Ryan sempre foi autoritário demais, mandão demais e sempre teve um domínio absurdo sobre você e todas as suas vontades.  – A mulher fez uma pausa e com o olhar, Bden pediu para que ela continuasse – Infelizmente, você não tinha voz nem em sua própria casa, Ryan estava sempre rodeado de mulheres lindas e ele era promiscuo. – Mentiu. Ryan só tinha traído Brendon uma única vez, mas ela precisava de um jeito para seu filho não ir mais para os braços de Ryan.  – Você sempre acabava voltando para ele e sempre acabava ferido. Eu odeio o Ryan por te ferir tanto assim, Brenny.

 

         Brendon calou-se. Ele não sabia bem o que dizer, mas sabia que a promiscuidade de Ryan Ross era suficiente para deixá-lo. Mas o que Brendon não sabia era que não tinha promiscuidade em Ryan, que ele nunca mais tinha traído Bden. Que ele tinha aprendido a lição. Porém Brendon não conseguia enxergar isso.  Minutos depois, Brendon foi para casa, desconfortável. Porém, na verdade ele começou a andar pelas ruas e notou que em breve choveria. As ruas estavam desertas e, como Brendon só estava com uma camisa, começara a sentir frio. Desejou o abraço de Ross, mas ele não estava ali e teria que se acostumar com sua ausência.

 

         Ryan tinha acordado mais cedo. Eram mais ou menos cinco da manhã. Brendon ainda não estava no hotel e aquilo assustou a Ross. Assustou muito, para falar a verdade. Manhosamente coçou os olhos e se contorceu na cama tentando espantar a preguiça que insistia em permanecer em seu corpo. Ao realmente perceber que ele não estava no hotel, começou a ligar para seu celular desesperadamente, mas Brendon não atendia. Eram oito da manhã quando Brendon retornou. Ele sorriu de leve para Ryan que o abraçou de súbito.

 

- Não faz mais isso.  – Murmurou de forma autoritária, porém preocupado. Brendon não moveu um só dedo para abraçá-lo, o que fez o maior se afastar dele. – Onde esteve?

 

- Com minha mãe. – Respondeu Brendon, tentando parecer frio. Apenas parecer, porque Urie jamais conseguiu ser frio. Não era do seu feitio, ainda bem. Ryan girou os olhos em desaprovação e cruzou os braços – Que foi? Por que essa cara?

 

- O que ela disse contra mim, hein? Desembucha.  – Brendon girou os olhos constatando mais uma vez o jeito autoritário de Ryan. Sua mãe parecia estar certa. Totalmente certa. Ele era mandão e autoritário. – Deixa eu adivinhar: ela disse que eu não presto, que eu não sou homem pra você. Que eu não valho o chão que piso e claro, eu não sou nenhum pouco confiável. – Arqueou a sobrancelha e o outro não disse nada, então, Ross completou com uma exclamação: - Droga, Brendon!

 

- Engraçado, RyRo... Você não está fugindo em nada do que ela me descreveu.

 

- Caralh...!

 

- Não xinga! Você está errado e sabe disso. – Brendon girou os olhos fazendo Ross deixar seu queixo fino cair. Não podia ser verdade que Grace o conhecesse tanto assim. – Quantas foram, Ryan? Com quantas você me traiu, hein?

 

         Ryan pausou. Ficou completamente inerte, assustado e o seu medo transpareceu em seu olhar. Então ele tinha lembrado da parte que ele não deveria lembrar? Ou tinha sido Grace a mediadora desse conhecimento. Ryan estava completamente pálido diante daquela informação toda. Ela – Grace – tinha achado o ponto certo para atacar. Um ponto que Ryan não tinha defesas.

 

- U-uma. – Respondeu quase inaudível. Ele foi dando passos para trás até alcançar a porta. Precisava de ar. Muito ar. Precisava pôr as idéias em ordem. Murmurou um “volto depois” e atravessou a porta. Não queria tocar naquele assunto. Não estava pronto para ver seu namorado saindo por aquela porta para não voltar mais.

 

         Ryan começou a caminhar pelas ruas e a chuva começou a cair. Parecia que o céu estava querendo demonstrar a tristeza do garoto, ajudar a extravasar. Ajudar a chorar mais e mais. Tornou aquilo tudo muito mais desesperador quando a chuva banhou Seattle. Estava completamente sozinho e parecia que tudo estava contra ele. Aneurisma em Brendon, Grace Urie em Seattle, sua vida, sua mente. Nada parecia valer muito. Queria abraçar alguém, mas a única coisa que lhe abraçava naquele momento, era a chuva.

 

 

         Entrou numa cafeteria, mesmo todo molhado e pediu um expresso bem forte e um pedaço de bolo de chocolate. Sim, ele empurraria aquela comida. Lembrou-se que Charles não gostava que ficasse sem comer. Por seu filho, comeria. A moça não demorou a atendê-lo e ofereceu uma toalha a ele que de bom grado aceitou.  Envolto na toalha, com o copo de café expresso, sentia as lágrimas quentes correndo seu rosto meigo e sofrido. Grace não tinha o direito de lhe matar aos poucos daquele jeito. Grace não podia tirar dele a sua vida.

           

         Ele passou horas naquela cafeteria. Tomando café, comendo pequenos pedaços de bolos ou tortas. Decidiu voltar para o hotel eram quase dez da manhã. Ele chegava a feder café de tão perto da máquina e do tempo que ele estava lá. Por fim, acabou indo ao consultório de Anne para ver como iam os preparativos. A chuva parecia não ter dó do neurologista e cada vez que ele andava contra ela, mais forte a chuva ficava. Raios passaram a iluminar os caminhos de Ross quando ele chegou ao consultório, Anne levou um susto com como ele estava visivelmente abatido. A ressaca ainda castigava Ross graças à bebedeira da noite a tristeza que ele estava sentindo, ajudava a piorar sua aparência.

 

         A doutora cuidou de Ross o máximo que pôde enquanto atendia seus pacientes. Sinceramente, aquele local pareceu acolhedor, mas ele precisava de Brendon. Em um intervalo entre os pacientes, Ross e Nicolas começaram a procurar o doutor inglês que extinguiria o aneurisma em Brendon.

 

         Então, George recebeu uma mensagem em seu celular. Uma mensagem que fez com que o mundo de George parasse embaixo dos seus pés, que ele perdesse completamente os sentidos e nela dizia: “O que houve entre você e meu filho? Por que ele voltará com Grace e não contigo. Abraços, Boyd.”

 

         Mal se despediu de Anne. Começou a correr desesperado pela chuva enquanto voltava pro hotel. Boyd tinha que estar errado, claro que estava. Brendon não podia tê-lo deixado. Não com um aneurisma pronto a se romper na cabeça. A chuva parecia mais fria e muito mais grossa aquela hora. Batia contra o corpo de Ryan e quase o vencia, mas estava determinado a encontrar Brendon. Implorar por seu perdão, dizer que não fez aquilo – sair do nada – para magoá-lo, mas porque precisava respirar. Chegou ao hotel e Brendon não estava lá. Nada mais importava. Nem mesmo sua saúde importava.

 

         Ross deixou seu corpo cair no chão de maneira violenta. Fraquejou. Praguejou por várias vezes seguidas. Molhado sentia as lágrimas caírem. Estava consumado, Grace tinha vencido.

 

#Fim do Quarto Conto#


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