No outro dia, os seis estavam se ajudando nas tarefas domésticas. Lupita, como sempre, estava ocupadíssima passando o aspirador de pó pelo tapete da sala enquanto, ao mesmo tempo, acendia alguns incensos pela casa.
— Pra que tanto incenso Lupi? – Mía indagava, tampando o nariz – Assim vamos sufocar.
— Ah que nada Mía, é ótimo para espantar as más vibrações, sabe? Neste Natal estaremos livres das energias negativas! – Lupita exclamou, acendendo mais um incenso. Em seguida, começou a saltitar pelo apartamento com o incenso na mão, deixando que a essência percorresse profundamente pelas narinas dos demais – Sintam isso! Sintam essa energia maravilhosa! Ahh, conseguem sentir? Adoro isso! 
Lupita parecia uma lunática. Os outros cinco não disseram mais nada. Apenas observaram aquela cena cômica, fazendo imenso esforço para não espirrar. Tentativa frustrada. Giovanni começou a espirrar frenéticamente. 
Diego estava na cozinha, usando um enorme avental e um lenço com estampa floral no cabelo. Utilizando vassoura, balde e pano, Diego limpava o chão com certa rapidez. Giovanni entrou na cozinha zombando da cara de Diego:
— Hmmm, olha só, não sabia que tinham contratado uma empregada tão gostosa! – Giovanni riu com vontade.
— Sai daqui cara, não vê que eu to ocupado? – Diego falou rispidamente, sem parar com a faxina.
Giovanni não cansava de provocar.
— Ui, a empregadinha tá nervosinha! – Giovanni exclamou, rindo ainda mais.
— Não tem o que fazer, não, Giovanni? – Diego respondeu, sem paciência.
— Pior que não, gatinha – Giovanni respondeu sorrindo, fazendo questão de dar ênfase à frase.
— Há-há-há. Achei muito engraçado – Diego fingiu rir – agora dá o fora daqui, vai! – Ele começou a empurrar Giovanni para fora da cozinha usando a vassoura molhada.
Giovanni foi empurrado porta a fora, gargalhando.
Mía estava lavando a louça. Sua expressão no rosto e seus gestos nervosos denunciavam que ela estava inquieta, com um pensamento fixo. Miguel, que estava ao lado dela secando a louça, notou que algo não estava bem.
— Mía, você tá nervosa?
Ela desconversou.
— Eu? Nervosa? Mas é claro que não. Por que eu estaria?
Miguel deu de ombros.
— Ah, sei lá. Mas você mexeu no seu cabelo com as mãos ensaboadas umas cinco vezes, mais ou menos.
Mía estava perplexa. Como não percebeu que passou as mãos cheias de sabão no seu próprio cabelo? Miguel voltou a falar:
— O que houve, fadinha?
Em meio ao nervosismo, Mía deixou escapar um sorriso ao ouvir ele chamando-a de fadinha. 
— Eu preciso falar com você, Miguel – ela enfim respondeu, com uma expressão séria no rosto.
— Fala, princesa – Miguel chegou mais perto dela, curioso para saber do que se tratava.
— Eu li sua última sms – foi o que Mía conseguiu sussurrar.
Miguel então entendeu o motivo pelo qual Mía estava agindo de modo tão estranho. Ela olhou para ele com aquela expressão de tristeza no rosto. Ele a puxou levemente pela cintura fazendo com que ela largasse a esponja e o copo que estava segurando. Olhando fixamente nos olhos dela, respondeu, em tom suave:
— Não acredito que esteja triste por causa daquilo. 
Mía hesitou antes de responder.
— Como acha que eu não ficaria triste depois de ler aquilo? 
— Mía, aquela mensagem não me importa. Já até excluí – Miguel disse, sorrindo de canto.
— Ah, então você apagou a mensagem – ela fez uma pausa para mexer rapidamente no cabelo - E nem pensou em me mostrar. Legal Miguel, legal.
Mía virou o rosto, contemplando uma lagartixa que escalava a janela.
— Mía, olha pra mim – ele falou, puxando o rosto da loira carinhosamente. – Não te mostrei porque não me importa. Eu sabia que você iria ficar brava, por isso não mostrei. Mas olha, te juro que excluí sem responder. 
Mía sentiu que Miguel estava sendo sincero. Lembrou-se do que Roberta havia dito sobre isso. “Talvez ela tivesse razão. Miguel não iria me trocar por uma qualquer feito a Julieta. Ele era um caipira safado, mas não estaria mentindo dessa vez. Julieta esperaria sentada pro resto da vida. É, isso mesmo. Talvez eu deva esquecer essa história da mensagem ridícula.” — Ela pensou. 
Miguel ainda estava segurando-a pela cintura, esperando por uma resposta. Ela o abraçou forte. Tão forte como se estivesse segurando o mundo. Em seguida, inclinou a cabeça para beijá-lo no canto da boca.
— Eu te amo e não quero te perder nunca – ela sussurrou - e eu acredito em você, ok? Acredito com todo o meu coração. Se fiquei louca de ciúmes, você já sabe o motivo.
Miguel sorriu, olhando fixamente nos olhos de Mía. Com um movimento rápido, puxou o corpo dela para mais perto do seu, e começou a acariciar as costas da loira, que não conseguiu conter um sorriso ao sentir os carinhos. Em retribuição, Mía grudou seus lábios nos de Miguel e então iniciaram um beijo caloroso e intenso, de tirar o fôlego. Dois corpos grudados diante da pia transbordando de louça para ser lavada, dois corações ofegantes, incapazes de perceberem qualquer detalhe ao seu redor, nem mesmo aquele barulho chato de água escorrendo bem perto deles. Miguel nem ao menos percebeu que seu pescoço estava repleto de sabão que escorria das mãos de Mía. Nenhum dos dois percebeu que Giovanni se aproximava. 
— Ei seus safados, querem se agarrar? Vão para um quarto. 
Não houve resposta. Aquele beijo parecia não ter fim.
— Não vou levar ninguém pro hospital por falta de oxigênio, ok? Não vou mesmo. 
Novamente, sem resposta. Giovanni começou a rir. Mía e Miguel estavam fora de órbita. Lupita se aproximou também.
— Do que você tá rindo, Giovanni?
Em resposta, Giovanni apenas apontou um dedo para o casal que se amassava em frente à pia. 
— Os dois ali vão precisar de máscaras de oxigênio depois que terminarem com o agarramento. Eles já estão assim há quase 5 minutos. Sem parar. Podíamos fazer como eles. O que você acha, Lupi? Bem que você tá precisando e... Lupi?
Após ouvir a frase "eles já estão assim há quase 5 minutos", Lupita não ouviu mais nada. Fez uma careta, balbuciou algo que Giovanni não conseguiu entender, e moveu-se rapidamente para mais perto dos dois. 
— O que significa isso? - Lupita falou em alto e bom som, na verdade, quase gritando, enquanto agitava as mãos com uma expressão indignadíssima no rosto.
Mía e Miguel se desgrudaram imediatamente, como se despertassem de um transe profundo. 
— Esse sim, é o verdadeiro beijo 'desentupidor de pia'! - Giovanni riu.
Enquanto isso, Lupita ainda surtava. Mía estava desconcertada com a situação.
— Ai Lupi, não é pra tanto né? Calma.
— É que ela ficou preocupada porque eu disse que vocês iam precisar de oxigênio depois que se desgrudassem - Giovanni continuava rindo.
— Cala a boca, Giovanni! Fiquei preocupada é com o desperdício de água que vocês provocam. Olha só isso gente, deixaram a torneira da pia ligada durante CINCO MINUTOS! - Lupita exclamou, fechando a torneira. Virou-se para Miguel - Quem vai pagar a conta de água horrenda desse mês? Exatamente Miguel. VOCÊ! E sozinho - agora virando-se para Mía - E você, Mía, deveria escolher um lugar melhor do que a cozinha para satisfazer seus fetiches. Ai gente, eu pareço a mãe de vocês as vezes, eu hein.
Lupita saiu apressadamente da cozinha, deixando os outros três boquiabertos. Mía foi a primeira a falar.
— Acho que ela tá de tpm.
— Ouviram né? Lugar de realizar fetiches não é na cozinha ok? - Giovanni indagou com ar superior. E então soltou um risinho pervertido. Experimentem no banheiro da próxima vez.
— Não é uma má ideia Mía - Miguel deu um sorriso safado para Mía, que revidou dando um leve beliscão em seu braço. 
— Comporte-se Arango, senão mais tarde não rola - Giovanni saiu da cozinha mostrando a língua. 
Mía acompanhou Giovanni, dando um tapa nas suas costas, e murmurando um "cala a boca Giovanni". Miguel seguiu os dois para fora da cozinha, deixando a pia da maneira que a encontrou: transbordando de louça suja. Mais tarde, quando Lupita descobriu que a pia continuava cheia de louça, foi outro "Deus nos acuda". No fim, ela fez com que Giovanni lavasse tudo. Lupita não estava mesmo nos seus melhores dias.